CONTRATO ASSINADO EM BRANCO

                            Essa é mais uma das histórias que aconteceu no nosso futebol e que certamente jamais acontecerá nos dias de hoje, pois os tempos são outros e os homens que comandam o nosso futebol também. Jamais teremos outro Vicente Mateus, outro Castor de Andrade e tantos outros, que amavam muito seus clubes e que só queriam ver seus jogadores felizes.

                           Sendo assim, vamos contar a história de quando o ponta esquerda Aladim jogava no Bangu do Rio de Janeiro. Ele despontava no juvenil do time de Moça Bonita com apenas 18 anos. Ele fazia o terceiro homem, que facilitava tudo para os seus companheiros. Chutando de curva, com violência, e voltando sempre para ajudar o meio-campo, Aladim logo construiu uma fama que lhe assegurou lugar entre os grandes jogadores do futebol carioca. 

                           Fez sua estreia na equipe profissional em 1966, num jogo amistoso contra o Sampaio Correia, em São Luis, Maranhão. Dai em diante estava sempre no time titular. O treinador na época era muito simpático ao seu futebol, com isso, Dr Castor de Andrade, o chamou pra renovar o contrato, assinado logo após trocar os juniores pelos profissionais.

                           Uma tarde passando por Aladim no corredor do estádio de Moça Bonita, Castor coloca  a mão no seu peito, vira-se para o lendário Mario Tito, que estava sentado em uma cadeira em frente a portaria e faz a pergunta sobre aquele jovem promissor: “Mario, vale a pena aumentar e renovar o contrato desse magrelo?”.

                          Mario Tito, amigo excepcional de Aladim, que o esperava chegar da universidade às 11 da noite na concentração dos juniores, para lhe servir um prato feito, enrolado em um pano de prato, guardado no forno, vira-se para o Castor e responde: “claaarooo doutor, e ooolha que rereparando bem eu era beeem mais magro que ele”, com a gagueira corriqueira, depois do aval do mestre Tito, Castor disse ao Aladim que na semana seguinte o chamaria pra renovar o tal contrato.

                          Daquele dia em diante Aladim só pensava naquilo. Quanto pedir? Luvas? Carro? Será que o pedido era muito? Já não dormia mais!! Só falava nisso, consultava todos os dias os indicadores da poupança, aplicação no overnight, ações da Petrobras, cotação do dólar, etc…

                          Uma terça-feira, acabado o treino matinal, Aladim recebe a mensagem de um dos  seguranças de Castor, o miúdo, que era para ele se encontrar com o Dr, na fortaleza, as 14:00 horas. Gelou, e como não tinha tomado decisão alguma quanto a pedida, o medo lhe tomou conta da alma. Depois do almoço na toca, servido pela inesquecível cozinheira Terezinha, rumou para o encontro.

                          Entrou na sala do presidente e se deparou com uma mesa cheia de dinheiro e o Dr. Castor falando ao telefone sem parar, com  um sinal mandou que ele sentasse, o que Aladim obedeceu de imediato. Quando acabou a ligação se aproximou de Aladim  com um contrato nas mãos, o contrato da CBD naquela época tinha 7 vias, uma de cada cor, querendo saber quanto Aladim queria ganhar, e ele nervoso, sem saber o valor, e Castor insistindo e Aladim ficando mais nervoso, foi quando lhe deu um estalo e pediu sua caneta emprestada, e Castor deu-lhe a caneta já aberta.

                          Apanhou a caneta e começou a assinar as vias do tal contrato, a cada assinatura Castor lhe fazia a mesma pergunta : “qual o valor?” E Aladim seguia assinando, e Castor perguntava outra vez e outra vez quando na ultima via ele bateu na mesa e gritando lhe  disse: “se não me disser agora quanto quer ganhar, te mando embora sem assinar contrato algum”. Num lapso de sabedoria Aladim virou e disse à ele: “doutor não sei se sou merecedor de lhe pedir salário algum, o Sr. que é o presidente e um pai para mim aqui no clube, mais do que ninguém saberá avaliar o que devo ganhar”, juntou as vias e jogou perto dele dizendo : “coloque o valor que desejar, pra mim tá tudo certo!”.

                          Deu boa tarde e foi embora, e ficou sem saber o valor do tal contrato. No próximo pagamento de salários descobriu o valor dos seus vencimentos pelos próximos 12 meses, foram exatamente 10 vezes mais do que a mais alta proposta que um dia pensou em pedir. Ao ver aquele valor creditado em sua conta saiu gritando, hahahaha Dr. Castor de Andrade, o senhor é um Eurico Miranda multiplicado por 10.

                          Até hoje Castor de Andrade é lembrado pela Comunidade de Bangu, como um grande homem, um verdadeiro pai para todos, em especial aos jogadores do Bangu, para quem ele não media esforços para vê-los sempre bem. Uma lenda para o nosso futebol, assim como para toda a torcida do Bangu, que até hoje o idolatra.

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