PAULISTÃO de 1964

               Em 1964 o Santos sagrava-se Campeão Paulista, tendo ainda Pelé como artilheiro da competição com 34 gols. Foi um campeonato recheado de belas goleadas, principalmente por parte da equipe de Vila Belmiro, que somente em um jogo marcou simplesmente onze gols, isto aconteceu no dia 21 de novembro, quando o Peixe massacrou o Botafogo de Ribeirão Preto por 11 a 0. O campeonato teve início dia 4 de julho e já na primeira rodada tivemos uma goleada imposta pela Portuguesa de Desportos sobre o XV de Piracicaba, 6 a 1. Completando a rodada no dia seguinte, tivemos outra goleada, desta vez foi o Corinthians que venceu a Prudentina por 6 a 0. Por incrível que pareça, o Santos mesmo jogando com todos os titulares, perdeu na primeira rodada para o América de São José do Rio Preto por 2 a 1.

               O Campeonato Paulista de 1964 teve a participação de 16 equipes, conforme relação abaixo (na ordem da classificação final); Santos, Palmeiras, Portuguesa de Desportos, Corinthians, São Paulo, América, Guarani, Comercial, São Bento, Botafogo, Juventus, Prudentina, Ferroviária, XV de Piracicaba, Noroeste e Esportiva de Guaratinguetá. Durante o campeonato tivemos vários acontecimentos, como por exemplo; No dia 7 de setembro, o Palmeiras derrotou a Esportiva por 2 a 0, gols de Ademar Pantera e Rinaldo. Este jogo marcou a inauguração oficial do novo Estádio Palestra Itália, agora apelidado de Jardim Suspenso. No dia 20 de setembro, a tabela marcava Santos x Corinthians na Vila Belmiro.

              O interesse do público foi tão grande, que cerca de duas mil pessoas não puderam entrar no Estádio, que ficou superlotado. Essa superlotação resultou num acidente. Eram sete minutos de jogo, quando uma parte da arquibancada veio abaixo, ocasionando mais de cem pessoas feridas. Respeitando o que determinava o regulamento, o árbitro Armando Marques aguardou 34 minutos e depois vendo que não havia condições de continuar a partida, deu por encerrada e uma nova data foi marcada, ou seja, dia 30 de setembro, agora no Pacaembu, com os portões abertos. E neste dia tivemos um empate de 1 a 1, gol de Silva para o Corinthians e Pelé para o Santos.

               Dia 11 de outubro, o Palmeiras derrotou a Prudentina por 4 a 1. O quarto gol do alviverde foi marcado por Ademir da Guia, que segundo ele próprio, foi um dos gols mais bonitos de toda sua carreira. O gol foi tão bonito, que Ademir da Guia fez por merecer os cumprimentos até de Anacleto Pietrobom, o árbitro da partida. A tabela marcava para o dia 8 de novembro, o jogo entre XV de Piracicaba x Esportiva, mas devido a uma grande tragédia ocorrida na tarde do dia 6 em Piracicaba, quando um prédio de 14 andares ruiu parcialmente, provocando a morte de mais de 10 pessoas, a partida foi transferida para o dia 25 e neste dia o XV venceu por 3 a 0.

               Dia 15 de novembro, Santos e Ferroviária empataram em 0 a 0 na cidade de Araraquara. Este jogo entrou para a história, pois Pelé desperdiçou um pênalti. Este foi o primeiro pênalti que Pelé não marcou em sua carreira, chutou para fora. Três dias depois, o Santos foi goleado pelo Guarani no Estádio Brinco de Ouro por 5 a 1. Quem pagou por isso alguns dias depois foi o Botafogo de Ribeirão Preto, que por sinal havia vencido o Peixe no primeiro turno por 2 a 1. Chegava então o dia 21 de novembro de 1964, Santos e Botafogo se enfrentaram na Vila Belmiro. Na preliminar (aspirantes) o Santos venceu o Botafogo por 3 a 2.

              Para o jogo principal, o técnico do Santos, o popular Lula, mandou a campo os seguintes jogadores; Gilmar, Ismael, Modesto, Haroldo e Geraldino; Lima e Mengálvio; Toninho Guerreiro, Coutinho, Pelé e Pepe. Já o técnico Osvaldo Brandão do Botafogo de Ribeirão Preto escalou a seguinte equipe; Machado, Ditinho, Hélio Vieira e Tiri; Carlucci e Maciel; Zuino, Alex, Antoninho, Adalberto e Gazze. O árbitro da partida foi Carlos Drumond da Costa e o público foi de 9.437 pagantes, o que deu uma renda de Cr$ 14.210.800,00. Antes da partida houve um minuto de silêncio em memória ao ex-presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, morto há um ano atrás.

               Naquele dia o Santos conseguiu na Vila Belmiro uma das maiores goleadas conhecidas em certames oficiais na categoria de profissionais, derrotando o Botafogo de Ribeirão Preto por 11 a 0. Foi uma partida magnífica onde o Rei Pelé mais parecia uma “fera” solta dentro do “coliseu”, a devorar pobres e indefesas vítimas sob o delírio de um público que chegou a ficar de pé, sob uma chuvinha fria para aplaudir o maior jogador do mundo. As 9.437 pessoas que compareceram à tarde ao estádio da Vila Belmiro, assistiram uma partida histórica, que poderão contar com orgulho mais tarde para seus netinhos. O encarregado do placar foi a pessoa que mais trabalhou dentro do estádio e se viu as voltas com um problema inesperado, quando Pelé marcou o 10º gol para o Santos. Não havia número suficiente, e um torcedor logo gritou “tira a camisa do Pelé e coloca lá”. Um outro ao lado comentou: “É melhor parar por aí. Você já pensou se marcam mais dois gols, todo esse povo gritando queremos o 13º?  Irá criar uma problema social”.

                Naquela tarde, Pelé superou todos os recordes mundiais na marcação de gols em uma única partida: fez 8, alguns como o 8º, 9º e o 10º, com um minuto de diferença um do outro, ou seja: aos 25, 27 e 28 minutos do segundo tempo. Somente a espera pela cobrança do pênalti deu refresco ao Botafogo. Quanto ao time de Ribeirão Preto, quase nada se pode dizer. Jogou como costumava jogar, era uma boa equipe, mas…  O maior elogio ao clube interiorano é o de que soube perder, sem apelar para violência, colaborando para o espetáculo, jogando um futebol bonito e vistoso. Seu erro foi querer atuar de igual para igual com o Santos, principalmente, porque não tinha um Pelé em sua equipe. A imprensa santista considerou o goleiro Machado como o melhor jogador em campo, caso contrário seria no mínimo 25 a 0.

               Esta foi a terceira maior goleada do Santos em Estaduais. Antes, venceu duas vezes por 12 a 1: contra Ypiranga, em 1927, e Ponte Preta, em 1959. No ano seguinte, em 1965, o Santos voltou a golear o Botafogo, desta vez foi 7 a 1, com três gols de Pelé.  Neste dia Pelé bateu mais um recorde que pertencia a Friedenreich, que no dia 16 de outubro de 1928 havia marcado 7 gols numa só partida, na goleada que o Paulistano impôs ao União da Lapa pelo Campeonato Paulista daquele ano.

               Dia 2 de dezembro o São Paulo goleou o XV de Piracicaba por 6 a 0. O jogo foi no Pacaembu e neste dia o Tricolor jogou com; Suly, Deleu, Bellini e Virgilio; Leal e Roberto Dias; Faustino, Zé Roberto, Del Vecchio, Bazaninho e Da Silva. Os gols da partida foram anotados por; Del Vecchio (2), Zé Roberto, Da Silva, Leal e Bazaninho. O Tricolor encerrou a participação no campeonato daquele ano em 5º lugar com 33 pontos, tendo 12 vitórias, 9 empates e 9 derrotas.

Dia 6 de dezembro, era a vez do Corinthians enfrentar a fortíssima equipe santista. Era a penúltima rodada do Paulistão daquele ano. A torcida corintiana estava confiante na quebra do tabu, pois já faziam 7 anos que não vencia o Peixe em Campeonato Paulista, embora viesse de duas derrotas, uma para a Portuguesa de Desportos por 4 a 2 no dia 22 de novembro e outra de 4 a 1 para o Palmeiras no dia 29 de novembro. Mas a Fiel Torcida Corintiana fez muita festa nas arquibancadas do Pacaembu antes do início daquela partida contra o Santos, pois a equipe de Aspirantes havia sagrado campeã, ao derrotar o Peixe por 6 a 3. Na partida principal o Corinthians saiu na frente com Ferreirinha marcando logo aos 6 minutos de jogo. Coutinho empatou aos 17. Bazani desempatou aos 27 e Coutinho empatou novamente aos 33. Fim do primeiro tempo e o placar apontava empate de 2 a 2.

               Veio o segundo tempo e Pelé voltou a campo com o diabo no corpo, pois marcou três gols seguidos, sendo o quarto e o quinto de pênalti. Silva diminuiu aos 35 minutos, mas Coutinho marcou o sexto gol santista aos 38. Pelé marcou o sétimo gol aos 44 e Silva fechou o placar aos 45 minutos. Final de jogo, Santos 7×4 Corinthians. Uma curiosidade deste jogo foi que o técnico corintiano Osvaldo Brandão, havia saído do Botafogo de Ribeirão Preto após a goleada de 11 a 0 no dia 21 de novembro, ou seja, em apenas 15 dias ele sofreu 18 gols do Santos F.C.

               A última rodada do campeonato foi dia 13 de dezembro de 1964 e  marcava Santos x Portuguesa de Desportos na Vila Belmiro e Comercial x Palmeiras em Ribeirão Preto. A classificação naquele momento apontava o Santos com 42 pontos e o Palmeiras com 40, ou seja, uma derrota do Peixe e uma vitória do Verdão, os dois clubes terminariam a competição iguais, sendo assim, haveria um jogo extra. Mas o que aconteceu foi o seguinte; o Palmeiras venceu o Comercial por 2 a 0, com dois gols do ponta esquerda Rinaldo e também chegou aos 42 pontos. Neste dia o Palmeiras jogou com; Picasso; Djalma Santos, Djalma Dias e Ferrari; Zequinha e Valdemar; Gildo, Vavá, Servílio, Ademir da Guia e Rinaldo.

                Enquanto isso lá na Vila Belmiro, o Santos jogava por um empate diante da Lusa do Canindé. Na época a Lusa tinha um grande time, inclusive brigou pelo título paulista daquele ano até o final, tanto é que ficou em terceiro lugar, somente quatro pontos atrás do Santos que foi o campeão. Naquele domingo à tarde, com verdadeiro dilúvio caindo na Vila Belmiro, Ivair chegou a sofrer um pênalti escandaloso do lateral direito Ismael, não marcado pelo árbitro Armando Marques.  O lance aconteceu no primeiro tempo, quando o placar ainda estava em branco.  O Santos venceu por 3 a 2 e todos os gols aconteceram no segundo tempo, sendo eles na seguinte ordem: Toninho, Pepe, Ismael (contra), Ditão e Pepe de falta. 

               Neste dia a Portuguesa que era comandada por Aymoré Moreira, jogou com a seguinte formação: Orlando, Jair Marinho, Ditão, Wilson Silva e Edílson; Pampolini e Nair; Almir, Henrique, Dida e Ivair.  Com esta vitória o Santos conquistou o titulo com 44 pontos ganhos. Disputou 30 partidas, venceu 20, empatou 4 e perdeu 6. Marcou 95 gols e sofreu 47, portanto teve um saldo positivo de 48 gols. Ainda teve o artilheiro da competição que foi Pelé com 34 gols. Por tudo isso, foi o legítimo Campeão Paulista de 1964. 

SANTOS F.C. CAMPEÃO PAULISTA DE 1964  – Em pé: Ismael, Zito, Haroldo, Geraldino, Mauro e Gilmar –     –    Agachados: Peixinho, Lima, Toninho Guerreiro, Pelé e Noriva

                     

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