GARRINCHA A ALEGRIA DO POVO

                     Sua infância foi marcada por uma liberdade que mesmo no interior não era tão comum. Abandonou a escola logo na terceira série primária. Não nascera para aquilo. Como todos os meninos de sua cidade foi mandado a trabalhar aos 14 anos. Ao contrário dos demais, não levava o ofício a sério e depois de muitas faltas e cochiladas também deixou o emprego.

                    Na verdade, não levava nada a sério – nem o futebol. Não gostava de conversar sobre o esporte e torcia com o maior desleixo para o Flamengo. Quando o Brasil todo chorou pela derrota na Copa de 50, ele deu de ombros e desdenhou da importância daquilo. Só gostava mesmo era de jogar suas peladas, em que mostrava muito talento. Apesar das qualidades indiscutíveis, foi dispensado em testes no Vasco e Fluminense (nem chegou a entrar em campo em ambos os clubes) e até no São Cristóvão. Tinha poucas chances de mostrar seu valor e não tinha tanta vontade de deixar sua cidade natal, onde com 13 anos era o meia direita do time.

                    Saiu de São Januário sem treinar, desanimado com o grande número de garotos que lá havia para treinar. Depois de alguns meses, ele voltou ao Vasco, porem não conseguiu treinar, porque esqueceu as chuteiras. Finalmente em 1953, com quase 20 anos de idade, chegou ao Botafogo, pelas mãos do ex-zagueiro Arati, que fora apitar um jogo em sua cidade de Pau Grande e ficou impressionado com os dribles daquele ponta de pernas tortas.

                   Garrincha treinou entre os reservas e nem deu confiança ao lateral que lhe marcava, que era na época, nada mais, nada menos que Nilton Santos. A pedido de Nilton Santos, imediatamente o Botafogo o contratou e já entrou como titular no domingo seguinte, contra o Bonsucesso, substituindo o então titular Mangaratiba. Sua estreia se deu no dia 19 de julho de 1953 e neste jogo em que o Botafogo venceu o Bonsucesso por 6×3, Garrincha marcou três gols.

                   O sucesso, porém, não foi tão rápido como muitos acreditam. Seu talento rivalizava com a falta de responsabilidade. Sua individualidade também foi contestada e ele precisou de alguns anos para se consagrar. Enquanto seguia rumo ao estrelato, Mané começava a plantar no Rio sua fama de conquistador. Não foram poucas as suas “presas”, entre elas vedetes de renome.

                   A bebida também era uma presença cada vez mais forte em sua vida. Se bem que desde muito jovem já parecia veterano na “arte”. Nos gramados, sua fama foi crescendo e ele chegou à Seleção Brasileira em 1955. Dois anos depois ganhou seu primeiro título – campeão carioca pelo Botafogo, num jogo em que o Botafogo derrotou o Fluminense por 6×2. Mas a sua consagração foi mesmo na Copa de 1958 na Suécia, onde seu futebol conquistou o mundo.

                   Além de não fazer bons contratos, não tinha apego ao dinheiro e gastava com bebidas, mulheres e festas com amigos.  Além disso, sua prole ia aumentando. (terminou com 14 filhos, sendo um o sueco Ulf – fruto de romance iniciado durante a Copa de 58). O Botafogo corria o mundo e Garrincha, apelido ganho por causa de um passarinho muito conhecido em Pau Grande, seguia encantando plateias que não acreditavam ao ver tanto talento naquelas pernas tortas. Voltou a ser campeão carioca em 1961 e no ano seguinte, veio a Copa disputada no Chile, onde ele foi considerado a maior figura de todo mundial em que o Brasil sagrou-se bicampeão.

                  Depois de voltar da Copa do Chile, se apaixonou por Elza Soares perdidamente, porem como diz o velho ditado, “sorte no amor, azar no jogo”, deste ano em diante, seu futebol foi caindo assustadoramente. Na mesma época, seu joelho estava completamente “estourado”. Seu futebol já não podia ser mais o mesmo. Ainda disputou a Copa de 66. Mas, sua convocação se deveu mais ao passado do que ao presente.

                  Dia 19 de dezembro de 1973, ainda teve um dos últimos grandes momentos de sua vida: O jogo da gratidão. A Seleção Brasileira de 70, reforçada por Garrincha, enfrentou uma seleção de estrangeiros que atuavam no Brasil. A renda da partida foi revertida para Garrincha. E a multidão emocionada homenageou seu ídolo com fervor. Na madrugada do dia 20 de janeiro de 1983, mais precisamente as 6:00 horas da manhã, o nosso querido e inesquecível Mané Garrincha, não suportou. Morreu solitário o homem que arrastou multidões.

                  Ele não ficou rico jogando bola, pois não se importava com o dinheiro, assim como ele também não se importava com os zagueiros que lhe marcavam, os quais ele sempre chamava de “João”. Ele era um fenômeno, e seu drible fantástico não tem definição, pois foi realmente, um demônio abençoado.

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