RONDINELLI: o Deus da raça

                               Antônio José Rondinelli Tobias, nasceu no dia 26 de abril de 1955, em São José do Rio Pardo (SP), e jogou no Flamengo de 1974 a 1981. Nesse período de Gávea, ele ganhou o apelido de “Deus da Raça” por sua vibração e garra.

                               Nas tardes de domingo, enquanto muitos meninos faziam fila no cinema local, o minguado Toninho encontrava alegria nas peladas disputadas nas ruas da pacata São José do Rio Pardo.Toninho era o grande orgulho do avô, que sonhava em ver o neto com a camisa do Palmeiras. Italiano de Lucca, uma pequena cidade na região da Toscana, o vovô Sílvio era um palestrino fanático!

                               Saudoso dos grandes momentos da “Academia”, o vovô Sílvio sempre lembrava com entusiasmo dos grandes feitos de craques como Ademir da Guia, Djalma Santos, Servílio, Tupãzinho e outras tantas estrelas esmeraldinas. Mas o pequeno Toninho cresceu e não passou nem perto do Parque Antártica. O destino trabalhou em silêncio e anos depois o “becão” conquistou fama no time mais popular do Brasil.

                               Conforme publicado nas páginas da revista Placar em sua edição de 30 de abril de 1976, o esforçado Rondinelli começou sua caminhada esportiva no infantil da Associação Atlética Riopardense. Em 1967, Rondinelli recebeu um convite de Ari Tessari, um afamado treinador que tinha acabado de fundar um time que pouco depois ficou conhecido como “Sindicato”.

                              Nesse mesmo período, o ex-jogador Velau decidiu abrir uma oficina mecânica na cidade. Com um ótimo relacionamento nos bastidores do time da Gávea, o sergipano Velau era uma espécie de olheiro. Com percepção de sobra para descobrir talentos, Velau inclusive foi o grande responsável pelo encaminhamento do meio-campista Zanata ao Rio de Janeiro.

                              Velau também encontrou qualidades em um outro jovem promissor em 1970. Com o devido consentimento dos familiares, Rondinelli foi recebido no Flamengo pelo treinador Joubert e treinou por uma semana.

                              Agradou, mas não permaneceu! Com o impasse provocado pela dificuldade de uma transferência escolar, o vovô Sílvio logo tratou de interferir em favor dos caprichos da bola! Assim, em julho de 1970, Rondinelli finalmente chegou na escolinha do clube. Morando na concentração do Morro da Viúva, o Flamengo oferecia alojamentos, comida, assistência médica e uma ajuda de custo de 300 cruzeiros mensais.

                              Em 1971 Rondinelli já brilhava no juvenil ao lado de outras grandes promessas; como o goleiro Cantarelli, Geraldo, Jaime e Zico. Uma geração notável!

                              Rondinelli era um zagueiro com estatura mediana para os padrões da posição. Com 1;76 de altura, o “becão” procurava compensar tal desvantagem com boa colocação e facilidade para antecipação.

                              Na temporada de 1974 assinou seu primeiro contrato profissional para receber 4.500 cruzeiros por mês, o suficiente para dividir com o companheiro Cantarelli um pequeno apartamento na praia do Flamengo.

                              Naqueles tempos, o miolo de zaga titular era formado por Jaime e Luís Carlos Galter (que brilhou no Corinthians nos anos 60). Contudo, Rondinelli foi aos poucos recebendo algumas oportunidades e fez parte do elenco campeão carioca de 1974.

                              Com a saída de Luiz Carlos, o sempre dedicado Rondinelli estava pronto para iniciar o roteiro de superação que o levou ao título simbólico de “Deus da Raça”. Um desses momentos marcantes aconteceu em um duelo contra o Fluminense.

                              Desequilibrado em uma jogada, Rondinelli percebeu que o arremate de Rivellino teria destino certo. Então, não teve dúvidas em colocar a própria cabeça na frente da potente perna canhota do craque das Laranjeiras.

                              Aguerrido e incansável, Rondinelli entrava para vencer de qualquer maneira! Contundido ou ainda envolto por ataduras, o zagueiro participou dos anos de ouro da história do clube.

                              Sem alma não existe triunfo! Como esquecer do impulso profético de Rondinelli na partida decisiva contra o Vasco da Gama em 1978? (Nelson Rodrigues). Aos 41 minutos da etapa complementar, o Flamengo pressionava muito e então apareceu um escanteio pelo corredor direito. Enquanto Zico caminhava para cobrar o “tiro de esquina”, Rondinelli partiu rapidamente para tentar o cabeceio.

                             A bola viajou e encontrou o zagueiro do Flamengo, que nas costas de Abel conseguiu impor uma potência mortal em sua testada. Inutilmente, o goleiro Leão saltou no vazio, enquanto o couro foi parar no fundo das redes do Vasco!

                             Envolvido pela emoção, Rondinelli mergulhou em uma cambalhota rente ao chão para saudar os “geraldinos” do Maracanã. Era o gol do título, que por certo também colaborou no prêmio da concorrida “Bola de Prata” da revista Placar. 

                              Em grande fase, Rondinelli foi lembrado para o escrete canarinho em 1979, um amistoso contra o selecionado baiano. No mesmo ano levantou mais duas taças: O Campeonato Carioca e o chamado “Carioca Especial”.

                              Campeão Brasileiro em 1980, Rondinelli defendeu o Flamengo em 396 partidas. Foram 242 vitórias, 100 empates, 54 derrotas e 14 gols marcados. Ao firmar compromisso com o Corinthians, Rondinelli deixou o Flamengo em 1981. O “Deus da Raça” custou aos cofres do time do Parque São Jorge 20 milhões de cruzeiros.

                              Todavia, para frustração da Fiel Torcida, a tão esperada identificação com o time do Parque São Jorge não aconteceu e o zagueiro teve uma passagem modesta com apenas 12 participações.

                              Rondinelli retornou ao Rio de Janeiro em 1982 para defender o Vasco da Gama, momento em que foi apresentado aos torcedores ao lado do lateral-esquerdo Pedrinho Vicençote.

                              Apesar do empenho e da vontade de fazer acontecer no Corinthians e no Vasco da Gama, Rondinelli não foi o mesmo jogador que encantou multidões com a camisa do Flamengo.

                               Em seguida teve passagens igualmente discretas pelo Goiânia (GO), Goiás (GO), Paysandu (PA) e Athlético Paranaense (PR).

Final do Campeonato Brasileiro, no Maracanã. Flamengo 3 x 2 Atlético-MG, no dia 1 de junho de 1980.  Em pé: Andrade, Marinho, Raul, Rondinelli, Carlos Alberto e Júnior   –    Agachados: Tita, Adílio, Nunes, Zico, Júlio César Urigeller
1981 – Em pé: Rondinelli, Zé Maria, Rafael, Gomes, Caçapava e Wladimir     –     Agachados: Eduardo, Biro-Biro, Sócrates, Zenon e Paulo Cézar Caju
Revista Placar em 1978, a `Bola de Prata´   –    Em pé: Rosemiro, Manga, Rondinelli, Falcão, Deodoro e o técnico Carlos Alberto Silva      –    Agachados: Tarciso, Caçapava, Adílio, Paulinho e Jésum
1976 – Em pé: Cantarelli, Júnior, Rondinelli, Jaime, Vanderlei Luxemburgo e Merica    –    Agachados: Paulinho Carioca, Tadeu Ricci, Caio Cambalhota, Zico e Zé Roberto
Em pé: Cantarelli, Rondinelli, Toninho Baiano, Andrade, Manguito e Junior    –    Agachados: Tita, Zico, Pelé, Júlio César Uri Geller e Paulo César Carpegiani
Em pé: Roberto, Rondinelli, Carlos Alberto Torres, Júnior, Vanderlei Luxemburgo e Merica    –   Agachados: Tita, Adílio, Kalu, Dendê e Luís Paulo
1981 – Em pé: Rondinelli, Gomes, Zé Maria, Rafael, Caçapava e Wladimir     –     Agachados: Biro-Biro, Sócrates, Mário, Zenon e Paulo Cesar Caju
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