COISAS DE PELÉ

                            Era um jogo pelo Campeonato Paulista, em 1962. O Santos recebia o Guarani, na Vila Belmiro. O Santos dominava o jogo quando Pelé recebeu a bola dentro da área. Fez uma jogada semelhante ao seu famoso gol na Rua Javari: deu três chapéus seguidos em três zagueiros e chutou ao gol. A bola estourou no travessão e bateu no chão. Quando o juiz João Etzel validou o gol, o time inteiro do Guarani correu para cima dele alegando que a bola não havia ultrapassado a linha. O árbitro saía para cá, saía para lá, mas os jogadores do Guarani continuavam em cima dele. Para encerrar a discussão, o juiz berrou: “Querem saber de uma coisa: mesmo que não tivesse entrado, eu daria o gol porque a jogada foi muito bonita. Foi gol do Pelé e acabou”.

                           Em 17 de julho de 1968, o time do Santos estava excursionando pela América do Sul, fazendo verdadeiras exibições de futebol. A última partida da turnê seria contra o Millionários de Bogotá, Colômbia. O jogo era um acontecimento e a torcida compareceu em massa. Tudo estava bem, exceto o juiz que roubava “descaradamente” para a equipe da casa. O time do Santos formado por Pelé, Coutinho, Pepe e Cia. acabou ficando nervoso e reclamou com o juiz e não deu outra, o árbitro não pensou duas vezes e expulsou Pelé. Mas aí quem não gostou foi a torcida colombiana presente no estádio, que se revoltou e não quis nem saber: invadiram o campo e pediram Pelé de volta. Como ficou aquele impasse devido à decisão do árbitro em expulsar o Rei, não tiveram dúvidas e resolveram expulsar o juiz. Com Pelé de volta, o jogo continuou, e o juiz foi para o vestiário.

                           Um torcedor doente do América carioca estrebuchava: – “Vá jogar bem assim no diabo que o carregue!”. De certa feita, foi até desmoralizante. Ainda no primeiro tempo, Pelé recebe o couro no meio do campo. Outro qualquer teria despachado. Pelé, não. Olha para frente e o caminho até o gol está entupido de adversários. Mas o homem resolve fazer tudo sozinho. Dribla o primeiro e o segundo. Vem-lhe ao encalço, ferozmente, o terceiro, que Pelé corta sensacionalmente. Numa palavra: sem passar a ninguém e sem ajuda de ninguém, ele promoveu a destruição minuciosa e sádica da defesa rubra. Até que chegou um momento em que não havia mais ninguém para driblar. Não existia uma defesa. Ou por outra: a defesa estava indefesa. E, então, livre na área inimiga, Pelé achou que era demais driblar o goleiro Pompéia, mas não perdoou e marcou de maneira genial e inapelável, entrando com bola e tudo para os fundos da rede do humilde América do Rio de Janeiro.

                          No dia 7 de janeiro de 1962 o Santos iniciou uma excursão de 14 jogos pela América do Sul, com duração de 52 dias. Em um dos jogos em Lima, provavelmente com o placar já resolvido, o técnico Lula resolveu poupar Pelé, mas sem alertar a torcida ou os empresários, que certamente, reduziriam a cota destinada ao Santos. Lula tira Pelé no intervalo, põe Dorval com a camisa 10 e Pagão com a 7. O segundo tempo começa e a torcida percebe a troca. Tem início uma grande revolta, com queima das almofadas que eram jogadas ao campo e vaias. Pelé que já havia tomado banho é obrigado a voltar ao jogo. Ao retornar, Pelé recebeu a maior ovação jamais ouvida em um estádio.

                          Um acontecimento que ficou na memória, aconteceu em 1970. No jogo de estreia da seleção brasileira na Copa do México, contra a Checoslováquia, Pelé quase marcou um gol que o mundo inteiro jamais iria esquecer. Aos 40 minutos do primeiro tempo, quando a partida estava empatada em 1 x 1, Pelé, do meio de campo, num lance de rara inteligência, percebeu que o goleiro Viktor se encontrava adiantado e chutou daquela distância, sem que ninguém esperasse. A bola foi caindo e o goleiro, que se encontrava na altura da marca do pênalti, recuou desesperadamente para tentar impedir o gol. Para sua sorte, a bola passou rente ao travessão. Desde então, vários jogadores imitaram o lance inventado por Pelé.

                          Outra jogada antológica foi contra o Uruguai, nas semifinais do mundial do México. Sem tocar na bola, Pelé driblou o goleiro Mazurkiewicz e chutou meio desequilibrado, num último esforço. O chute saiu cruzado e a bola passou perto da trave direita.

                          O jogo era Santos x Noroeste. Escanteio para o Peixe. Pepe cobrou e Pelé de cabeça marcou o gol. O juiz que era da casa anulou dizendo que não havia autorizado a cobrança do escanteio. Pepe bate novamente e Pelé marca outra vez. Imediatamente o juiz anulou dizendo que a bola estava fora do lugar na marca do escanteio. Pepe bate mais uma vez e Pelé novamente sobe de cabeça e marca. Aí o juiz virou em direção ao banco do Noroeste e abriu os braços como quem diz “Não tem jeito!”.

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