AYMORÉ MOREIRA: nosso treinador na conquista do mundial do Chile em 1962

                Aymoré Moreira nasceu dia 24 de abril de 1912, na cidade de Miracema – RJ.  Foi jogador nas décadas de 30 e 40, começando como ponta direita, mas foi no gol que chegou à Seleção Brasileira. Depois que encerrou a carreira de jogador, passou a viver fortes emoções fora das quatro linhas, quando começou a trabalhar como treinador. Dirigiu grandes equipes do futebol brasileiro, mas sua maior conquista como técnico de futebol, sem dúvida foi no comando da nossa seleção em 1962, quando conquistamos o bicampeonato mundial disputado no Chile.

               Dizem que Aymoré não teve muito trabalho, pois pegou a seleção praticamente pronta, que foi a de 1958, no entanto, Aymoré soube administrar e comandar, principalmente porque Pelé logo no segundo jogo da competição, teve um estiramento na coxa e ficou de fora do mundial. Foi aí que a estrela de Aymoré brilhou, pois colocou em seu lugar, um garoto que poucos conheciam, mas que substituiu Pelé a altura e ajudou nossa seleção a conquistar aquela Copa.

COMO JOGADOR

               Quando o nome de Aymoré Moreira é citado, ele costuma ser lembrado apenas como o técnico que comandou a Seleção Brasileira na conquista do bicampeonato mundial no Chile, em 1962. Porém, um dos três irmãos da família Moreira (que também deu para o futebol Zezé e Airton) foi um brilhante goleiro, tendo atuado em dois dos maiores clubes brasileiros: Botafogo-RJ e o então Palestra Itália, hoje Palmeiras. Isto comprova que, infelizmente, a falta de memória no Brasil é muito grande, pois Aymoré nem é citado no site oficial do Botafogo, e no do Palmeiras há uma menção a ele e Zezé, que foram juntos para São Paulo em 1934, ajudando o clube a conquistar o tricampeonato paulista naquele ano.

                Aymoré Apareceu no início da década de 30 no pequeno Brasil, do Rio de Janeiro, fazendo milagres na meta, segundo relatos da época. Passou pelo América do Rio como ponta direita, depois sentiu que sua aptidão era realmente o gol. Como goleiro, compensava a estatura mediana para a posição (1,81m) com extrema agilidade, fazendo acrobacias e pegando bolas que parecia impossíveis. Logo depois estava no Botafogo carioca, no qual foi convocado para a Seleção Brasileira de 1932. Em 1934, ao lado do seu irmão Zezé Moreira, veio para São Paulo defender as cores do Palestra Itália, onde ficou até 1935.

               Foi uma época de transição do futebol. O Botafogo recusava-se a aderir ao profissionalismo, diferentemente de Flamengo, Fluminense e Vasco. Com isso, alguns de seus atletas iam para outros clubes, tentados pelas propostas financeiras. Pelo alviverde, ainda chamado de Palestra Itália (a equipe virou “Palmeiras” apenas em 1942), foram 29 jogos (15 vitórias, 5 empates, 9 derrotas) e 39 gols sofridos.

               Com o time do Parque Antártica, o ex-goleiro conseguiu o título paulista de 1934 (só não foi campeão invicto naquela oportunidade porque perdeu a última partida do campeonato, por 1 a 0, para o São Paulo da Floresta). Neste ano a equipe do Palestra era assim formada; Aymoré, Carrera e Junqueira; Tunga, Dulla e Tuffy; Mendes, Lara, Fogueira, Romeu Pellicciari e Rolando. O técnico era Ventura Cambom. Este foi o time que enfrentou o Corinthians no dia 4 de agosto de 1935. O jogo foi no Parque São Jorge e o Corinthians venceu por 4 a 1, com gols de Teixeira (3) e Teléco. Enquanto que Fogueira marcou o único tento do alviverde.   

               Neste jogo o Corinthians quebrou um tabu de cinco anos que não vencia o Palestra Itália em Campeonatos Paulista. Em 1936, Aymoré retornou ao Rio de Janeiro e voltou a jogar no Botafogo, já convertido ao profissionalismo. Ficou em General Severiano até 1946, quando pendurou as chuteiras e iniciou sua vitoriosa carreira como treinador de futebol. Jogos de Aymoré como goleiro da Seleção Brasileira: dia 28-11-1932 – Brasil 7×2 Andaraí (amistoso), dia 18-02-1940 – Brasil 2×2 Argentina (Copa Rocca) e 25-02-1940 – Brasil 0x3 Argentina (Copa Rocca).

TREINADOR

               Aymoré formou-se em Educação Física do Rio de Janeiro e logo começou a trabalhar como técnico, dirigindo as principais equipes do Brasil: São Paulo, Santos, Corinthians, Portuguesa, Palmeiras, Flamengo, Cruzeiro, Vitória e Bahia, entre outros times. Também, por mais de dez anos, foi o treinador exclusivo da Seleção Paulista de Futebol (nas décadas de 50 e 60, eram comuns as competições envolvendo seleções estaduais). Além do título de campeão mundial em 62, sua maior glória como esportista, Aymoré Moreira também participou de um momento histórico do futebol brasileiro: a inauguração do estádio Mário Filho, mais conhecido como Maracanã, em 1950.

             Aymoré era o técnico da Seleção Paulista que enfrentou e venceu a Seleção Carioca por 3 a 1 no primeiro jogo realizado no estádio que seria conhecido como o “maior do mundo”. Este jogo aconteceu dia 16 de junho de 1950, ou seja, uma semana antes do início da Copa do Mundo que foi realizada no Brasil.

               Na Seleção Brasileira, a carreira de Aymoré Moreira começou em 1953, um ano depois de seu irmão Zezé Moreira ter conquistado para o Brasil o seu primeiro título internacional, o Pan-Americano de 1952. Em 1961, no auge de sua carreira, Aymoré Moreira voltou a assumir a Seleção Brasileira. Permaneceu no comando da Seleção até 1963. Depois do fracasso da seleção na Copa da Inglaterra, em 1966, Aymoré Moreira foi novamente chamado para comandar a reformulação do futebol brasileiro. Nesta época, convocou pela primeira vez jogadores que seriam destaques na conquista do tricampeonato mundial, como Tostão e Rivelino.

              Em toda a sua carreira como técnico, Aymoré Moreira dirigiu a Seleção Brasileira em 63 jogos, sendo 38 vitórias, 9 empates e 16 derrotas (em uma época em que as partidas não eram realizadas com tanta freqüência) e visitou cerca de 120 países.  Em 2 de fevereiro de 1970, dirigiu a Portuguesa na maior goleada da história do clube: 12 a 0 contra o Ferroviário de Oruro. O jogo foi realizado em Oruro, na Bolívia, a 3.706 metros de altitude. Os gols foram marcados por: Ratinho (2), Leivinha (2), Basílio (2), Ulisses, Élcio, Luís Américo, Rodrigues, Tatá e Milano. Como técnico da Portuguesa, Aymoré ganhou a Fita Azul de 1953.

               No exterior, como técnico, Aymoré Moreira também fez sucesso, dirigindo equipes de Portugal e da Grécia. Em 1986, após ser submetido a uma cirurgia para a implantação de quatro pontes de safena e duas mamárias, Aymoré Moreira abandonou o futebol e passou a escrever artigos para jornais de Salvador. Também trabalhou como comentarista esportivo de rádio. Desde 1979 morando em Salvador, Aymoré Moreira morreu de falência múltipla dos órgãos motivada por parada respiratória e parada cardíaca, no dia 26 de julho de 1998. Ele era tão querido na capital da Boa Terra que chegou a ser homenageado recebendo o título de Cidadão Soteropolitano.  

              Em seus 57 anos de carreira, o treinador foi um privilegiado, ao dirigir três gerações de jogadores brasileiros: Zizinho e Ademir Menezes (década de 50), Pelé, Didi e Garrincha (década de 60) e Tostão, Gérson e Rivellino (década de 70). Além de conquistar a Copa do Mundo em 62, foi treinador da equipe canarinho nas conquistas dos títulos da Taça Oswaldo Cruz em 1961 e 1962, Taça Bernardo O´Higgins em 1961 e 1966, Copa Rocca em 1963 e Copa Rio Branco em 1967. Aymoré foi o segundo técnico do Brasil em número de jogos, perdendo apenas para Zagallo.

ALGUMAS DECEPÇÕES

               Aymoré teve duas passagens como técnico do Palmeiras, em um total de 193 jogos (95 vitórias, 44 empates, 54 derrotas). De 1954 a 1957, não obteve grande sucesso, deixando escapar alguns títulos importantes (perdeu o famoso “Quarto Centenário”, em 1954, para o Corinthians e o Rio-São Paulo de 1955 para a Portuguesa de Desportos). Em 1967, já em sua segunda passagem, levou o Palmeiras ao título do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão de 67.  No São Paulo, apesar de ter chegado como um dos melhores técnicos do Brasil, não agradou.

              Na primeira passagem pelo Tricolor, em 1962, a coisa começou a descambar quando Aymoré recebeu o convite para dirigir a Seleção Brasileira. Após conversar com a diretoria são-paulina, ficou acordado que ele dirigiria o time no Torneio Rio-São Paulo e voltaria ao Morumbi após a participação do Brasil na Copa do Chile. Para a satisfação da diretoria tricolor, logo na primeira convocação, o craque Benê foi chamado. Mas após a análise dos exames médicos pela comissão técnica do Brasil (inclusive por Aymoré), o meia são-paulino foi cortado.  A diretoria do São Paulo se sentiu traída, pois de volta ao Brasil, Benê jogou sem nenhum problema.

              Mas na volta ao Brasil, decepcionada pela “traição” no episódio do corte de Benê, a diretoria são-paulina rescindiu seu contrato. Na segunda passagem pelo São Paulo, em 1966, Aymoré novamente não correspondeu às expectativas e sem nenhum título se despediu da torcida são-paulina. No total foram 63 jogos no banco de reservas do Tricolor com 28 vitórias, 19 empates e 16 derrotas.  Pelo Flamengo comandou 20 partidas (20-10-67 até 09-03-1968). Venceu 7, empatou 3 e perdeu 10. Não conquistou nenhum titulo.  Pelo Corinthians, comandou 56 jogos (11-08-68 até 15-04-71), venceu 25, empatou 15 e perdeu 16. Não conquistou nenhum título.

              Aymoré foi goleiro de uma geração que não usava luvas. A imprensa que acompanhava seus jogos, costumavam chamá-lo de “goleiro elástico e voador”. Deixou as quatro linhas para ser técnico. Teve altos e baixos, mais altos do que baixos. Foi treinador da seleção brasileira diversas vezes, chegando mesmo a ser campeão mundial em 1962 no Chile. Mas, apesar de tantas conquistas, morreu isolado e esquecido de todos. Faleceu dia 26 de julho de 1998.

Em pé: Carvalho Leite, Zezé Moreira, Grahan Bell, Zezé Procópio, Nariz e Sarci  –   Agachados: Tadique, Aymoré Moreira, Pascoal, Nélson e Patesko.
Djalma Santos, Zito, Vicente Feola, Pelé e Aymoré Moreira
Copa de 1962  –  Em pé: o técnico Aymoré Moreira, Djalma Santos, Zito, Gilmar, Zózimo, Nilton Santos e Mauro   –    Agachados: Garrincha, Didi, Vavá, Amarildo e Zagallo
Seleção Paulista em 1953   –    Em pé: Aymoré Moreira, Julinho, Antoninho, Baltazar, Pinga e Rodrigues Tatu   –    Agachados: Bauer, Djalma Santos, Hélvio, Muca, Brandãozinho e Noronha
Da esquerda para a direita  Zezé Moreira nosso técnico na Copa de 1954 e seu irmão Aymoré Moreira nosso técnico na Copa de 1962 
Em pé: Aymoré Moreira, Cabeção, Hélvio, Djalma Santos, Brandãozinho, Bauer e Olavo    –    Agachados: Julinho Botelho, Negri, Baltazar, Pinga e Rodrigues Tatu
Corinthians e Portuguesa, em 1964, no Pacaembu. O repórter à esquerda é Tom Barbosa, ex-rádios Record e Jovem Pan, o massagista da Lusa Mário Américo e Aymoré Moreira
1965   –  Em pé: Aymoré Moreira, Lima, Zéquinha, Roberto Dias, Rildo, Eduardo e Gilmar Agachados: Marcos, Gerson, Pelé, Nei, Pepe e Mário Américo (massagista)
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