ORÉCO: conquistou seis títulos pelo Internacional/RS

               Waldemar Rodrigues Martins nasceu dia 13 de junho de 1932, na cidade de Santa Maria (RS).  Em 1950, o Internacional de Porto Alegre foi fazer um amistoso na cidade Santa Maria, contra um time daquela cidade. Após o jogo, o treinador do time colorado gostou da atuação de um zagueiro alto e de apenas 18 anos, e resolveu contrata-lo. O valor da transferência? Um muro.  Em troca daquele jogador conhecido por Oréco, o Internacional mandou construir um muro ao redor do campo. Após esta fantástica história, Oréco defendeu o Internacional por sete anos, de 1950 à 1957.

               Na época, o zagueiro e lateral esquerdo foi cinco vezes campeão gaúcho pelo Colorado, em 1950, 51, 52, 53 e 55. Em 1956, ganhou o Pan-Americano, torneio em que o Brasil foi representado no México, somente por jogadores gaúchos. Entre eles estavam: o goleiro Joaquim Valdir de Moraes, e o  atacante  Chinesinho,  que depois vieram  defender  o  Palmeiras,  o meio  campista  Ênio Andrade e o zagueiro Oréco.  Em 1957, após suas boas atuações e vários títulos conquistados pelo Inter, a Portuguesa de Desportos demonstrou interesse na contratação de Oréco. Quando a Lusa estava pronta para contrata-lo, tendo até enviado um agente para o sul, o técnico Brandão, do Corinthians, também se interessou em contar com o futebol do jogador e correu para contrata-lo.

               Enquanto o diretor da Lusa descia para o sul do país com o dinheiro na pasta, Brandão já subia de volta com o passe de Oréco no bolso. A partir daí, Oréco manteve as boas atuações e passou a ser ídolo no Corinthians, onde permaneceu por oito anos, de 1957 à 1965.  Sua estréia com a camisa corintiana, aconteceu no dia 28 de abril de 1957, quando o Corinthians enfrentou o América do Rio de Janeiro em pleno Maracanã. Neste dia o Timão jogou com; Gilmar, Idário, Olavo, Cássio e Oréco; Roberto Belangero e Rafael; Cláudio, Luizinho, Paulo e Beni.  Sua estréia não foi boa, pois o time carioca venceu por 4 a 1.

               No Corinthians, Oréco não conquistou nenhum grande título, somente a Taça dos Invictos em 1957, quando o Corinthians ficou 35 jogos sem perder, mas o seu prestígio no clube era tão grande que sua ausência no mundial de 1962 provocou protestos do então presidente do Corinthians Wadih Helou.  Mas em 1958, fez parte do elenco em que o Brasil conquistou seu primeiro título mundial, onde ficou na reserva do grande Nilton Santos. Com a camisa amarelinha, participou de onze jogos, sendo oito vitórias, dois empates e apenas uma derrota. Ainda pela nossa seleção, Oréco faturou a Copa Rocca de 1957 e a Taça Oswaldo Cruz em 1958 e 1961, além do Pan-Americano de 1956 já citado.

               A seleção brasileira que disputou este Pan-Americano, era assim formada; Valdir, Florindo, Ênio Rodrigues, Duarte e Oréco; Odorico e Ênio Andrade; Luizinho, Bodinho, Larry e Chinesinho. (somente jogadores que atuavam no Rio Grande do Sul). A Taça da conquista do campeonato Pan-Americano de 1956 não faz mais parte do acervo da Confederação Brasileira de Futebol. O troféu foi roubado junto com a taça Jules Rimet, segundo inquérito aberto pela polícia carioca, as “relíquias” foram derretidas.

              Com a camisa do Corinthians, Oréco disputou 408 jogos. Venceu 222, empatou 89 e perdeu 97. Marcou 3 gols a favor e 1 contra.  Sua despedida do Timão aconteceu no dia 20 de março de 1965, quando o Corinthians perdeu para o Flamengo por 4 a 2 no Maracanã pelo Torneio Rio São Paulo. Neste dia o Corinthians jogou com; Cabeção, Neco, Eduardo, Clóvis e Oréco; Edson e Rivelino; Ferreirinha, Flávio, Manuelzinho e Bazani. O técnico era Oswaldo Brandão.

              Em 1965, trocou o Corinthians pela equipe do Milionário da Colômbia, e se juntou a vários jogadores brasileiros que defendiam a equipe, como Lima, Orlando, Romeiro, Faria e outros, todos eles dirigidos por José Carlos Bauer, o mostro do Maracanã, na Copa de 50. Oréco defendeu a equipe colombiana por dois anos, até quando, convidado por um empresário amigo, se transferiu para o Toluca, do México.  No começo não se interessou muito, em jogar no México, já que pretendia voltar a jogar por um clube brasileiro.

              Porém, resolveu visitar o clube e ver se teria condições de se aclimatar. No mesmo dia de sua chegada, Oréco assinou contrato com a equipe mexicana e à noite já entrou em campo para defender o novo clube. Seu companheiro de clube era Amaury, que havia jogado no São Paulo F.C. Permaneceu no clube mexicano até 1969, quando decidiu voltar ao Brasil. Porém, antes de voltar à terra natal, teve de viajar até os Estados Unidos para vender seu Mustang, pois na época o México não permitia o comércio de carros estrangeiros no país. Chegando na terra do Tio Sam, encontrou Juraci, ex-São Paulo, que jogava e era auxiliar técnico do Dallas Tornado, da cidade de Loredo.

               Este amigo insistiu para que ele jogasse no clube americano, mas Oréco explicou que não dava, pois já tinha até comprado as passagens para o Brasil e sua esposa já estava com tudo preparado. Não satisfeito, Juraci ligou para a esposa de Oréco e a convenceu a embarcar para os Estados Unidos. Ela gostou da idéia e mais ainda seus dois filhos, Waldir e Waldemar. Depois de ver que toda família desejava que ele jogasse nos Estados Unidos, ele não teve outra alternativa e assinou contrato com o clube americano. Pretendia ficar somente seis meses, mas acabou ficando por sete anos.

               Porem, no clube só jogou até 1971, pois como a temporada americana durava apenas seis meses, os jogadores eram escalados para trabalhar no restante do ano em empregos indicados pelo clube, que continuava pagando os salários dos atletas regularmente. Como o trabalho arranjado pelo clube era de professor de futebol em escolas da cidade, Oréco começou a gostar de ensinar a arte do futebol. Diante do interesse da garotada, resolveu montar sua própria escolinha de futebol e se deu muito bem.  Foi o primeiro brasileiro a montar uma escola de futebol na América do Norte.

               Encerrou sua carreira em 1971, nos Estados Unidos e, apenas em 1976 voltou ao Brasil. Aqui trabalhou na importação e exportação, foi dono de uma frota de peruas para transporte e dava aulas para os garotos que sonhavam ser como ele, um vitorioso no futebol. Além disso, não largava a paixão que sempre teve pelo futebol. Aos domingos, se juntava aos amigos que formaram o Milionários F.C., agremiação de veteranos craques do futebol brasileiro. Grande símbolo do Internacional de Porto Alegre e do Corinthians nos anos 50 e 60, o lateral esquerdo Waldemar Rodrigues Martins, o Oréco, faleceu no dia 3 de abril de 1985, aos 53 anos, na cidade paulista de Ituverava.

               Ele disputava uma partida de máster e se sentiu mal. Foi levado ao hospital da cidade, mas nada puderam fazer, pois já chegou morto. A morte de Oréco foi semelhante a do jogador Fontana, ex-zagueiro do Vasco, do Cruzeiro e da seleção brasileira de 70, que morreu no dia 10 de setembro de 1980, em Vitória (ES). Susto parecido passou o ex-zagueiro corintiano Luiz Carlos Galter, em 2005, também durante um jogo de veteranos. Luiz Carlos foi salvo por um desfibrilador, que estava à beira do gramado naquele dia. Luiz Carlos jogou no Corinthians de 1967 até 1974.

               Oréco jogou futebol até o último instante de sua vida. Foi um apaixonado pelo futebol e soube aproveitar a curta carreira de jogador de futebol. Conheceu pessoas, países e culturas. Fez amigos e adquiriu experiência nos gramados e na vida. Talvez por isso, pode-se dizer que, Oréco foi bem sucedido, já que prosperou sem nunca ter abandonado sua maior paixão: o futebol.  Ainda hoje é lembrado no Parque São Jorge, como um dos melhores laterais que passaram por lá. Além disso, a simpatia dele para com o clube alvinegro foi tanta que, mesmo após ter encerrado a carreira, não hesitava em declarar que o Corinthians continuava sendo o seu clube do coração e, se voltasse a jogar, teria de ser pelo alvinegro. Para sua felicidade ser completa, só faltou um título com a camisa do Corinthians, já que o Timão na época em que ele jogou, não conquistou nenhum, foram anos difíceis para a torcida corintiana.

               Oréco sempre brincava com os companheiros dizendo que ele era o único jogador de futebol do mundo, que foi trocado por um muro. E foi com essa surpreendente frase “sou o único jogador que foi trocado por um muro”, que Oréco explicou, em entrevista para o jornal “A Gazeta Esportiva”, sua primeira transferência de sua carreira. De certa forma, o valor pode ser considerado bizarro, visto que no futebol atual as transferências giram em torno de milhões e nem mesmo os jogadores de clubes pequenos, hoje, deixam de ganhar alguns bons trocados.

               Contudo, foi assim mesmo, pelo simples preço de um muro, que o jogador saiu do pequeno Internacional de Santa Maria do Rio Grande do Sul, para o xará da capital, o Inter de Porto Alegre.  Para os mais jovens, podemos afirmar que, Oreco foi um dos maiores laterais esquerdo da história do futebol brasileiro. Só não foi titular na Copa de 58, na Suécia, porque naquela época havia um monstro sagrado chamado Nilton Santos, que sabia tudo e um pouco mais. Fica aqui nossa humilde homenagem a este craque que tão bem soube honrar o nosso futebol, tanto nos clubes que passou, como em nossa seleção.

Em Pé: Oreco, Gilmar, Olavo, Cássio, Goiano e Roberto Belangero     –    Agachados: Zezé, Índio, Rafael, Zague e Boquita
Em Pé: Augusto, Oreco, Cabeção, Cássio, Eduardo e Ari Clemente     –    Agachados: Bataglia, Silva, Nei, Ferreirinha e Lúcio
Em Pé: Augusto, Oreco, Amaro, Eduardo, Ari Clemente e Heitor     –    Agachados: Davi, Nei, Silva, Ferreirinha e Lima
Em Pé: Augusto, Oreco, Cabeção, Cássio, Eduardo e Ari Clemente    –   Agachados: Bataglia, Silva, Nei, Rafael e Ferreirinha
Em Pé: Amaro, Oreco, Cláudio, Eduardo, Ari Clemente e Heitor    –   Agachados: Marcos, Davi, Silva, Bazani e Lima
Em Pé: Oreco, Ari Hercílio, Galhardo, Edson, Eduardo e Heitor    –   Agachados: Marcos, Luizinho, Silva, Flávio e Bazani
Em Pé: Cabeção, Walmir, Oreco, Olavo, Ivan e Roberto    –   Agachados: Bataglia, Paulo, Zague, Rafael e Tite

  

Postado em O

Deixe uma resposta