RODRIGUES TATU: um dos dez maiores artilheiros do Palmeiras

                    Francisco Rodrigues nasceu dia 27 de junho de 1925, em São Paulo. No meio futebolístico era conhecido por Rodrigues Tatu, que jogava como atacante, mais precisamente na ponta-esquerda. Jogou em grandes clubes do país, como Fluminense, Botafogo e Palmeiras, onde marcou 127 gols e passou a integrar a lista dos dez maiores artilheiros da história da equipe alviverde. Participou de duas Copas do Mundo pela Seleção Brasileira, 1950 e 1954. Pelo Palmeiras teve duas passagem, na primeira jogou de 1950 até 1955 e na segunda ele permaneceu por dois anos, 1956 e 1957.

                   Na primeira passagem conquistou o Torneio Rio São Paulo de 1951, o titulo paulista de 1950 e a Copa Rio de 1951, sendo que a final foi contra a Juventus da Itália em duas partidas. No primeiro jogo o Palmeiras venceu por 1 a 0, gol de Rodrigues Tatu e no segundo jogo deu empate em 2 a 2, sendo que um dos gols da equipe alviverde também foi de Rodrigues, ou seja, teve uma participação mais que especial na conquista deste título que entrou para a história da Sociedade Esportiva Palmeiras. 

INÍCIO DE CARREIRA

                   Rodrigues começou sua carreira no extinto Ypiranga, no ano de 1942, época em que o clube tinha um grande esquadrão e enfrentava os times grandes de igual para igual. A equipe era assim formada; Barbosa, Annibal e Sapólio; Cabo Verde, Armando e Hélio; Aldo, Hortêncio, Miguelzinho, Lupércio e Rodrigues. Esta foi a equipe que o técnico Caetano de Domênico mandou a campo no dia 2 de agosto de 1942, para enfrentar o Corinthians no estádio do Pacaembu. O jogo terminou com a vitória do Ypiranga por 3 a 2, gols de Miguelzinho, Rodrigues e Lupércio, enquanto que Jerônimo e Milani marcaram para o alvinegro de Parque São Jorge.

FLUMINENSE

                   Em 1945 foi contratado pelo Fluminense do Rio de Janeiro. E foi lá que ganhou o apelido de Tatu, um bicho com uma couraça e que se enrola todo quando atacado e o apelido veio porque Rodrigues vergava o tronco para frente sempre que ia chutar em gol. Nessa época era um rapaz muito tímido, não gostava de aparecer. Em 1946 o Fluminense conquistou o título carioca e Rodrigues teve uma participação muito importante. Chutava forte, cruzava bonito, fazia gols, mas gostava mesmo de ficar na sombra. Gostava de dinheiro. Ganhava muito e se exibia nas longas noites de boemia. Em 1949 a equipe do Tricolor Carioca era formada por; Castilho, Píndaro e Hélvio; Índio, Pé de Valsa e Bigode; Santo Cristo, Cento e Nove, Simões, Orlando Pingo de Ouro e Rodrigues. Esta foi a equipe de derrotou o Corinthians por 2 a 1 no dia 25 de janeiro de 1949 pela Taça São Paulo.

PALMEIRAS

                   No ano seguinte foi jogar no Palmeiras, onde teve a melhor fase de sua carreira. Já em 1950, sagrou-se campeão paulista, num jogo dramático contra o São Paulo. O jogo foi no dia 28 de janeiro de 1951, um dia de muita chuva na capital paulista. O estádio era o velho Pacaembu que recebeu um grande público naquela tarde de domingo. Para este jogo o técnico Ventura Cambom, do Palmeiras, mandou a campo os seguintes jogadores; Oberdan, Turcão, Palante, Waldemar Fiúme, Luiz Villa, Sarno, Lima, Canhotinho, Aquiles, Jair Rosa Pinto e Rodrigues. Em meio ao aguaceiro, que tornou a partida eternamente conhecida como o “Jogo da Lama”, o São Paulo abriu o placar logo aos 4 minutos de jogo. Aos 15 minutos da segunda etapa, numa jogada iniciada por Jair, a bola acabou nos pés de Aquiles que não perdoou: 1 a 1. Com este empate o alviverde sagrou-se campeão paulista de 1950.

                   Ainda em 1950, Rodrigues foi convocado para defender nossa seleção no mundial disputado aqui no Brasil, o qual perdemos para o Uruguai na final. Em 1951 o Palmeiras disputou a Copa Rio, onde participaram; Vasco da Gama – Brasil, Áustria Viena – Áustria, Nacional – Uruguai, Sporting – Portugal,  Palmeiras – Brasil, Juventus – Itália, Estrela Vermelha – Iugoslávia e Olympique – França. Classificaram-se para a grande final, o Palmeiras e a Juventus da Itália e o alviverde levou a melhor e conquistou o título que entrou para a história do clube de Parque Antarctica.

                  O time palmeirense, que empatou em 2 a 2 com a Juventus de Turim na final e levou o caneco, tinha a seguinte formação: Fábio; Salvador e Juvenal; Túlio, Luís Villa e Dema; Lima, Ponce De Leon (Canhotinho), Liminha, Jair e Rodrigues. O técnico era Ventura Cambom. Rodrigues Tatu formou um ataque famoso no Palmeiras com Aquiles, um meia que jogava muito, mas teve a infelicidade de quebrar a perna e nunca mais se recuperar, Jair Rosa Pinto, um meia fantástico, titular da Copa do Mundo de 50, de canelas finas e chute incrível, Liminha, outro meia maravilhoso e Canhotinho, um dos heróis da conquista da Copa Rio.          

                  Em 1955 o time vinha bem, mas após perder para o Santos num sábado a tarde, no Pacaembu, por 3×1, aí começou a desmantelar. Meio mundo foi embora, Humberto Tozzi foi vendido para o futebol italiano, aquela famosa linha atacante: Liminha, Humberto, Ney, Jair e Rodrigues Tatu foi desfeita. Em 1956 Rodrigues deixou o Parque Antártica. No ano seguinte retornou e disputou o Campeonato Paulista. Num célebre jogo com o Corinthians, o lateral Múcio foi expulso, meteram a mão no Palmeiras naquela noite no Pacaembu. O Palmeiras era dirigido por Mário Vianna, outro que para armar confusão não custava nada.

                 Nesse jogo, o Palmeiras ficou nos vestiários, no intervalo do primeiro para o segundo tempo, cerca de quase 45 minutos, Mario Vianna não queria que o time retornasse. Tatu, no segundo período, foi obrigado a recuar, jogar de lateral, ajudando a defesa a marcar o famoso Professor de Futebol, Cláudio Christóvam de Pinho. Não era fácil marcar o Professor, embora, na ocasião, já tivesse uns 37 anos. Após a partida, nos vestiários, um dirigente palmeirense disse: “Ou acabam essas safadezas ou o Parque Antártica vai virar piscinas. O Palmeiras acaba com o futebol”. Esse jogo terminou 3 a 1 para o Corinthians. Pelo Verdão Rodrigues atuou em 232 jogos (135 vitórias, 38 empates, 59 derrotas) e marcou 127 gols. É um dos dez maiores artilheiros da história do alviverde de Parque Antarctica.

                  No Palmeiras, Rodrigues ganhou muito dinheiro. O salário não valia nada, para não onerar o clube com o cumprimento das leis trabalhistas, o que contava mesmo era o “bicho”. Os bichos eram pagos aos jogadores por vitória, dinheiro gordo, em dinheiro vivo e geralmente pagos ainda no vestiário. Recebia o dinheiro, que as vezes vinha dentro de um envelope pardo, enfiava no bolso e só ia contar cercado de lindas mulheres, nos bares e boates. Rodrigues era famoso e não pensava em guardar dinheiro, gastava tudo com festas, mulheres e bebidas.

                 Às segundas-feiras, Rodrigues era visto na mesa de um bar da Rua da Mooca, contando dinheiro com ajuda de amigos. Tinha também algumas propriedades por ali. Era um boêmio inveterado. Gastava muito dinheiro com mulherada e corridas de cavalo. Um sábado à tarde, no Pacaembu, no meio de uma partida, correu até o alambrado para perguntar a um amigo, se sua barbada havia ganhado o páreo.

                 Em 1954 foi convocado novamente para defender nossa seleção na Copa da Suíça. Nosso ataque era fortíssimo; Julinho Botelho, Didi, Índio, Pinga e Rodrigues Tatu. A nossa estreia foi contra o México e vencemos por 5 a 0. Depois empatamos com a Iugoslávia em 1 a 1. E assim estávamos classificados para as quartas de final. Mas demos ao azar de enfrentarmos a poderosa Hungria que tinha Puskas como seu maior ídolo. E não deu outra, perdemos por 4 a 2 e fomos desclassificados do mundial. A partir daí começou o declínio de Rodrigues. Na volta para o Brasil, começou a reclamar de fortes dores nas pernas.

                 Em 1955, ele já não era mais aquele jogador maravilhoso de anos anteriores. Estava praticamente fora do futebol. Não era qualquer clube que se arriscaria contratá-lo, a não ser por empréstimo com o compromisso de voltar, devido sua fama de boêmio. Não tinha mais condição de jogo. Mesmo assim ainda passou pelo Botafogo carioca, onde jogou ao lado de Nilton Santos, Didi e outras feras. Retornou ao Palmeiras e teve uma passagem pelo Juventus da Mooca, onde jogou por dois anos.  Em 1960 o Moleque Travesso tinha um bom time e vivia aprontando pra cima dos times grandes. A equipe era assim formada; Mão de Onça, Julinho, Homero, Clovis e Pando; Lima e Cássio; Lanzoninho, Zeola, Buzzone e Rodrigues Tatu. Em 1961 foi jogar no Rosário Central da Argentina, onde encerrou sua brilhante carreira.

TRISTEZA

                   Como não guardou nada enquanto ganhava rios de dinheiro, quando encerrou a carreira encontrou muitas dificuldades para sobreviver. Foi abandonado pelos amigos interesseiros e descobriu que sofria de diabetes. Para ter algum ganho foi trabalhar nas indústrias Francisco Matarazzo, como representante comercial. Era um homem triste, já não tinha mais família, estava à mercê da sorte. Os amigos das grandes festas viraram-lhe as costas. A doença veio e o caos estava estabelecido.

                  A diabetes o pegou em cheio. Uma perna foi amputada. Tempos depois a outra. Estava sobre os cuidados do INPS. Naquele triste estado. Um dia entrevistado pelo jornal, A Gazeta Esportiva, disse: – “Se tivesse que começar de novo, faria tudo igual. Fui feliz. Fiz tudo o que quis.” Não demorou muito veio a morte, era o dia 30 de outubro de 1988. Pelo que foi no futebol, ele morreu praticamente como indigente. Seu filho, que tinha um pouco de semelhança fisionômica, mas fisicamente mais alto e forte, jogava de meia-esquerda no clube do Mé, no Itaim Bibi (São Paulo), onde se situa hoje o Parque do Povo. Quando alguém falava de seu pai, ele demonstrava vergonha e procurava mudar de conversa. Rodrigues Tatú, um jogador que ganhou muito dinheiro, mas acabou sozinho e morrendo na miséria.

Em pé: Salvador, Palante, Dema, Oberdan Catani, Luiz Villa e Valdemar Fiume      –     Agachados: Lima, Aquiles, Liminha, Jair da Rosa Pinto e Rodrigues
Em pé: Múcio, Edgar, Maurinho, Gérsio, Waldemar Fiúme e Formiga      –     Agachados: Paulinho, Nilo, Mazzola, Tati e Rodrigues.
Em pé: Turcão, Oswaldo, Oberdan, Sarno, Villa e Waldemar Fiúme      –     Agachados: Lima, Canhotinho, Aquiles, Jair Rosa Pinto e Rodrigues      –     28/01/1951 – Palmeiras 1×1 São Paulo – Verdão campeão paulista de 1950
Em pé: Dema, Osvaldo, Fábio, Juvenal, Luiz Villa e Valdemar Fiuma      –     Agachados: Odair, Ponce de Leon, Liminha, Jair Rosa Pinto e Rodrigues
Em pé: Turcão, Oberdan, Sarno, Luiz Villa, Ruarinho e Valdemar Fiume      –     Agachados: Gonzales, Rodrigues, Bóvio, Jair Rosa Pinto e Romero
Em pé: Múcio, Edgar, Maurinho, Gérsio, Waldemar Fiúme e Formiga     –     Agachados: Paulinho, Nilo, Mazzola, Tati e Rodrigues
Em pé: Manoelito, Rubens, Cláudio, Dema, Juvenal e Luís Villa     –     Agachados: Guanchuma, Liminha, Jair Rosa Pinto, Carlyle e Rodrigues.
Em pé: Eli, Gilmar, Haroldo, Hélvio, Brandãozinho e Paulinho      –     Agachados: Cláudio, Baltazar, Ademir de Menezes, Didi e Rodrigues

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