NEI: fez parte da segunda Academia Palmeirense

              Elias Ferreira Sobrinho nasceu dia 15 de agosto de 1949, na cidade de Nova Europa – SP.  Começou a ser chamado de Nei por amigos, ainda na infância, pois o achavam parecido com um Nei, centroavante do Corinthians na década de 50. Foi um dos melhores ponta canhotos da história da Sociedade Esportiva Palmeiras, assim como da Ferroviária de Araraquara, clube que iniciou sua carreira dentro do futebol. Foi um grande driblador do futebol brasileiro na década de 70. Era ele de um lado e o velocista Edu, do outro, costumavam enlouquecer vários laterais na década de ouro do Verdão. Foi o camisa 11 do alviverde por 8 anos e nesse período conquistou vários títulos importantes para o clube de Parque Antarctica. Só para relembrar alguns; Campeão Paulista em 1972, 74 e 76. Campeão Brasileiro em 1972 e 73. Torneio de Mar Del Plata em 1972, Torneio Laudo Natel em 1972 e Troféu Ramon de Carranza em 1974 e 75.

FERROVIÁRIA

               Quem descobriu o talento de Nei foi o técnico Vail Mota, em 1967. Jogou pelo time amador do Nova Europa contra o juvenil da Ferroviária e ele (Vail) mandou que Nei estivesse no dia seguinte na Fonte Luminosa para treinar. Ficou quatro meses no juvenil e já começou a ser relacionado para o profissional pelo técnico Diede Lameiro. O torcedor da Ferroviária tinha motivo de sobras para chegar mais cedo na Fonte Luminosa para assistir a preliminar em que Nei entortava a defesa adversária e cruzava certinho para a grande área. Com a equipe de Araraquara excursionou pela Colômbia, Guatemala, El Salvador, Honduras, Costa Rica e Haiti. A delegação embarcou no dia 4 de novembro de 1968, do aeroporto de Congonhas.

               Das 13 partidas disputadas, a equipe grená ganhou nove, empatou três e sofreu apenas uma derrota, marcando 22 gols, sendo um de Nei, e sofrendo 9. Destaques para a vitória de 3 a 2 sobre o Deportivo Junior, de Barranquilha (Colômbia), e o empate de 1 a 1 com Nacional de Medellín. Aos 18 anos, Nei já atuava no time de cima, suprindo a ausência do Pio. E com a venda de Pio para o Palmeiras, Nei se firmou entre os titulares, sendo tricampeão do interior em 69, tendo atuação importante na conquista da Taça dos Invictos em 1971, além de ser destaque da Ferroviária no giro pela América Central em 68.

               Nei Assumiu a titularidade na equipe afeana em 1969 e arrebentou logo na estréia, justamente contra o Verdão de Parque Antártica. “Ganhamos e marquei um dos gols”, recorda. Aliava velocidade e habilidade para atropelar marcadores. Corria tanto, que chegava a driblar até mesmo caindo. Marcar Nei não era tarefa fácil. Habilidoso, rápido, baixinho, escondia a bola e corria rente à lateral do campo, era ousado para driblar na grande área. Todas essas virtudes fizeram com que os clubes da capital começassem a namorá-lo. No dia 16 de agosto de 1970, Nei teve uma de suas maiores atuações pela Ferroviária, foi em cima do São Paulo F. C. Campeão Paulista daquele ano. A Ferrinha venceu por 2 a 0 na Fonte Luminosa, que naquele dia recebeu um público de 10.865 pagantes.

              Neste dia a Ferroviária jogou com; Getúlio, Mariani, Fernando, Ticão e Fogueira; Muri, Zé Luiz e Bazani; Nicanor, Lance e Nei.  O São Paulo tinha um grande time; Sérgio, Forlan, Eduardo, Roberto Dias e Gilberto Sorriso; Edson, Paulo e Gerson; Terto, Toninho Guerreiro e Paraná. Mas aquele dia foi de Nei, que enlouqueceu o lateral uruguaio Forlan. O técnico do São Paulo era Osvaldo Brandão, que ficou boquiaberto com o futebol daquele jovem ponta esquerda e tentou negociá-lo, mas a Ferroviária só fazia negócio se fosse na base da venda, enquanto que o Tricolor só queria por empréstimo, sendo assim, Nei ficou mais um ano na cidade de Araraquara.

               Ainda pela Ferroviária, grandes nomes que jogavam na lateral direita sofreram ao marcarem o ponta esquerda Nei. Foram grandes duelos contra Zé Maria do Corinthians, Eurico do Palmeiras, Forlan do São Paulo e Carlos Alberto do Santos. De todos esses o que mais se destacava era o duelo entre Nei e Forlan, pois era um confronto entre a habilidade e a raça, a criatividade e a garra. Marcas na canela de Nei contam parte desses grandes duelos. Com a camisa grená da gloriosa Ferroviária, Nei realizou 181 jogos. Venceu 85, empatou 53 e perdeu 43. Nesse período marcou 23 gols. Com todos esses requisitos, não teve jeito, a Ferrinha teve que vendê-lo ao Palmeiras, que estava namorando o craque já algum tempo e depois de uma boa oferta, o levou ao Parque Antarctica, onde chegou em 1972.

              A Ferroviária era um clube muito forte do interior paulista daquela época, tanto é, que dificilmente um time grande da capital saía de lá com uma vitória. Não trazia a vitória, mas geralmente trazia um jogador, pois a Ferroviária foi no passado um clube que revelou inúmeros craques, que depois fizeram muito sucesso jogando na capital. Exemplo disto podemos citar; Rosan, Téia, Maritaca, Dudu, Faustino, Pio, Bazani, Galhardo e o próprio Nei que chegou até a Seleção Brasileira, quando no dia 1 de dezembro de 1976 defendeu o Brasil num jogo amistoso contra a União Soviética, no estádio do Maracanã. Neste jogo o Brasil venceu por 2 a 0, gols de Zico e Falcão e a seleção canarinho jogou com; Leão; Carlos Alberto, Amaral, Beto Fuscão e Marco Antônio; Givanildo (Falcão) e Rivelino (Caçapava); Gil, Zico, Roberto Dinamite e Nei.

PALMEIRAS


Em 1976, Nei foi campeão estadual novamente. Na última rodada do turno decisivo, o Palmeiras bateu o XV de Piracicaba por 1 a 0, gol de Jorge Mendonça. Seu último jogo pela equipe do Parque Antártica foi na goleada de 5 a 0 sobre o Santos, no dia 18 de novembro de 1979, pelo Paulistão. Foram 488 jogos com a camisa alviverde, com 254 vitórias, 154 empates e 80 derrotas, além de 71 gols marcados.
Em 1978, surgiu a oportunidade de jogar com o Rei do Futebol, Pelé. O futebol nos Estados Unidos ainda vivia o auge. Várias equipes tinham craques do futebol mundial, como Carlos Alberto, Chinaglia, Beckenbauer e o próprio Pelé. O time de Miami, os Aztecs, precisava de um jogador para o ataque e com o aval do Rei alguns empresários vieram para São Paulo na tentativa de levar Nei.

             Mas o técnico do Palmeiras na época, Telê Santana, vetou o negócio e a grande oportunidade de ganhar muito dinheiro foi pelo ralo. Logo na sua primeira temporada pelo Verdão, foi convocado pelo técnico Zagallo para defender a Seleção Brasileira. Sua maior frustração foi não ter disputado a Copa da Alemanha, em 1974. “Eu estava muito bem e merecia uma chance” – lamenta o craque.            No início de 1972, a direção palmeirense bateu o martelo e comprou o passe de Nei junto à Ferroviária por Cz$ 250 mil, sendo Cz$ 50 mil de entrada e o restante em oito parcelas mensais de Cz$ 25 mil. Estreou no Verdão na vitória de 3 a 0 sobre o Zelieznicar, da Iugoslávia, em jogo amistoso disputado no dia 18 de janeiro de 1972. Nei chegou para substituir Pio, curiosamente, seu antecessor também na Ferroviária.

            Entortando os beques e laterais que apareciam em sua frente, o ponta-esquerda firmou-se no Verdão. Logo na primeira temporada, Nei ajudou o Palmeiras a quebrar um jejum de seis anos sem títulos, faturando o Paulista (invicto), o Brasileiro e os torneios Laudo Natel e Mar del Plata. Sagrou-se bi do Nacional na temporada seguinte. Em 1974, levantou o caneco do Paulistão pela segunda vez, na final eletrizante contra o Corinthians, que completava 20 anos sem vencer um campeonato.

FINAL DE CARREIRA

               Após o Paulistão de 1979, o Palmeiras o trocou pelo ponta-direita Osni, do Botafogo. Ficou apenas três meses na equipe de Ribeirão Preto. “Não vi a cor do dinheiro e fui embora.” Acertou com o Grêmio Maringá, que contava com o goleiro Rafael, o volante Zé Carlos, o zagueiro Osires, entre outros. O time foi vice-campeão paranaense, ao perder a final para o Londrina. Ao término da competição, o ponta encerrou a carreira por causa de dores nas costas. “O médico Osmar de Oliveira constatou que se tratava de bico-de-papagaio. Não me recuperei e decidi parar”, diz Nei, que depois que encerrou a carreira foi morar em Ibitinga, terra natal de sua mulher Célia Maria, com quem teve dois filhos; Elias e Dênis Marcelo. 

              Ibitinga é um município conhecido pelos tecidos e bordados. Lá, ele vendeu, há tempos, sua pizzaria e hoje é o Secretário de Esportes da Prefeitura da cidade. Nei foi também professor de futebol da escolinha do Estádio Nicolão. Nei é tão querido em Ibitinga (SP) que, em agosto de 2005, recebeu o título de cidadão ibitinguense. A propositura teve a unanimidade dos votos dos vereadores.

             Vivendo na tranquila cidade de Ibitinga, distante 350 km da capital paulista, ele nos conta que após largar o futebol não teve qualquer arrependimento, e se sente com a missão cumprida. Conta ainda, que o futebol lhe proporcionou muito mais alegria do que tristeza e faria tudo novamente se fosse preciso. Se alguém fizer uma pesquisa e perguntar quem foi o melhor ponta-esquerda do Palmeiras em todos os tempos, com certeza Nei será o mais lembrado. E qualquer palmeirense que se preze sabe dizer de cor e salteado a escalação do Verdão bicampeão brasileiro de 1972/73, a segunda versão da “Academia de Futebol”: Leão; Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu, Leivinha, César e Nei. Realmente foi um jogador que o torcedor palmeirense guarda com muito carinho em seu coração, pois deu muitas alegrias à torcida esmeraldina, por isso nossa humilde homenagem à este jogador que dentro e fora do gramado, sempre soube dignificar o futebol brasileiro e a profissão de atleta profissional.

Em pé: Baiano, Carlos Alberto, Fogueira, Muri, Ticão e Pádua     –    Agachados: Valdir, Zé Luiz, Ismael, Bazani e Nei
Em pé: Valdir, Leão, Arouca, Pires, Samuel e Ricardo     –    Agachados: Edu, Jorge Mendonça, Toninho, Ademir da Guia e Nei
Em pé: Jair Gonçalves, Leão, Luiz Pereira, Alfredo, Dudu e Zéca    –   Agachados: Edu, Leivinha, Ronaldo, Ademir da Guia e Nei
Em pé: Eurico, Leão, Luiz Pereira, Alfredo, Dudu e Zéca     –    Agachados: Ronaldo, Leivinha, Madurga, Ademir da Guia e Nei
Em pé: Eurico, Leão, Alfredo, Didi, Arouca e Donizeti    –    Agachados: Edu, Erb, Mario, Ademir da Guia e Nei
Em pé: Eurico, Leão, Luiz Pereira, Alfredo, Dudu e Zéca     –    Agachados: Edu, Leivinha, César, Ademir da Guia e Nei
Em pé: Fogueira, Getúlio, Mariani, Ticão, Bebeto e Fernando     –   Agachados: Maurinho, Lance, Cabinho, Bazani e Nei

 

Um comentário em “NEI: fez parte da segunda Academia Palmeirense

  1. Muito obrigado por acessar o meu site. Se gostou por favor, espalhe para seus amigos.
    Fique com Deus e um grande abraço.
    José Carlos de Oliveira

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