CALVET: um colecionador de títulos

                Raul Donazar Calvet nasceu dia 3 de novembro de 1934, na cidade de Bagé – RS. Era considerado um jogador técnico e elegante. Abandonou o futebol aos trinta anos ao romper o tendão-de-quiles. Atuou pelo Grêmio de Porto Alegre de 1956 até 1959 e pelo Santos de 1960 até 1965 e nesse período disputou 218 partidas. Nesse período também conquistou inúmeros títulos, sendo os mais importantes, o bicampeonato da Taça Libertadores da América e o bicampeonato Mundial Interclubes, ambos em 1962 e 1963. Também jogou dez partidas pela Seleção Brasileira. Deveria disputar a Copa do Mundo de 1962, no Chile, mas devido a muitas contusões e também por alguns motivos políticos, acabaram por afastá-lo do mundial.

                Antes de chegar ao Grêmio, Calvet jogou no Guarani  de  Bagé,  mesmo  clube  que  revelou o saudoso Tupãzinho, ídolo palmeirense dos anos 60. No  Guarany  de  Bagé  também  foram revelados Saulzinho, ex-atacante do Vasco da Gama, de 1961 a 1965, o ex-zagueiro central Darci Menezes, do Cruzeiro de Belo Horizonte-MG, e o meia-atacante Didi Pedalada, falecido no início de 2005. Vicente, aquele gaúcho bigodudo campeão paulista de 1973 pelo Santos, também foi revelado em Bagé.

GRÊMIO

               Quando Calvet chegou ao Grêmio, foi escalado como médio volante, depois como atacante, até definir-se como zagueiro que o consagrou no futebol. Em 1956, voltou para sua cidade natal, contrariado com a insistência dos técnicos gremistas em escalá-lo como médio-volante. Só voltou a Porto Alegre com a garantia de que a quarta-zaga era sua. Contratado pelo Grêmio, onde jogou durante três anos e nesse período conquistou o título gaúcho nos três anos, pois naquela época o Grêmio mandava no futebol gaúcho. Mas o sucesso do zagueiro gaúcho não iria parar por aí, pois ao sair do sul, veio para São Paulo, e para uma equipe que encantou o mundo, pois conquistou praticamente todos os títulos que disputou.

SANTOS F.C.

               Em 1960, Calvet foi contratado pelo Santos para dar maior segurança ao setor defensivo do time. Com a chegada de Mauro Ramos de Oliveira, acabou formando a melhor dupla de zaga da história do Santos FC. Tinha técnica, raça, velocidade, inteligência e muito espírito de liderança. Sua estréia foi contra o Corinthians no dia 31 de março de 1960. O jogo foi válido pelo Torneio Rio-São Paulo e o time de Parque São Jorge venceu por 2 a 1, gols de Higino e Zague, enquanto que para o Peixe, Nei marcou o único gol. Neste dia o Santos jogou com; Lala, Getúlio, Mauro, Calvet e Zé Carlos; Zito (Urubatão) e Sormani; Dorval (Afonsinho), Coutinho, Nei e Tite. Mas naquele mesmo ano até 1965, só não sagrou-se campeão paulista em 1963.

               Nesse meio termo, conquistou dois títulos que foram sem dúvida os mais importantes de sua carreira, ou seja, o bicampeonato da Libertadores e o bicampeonato mundial interclubes. O primeiro título mundial foi contra o Benfica. Naquela época, o mundial de clubes era disputado em uma melhor de três partidas. O primeiro jogo foi no Brasil, mais precisamente no Maracanã, pois os dirigentes santistas, achavam que se jogasse no Pacaembu, torcedores do Corinthians, São Paulo e Palmeiras, iriam torcer contra. E no maior do mundo, o Santos derrotou o Benfica por 3 a 2, com dois gols de Pelé e um de Coutinho, enquanto que Santana marcou os dois gols para a equipe portuguesa.

               A segunda partida foi em Lisboa. O Benfica nunca tinha perdido no Estádio da Luz, por isso, sua torcida dava como certa aquela vitória. Tão certa, que já estavam vendendo ingresso para a terceira partida. No entanto, o que se viu naquele dia 11 de outubro de 1962, foi uma exibição de gala da equipe peixeira. Dizem os entendidos do futebol, que aquela foi a melhor exibição de Pelé e do Santos em todos os tempos. Já no primeiro tempo, o Peixe vencia por 5 a 0, com gols de Pelé (3), Coutinho e Pepe. Na etapa complementar, os portugueses chegaram a marcar dois gols através de Eusébio e Santana. Neste dia o Santos jogou com; Gilmar, Olavo, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Lima; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe.

                O título mundial interclubes de 1962, na decisão do Santos contra o Benfica, seria um consolo para o quarto-zagueiro Calvet, que depois de titular em cinco jogos preparatórios, tinha sido cortado da Seleção Brasileira a 24 dias da estréia na Copa de Chile, sob a cínica alegação de que já havia muitos santistas no time (a comissão técnica, toda são-paulina, preferiu levar Jurandir). Assim, sem nunca sair de campo derrotado com a camisa da Seleção, Calvet, aos 28 anos, perdeu a oportunidade de disputar sua única Copa. Lima costuma dizer que o gaúcho Calvet, 1,80m, 78 quilos, era quem fazia o trabalho sujo na defesa do Santos.

               Não que não tivesse categoria, ao contrário, estava bem acima da média entre os zagueiros, mas como veio do futebol pegado do Rio Grande do Sul, tinha outras maneiras de parar o ataque adversário. Uma delas era fazer uma barreira ao atacante que estava sem a bola. Como naquela época os árbitros só olhavam a bola, a falta não era marcada na maioria das vezes. “Era uma época difícil para os zagueiros. Era um contra um. Você ficava no mano a mano com atacantes rápidos, habilidosos, era preciso usar o corpo, usar todos os recursos. Mas nunca fui violento” disse Calvet.

               No ano seguinte a decisão foi contra o Milan. O primeiro jogo foi na Itália e o Milan venceu por 4 a 2, com dois gols do brasileiro Amarildo, um de Trapattoni e um de Mora, enquanto que Pelé marcou os dois gols santistas. A segunda partida foi realizada no Maracanã e o Santos venceu pelo mesmo placar da primeira partida. Os italianos chegaram a estar vencendo por 2 a 0, gols de Mora e Amarildo, mas o Peixe reagiu e fez quatro gols através de Pepe (2), Almir e Lima. Com estes dois resultados, foi preciso uma terceira partida e ela foi disputada novamente no Maracanã dois dias depois. Pelé e Calvet estavam machucados e não puderam jogar, então o técnico Lula mandou a campo os seguintes jogadores; Gilmar, Ismael, Mauro, Haroldo e Dalmo, Lima e Mengálvio, Dorval, Coutinho, Almir e Pepe.

               O jogo começou com muito estudo, até que aos 31 minutos do primeiro tempo, o árbitro marcou um pênalti a favor do Santos. Pelé que era o cobrador oficial não estava em campo. Pepe era quem costumava bater os pênaltis, mas, segundo ele, por amizade e confiança em Dalmo, deixou que o lateral esquerdo cobrasse. E Dalmo cobrou do lado esquerdo do goleiro Balzarini, que acertou o canto, mas não conseguiu pegar. Santos 1 a 0 e este foi o placar final da partida. A última partida de Calvet com a camisa do Santos, aconteceu dia 19 de setembro de 1965, quando o Palmeira venceu o Peixe por 1 a 0, gol de Ademar Pantera.

FIM DE CARREIRA

               Maior quarto-zagueiro das histórias de Grêmio e Santos, Raul Donazar Calvet voltou para sua Bagé (RS) quando uma ruptura do tendão-de-aquiles encerrou prematuramente sua carreira, em 1965. Nas rodas de chimarrão, o sempre bem-humorado Calvet gostava de lembrar de uma história que, se não inventou, aumentou bastante, mas que de qualquer forma ilustra bem um dos mais belos lances já vistos em gramados gaúchos, a espetacular tabelinha de cabeça entre Pelé e Coutinho num Grêmio x Santos, em 1963, no Olímpico. Foi um jogo pela Taça Brasil, então o torneio que indicava o representante brasileiro à Libertadores.

               Calvet, o camisa 6 do Santos, campeão do mundo, já era considerado o melhor da posição no país. Ele contava que, antes do jogo, chamou seu ex-parceiro de zaga no Grêmio, o grande Aírton Ferreira da Silva, deu-lhe um abraço e o preveniu: “Está vendo aqueles dois negrinhos ali? Te posiciona de modo a não ficar entre eles. Escolhe um ou outro. Tchê, eu hoje estou do outro lado, mas continuo teu amigo”.  Quando aquele encantamento de lance se desenhou – Pelé e Coutinho trocando passes de cabeça, do grande círculo até a meia-lua do Grêmio, num momento em que o Santos já vencia por 3 a 0, Calvet, segundo ele próprio, gritou lá da defesa: “Sai daí, Aírton, eu te avisei”.

               E teria ouvido a resposta irada: “Vai pra p.q.p.”. O lance não terminou em gol, mas foi uma das mais belas jogadas das tantas que aquela dupla dos sonhos executou. Não ficou registro, mas a versão de Calvet ajuda a reproduzi-la com mais vida no quadrilátero da nossa imaginação. Dificilmente se verá algo igual, mas rememorá-la é uma forma de desejar voltar ao Olímpico, naquela noite em que o torcedor gremista jamais esquecerá.

               No dia 29 de março de 2008, Calvet enfrentou e foi derrotado pelo seu maior adversário que foi a morte. Morreu aos 72 anos vítima de pneumonia, depois de ficar hospitalizado com câncer no esôfago no Hospital Santa Rita em Porto Alegre. Os principais títulos conquistados por Calvet foram: campeão gaúcho de 1956, 1957, 1958 e 1959, jogando pelo Grêmio de Porto Alegre, e campeão da Taça Brasil de 1961, 1962, 1963, 1964, 1965, do campeonato paulista de 1960, 1961, 1962, 1964 e 1965, do Rio-São Paulo de 1963 e 1966, da Libertadores da América de 1962 e 1963 e do mundial interclubes em 1962 e 1963, jogando pelo Santos F.C. Realmente, foi um verdadeiro colecionador de títulos.

Em pé: Djalma Santos, Bellini, Zito, Calvet, Castilho e Nilton Santos     –    Agachados: Garrincha, Didi, Coutinho, Pelé e Pepe
Em pé: De Sordi, Zito, Altair, Calvet, Gilmar e Airton Pavilhão    –   Agachados: Jair da Costa, Didi, Prado, Pelé e Zagallo
Em pé: Zito, Dalmo, Calvet, Formiga, Mauro e Laércio    –    Agachados: Dorval, Mengalvio, Ney Blanco, Pelé e Pepe
Em pé: Ismael, Lima, Laércio, Geraldino, Zito, Calvet, Mauro e Gilmar     –    Agachados: Toninho Guerreiro, Mengalvio, Coutinho, Pelé e Pepe
Em pé: Lima, Zito, Urubatão, Calvet, Olavo e Laércio     –    Agachados: Dorval, Mengalvio, Coutinho, Pelé e Pepe
Em pé: Zito, Ismael, Dalmo, Calvet, Gilmar e Mauro     –    Agachados: Bé, Lima, Coutinho, Pelé e Pepe
Em pé: Zé Carlos, Irno, Calvet, Urubatão, Getúlio e Mauro    –    Agachados: Dorval, Mengalvio, Coutinho, Pelé e Pepe
Em pé: Zé Carlos, Zito, Dalmo, Calvet, Mauro e Laércio     –    Agachados: Sormani, Mengalvio, Coutinho, Pelé e Pepe
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