A primeira camisa de futebol usada pelo Vasco era toda preta, com gola e punhos brancos, e a cruz de malta no peito. Muita especulação existe sobre a origem da camisa branca com a faixa diagonal preta. Segundo uma versão atualmente difundida, inclusive, no site oficial do Vasco, ela teria sido criada por Ondino Viera, o técnico uruguaio que montou o famoso Expresso da Vitória quando dirigiu o Vasco entre 1943 e 1946.
Ondino teria se inspirado na camisa do River Plate, clube onde ele começou a se destacar como treinador e com o qual foi bi-campeão argentino em 1936/37. Ainda acrescenta-se, às vezes, o detalhe de que Ondino Viera desejaria a mudança de uniforme por achar que uma camisa branca seria mais adequada ao quente verão carioca, ou, dizem alguns, a partidas noturnas, do que a tradicional camisa preta.
Entretanto, a História registra que a camisa branca com a faixa diagonal preta foi usada pela primeira vez em 16 de janeiro de 1938, numa partida contra o Bonsucesso em São Januário, válida pelo Campeonato Carioca de 1937. Consequentemente, a participação de Ondino na criação da camisa branca só pode ser mais uma lenda do futebol.
A estreia da camisa branca foi vitoriosa, com certeza. O Vasco derrotou o Bonsucesso por 4×1, gols de Lindo, Niginho(2) e Luna. A equipe vascaína atuou com Rei, Poroto e Zé Luiz (Itália); Rafa, Zarzur e Calocero; Lindo, Alfredo I, Niginho, Feitiço e Luna. O técnico era Floriano Peixoto.
Quanto à afirmação de que a camisa do River Plate teria servido como inspiração para que o Vasco adotasse uma semelhante, não se conhece nenhuma evidência que possa corroborá-la ou refutá-la. Se, por um lado, a agremiação argentina já utilizava sua tradicional camisa branca com faixa diagonal vermelha desde que foi fundada, em 1901, por outro lado, as guarnições de remo do Vasco já vestiam uma camiseta preta com faixa diagonal branca, refletindo o desenho da bandeira oficial, praticamente desde que o clube começou a participar de competições oficiais.
Por outro lado, como se verá a seguir, pode-se dizer que Ondino Viera contribuiu decisivamente para a adoção e a popularização das hoje tradicionais camisas com faixa diagonal, tanto a branca quanto a preta.
Aconteceu que, depois da estreia em janeiro de 1938, a camisa branca foi praticamente esquecida. Foi utilizada mais uma vez exatamente um mês depois, no dia 16 de fevereiro, também em São Januário, no amistoso internacional Vasco 1×3 Libertad (Paraguai). A derrota foi a gota dágua que precipitou a queda do técnico Floriano Peixoto. A camisa branca só voltou a ser vestida em 22 de março de 1942, na disputa com o América pela posse do suntuoso Troféu da Paz, oferecido pela loja “O Camizeiro”, finalizando uma melhor-de-três que havia sido iniciada em 1937.
O Vasco venceu por 2×1, com gols de Villadoniga, atuando com Walter; Florindo e Osvaldo; Figliola, Zarzur e Dacunto; Alfredo II, Ademir (que fazia a sua estreia), Massinha, Villadoniga e Manuel Rocha. Nessa ocasião, Ondino Viera ainda não era o técnico do Vasco, e sim do Fluminense, para quem o Vasco perderia por 4×1 dois meses mais tarde, novamente em General Severiano e usando a camisa branca.
Após mais um ano de esquecimento, a camisa reapareceu já sob a direção de Ondino, durante Torneio Início de 1943, disputado no Estádio das Laranjeiras no dia 28 de março de 1943. O Vasco escalado com Roberto; Haroldo e Osvaldo; Figliola, Octacílio e Argemiro; Baptista, Lelé, Isaías, Jair e Chico, eliminou o Bangu e o Flamengo, mas foi derrotado pelo Fluminense por 1×0 na semifinal.
A partir dessa ocasião, o Vasco passou a usar a camisa branca com frequência. É concebível que Ondino tivesse uma forte preferência por ela pelos dois motivos alegados: O primeiro, prático, da camisa branca ser mais adequada ao calor e aos jogos noturnos, e o segundo, sentimental, da semelhança com a camisa do River Plate.
Pouco mais de dois meses depois, o Vasco passou a utilizar também a camisa preta com faixa diagonal branca, e a camisa inteiramente preta foi aposentada. Ambas as camisas com faixa diagonal se popularizaram durante a época de hegemonia do Expresso da Vitória, que Ondino ajudou a construir, e tornaram-se parte das tradições vascaínas.