BIGODE: campeão pelo Flamengo, Fluminense e Atlético Mineiro

                  João Ferreira nasceu dia 4 de abril de 1922, na cidade de Belo Horizonte – MG. Nos meios futebolísticos era conhecido por Bigode. Foi um jogador que só jogou em grandes clubes, como por exemplo, Atlético Mineiro, Fluminense, Flamengo e também defendeu nossa seleção brasileira na Copa de 50 que foi disputada aqui no Brasil. Era um lateral esquerdo viril, que não tinha medo de cara feia e que se impunha aos atacantes com muita força física, embora fosse baixinho. Quem conhecia Bigode, como todos os seus companheiros de Seleção conheciam, sabe até hoje, os que ainda estão vivos – e há vários, que o mineiro Bigode não era homem de se acovardar, nem de ser agredido em pleno Maracanã sem “quebrar o pau”, fosse com quem fosse. Seja como for, Bigode passou pelo futebol brasileiro com glória e honra.

ATLÉTICO MINEIRO

                  Bigode começou a sua carreira nas equipes amadoras do Industrial e do Combate, até se profissionalizar no Atlético Mineiro  em  1940.  Pelo Galo Mineiro, sagrou-se campeão em 1941 e 1942. Na época o Atlético tinha um grande time e depois de conquistar o título de 1941, o Atlético realizou uma façanha inédita no futebol brasileiro conquistou o bicampeonato, em 1.942, sem perder um único ponto: jogou 11 vezes e venceu as 11. Depois destas conquistas, a torcida, seguramente, dobrou em relação à do América, segundo clube do Estado até então.

FLUMINENSE

                 Em 1943 deixou Minas Gerais e foi para o Rio de Janeiro, para defender o Fluminense, onde também conquistou a torcida tricolor com suas belas apresentações. Jogou no Fluminense de 1943 até 1949 e de 1952 até 1955. Com a camisa do Fluminense sagrou-se campeão carioca em 1946 e campeão da Copa Rio em 1952. Disputou 396 jogos e marcou um gol. A decisão do título de 1946 foi contra o Botafogo e o Tricolor carioca venceu por 1 a 0, gol de Ademir Menezes. Neste dia o Fluminense jogou com; Haroldo, Robertinho, Gualter, Pé de Valsa e Bigode; Pascoal e Orlando Pingo de Ouro; Pedro Amorim, Simões, Ademir Menezes e Rodrigues.

FLAMENGO

                 Bigode chegou na Gávea no início de 1950 e sua estreia com a camisa do Mengão aconteceu dia 14 de janeiro, quando o Flamengo empatou com o Vasco da Gama em 1 a 1. Ficou no Flamengo até o final de 1951 e nesse período sagrou-se campeão do Torneio Início de 1951. Disputou 70 partidas pelo rubro negro, sendo 25 em 1950 e 45 em 1951. Foram 34 vitórias, 15 empates e 21 derrotas.

SELEÇÃO BRASILEIRA

                A primeira vez que Bigode vestiu a camisa canarinho foi e 1949, quando conquistou o Campeonato Sul-Americano. No ano seguinte foi convocado novamente e conquistou a Taça Oswaldo Cruz, ao vencermos o Paraguai por 2 a 0 no dia 7 de maio. Dez dias depois conquistou a Copa Rio Branco, ao vencermos o Uruguai por 1 a 0. Ainda em 1950 o técnico Flávio Costa o convocou para disputar a Copa do Mundo, que seria disputada aqui no Brasil. Para a lateral esquerda também foi convocado o jogador Noronha, que jogava no São Paulo, mas jogou somente uma partida, contra a Suíça e que empatamos em 2 a 2. Como o jogo era em São Paulo, no Estádio do Pacaembu, o técnico resolveu escalar o trio que na época fazia muito sucesso no futebol paulista, ou seja, Rui, Bauer e Noronha.

COPA DE 1950

                 Dia 25 de julho de 1946, o Brasil candidatou-se sediar a Copa do Mundo de 1950. Aliás, o Brasil foi o único país que candidatou-se, pois a Europa castigada pela guerra não apresentou nenhum candidato. Assim que o Brasil foi confirmado como organizador da Copa de 1950, começaram os preparativos. A Copa seria realizada com apenas 13 países, 6 de Europa e 7 Americanas. As 13 seleções foram divididas em quatro grupos. O Brasil caiu no Grupo 1, onde também estavam; Iugoslávia, Suíça e México. O Brasil fez sua estreia no dia 24 de junho, dia em que tivemos a abertura oficial do mundial.

                 Foi um jogo fácil para os brasileiros, que venceram por 4 a 0, gols de Ademir de Menezes (2), Jair da Rosa Pinto e Baltazar. Veio então a segunda partida, contra a Suíça no dia 28 e empatamos em 2 a 2, gols de Alfredo e Baltazar. Esta foi a única partida que nossa seleção realizou fora do Rio de Janeiro. E para fechar nossa participação na primeira fase, enfrentamos a Iugoslávia no dia 1 de julho e vencemos por 2 a 0, gols de Ademir de Menezes e Zizinho.

                 Terminada esta primeira fase, quatro seleções se classificaram para o quadrangular final, ou seja, Brasil, Suécia, Espanha e Uruguai. O Brasil enfrentou a Suécia e não teve nenhuma dificuldade em vencê-la, 7 a 1, gols de Ademir de Menezes (4), Chico (2) e Manéca. Este jogo aconteceu dia 9 de julho. Neste mesmo dia, Uruguai e Espanha empataram em 2 a 2. Nosso próximo adversário seria a Espanha. Este jogo aconteceu dia 13 de julho e novamente nossa seleção deu um show de bola, mais uma goleada, desta vez, 6 a 1, gols de Ademir de Menezes (2), Chico (2), Jair da Rosa Pinto e Zizinho.

                 No outro jogo que foi realizado no Pacaembu, o Uruguai derrotou a Suécia por 3 a 2. Chegava finalmente o grande dia, 16 de julho de 1950, dia em que o mundo ficaria conhecendo o campeão da 4ª Copa do Mundo. No Pacaembu Espanha e Suécia iriam jogar para decidir quem ficaria em 3º lugar uma vez que ambos não tinham mais chance de conquistar o título. E nesta disputa, a Suécia levou a melhor vencendo por 3 a 1.

JOGO FINAL

                  Ao se aproximarem do estádio, o ônibus da nossa seleção quebrou e os jogadores precisaram descer para empurrar. Chegaram ao estádio em torno de uma hora da tarde. Quando chegaram ao vestiário, encontraram colchão para todo mundo se deitar no chão. Os jogadores queriam logo entrar em campo e acabar com aquela ansiedade que tomava conta de todos. O Brasil entrou em campo com a seguinte formação; Barbosa, Augusto, Juvenal, Bauer e Bigode; Danilo e Jair da Rosa Pinto; Friaça, Ademir de Menezes, Zizinho e Chico. O Uruguai jogou com; Máspoli, Matias, Gonzáles, Tejera, Gambetta, Obdúlio Varela, Rodrigues e Andrade; Gigghia, Júlio Perez, Miguez, Schiaffino e Moran.

                Finalmente começou o jogo e o primeiro tempo terminou empatado em 0 a 0. Veio o segundo tempo e o gol brasileiro saiu logo no primeiro minuto de jogo. O Maracanã enlouquece. Friaça, o autor do gol também. Naquele momento os jogadores brasileiros eram os deuses, mesmo porque o empate já dava o título ao Brasil. No entanto, a fibra dos uruguaios não deixou que o Brasil comemorasse por muito tempo, pois Schiaffino empatou a partida.

                Quando faltavam nove minutos para o término da partida, um ataque uruguaio pela direita levou Gigghia até quase a linha de fundo, com Bigode cercando-o firmemente. Quando todos esperavam, como no primeiro gol, um cruzamento, Gigghia disparou um tiro a meia altura bem na direção do canto em que estava Barbosa, o goleiro do Brasil. A bola passou no pequeno espaço entre o poste esquerdo e o corpo de Barbosa. Silêncio sepucral no imenso estádio, eu diria até um silêncio ensurdecedor. Quando o árbitro inglês George Reader, apitou o final da partida, todos procuravam entender o que estava acontecendo.

                Os 200 mil torcedores ali presentes estavam inertes em seus lugares. Dirigentes, jornalistas, jogadores e torcedores brasileiros choravam e se lamentavam. Era muito tarde para perceber que haviam menosprezado a seleção uruguaia. E assim dessa maneira, o Uruguai sagrava-se bicampeão do mundo. Aquela derrota transformou o Brasil num verdadeiro dia de finados para o nosso futebol.

               Nenhum outro jogador, entre os onze que perderam a Copa do Mundo de 1950, sofreu tanto quanto Bigode. A fama de covarde correu pelo país inteiro, com a mesma rapidez com que haviam se espalhado os gritos antecipados de “Brasil campeão”. Ele esperou as duzentos mil pessoas deixarem o maracanã e, quando já era noite, foi de ônibus para casa. Não dormiu: reviveu os lances do jogo, gravado na memória, principalmente a jogada de Gighia. O dia seguinte chegou e ele não fez nada. Simplesmente ficou esperando que alguma coisa acontecesse. E aconteceu. Os comentários de rádios e jornais eram para culpa-lo pela derrota.

                Quando foi convocado jogava pelo Flamengo. Depois voltou para o Fluminense e, em 1956, encerrou uma carreira de 15 anos. Em 1965, as mesmas seleções do Brasil e do Uruguai voltaram ao maracanã para um jogo de confraternização. E, embora Obdulio tivesse insistido para que Bigode comparecesse, ele não apareceu. Desde de 1950 que o maracanã não era um lugar agradável para ele. O maracanã e as pessoas continuavam achando que Bigode perdeu a Copa sozinho. Pela Seleção Brasileira, Bigode fez 11 jogos (oito vitórias, um empate e duas derrotas).

                O ex-jogador João Ferreira, que ficou conhecido como Bigode e disputou a Copa de 1950 pela seleção brasileira, morreu na madrugada do dia 31 de julho de 2003, em Belo Horizonte. Ele tinha 81 anos e estava internado no Hospital de Pronto-Socorro Papa João 23. Segundo informações do hospital, Bigode apresentava um quadro de insuficiência respiratória e pneumopatia crônica, que evoluiu para uma infecção generalizada. Bigode, assim como todos os seus companheiros de seleção, ficou marcado por ter perdido a final da Copa do Mundo de 1950, para o Uruguai, em pleno Maracanã. Por muitos e muitos anos, a decepção daquela derrota marcaria profundamente o torcedor brasileiro.

Em pé: O massagista Mário Américo, Bauer, Danilo, Nena, Castilho, Juvenal e Bigode   –    Agachados: Friaça, Maneca, Baltazar, Pinga e Rodrigues
Atlético Mineiro de 1942   –    Em pé: Califa, Hermetério, Ramos, Cafunga, Joaquim e Bigode   –    Agachados: Galego, Baiano, Tião, Nicola e Rezende
Copa de 1950  –  Em pé: Barbosa, Augusto, Danilo, Juvenal, Bauer e Bigode    –   Agachados: Friaça, Zizinho, Ademir de Menezes, Jair Rosa Pinto e Chico
Jogadores da Seleção Brasileira de 1950   –   Em pé: Barbosa, Augusto, Danilo, Juvenal, Bauer e Bigode       Agachados: Friaça, Zizinho, Ademir de Menezes, Jair Rosa Pinto, Chico e Mário Américo
Em pé: Bria, Valter, Cláudio, Biguá, Juvenal e Bigode     –    Agachados: Aluízio, Arlindo, Hélio, Lero e Esquerdinha
Postado em B

Deixe uma resposta