NEURI: goleiro que brilhou no interior paulista na década de 60

                     Neuri Cunha Cordeiro nasceu dia 12 de março de 1945 na cidade de Bofete – SP. Desde a sua fundação, em 1946, o América de São José do Rio Preto contou com goleiros incríveis e que até hoje são lembrados por torcedores saudosistas. Um deles é Neuri, que defendeu o clube entre 1965 e dezembro de 1968. Brilhou tanto que foi vendido ao Palmeiras, onde permaneceu mais três temporadas. Neuri começou a jogar futebol na Ferroviária, de Botucatu, em 1962, aos 17 anos de idade. “O presidente Nelson Saad me viu jogando em equipes amadoras e fez o convite para eu disputar a Primeira Divisão (atual Série A-2)”, recorda Neuri.

                    No ano seguinte, a equipe botucatuense chegou às finais da competição e terminou em sexto lugar entre os nove finalistas. A Portuguesa Santista subiu e o Rio Preto ficou na sétima posição. Os demais participantes da etapa derradeira foram Estrada de Sorocaba, Ponte Preta, Bragantino, Votuporanguense, Francana e Nacional da Capital.

AMÉRICA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

                   Foi neste período que olheiros do Palmeiras acompanharam o desempenho daquele promissor goleiro e o indicaram ao clube do Parque Antártica. Ao mesmo tempo, o técnico Rubens Minelli havia deixado o Verdão e retornado ao América. “Fui para o América pela insistência do Minelli”, diz. A Ferroviária pediu Cr$ 15 milhões pelo seu vínculo. Entretanto, Dureid Fauaz, dirigente americano, concretizou o negócio pagando Cr$ 7 milhões mais o passe do centroavante Guará, estipulado em Cr$ 3 milhões. Chegou no América ainda jovem e meio desacreditado em maio de 1965.

                  No entanto, Mané Mesquita estava machucado e Reis foi padrinho de casamento no dia 28 de maio, data do amistoso contra a Ferroviária, em Araraquara. Estreou na vitória americana por 1 a 0, na Fonte Luminosa, gol de Ladeira. Assumiu o lugar do titular Reis no meio do Paulistão daquele ano. Na temporada seguinte teve alguns problemas de contusões e revezou na posição com Reis, Mané Mesquita e Raimundinho.

                 Recuperou a condição de titular em 1967, sob o comando do técnico João Leal Neto, mantendo-se absoluto na meta americana também em 1968, dirigido pelo treinador Wilson Francisco Alves, o Capão. “Nesses dois anos ganhei os prêmios oferecidos pela rádio Independência como melhor jogador do América no Paulistão”, relembra. Em excelente forma e com defesas cinematográficas chamou a atenção de cartolas de Santos, Palmeiras, Vasco e São Paulo. “Recebi várias propostas, mas o Birigui (Benedito Teixeira) e o Tarraf (Zaia) não queriam me liberar”, afirma.

                 Revoltado, Neuri abandonou o América e voltou para Botucatu, onde morava. “Eu queria crescer na profissão e era a grande chance da minha vida. Ou saía ou morreria no América.” Pressionou tanto, que os dirigentes não tiveram como evitar a transferência. “O América me vendeu na marra”, descreve. O Verdão pagou Cr$ 200 milhões por ele.

PALMEIRAS

                Apresentou-se no Palestra Itália em 1969. Estreou na vitória de 3 a 2 sobre o Corinthians, no dia 22 de junho, no Morumbi, pelo turno final do Campeonato Paulista. Nesse dia o técnico Filpo Nuñes mandou a campo os seguintes jogadores; Neuri, Eurico, Baldochi, Minuca e Dé; Dudu e Ademir da Guia; Copeu, Jaime, Artime e Serginho. Do outro lado o técnico corintiano Dino Sani escalou a seguinte equipe; Lula, Mendes, Ditão, Luiz Carlos e Pedro Rodrigues; Dirceu Alves e Rivelino; Paulo Borges, Servilio (Tales), Benê e Tião (Aladim). Os gols palmeirenses foram anotados por Dudu, Artime e Jaime, enquanto que para o Corinthians marcaram Benê e Rivelino de pênalti. O árbitro da partida foi José Favile Neto.

                 No começo brigou pela titularidade com Chicão, recém-contratado junto ao São Bento, de Sorocaba, mas depois firmou-se com a camisa 1 do Verdão. Porém, lesionado, teve que deixar a equipe. “Sofri uma contusão na semana antecedente ao clássico com o Santos, na Vila Belmiro.” O Chicão, que iria substituí-lo, também se machucou no coletivo de sexta-feira. Sem outra alternativa, o técnico Filpo Nuñes escalou o novato Emerson Leão, vindo do Comercial, de Ribeirão Preto. “O Leão pegou um pênalti e não saiu mais do time”, destaca Neuri. Mesmo na reserva ficou no Palmeiras até dezembro de 1971. Neste período disputou 43 partidas, com 21 vitórias, 12 empates e 10 derrotas, sofrendo 48 gols, média de 1,11 gol por jogo

OUTROS CLUBES

                Como a estrela de Emerson Leão brilhou no Palmeiras e Neuri ficou renegado a um segundo plano, a diretoria decidiu emprestá-lo ao Vitória, em 1972. O rubro-negro baiano era comandado pelo técnico Djalma Santos, posteriormente substituído por Jorge Vieira. “Fomos campeões estaduais”, diz o goleiro. No ano seguinte, Neuri cruzou o País e trocou o Vitória pelo Atlético-PR. “Fomos vice-campeões do Campeonato Paranaense. Perdemos a decisão para o Coritiba.” No final de 1973 deixou o Furacão e foi para o Marília, que na época disputava o Paulistinha (equivalente hoje à Série A-2). Permaneceu no MAC até 1975. Depois, acertou com o Operário, de Campo Grande-MS. Sob a batuta do técnico Carlos Castilho, ex-goleiro da Seleção Brasileira, foi campeão matogrossense. Também defendeu o Marcílio Dias-SC e o Araçatuba até chegar ao XV de Piracicaba. “O Nestor Alves (treinador), que havia trabalhado comigo no Araçatuba, foi para o XV e me levou.”

FORA DAS QUATRO LINHAS

                  Pendurou a chuteira em 1979 na equipe quinzista e passou a exercer a função de treinador do juvenil do Marília. Dirigiu o profissional interinamente em algumas ocasiões. Também foi treinador do Garça e do Tupã, mas seu reduto era Marília. “No MAC fui preparador de goleiros e auxiliar técnico.” Uma grande tragédia mudou o rumo de Neuri em 1992. O filho dele, também chamado Neuri, defendia o aspirante do Marília contra o América, numa partida preliminar no estádio Mário Alves Mendonça, em Rio Preto, quando caiu desacordado. Aos 20 anos, o garoto sofreu um infarto fulminante e morreu no gramado. “Foi igual o Serginho, do São Caetano”, recorda.

                 Abatido, Neuri decidiu mudar de profissão. Passou a ser comentarista esportivo. Já trabalhou nas rádios Dirceu, Itaipu e Diário. Atualmente apresenta o programa “Bola na Trave”, exibido de segunda à sexta-feira, das 11h30 às 12h30, pelo canal 9 (TV da Cidade de Marília). Também comanda na mesma emissora o “Bola & Viola”, que vai ao ar às quartas-feiras, das 20 às 21h30. Neuri casou-se com Adair em 1966, quando jogava no América, e mora desde 1980 em Marília, onde preside o Yara Clube. Pai de Adriana e Neuri (in memorian), ele é avô de Matheo e Giulia.

América de SJRP em 1967   –   Em pé: Ambrósio, Manoel, Severo, Adélson, Caxias e Neuri      –     Agachados: J. Alves, Aloísio, João Daniel, Ademir e Caravetti
Operário do Mato Grosso   –   Em pé: Marião, Paulinho, Tecão, Liminha, Jurandir e Neuri   –    Agachados: Natal, Serginho, Everaldo, Dante e Peri
América de SJRP   –   Em pé: Motta, Nelson, Adelson, Neuri, Mané Barbudo e Ambrosio   –    Agachados: Arcanjo, Cardoso, Gildo, Raul e Caravetti
Atlético Paranaense    – Em pé: Júlio, Torino, Clóvis, Dí, Alfredo e Neuri   –    Agachados: Buião, Sicupira, Madureira, Sérgio Lopes, e Didi Pedalada
Em pé: Eurico, Neuri, Baldochi, Dé, Nélson e Dudu   –    Agachados: Edu, Hector Silva, César, Ademir da Guia e Pio
Marília em 1974    –   Em pé: Santana, Cardosinho, Ademir, Tinho, Mineiro e Neuri   –   Agachados: Caldeira, Toninho II, Itamar, Evaldo e Toninho
Em pé: Eurico, Neuri, Luís Pereira, Nelson, Dudu e Dé   –   Agachados: Copeu, Jaime, César, Ademir da Guia e Pio

Postado em N

Deixe uma resposta