ALDEMAR: campeão paulista pelo Palmeiras em 1959

                 Aldemar Santos nasceu dia 7 de novembro de 1932 no bairro de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Foi sem dúvida alguma, um dos melhores zagueiros do nosso futebol. Foi tão bom de bola que é considerado até hoje um dos melhores marcadores que Pelé teve em sua brilhante carreira. Era um jogador hábil e inteligente. Sua melhor fase foi vestindo a camisa alviverde de Parque Antarctica, uma época em que o Santos tinha uma verdadeira máquina de jogar futebol, com Pelé no auge de sua carreira. No entanto, sempre que enfrentava o Palmeiras encontrava muita dificuldade, em especial no ano de 1959, quando as duas equipes precisaram fazer três partidas para saber quem seria o legítimo campeão paulista daquele ano.  Mas Aldemar brilhou também em outras equipes, como por exemplo no Santa Cruz, onde conquistou o título de supercampeão pernambucano de 1957. Jogou no time pernambucano de 1954 até 1958, vindo posteriormente jogar na Sociedade Esportiva Palmeiras, onde se consagrou.

SANTA CRUZ

               Aldemar começou sua carreira no Vasco da Gama em 1951. Três anos depois foi contratado junto ao Santa Cruz do Recife. Sua estreia na equipe pernambucana aconteceu dia 11 de junho de 1954, quando o Santa enfrentou e venceu o Botafogo da Paraíba por 2 a 1. O jogo foi na Ilha do Retiro e os dois gols do Santa foram anotados por Tonho. Mas o grande momento de Aldemar com a camisa do Cobra Coral, foi em 1957, quando o Santa Cruz decidiu o título pernambucano contra seu maior rival, o Sport Recife. Um título que lavou sua alma e explodiu de alegria os tricolores pernambucanos, esse foi o Super Campeonato de 1957, que foi do mais alto nível, com os três grandes investindo pesado. O Náutico trouxe os atacantes Benitez e Edmar, este vindo para substituir o artilheiro e ídolo alvirrubro Ivson. O Sport buscava o tricampeonato com quase o mesmo time do bi, sendo o jovem goleiro Manga a novidade. Já o Santa era recheado de craques como Aníbal, Lanzoninho, Marinho, Faustino, Edinho, Zequinha, que em 62 iria ser campeão mundial com o Brasil e, claro, Aldemar.

               A torcida, na espera por um título há quase dez anos, virou manchete nos jornais da época pela bravura e fidelidade ao time. Além dos fortes adversários, o Santa Cruz teve de driblar um surto de gripe “asiática”. Zequinha, que mais tarde também viria fazer muito sucesso no Palmeias e mais outros atletas, foram atingidos pela doença, o que ocasionou na queda de rendimento do time, mas não o suficiente para conquistarem o título tão esperado pela torcida do Santa Cruz. A cerveja, de tanta festa, acabou. A equipe, que explodiu de felicidade sua torcida jogou assim naquele dia 16 de março de 1957 contra o Sport; Aníbal, Diogo e Sidney, Zequinha, Aldemar e Edinho; Lanzoninho, Faustino, Rudimar, Mituca e Jorginho. O Técnico era Alfredo Gonzalez e o árbitro da partida foi  Esteban Marino.

               Com esta conquista a torcida do Santa ficou enlouquecida. Saiu da Ilha para o Arruda em passeata. Por onde passava, ia arrastando mais gente. O torcedor perdido se agarrava à multidão, aderindo a ela como marisco em rochedo. Não teve um bar em Recife que não ficasse coalhado de gente. E o estoque de cerveja acabou em todos os bares. O público presente na Ilha do Retiro, mais de 35 mil pessoas, o quê equivalia a 8% da população do Recife – hoje, considerando essa porcentagem, seria como se fosse 200 mil pessoas no Arruda. Apelidado de “o príncipe” devido ao seu estilo elegante de jogar, pois roubava a bola com maestria, sem qualquer indício de violência, Aldemar foi o capitão supercampeão e, invariavelmente, o líder de um dos melhores times do tricolor.

               Não bastasse a segurança na hora de defender, ele ainda marcou um dos gols (de pênalti) na partida que tirou o Santa da fila, 3×2 contra o Sport, na Ilha. No supercampeonato, Aldemar atuou em 18 dos 21 jogos do Santa e anotou oito gols. Na época ficaram famosos os duelos que travava com Naninho, um gaúcho goleador do Sport, mas que geralmente tropeçava na bola quando enfrentava o craque do Santa – mais tarde esses duelos viriam a ser com o rei Pelé. Após se destacar no Santa, se transferiu, junto com Zequinha, ao Palmeiras para fazer parte da famosa Academia de Ademir da Guia, o Divino. Pouco depois de deixar o Recife, foi convocado pelo técnico Vicente Feola para defender o “scratch”canarinho, mas acabou sendo preterido da disputa da Copa do Mundo de 62, vencida pelo Brasil. Enquanto atuou em Pernambuco, também fez parte da Seleção Pernambucana, pela qual disputou o Campeonato Brasileiro de 1956 (quase todo jogado em 57), quando Pernambuco terminou na quarta colocação. Dos onze jogos do time pernambucano, Aldemar esteve presente em seis.

PALMEIRAS

                 Em 1958, Aldemar chegava ao Parque Antarctica, onde formou uma das melhores equipes do Palmeiras de todos os tempos. Quem pode esquecer da grande final do Campeonato Paulista de 1959, quando Palmeiras e Santos se enfrentaram. Foi uma das finais que entrou para a história do futebol nacional. O Santos tinha Laércio, Urubatão, Getúlio, Dalmo, Formiga, Zito, Dorval, Jair da Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe. Sem dúvida alguma, um time que impunha muito respeito a qualquer adversário. Já pelo Palmeiras, o técnico Osvaldo Brandão mandou a campo os seguintes jogadores; Valdir, Djalma Santos, Valdemar Carabina, Aldemar, Geraldo Scotto, Zequinha, Chinesinho, Julinho Botelho, Américo, Nardo e Romeiro. Realmente duas máquinas de jogar futebol. Dos 22 jogadores, 13 já haviam vestido a camisa da seleção brasileira.

                 Quem teve a felicidade de ver estes monstros sagrados jogarem, pode dizer que é um privilegiado, pois eram jogadores de alto nível, coisa que nos dias de hoje não vemos mais. E o mais importante, jogavam por amor a camisa, pois o que ganhavam não chega nem perto de muitos jogadores de quinta categoria dos dias de hoje.  São estes jogadores de hoje, que nos fazem sermos saudosistas. Foram necessários três jogos para decidir quem seria o grande campeão. No primeiro confronto tivemos um empate de 1 a 1, gols de Pelé para o Peixe e Zequinha para o Verdão. No segundo jogo outro empate, desta vez em 2 a 2. E na terceira partida o Palmeiras venceu por 2 a 1, gols de Julinho Botelho e Romeiro, enquanto que para o Santos, Pelé marcou o único tento.

               Aldemar jogou no Palmeiras até 1964 e nesse período sagrou-se campeão paulista em 1959 e 1963 e campeão da Taça Brasil em 1960. Com a camisa do Verdão, Aldemar fez 277 jogos (188 vitórias, 44 empates e 45 derrotas) e marcou dois gols. O excelente ex-zagueiro defendeu também o América de Belo Horizonte e o Guarani de Campinas. No Bugre, encerrou sua carreira em 1966.

SELEÇÃO BRASILEIRA

               Aldemar atuou quatro vezes pela Seleção Brasileira, tendo três vitórias e uma derrota. Sua estreia com a camisa canarinho aconteceu em 29 de maio de 1960, na vitória por 4×1 diante da Argentina, pela Copa Rocca. E a última partida vestindo a “amarelinha” foi no dia 29 de junho do ano seguinte, num amistoso, no Maracanã, Brasil 3×2 Paraguai. Pela Seleção Brasileira foi Campeão da Taça do Atlântico em 1960 e Campeão da Copa Rocca, também em 1960.

TRISTEZA

               Desde que foi cortado da Seleção Brasileira, em 1962, Aldemar ficou muito triste e começou a beber muito. Tempos depois, após sua saída do Palmeiras, foi contratado pelo Guarani, mas a bebida o dominou e ele não conseguiu deixá-la jamais. Em 1966, foi contratado pelo Santa Cruz para ser técnico. Foi a Recife mas não se apresentou ao clube pois já estava sofrendo de “Amnésia Recente”. Ficou em Recife sozinho, sumido, até que um ex-jogador amigo o encontrou na rua e o levou para sua casa. Logo em seguida, ligou para seus irmãos, no Rio de Janeiro, e eles foram buscá-lo em Pernambuco.

              Aldemar fez tratamento para amnésia, mas não tomava os remédios direito e a doença foi se agravando. Assim, Aldemar continuou muito triste e acabou por falecer. Ele morreu na casa de seus pais em Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, quando, no dia 21 de janeiro de 1977, dona Alice, sua mãe, foi acordá-lo pela manhã e ele já estava morto. Em seu sepultamento, nenhum clube onde jogou mandou sequer um telegrama de condolências. Deixou três filhos e três netos.

              Foi considerado, não apenas pela imprensa, mas pelo próprio Rei do futebol, como um dos melhores marcadores de Pelé. Na decisão do Supercampeonato Paulista de 1959, Palmeiras e Santos fizeram a final e Aldemar tinha a ingrata missão de marcar o camisa 10 santista. Os elogios de Pelé a Aldemar após o título palmeirense e à atuação destacada do zagueiro foram inevitáveis.

               Aldemar era conhecido por seu futebol elegante, as passadas longas e a inteligência. Além de um ótimo e hábil marcador, tinha bom porte físico e um grande espírito de liderança. Jogador de categoria refinada. Não era elegante apenas no campo. Ele chegou a figurar numa lista dos “10+” elaborada pela crônica social do Recife. Aldemar teve um irmão chamado Ismar Santos, de chute muito forte que, como ponta-esquerda, fez muitos gols em Gylmar dos Santos Neves, jogando por Guarani e Ponte Preta. Como dissemos, nenhum clube por onde Aldemar jogou, mandou se quer um telegrama de condolências, mas nós que amamos o futebol, não podíamos de deixarmos nossa humilde homenagem a este grande craque.

Em pé: Djalma Santos, Valdir, Waldemar Carabina, Aldemar, Zéquinha e Geraldo Scotto     –    Agachados: Gildo, Julinho, Geraldo José , Chinesinho e Romeiro
Em pé: Djalma Santos, Valdir, Waldemar Carabina, Aldemar, Perinho e Zé Carlos     –    Agachados: Norberto, Alencar, Geraldo José, Américo e Goiano
SANTA CRUZ – Em pé: Sidnei, Diogo, Anibal, Aldemar, Edinho e Zequinha     –    Agachados: Lanzoninho, Rudmar, Mituca, Faustino e Jorginho
Em pé: Djalma Santos, Valdir, Waldemar Carabina, Aldemar, Zéquinha e Geraldo Scotto    –    Agachados: Gildo, Américo, Vavá, Hélio Burini e Geraldo José
Em pé: Djalma Santos, Valdir, Waldemar Carabina, Aldemar, Zéquinha e Geraldo Scotto     –    Agachados: Julinho, Nardo, Américo, Chinesinho e Romeiro
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