SICUPIRA: ídolo do Atlético Paranaense

                  Barcímio Sicupira Junior nasceu dia 10 de maio de 1944, na cidade da Lapa – PR. Era bom de bola, jogador inteligente, tinha um faro de gol extraordinário. Foi um dos melhores meia-atacantes que o Atlético Paranaense teve em todos os tempos. Destacava-se por ser um jogador diferenciado, chutava com a esquerda e com a direita. O Atlético sempre teve atacantes trombadores em sua história, e Sicupira era um meia-direita que vinha de trás para receber o lançamento e fazer a tabela. Ele raramente perdia os famosos “gols feitos”, com ele era caixa. E às vezes deixava dois ou três jogadores deitados no chão e entrava com bola e tudo.

                  Uma das grandes características de Sicupira eram os gols de bicicleta. Já em seu primeiro jogo pelo Atlético, contra o São Paulo, pelo Robertão 68, marcou um golaço de bicicleta. Além disso, era um exímio batedor de pênaltis, em toda a carreira só perdeu um único pênalti. Além do Atlético, jogou também no Corinthians, onde disputou somente o Campeonato Brasileiro de 1972, mas foi o suficiente para conquistar a Fiel.

ÍNICIO DE CARREIRA

                  Sicupira passou a infância dentro da Baixada, participando de torneios amadores promovidos pelo Atlético Paranaense. Porém, por influência paterna, afastou-se do clube, iniciando a carreira profissional no Clube Atlético Ferroviário. Em 1964, foi jogar no Botafogo, no super-time que contava com estrelas como Garrincha, Didi, Zagalo e Nilton Santos. E, convivendo com tantos craques do futebol brasileiro, Sicupira foi logo aprendendo as lições e os atalhos para se consagrar como um dos maiores jogadores da história do Atlético.

                 Em 1966, transferiu-se para o Botafogo de Ribeirão Preto, onde a equipe era formada por; Ademar, Celso, Nininho, Veríssimo e Carlucci; Márcio e Roberto Pinto; Jairzinho, Sicupira, Paulo Leão e Totó. Este foi o time que empatou com o Corinthians no dia 6 de setembro de 1967 pelo primeiro turno do Campeonato Paulista. O jogo foi no Parque São Jorge e os dois gols corintianos foram marcados por Flávio, enquanto que Totó e Carlucci marcaram para o time de Ribeirão Preto.  

                 Em 1968, um médico torcedor do Coritiba fez o convite para que ele voltasse para a capital paranaense. A proposta tentadora motivou o jogador. Mas, como o grupo coxa-branca estava muito envolvido com a disputa do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, não deu importância ao projeto de craque. Certamente, arrependeram-se anos depois…

ATLÉTICO PARANAENSE

                 Seu passe acabou sendo adquirido pelo atleticano Airton Araújo, que o doou para o clube. Com a camisa atleticana, Sicupira viveu a glória no esporte. Acostumado aos grandes times, manteve a tradição integrando a “seleção” montada por Jofre Cabral e Silva, ao lado de craques que já haviam brilhado em outros clubes como por exemplo; Djalma Santos (Palmeiras), Bellini (São Paulo e Vasco), Zé Roberto (São Paulo), Nilson (Portuguesa de Desportos) e Dorval (Santos). Um timaço. Logo em sua estréia no Atlético, deu o cartão de visitas para o torcedor, deixando a certeza de que ali nascia um dos maiores craques da história do clube.

                 Era o dia 2 de setembro de 1968, num jogo contra o São Paulo, na Vila Capanema. Sicupira marcou, de bicicleta, o primeiro dos 154 gols que marcaria com a camisa atleticana, garantindo o empate por 1 a 1. E essa foi apenas a primeira pirotécnica protagonizada por ele, especialista em fazer jogadas que chamavam atenção da torcida: gols de voleio, peixinho, calcanhar, bicicleta, sem-pulo, virada, de cabeça, perna direita, esquerda… Tudo parecia muito simples quando caía em seus pés.

               Apesar dos muitos gols que marcou pelo Atlético, Sicupira conquistou apenas um título pelo clube, o Paranaense de 1970, quando marcou 20 gols e foi o artilheiro da competição. Em 72, repetiu a dose, marcando 29 gols e sagrando-se o principal goleador do Estado. Naquele mesmo ano, o Atlético decidiu emprestar os gols do craque ao Corinthians, para a disputa do Campeonato Brasileiro. Retornou ao Furacão, onde encerrou a carreira em dezembro de 75.

CORINTHIANS

               Emprestado pelo Atlético Paranaense somente para a disputa do Brasileirão de 1972, Sicupira ganhou um lugar cativo no coração da torcida corintiana. Tudo por causa de um gol, marcado no último minuto de um jogo contra o Ceará no dia 14 de dezembro de 1972, no lotado Pacaembu (68.961 torcedores estavam presentes). Só a vitória interessava ao Corinthians para que ele ficasse vivo no Brasileirão. Aos 45 minutos, após cruzamento de Nélson Lopes, Sicupira concluiu de primeira, o goleiro Hélio Show, até então destaque da partida, atrapalhou-se com a bola e ela entrou.

               Hélio Show ficou desesperado e começou a dar socos no gramado. Sicupira festejou com a torcida corintiana o gol da classificação. Este gol ajudou o alvinegro a se classificar para as semi-finais do campeonato. O gol da vitória só foi sair aos 45 minutos do segundo tempo, depois da bola bater na trave e no rosto do goleiro. Neste dia o Corinthians venceu por 1 a 0 e Sicupira foi para os braços da galera.

               Sua estréia com a camisa corintiana aconteceu dia 1 de outubro de 1972, quando o alvinegro derrotou a Portuguesa de Desportos por 3 a 2, gols de Rivelino (2) e Sicupira para o Timão, enquanto que Basílio marcou os dois gols da Lusa do Canindé. Neste dia o técnico Duque mandou a campo os seguintes jogadores; Ado, Zé Maria, Baldochi, Luis Carlos e Miranda; Tião e Rivelino; Vaguinho, Sicupira, Mirandinha (Lance) e Marco Antonio. Neste ano o Corinthians fez uma boa campanha, chegou a semi-final, mas empatou com o Fluminense em 0 a 0 e depois perdeu para o Botafogo por 2 a 1.

               Neste jogo o árbitro pernambucano Sebastião Rufino anulou um gol legítimo de Baldochi, alegando que o jogador usou a mão para depois chutar ao gol. E assim, estava desfeito mais um sonho da torcida corintiana de conquistar um titulo brasileiro, título este, que só veio em 1990. Este jogo contra o Botafogo carioca foi o último de Sicupira com a camisa do Corinthians e ele aconteceu dia 22 de dezembro de 1972. Pelo Corinthians, Sicupira disputou 22 partidas. Venceu 10, empatou 8 e perdeu 4. Marcou 4 gols.

               Ao final do contrato, retornou ao Atlético Paranaense, onde jogou ao todo 8 anos. Ainda hoje o torcedor rubro negro o chama de  “O craque da 8”. É assim que muitos atleticanos resumem a trajetória de Sicupira no rubro-negro. Como se ele houvesse sido o único jogador a ter vestido essa camisa. O eterno dono da camisa número 8. E não é por acaso. Em oito anos de Atlético, Sicupira marcou 154 gols, tornando-se o maior artilheiro da história do clube. A partir do momento em que vestiu as cores rubro-negras, deixou a sina de que o craque do time seria o dono da camisa 8. Sicupira foi eleito para integrar a Seleção dos 80 Anos do Atlético. Sicupira é, sem dúvida, um dos maiores ídolos da história do Clube Atlético Paranaense. O ex-camisa 8 rubro-negro foi um dos principais destaques da equipe na conquista do estadual em 1970 (havia 12 anos que o Furacão estava na fila).

FORA DAS QUATRO LINHAS

               Durante uma entrevista, Sicupira explicou porque decidiu parar de jogar futebol, aos 31 anos. Ele admitiu que poderia ter prolongado um pouco mais a carreira, mas que resolveu parar porque andava chateado com a diretoria do Atlético, que atrasava salários e não cumpria o combinado com os jogadores. “A gente voltou de uma excursão do Espírito Santo e eu tava de saco cheio daquela diretoria. Aí simplesmente resolvi parar, sem um jogo de despedida, sem nada. Não tenho nada pra falar contra a instituição Atlético – nem contra a torcida que sempre me tratou muito bem, mas sim contra algumas pessoas que passaram pelo clube. Mas a gente passa e o Atlético fica e eu sou muito grato a esse clube. O Atlético faz parte da minha vida”, disse o ex-craque.

               Depois que pendurou as chuteiras, decidiu exercer a profissão de professor de educação física. Em 1978, teve uma meteórica passagem como treinador do Atlético, mas preferiu seguir a carreira de comentarista esportivo. Por causa da profissão de cronista, Sicupira vive uma relação distante, apesar de muito próximo, do clube. Preferiu adotar a postura da imparcialidade do que a do comentarista-torcedor. Em 2003, foi homenageado pelo clube com o “Projeto Sicupira”, que leva para diferentes regiões do Estado escolinhas de futebol para colher futuros craques atleticanos. Se as estrelas lapidadas seguirem os passos do padrinho do programa, certamente o futuro do Atlético será reservado por belas jogadas e gols espetaculares. Mesmo sendo torcedor atleticano, Sicupira deixa de lado seu amor pelo Clube Atlético Paranaense e procura comentar com imparcialidade as partidas do Furacão.

               Ainda hoje Sicupira sempre diz “Eu posso dizer que fui um cara sortudo, porque fiz gol em todas as minhas estreias em todas as equipes que joguei”. E realmente isso é verdade e principalmente em sua estréia no Atlético, onde ele fez um gol de bicicleta. Então só nos resta dizer, obrigado, Sicupira, por toda a alegria que deu a quem teve o privilégio de te ver jogar e aos que, como eu, têm certeza de que não se precisa disso para reconhecer e idolatrar um craque.

Em pé: Toninho, Júlio, Lori Sandri, Rubens, Lili e Amauri    –    Agachados: Mazola, Valtinho, Sicupira, Sérgio Lopes e Nilson Bocão
Em pé: Pedrinho, Zé Maria, Luiz Carlos, Vágner, Ado e Tião   –    Agachados: Vaguinho, Sicupira, Mirandinha, Rivelino e Marco Antônio
Em pé: Djalma Santos, Amauri, Zico, Valdomiro, Alfredo e Canindé     –    Agachados: Zé Leite, Pedrinho, Sicupira, Ferrinho e Nilson
Em pé: Júlio, Torino, Gaspar, Dí, Alfredo e Neuri   –    Agachados: Buião, Sicupira, Madureira, Sérgio Lopes, e Didi Pedalada
1970 – Em pé: Hidalgo, Zico, Júlio, Hermes, Alfredo e Vanderlei   –    Agachados: Dorval, Sicupira, Sérgio Lopes, Toninho e Nílson
Em pé: Ferreira, Roberto Pinto, Roni, Piter, Zé Carlos e Carlucci    –   Agachados: Marco Antônio, Paulo Leão, Sicupira, Carlos César e Noriva

Postado em S

Deixe uma resposta