GERALDO JOSÉ DE ALMEIDA: autor do apelido da nossa seleção de “Seleção Canarinho”

                       Geraldo José de Almeida nasceu dia 12 de março de 1919, na cidade de São Paulo. Criador de um estilo próprio de locução esportiva, conquistou a fama entre os admiradores do gênero. A partir de 1954, acompanhou a Seleção Brasileira de Futebol em Copas do Mundo até 1974.

                      Começou sua carreira aos 17 anos na Rádio Record (São Paulo), ao vencer um concurso público realizado pela emissora, onde haviam mais de 1.000 candidatos. Foi trabalhar junto com Murilo Antunes Alves, onde permaneceu vinte e oito anos na emissora. Como era menor de idade, o contrato profissional foi assinado pelo pai. Torcedor do São Paulo, Geraldo não escondia sua paixão durante as transmissões.

                       Por um curto período, trabalhou na Rádio Panamericana (hoje Jovem Pan, de São Paulo) e na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Fez também duas radionovelas na Rádio São Paulo. Voltou para a Rádio Record.

                       De 1954 até 1966, Geraldo José de Almeida transmitiu todas as Copas do Mundo por rádio. A partir de 1954, passou a apresentar ao lado de Raul Tabajara o programa “Mesa Redonda”, que marcou época na história esportiva de São Paulo. Em 1968, foi para a Rádio Excelsior, e logo em seguida para a TV Excelsior, iniciando ali sua carreira na televisão brasileira. Na Rede Excelsior fez dupla com o comentarista Mario Moraes, sob o comando do revolucionário Edson Leite.

                       Dois anos depois, foi para a Rede Globo, onde passou a ser conhecido nacionalmente. Fazendo dupla com o comentarista João Saldanha, Geraldo marcou sua carreira com a atuação na Copa do México, criando expressões como “Linda! Linda! Linda!”ele dizia quando a jogada era bonita, “Que que é isso, minha gente”era a frase quando acontecia um erro. Mata no peito e baixa na terra, quando o jogador matava a bola no peito e a colocava no chão. “Ponta de bota” quando o jogador chutava com a ponta da chuteira. “Que bola bola” para um passe bem dado. E “Seleção Canarinho do Brasil” quando a seleção brasileira passou a jogar com a camisa amarela, isso em 1954. Também chamava os jogadores de maneira peculiar: Pelé era o “Craque Café”Rivelino o “Garoto do Parque ou de Patada Atômica” e Tostão de “Mineirinho de Ouro”

                        Geraldo José não gritava gol… Era “olha lá olha lá olhalá olha lá no placarrrrrrrrr”. Esse “r” final era repetido à exaustão. Devia beber um gole d’água a todo momento, para ficar com a garganta molhada e pronunciar bem os erres. Se hoje as pessoas brincam com o Galvão Bueno por causa do “Ronaldinho”, o “r” do Geraldo José de Almeida dava de dez… “Gerrrrrrrson, o canhotinha de ouro”. E tinha o jogador que o Geraldo mais gostava, que era o Roberto Dias, do São Paulo. Primeiro porque ele jogava muito bem e também porque tinha dois erres no nome e adorava chutar de bico. “Ponta de bota de Rrrrrrrrrrrroberrrrrrrrrrrrrrrtão Dias!”. Saudades do Geraldo.

                       O duo Almeida-Saldanha se repetiu na Copa da Alemanha, em 1974, mas em seguida, Geraldo José de Almeida saiu da Rede Globo e ficou dois anos ePorto Alegre, onde trabalhou na Rádio Difusora e na TV Difusora (atual afiliada da Rede Bandeirantes na cidade). A cidade de Porto Alegre marcou a vida de Geraldo pelo carinho impressionante que recebia do povo gaúcho. Em 1976 voltou para São Paulo, para a Rede Record, de abril a julho, com as marcantes transmissões, ao vivo dos EUA, dos jogos da Seleção Brasileira, com liderança nos Ibopes da época.

                        Foi ainda presidente da ACEESP. Sua gestão foi marcada pela criação do jantar comemorativo, logo em seu primeiro ano comandando a entidade.  O último grande evento narrado por Geraldo José de Almeida foi os Jogos Olímpicos de Montreal naquele mesmo ano. Faleceu um mês depois, ou seja, dia 16 de agosto de 1976, aos 57 anos de um câncer na vesícula, a alguns metros do estádio do Morumbi, onde acontecia um clássico de casa cheia.

                        Suas últimas palavras pronunciadas na TV, antes da doença, foram: “Adeus, adeus, adeus”… Casado com Dona Consuelo teve quatro filhos, que curiosamente nasceram em anos nos quais o São Paulo foi campeão paulista (1943, 1945, 1946 e 1948). Um deles, Luiz Alfredo, seguiu seus passos como narrador esportivo. O único neto que conheceu, nasceu em 1974 e como era neto e não filho, Geraldo dizia que o São Paulo seria campeão no ano seguinte, o que realmente aconteceu.

                        Geraldo José de Almeida foi um locutor esportivo que deixou muita saudade aos amantes do futebol. Ele emocionava até em “narração de corrida de tartarugas” por seu estilo vibrante, envolvente ao extremo. Certa vez irradiou uma partida entre Paulistas e Cariocas acomodado no telhado do antigo Estádio Palestra Itália.

O DIA DA MENTIRA

                     Em 1950, o São Paulo F.C. tinha perdido para o Palmeiras a chance de ser tricampeão paulista. Para se renovar e esquecer a derrota, a equipe são-paulina viajou para a Europa, onde realizaria uma série de amistosos (foram 13 jogos, 10 vitórias, 1 empate e 2 derrotas).

                     Supostamente, uma destas partidas seria contra o Milan, como anunciou à Rádio Panamericana nos jornais da época, que transmitiria o duelo no dia 1º de abril. De fato, o jogo foi transmitido, mas não aconteceu.

                     Naquele domingo, às 12h30, os ouvintes da Pan puderam acompanhar com Geraldo José de Almeida, a goleada do time italiano para cima do São Paulo: 8 a 1. A transmissão foi feita da garagem de Paulo Machado de Carvalho Filho, dias antes de o narrador embarcar com o São Paulo para a Europa na real excursão. Nem a esposa de Geraldo sabia da verdadeira história.

                      Paulo Machado de Carvalho Filho destacara que na segunda-feira, dois de abril, muitos veículos de comunicação deram a notícia da derrota tricolor como se o jogo tivesse acontecido. Naquele mesmo dia, a Pan revelou a todos que a transmissão foi uma brincadeira e opinião da mídia ficou dividida. Aqueles que publicaram algo criticaram a rádio, enquanto outros que não deram nada se divertiram com o erro da concorrência.

                      Segundo Paulo Machado de Carvalho Filho, a primeira reação dos anunciantes foi de revolta. Chutaram a porta de seu escritório e o chamaram de moleque. Mas com a repercussão positiva mudaram de opinião e queriam até repetir a dose”.

 

 

 

Da esquerda para a direita; Rui Porto, Vicente Feola, Geraldo José de Almeida, Flávio Iazetti, Walter Lacerda, fotógrafo Glicério dos Santos e Aurélio Belotti
Da esquerda para a direita: Emílio Colella, Ary Silva, Caetano Carlos Paioli, Blota Júnior, pessoa não identificada, Geraldo José de Almeida, Flávio Iazetti e Walter Abrahão, atrás
Mauro Pinheiro e Geraldo José de Almeida
Postado em G

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