NUNES: campeão mundial pelo Flamengo em 1981

                  João Batista Nunes de Oliveira nasceu dia 20 de maio de 1954, na cidade de Cedro de São João (SE). Jogou em vários clubes brasileiros e também no México, na China e em El Salvador, mas foi no Flamengo que fez mais sucesso, principalmente em 1981, quando o rubro negro sagrou-se campeão mundial interclubes ao derrotar o Liverpool da Inglaterra por 3 a 0, sendo que o primeiro gol foi anotado por Nunes. Um predestinado. Assim pode ser definido o ex-atacante Nunes, que fez história no Flamengo, mesmo sem ser considerado um craque.

                 O ex-jogador, depois de dar os primeiros passos no Clube da Gávea aos 14 anos, precisou jogar em vários outros clubes, em outro país, e até mesmo no arqui-rival Fluminense para, aí então, voltar ao rubro-negro valorizado e se tornar o jogador mais eficiente em jogos decisivos da história do clube. A mesma intuição que o colocava sempre no lugar certo para marcar gols.

PRIMEIROS PASSOS

                 Nunes começou a jogar futebol em sua terra natal, Feira de Santana (BA). Desde criança, participou das equipes de base do Fluminense local, até vir morar no Rio de Janeiro, em 1969, com 14 anos. Foi nesta época que ele entrou para o time juvenil do Flamengo, por onde passou praticamente despercebido. Aos 19 anos, quando o atacante estourou a idade limite, os dirigentes do clube não acreditaram em seu potencial, e Nunes foi dispensado da Gávea, com um atestado liberatório. Se, naquela época, alguém dissesse que ele decidiria vários títulos para o clube, entre eles, os mais importantes, certamente consideraria isso uma piada.

O RECOMEÇO

               Desiludido com o fim do sonho de se profissionalizar com a camisa do Flamengo, Nunes foi obrigado a peregrinar pelo futebol, para depois voltar à Gávea. Sua primeira parada foi o Confiança, de Aracaju, onde ficou por pouco tempo, até ser negociado com o Santa Cruz-PE. No time pernambucano, que defendeu por 3 anos e meio, entre 75 e 78, Nunes começou a mostrar seu faro para o gol. Foi bicampeão estadual em 76, quando foi o artilheiro da competição, e em 77, quando jogou poucas vezes, pois começou a ser convocado para a seleção brasileira, comandada por Cláudio Coutinho.

               Um drama, porém, esperava por Nunes, às vésperas da Copa do Mundo, em 78: “Eu estava bem na seleção, praticamente confirmado para ir à Argentina, mas me machuquei em um treino, e acabei ficando de fora, recorda o ex-jogador, que ainda guarda uma triste imagem na memória: “A estréia do Brasil na Copa foi muito dura para mim. Eu era titular e, de repente, nem estava no grupo”.  Pela seleção canarinho Nunes disputou 13 partidas e marcou 8 gols.

               Recuperado logo após a Copa do Mundo, Nunes foi vendido pelo Santa Cruz ao arqui-rival do rubro-negro, o Fluminense. Poucos se lembram da rápida passagem dele pelo Tricolor Carioca que, em poucos meses, o negociou com o Monterrey, do México, onde jogou por um ano, até retornar ao Flamengo, em 1980, para entrar para a história do clube.

O RETORNO

               Em sua segunda passagem pela Gávea, já como artilheiro conhecido, Nunes se juntou a um grupo de craques que formou o melhor time do Flamengo em todos os tempos. De 80 a 87, quando voltou a deixar o clube, Nunes atuou ao lado de jogadores como Júnior, Raul, Adílio, Leandro, Andrade, Tita e do eterno ídolo rubro-negro, Zico. Esse foi o maior de todos. Não tinha para ninguém. De 80 a 83, período em que o Flamengo mais conquistou títulos, o time jogava por música e, por mais que desafinasse na técnica, Nunes era o maestro que levantava a torcida rubro-negra com o grito de gol. A união de seu oportunismo com a garra que mostrava em campo, logo o alçaram ao status de ídolo dos flamenguistas que, historicamente, sempre exaltavam os jogadores com raça, mesmo que não tivessem um futebol clássico.

A GLÓRIA

                O apelido de “Artilheiro das Decisões” encaixa-se perfeitamente em Nunes. Nenhum outro jogador marcou tantos gols decisivos pelo Flamengo quanto ele. Se formos comparar seus números, 96 gols pelo Flamengo, em 212 jogos, com os de Romário, por exemplo, que marcou 204 vezes em 240 partidas com a camisa rubro-negra, muitos podem dizer que o ex-jogador não passou de um atacante comum. Na hora de decidir os títulos, porém, ninguém foi mais eficiente do que ele. Em pelo menos três, entre as mais importantes conquistas do clube, o matador deixou sua marca quatro vezes: na final do Brasileiro de 80, contra o Atlético-MG, duas vezes na decisão do Mundial de 81, em Tóquio, contra o Liverpool, e no bicampeonato brasileiro, em 82, sobre o Grêmio, quando calou o Olímpico, na vitória rubro-negra por 1 a 0. Nem o Zico marcou tanto em finais. Nunes fez os gols mais importantes da história do Flamengo.

A QUEDA E O FIM

                O tempo e a idade foram passando e Nunes já não era o mesmo atacante de outra épocas, quando deixou o Flamengo, em 87, aos 32 anos. Com a camisa do Mengão, Nunes disputou 212 partidas. Venceu 122, empatou 59 e perdeu 31 vezes. Marcou 96 gols. Assim como muitos jogadores que insistem em continuar nos gramados, mesmo que o desempenho não seja o mesmo, o centroavante continuou sua carreira no Volta Redonda (RJ). Do time carioca, Nunes foi para outras partes do mundo e teve passagens pela China e por El Salvador, até retornar ao Brasil, em 1992, para encerrar a carreira com o título de Campeão Pernambucano, pelo Santa Cruz. “Neste ano eu cismei e disse: não quero mais jogar bola”.

                Ao parar de jogar futebol, Nunes decidiu também não mais trabalhar. O dinheiro que conseguiu em seus anos de glória no Flamengo, os prêmios eu recebeu, como o carro 0 km da decisão do Mundial, em Tóquio, foram sendo gastos para quitar dívidas e para que o ex-jogador se mantivesse, sem qualquer emprego. O apartamento no bairro luxuoso de São Conrado, no Rio de Janeiro deu lugar à casa no modesto município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. “Fiquei curtindo a vida. Aproveitei tudo o que o futebol me deu”, disse Nunes, que não gosta de tocar no assunto: – Prefiro falar sobre futebol. Sobre o resto, inventam coisas demais”, advertiu.

               Invenções ou não, a verdade é que o dinheiro foi acabando e, em 1998, já sem ter condições de se manter, o ex-atacante recorreu ao então candidato à presidência do Flamengo, Edmundo dos Santos Silva. Atuando como cabo eleitoral, Nunes foi um dos responsáveis pela eleição do cartola que, em retribuição, contratou Nunes como funcionário do clube, a partir de 99, quando assumiu o cargo. A perda de dinheiro e status é um assunto que Nunes não gosta de comentar, mas ele faz questão de mandar um recado aos que acreditam que ele cometeu muitos erros fora dos gramados, até chegar à situação atual: “Eu sou milionário, mesmo sem dinheiro. Poucos homens tiveram tantas glórias, conquistaram tantos títulos pelo melhor clube, que é o Flamengo. Estou vivo e com saúde. Não quero que tenham pena de mim.

RECORDAÇÃO

                Um assunto que Nunes gosta e muito de falar é da final do mundial em que ele ajudou o Flamengo a conquistar. Depois de conquistar a Taça Libertadores da América num jogo de muita violência contra o Cobreloa do Chile, com o placar de 2 a 0, sendo que os dois gols foram marcados por Zico, veio o grande jogo que aconteceu dia 13 de dezembro de 1981 em Tóquio.  O adversário era o Liverpool, da Inglaterra. Na época o técnico da equipe carioca era Paulo César Carpegiani, que mandou a campo naquele dia, os seguintes jogadores; Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Junior; Andrade, Adílio e Zico; Titã, Nunes e Lico.

               Eles eram os encarregados de levar o clube rubro-negro à conquista do título inédito para a Gávea.  O jogo que parecia ser tão difícil, com o passar do tempo foi ficando cada vez mais fácil. Logo aos 13 minutos de jogo, Nunes marcou o primeiro gol.  Aos 34, Adílio ampliou o placar e ainda no primeiro tempo, aos 41 minutos, Zico marcou o terceiro gol. Com este placar, o time carioca voltou para a segunda etapa só administrando o jogo e levando em banho-maria. O time inglês até que tentou, mas acabou reconhecendo a superioridade brasileira e o jogo acabou com a vitória do Flamengo por 3 a 0 e mais um título para o clube carioca e na carreira do craque Nunes.

CURIOSIDADE

               Em um de seus mais famosos gols, o da decisão do Campeonato Brasileiro de 80, sobre o Atlético-MG, Nunes, no final da partida, driblou o zagueiro Silvestre e chutou, quase sem ângulo, fazendo 3 a 2 para o Flamengo. O ex-jogador criou uma história para o lance: “Eu disse para o Silvestre: olha lá o Cristo Redentor, e ele se distraiu. Por isso, eu passei por ele e fiz o gol”, brinca. Nunes foi Campeão Pernambucano em 76, 77 e 92, Tricampeão Brasileiro, em 80, 82 e 83, Taça Libertadores da América, em 81 e Mundial Interclubes, em 81, Campeonato Estadual do Rio de Janeiro: 78, 79 (Carioca), 79 (Estadual), 81 e 86.

1-6-1980   –   Em pé: Andrade, Marinho, Raul, Rondinelli, Carlos Alberto e Júnior    –    Agachados: Tita, Adílio, Nunes, Zico, Júlio César 
1979   –   Em pé: Wendell, Carlos Roberto, Moisés, Edevaldo, Edinho e Zé Marcos    –     Agachados: Fumanchu, Nunes, Mário, Carlos Alberto Pintinho e Zezé

 

Em pé: Gilberto, Carlos Alberto Barbosa, Pedrinho, Levir Culpi, Julião e Givanildo    –    Agachados: Renatinho, Jarbas, Nunes, Jadir e Pio
Em pé: Raul, Marinho, Rondinelli, Andrade, Júnior e Carlos Alberto   –    Agachados: Chiquinho, Adílio, Nunes, Zico e Baroninho
Em pé: Leandro, Raul, Mozer, Figueiredo, Andrade e Júnior   –    Agachados: Lico, Adílio, Nunes, Zico e Tita
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