CORINTHIANS 1X0 CHELSEA – Dia 16 de Dezembro de 2012

                 Depois de vencer o Boca Junior na grande final da Libertadores de 2012, o Corinthians viajou ao Japão para disputar o Mundial de Clubes. Aliás, não foi só o time que viajou, junto com ele também viajou uma nação, ou melhor, um “bando de loucos” que invadiram o Japão. No dia da chegada do time a Nagoia, os torcedores transformaram o saguão do hotel Hilton em arquibancada, com batucada, bandeiras e pessoas pulando e entoando gritos e muita música. Famosa pela relação sempre apaixonada e intensa com seu time do coração, a torcida corintiana escreveu no Japão uma nova página na história do futebol. Nunca antes em um Campeonato Mundial de Clubes tantos torcedores de um mesmo clube se dispuseram a viajar de um continente a outro só para ver seu time jogar.

                A comoção começou antes, no aeroporto de Cumbica, em São Paulo, tomado de assalto pela multidão embandeirada que foi se despedir dos jogadores, um espetáculo de euforia contagiante. Transportada ela mesma para o Japão, no primeiro jogo do Corinthians, contra os egípcios do Al Ahly, a Fiel, de novo, fez barulho: era a imensa maioria no público de 31.000 pessoas, fazendo do estádio de Toyota uma sucursal do Pacaembu. O Corinthians tem um poder de mobilização inexplicável que consegue unir no mesmo amor gente de todas as raças, religiões e classes sociais.

               A massa alvinegra voltou a marcar presença em treinamentos da equipe no Japão. Os brasileiros ainda andaram em bandos por estações de trem e centros de compras nas cidades que abrigaram o torneio, além da capital Tóquio. Nas andanças os torcedores espalharam como puderam o mantra: “Vai, Corinthians”.

O JOGO DO TÍTULO

               O jogo aconteceu no dia 16 de dezembro de 2012, no estádio Internacional de Yokohama no Japão, que recebeu um público de 68.265 pagantes. O árbitro da partida foi o turco Cuneyt Cakir. Para esta partida o técnico Tite escalou  a seguinte equipe: Cássio, Alessandro, Chicão, Paulo André e Fábio Santos; Ralf, Paulinho, Danilo e Jorge Henrique; Emerson e Paolo Guerrero. Já o técnico do Chelsea mandou a campo os seguintes jogadores; Cech; Ivanovic, Cahill, David Luiz e Cole; Ramires, Lampard, Moses, Mata e Hazard; Torres. O brasileiro Oscar ficou no banco de reservas.

               O Corinthians usou a obediência tática para não permitir que o Chelsea tirasse proveito de sua melhor qualidade técnica. O Timão cumpriu à risca o que Tite pediu nos últimos dias e esperou os jogadores da equipe inglesa no campo de defesa para tentar surpreender nos contra-ataques. A estratégia deu certo, mas poderia ter funcionado melhor com mais capricho nas finalizações, principalmente de Emerson.

PRIMEIRO TEMPO

               Os ingleses fizeram a bola rodar de lado a lado nos primeiros minutos. Rafa Benítez surpreendeu ao escalar Lampard, Ramires e Moses, dando mais habilidade ao meio de campo e força ao ataque. A mudança em relação à semifinal, porém, deu espaços aos brasileiros. Paulinho, travado por Cahill na finalização, quase marcou após linda jogada entre Fábio Santos e Danilo. O zagueiro inglês, aliás, foi para os vestiários sem entender o milagre operado por Cássio que salvou o Corinthians de ficar em desvantagem logo no início. Em desvio de cabeça dele, Chicão cortou. No rebote, o próprio grandalhão britânico chutou de bico quase na pequena área para incrível defesa do goleiro corintiano  no canto esquerdo.

               Mais solto a partir dos 20 minutos, os corintianos foram liderados por um inspirado Paolo Guerrero, longe de ser apenas o centroavante que Tite tanto quis. O peruano brigou, abriu espaço, mas não pôde contar com Emerson. O herói da Libertadores esteve apagado, perdendo grande chance ao receber do camisa 9 sem marcação e não retribuindo a gentileza quando o companheiro aparecia livre na área. A incredulidade inglesa aumentou perto do fim. Cássio, mais uma vez, arrancou gritos de espanto no estádio. Primeiro, em chute cheio de veneno de Moses, que defendeu com a ponta dos dedos no canto esquerdo. Depois, freou uma finalização de longa distância de Mata. Cássio foi um gigante.

SEGUNDO TEMPO

               A cautela corintiana acabou definitivamente no segundo tempo. O Timão voltou do intervalo mais agressivo ofensivamente, com Paulinho se aproximando do trio de ataque. O Chelsea também não se poupou. O resultado foram minutos em que o meio de campo deixou de existir e abriu as defesas. Cássio, de novo, parou Hazard após passe certeiro de Mata. Embalado pelo incentivo da torcida, o Corinthians passou a controlar o jogo em ritmo cadenciado para envolver a marcação adversária.

               O gol parecia se aproximar e veio da cabeça do melhor alvinegro em campo na partida. Aos 23 minutos, Danilo cortou a marcação e bateu prensado. A bola subiu, caiu e encontrou a cabeça de Guerrero. Desvio simples, gol eterno. A imensa torcida corintiana presente no estádio vai a loucura. Aqui no Brasil rojões espocavam por toda parte. A certeza da vitória tomava conta da Fiel torcida corintiana.

               O Chelsea esteve longe de reagir. Benítez imediatamente colocou o brasileiro Oscar na vaga do nigeriano Moses, mas a produtividade seguiu baixa. O Corinthians se agigantou com a vantagem, brigando por cada centímetro de campo e impedindo que os ingleses crescessem novamente. Nos minutos finais, os ingleses ainda tentaram furar. Furaram é bem verdade, mas não por completo. Aos 40 minutos, quando o empate parecia certo, Cássio fez mais um milagre ao defender um chute de Fernando Torres quase na pequena área. Aos 46, o espanhol chegou a marcar, de cabeça, mas corretamente foi anulado, por impedimento. Era a noite de Cássio. Era a noite do Corinthians. Aos 48 minutos o árbitro ergue os braços e fim de jogo, Corinthians bicampeão mundial.

               A conquista corintiana tem um herói em cada extremidade do campo. Na defesa, Cássio cresceu acima dos seus 1,95m para criar uma nova categoria de milagres e defender chutes de Cahill, Moses e Torres. O último, já perto do apito final. No ataque, brilhou Paolo Guerrero. O mesmo Guerrero que foi dúvida para o torneio. O mesmo herói da classificação nas semifinais. Agora, eternizado com o gol de cabeça aos 23 minutos.

               Assim como na Libertadores, vencida diante do sempre temido Boca Juniors, o Corinthians chega ao título contra um adversário poderoso. O Chelsea, símbolo máximo do novo futebol comandado por mecenas do leste europeu ou das Arábias, sucumbiu diante de um adversário sem estrelas, mas extremamente eficiente. O triunfo sobre os ingleses completa um ciclo de vitórias grandiosas que teve início em uma derrota histórica. Da Série B para o estrelato. O Corinthians rebaixado no Brasileirão de 2007 aprendeu com os erros e se reestruturou para chegar ao topo. Agora, desponta como uma das potências do futebol nacional nos próximos anos.

A GRANDE FESTA

               Um mundo de loucos, um país de loucos, estados e cidades de loucos. A festa pelo bicampeonato mundial do Corinthians, conquistado no Japão, não encontrou limites ou fronteiras. Em Yokohama, o bando com cerca  de  20 mil apaixonados que cruzou continentes viu de perto o Timão derrotar o Chelsea por 1 a 0, gol de Paulo Guerrero, e escrever o mais novo capítulo de glória de sua camisa centenária. No Brasil, corações aos pulos em várias regiões. E até além da conta. No Mato Grosso, a emoção foi tanta que um dos integrantes da Associação Corintianos de Tchapa e Cruz teve um ataque cardíaco durante a comemoração do gol do atacante peruano, marcado aos 23 do segundo tempo. Ele foi um dos cerca de dois mil corintianos de capital que se reuniram para assistir à decisão.

               Houve torcida, emoção e festa também no Rio, na Paraíba, no Maranhão, Manaus, Mato Grosso do Sul, Piauí, entre outros. A corrente “Vai, Corinthians!” se espalhou por todo o estado de São Paulo. Na capital, no interior e no litoral, os fiéis tomaram conta de espaços públicos e bares desde as primeiras horas do dia. Nas ruas de São Paulo, muita festa, bandeiras, buzinaço e lágrimas de alegria para comemorar título, que também teve o goleiro Cássio como herói.

               As bandeiras da Fiel penduradas no estádio naquele domingo simbolizam uma das maiores demonstrações de amor da história do futebol. Alvinegros de todas as partes fizeram do estádio da finalíssima um Pacaembu em proporções gigantes. As ruas do Oriente foram tomadas, enlouquecendo os rígidos japoneses com os gritos de “Vai, Corinthians” em uma festa que só terminou no Brasil. Ou em qualquer outro lugar da Terra.

               Depois de conquistar o bicampeonato mundial de clubes, o Corinthians desembarcou, na manhã desta terça-feira, em São Paulo, onde, já nas imediações do aeroporto de Guarulhos, era esperado por centenas de torcedores; este era somente o prenuncio da festa preparada pela Fiel para receber o time. Para evitar que o aeroporto de Guarulhos fosse novamente tomado pela torcida, como aconteceu no embarque do time para o Japão-, os jogadores deixaram o avião e foram, de ônibus, direto para o 2º Batalhão da Polícia de Choque, onde um trio elétrico já esperava. Depois, milhares de torcedores acompanharam os jogadores que desfilaram em carro aberto do Corpo de Bombeiro do estado de São Paulo. Tudo na mais perfeita ordem, a festa foi completa.

              Ajoelhem-se para reverenciar a história construída pelo Corinthians e a Fiel naquele 16 de dezembro de 2012. Sem precedentes. Eterno. O time formado por jogadores operários, o clube do povo e da apaixonada torcida que cruzou continentes tem o futebol a seus pés. Sofrido, suado, chorado, o Corinthians venceu o Chelsea por 1 a 0, em Yokohama, e deixou de ser apenas Paulista como está escrito em seu centenário símbolo. O Corinthians é do mundo. Bicampeão do mundo.

CHELSEA FOOTBALL CLUB – 2012    –  Em pé: Mikel, Therry, Cech, David Luiz, Ivanovic e Torres     –     Agachados: Cahill, Cole, Mata, Ramires e Mose

 

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