CRUZEIRO 5×4 INTERNACIONAL – Dia 7 de Março de 1976

HISTÓRIA DO JOGO

                          Três meses após a decisão do título brasileiro de 1975, em que o Internacional venceu por 1×0, gol de Figueroa, Cruzeiro e Internacional protagonizaram aquele que é considerado um dos maiores jogos entre clubes brasileiros. No Mineirão, após diversas reviravoltas, o time mineiro venceu por 5 a 4 e avançou rumo ao seu primeiro título continental. Palhinha e Joãozinho, cada um com dois gols, foram os nomes do jogo. Uma curiosidade: ao contrário de hoje, quando as partidas da Libertadores são disputadas na quarta-feira, aquele jogo aconteceu em um domingo.

                           O jogo era válido pela Libertadores da América de 1976 e árbitro da partida foi o argentino Luis Pestarino, que expulsou de campo o atacante cruzeirense Palhinha. O público presente ao estádio foi de 65.463 pagantes o que rendeu uma arrecadação de Cr$ 793.407,00.

                           Até hoje é considerada a maior partida da história do Mineirão. O jogo de nove gols foi marcado por viradas e reviravoltas numa trama envolvente de um dos capítulos da Libertadores 1976. Quem estava presente foi um privilegiado, pois além de ver grandes craques do nosso futebol desfilando pelo gramado, assistiu um verdadeiro espetáculo de futebol.

                           Depois de alguns meses daquela final do Brasileirão de 1975 entre Cruzeiro e Internacional, final esta que foi a primeira fora do eixo Rio-São Paulo, novamente as duas equipes voltaram a se enfrentar, agora pela Libertadores da América. Entenda porque ele foi tão marcante a ponto de ser a mais memorável partida da história do Mineirão. foi a prova definitiva de que os conceitos equivocados colocados em campo menos de dois anos antes, por Zagallo, não tinham contaminado nossos gramados.

                           A primeira impressão disso aconteceu na decisão do Brasileiro do ano anterior, quando os dois times se enfrentaram no Beira-Rio, em 14 de dezembro de 1975, e o Colorado levou a melhor vencendo por 1 a 0. A prova definitiva veio menos de três meses depois, na tarde de 7 de março de 1976, no Mineirão.

                           Apesar da proximidade, uma preocupação cruzeirense era entrar em campo sem o sentimento de vingança. “Não temos intenção de vingança. Perder é da profissão. Em futebol se perde ou se ganha, e foi isso que aconteceu no Sul. Portanto, não temos o que vingar agora. O objetivo é ganhar, este sim, mas com calma e ordem”, afirmou o lateral Nelinho.

                           Craques não faltavam em campo, mas nenhum brilhou tanto na Pampulha como o ponta esquerda Joãozinho. Era apenas o começo da sua consagração como um dos grandes ídolos cruzeirenses, pois foi dele, cinco meses depois, o gol do título continental, na vitória por 3 a 2 sobre o River Plate, da Argentina, no jogo desempate da final, em Santiago.

                             O Inter era o campeão nacional, e o Cruzeiro tinha que engolir em seco mais um vice. Os dois foram para a Libertadores de 1976 e ficaram no mesmo grupo, ao lado dos paraguaios Olimpia e Sportivo Luqueño. A estreia logo colocou os dois times brasileiros frente a frente. Desfile de craques em um domingo, 7 de março, no Mineirão. Um dia inesquecível para o futebol, com vacilos de “Don Elías”, autuação de gala de Joãozinho e a lembrança de Palhinha, autor de dois gols naquele confronto, expulso por agredir Figueroa.

O GRANDE ESPETÁCULO

                              O jogo foi disputado no Mineirão e para esta partida o técnico Zezé Moreira do Cruzeiro mandou a campo os seguintes jogadores; Raul; Nelinho, Moraes, Darci e Vanderlei; Zé Carlos e Eduardo; Roberto Batata (Isidoro), Jairzinho, Palhinha e Joãozinho. Técnico: Zezé Moreira. Do outro lado o técnico do colorado Rubens Minelli escalou a seguinte equipe: Raul; Nelinho, Moraes, Darci Menezes e Vanderlei; Zé Carlos e Eduardo; Roberto Batata (Isidoro), Jairzinho, Palhinha e Joãozinho. Técnico: Zezé Moreira.

PRIMEIRO TEMPO

                             Começa o jogo e logo aos três minutos, Darci Menezes falha e obriga o goleiro Raul fazer uma grande defesa devido a um chute do centroavante Escurinho. Mas o Cruzeiro respondeu de imediato. Joãozinho avança pela ponta esquerda e cruza, mas Palhinha se antecipa ao zagueiro Figueroa e toca por baixo do goleiro Manga. Cruzeiro 1×0. Explode o Mineirão.

                              Mas o Cruzeiro não para de atacar, queria mais. Aos 10 minuto, Nelinho lança da defesa, Figueroa mata no peito, a bola escapa, Palhinha vem por trás e toca para o gol. Cruzeiro 2×0. Os cruzeirenses vão a loucura.

                                O Internacional não estava morto, muito pelo contrário, aquele gol acordou o time gaúcho e quatro minutos depois ele deu a resposta. Lula recebeu de Caçapava na intermediária e dispara um petardo indefensável. Cruzeiro 2×1. Festa gaúcha no Mineirão.

                                Depois desse gol, as duas equipes foram desesperadamente ao ataque, querendo o gol como um faminto que vai em busca de um prato de comida. E sete minutos depois do gol colorado, Joãozinho intercepta um passe de Figueroa para Cláudio, avança até a entrada da pequena área, aplica um drible desconcertante em Figueroa e fuzila para a meta gaúcha. Cruzeiro 3×1. Com apenas 21 minutos de jogo já tínhamos quatro gol, realmente aquele jogo prometia.

                                 O time mineiro estava impossível, aos 25 minutos Jairzinho perde boa chance de ampliar o marcador. Internacional reage e aos 32 Figueroa chuta uma bola no travessão cruzeirense. Aos 39 Lula recebe a bola, vai ao fundo, aplica uma caneta em Moraes e cruza para Valdomiro ajeitar e bater rasteiro sem chance para o goleiro Raul. Cruzeiro 3×2. E assim terminava a primeira etapa com cinco gols, então já podíamos prever o que seria o segundo tempo.

SEGUNDO TEMPO

                                 Começa a segunda etapa e as duas equipes se lançam ao ataque, o Cruzeiro querendo ampliar e o Internacional querendo empatar. Aos 6 minutos Falcão lança Valdomiro, que cruza, Zé Carlos tenta cortar e manda contra o próprio gol. Tudo igual 3×3.

                                  Aos doze minutos Palhinha perdeu a cabeça e acertou uma cotovelada em Figueroa e o árbitro argentino imediatamente o expulsou de campo. Mesmo com um homem a menos em campo, o Cruzeiro era valente e continuava jogando pra frente em busca do quarto gol. E foi o que aconteceu aos 18 minutos, quando Joãozinho e Jairzinho pressionaram Caçapava e tomam-lhe a bola e avançam rumo ao gol do goleiro Manga. Jairzinho toca para Joãozinho, que de pé direito joga no ângulo oposto em que estava o goleiro, Cruzeiro 4×3.

                                  O Internacional não se intimida e vai ao ataque. Aos vinte três minutos, Escurinho dá uma cabeçada a queima-roupa obrigando o goleiro Raul a fazer uma grande defesa. O time gaúcho queria o empate a qualquer custo e não parava de atacar. Aos 25 minutos Vacaria cruza da esquerda, Escurinho desvia de cabeça para o meio da área e Ramon completa para o gol, também de cabeça. Novamente o placar está tudo igual, agora 4×4.

                                  O público vai ao delírio, um jogo com oito gols não era sempre que se via. Era nítido que aquele placar não seria o definitivo, pois as duas equipes queriam o gol da vitória a todo momento. Até que chegamos aos 40 minutos da segunda etapa. Joãozinho avança, dribla Valdir e é derrubado. Pênalti que Nelinho cobra com violência, deslocando o goleiro Manga. Cruzeiro 5×4.

                                   O torcedor cruzeirense vai a loucura. Faltavam somente cinco minutos para o término da partida, mas ninguém dava com ser aquele placar final, pois as duas equipes ainda lutavam e muito em campo. Mas aos 45 minutos o árbitro levanta os braços e indica final de jogo, vitória do Cruzeiro por 5×4, num jogo que entrou para a história, tanto é, que até hoje ele é considerado o jogo mais emocionando que aconteceu no estádio do Mineirão.

COMENTÁRIOS

                                  Depois do jogo, o médio volante Zé Carlos do Cruzeiro disse “Nunca tinha jogado uma partida como esta. Foi emoção demais, do início ao fim do jogo”. Já o comentarista esportivo da Rádio Itatiaia, Osvaldo Faria disse “Foi dramático. Era lá e cá. Uma loucura como nunca vi igual no Mineirão”.

                                   Em coluna de televisão em O Globo, Arthur da Távola comentou três dias depois do jogo “A plenitude daqueles 90 minutos pôde ser vivida no momento em que ocorreu, pois o desfecho não era sabido até o fim da partida. Foi uma obra de arte. Raras vezes o futebol brasileiro viveu instantes tão maravilhosos. Cruzeiro 5×4 Internacional, teve a eternidade das grandes batalhas. Daquelas que entram na história pela soma das virtudes tornadas encantamento.

                                   Vale lembrar que naquele ano de 1976, o Cruzeiro conquistaria a Taça Libertadores da América e o Internacional o Campeonato Brasileiro, isso mostra bem a força das duas equipes naquele ano.

CRUZEIRO DE 1976   –   Em pé: Darci Menezes, Piaza, Moraes, Nelinho, Vanderelei e Raul   –   Agachados: Eduardo, Zé Carlos, Palhinha, Jairzinho e Joãozinho

 

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