PAULISTÃO de 1955

                Depois de 20 anos o Santos F.C. voltou a vencer o Campeonato Paulista. Formado a partir de jogadores da base e jovens promessas, o alvinegro praiano formou uma grande equipe e venceu o torneio. Foi um campeonato dificílimo, onde haviam grandes equipes. A Portuguesa de Desportos por exemplo, naquele ano era a base da Seleção Paulista e meses atrás havia conquistado o Torneio Rio-São Paulo, pois tinha em seu elenco jogadores como; Cabeção, Djalma Santos, Ipojucan, Nena e outros. O Corinthians lutava pelo bicampeonato, uma vez que havia conquistado o famoso título do IV Centenário no ano anterior. O Palmeiras e o São Paulo também estavam com ótimas equipes naquele ano, tudo isto sem falarmos dos times do interior como Linense, que foi vice campeão do Torneio Início, o XV de Jaú, Guarani e Taubaté, que eram imbatíveis em seus domínios.

               O Paulistão de 1955 tinha 14 equipes participando conforme relação abaixo; (na ordem da classificação final) Santos, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Portuguesa de Desportos, Guarani, XV de Jaú, Taubaté, Ponte Preta, XV de Piracicaba, São Bento, Linense, Noroeste e Jabaquara. O campeonato começou dia 30 de julho com o Palmeiras derrotando o Guarani por 3 a 2. O Santos fez sua estreia somente no dia 3 de agosto e não foi bem, empatou com o Noroeste em 0 a 0 em plena Vila Belmiro. Mas na próxima rodada se redimiu com uma goleada sobre a Ponte Preta por 6 a 3, com dois gols de Tite, dois de Vasconcelos, um de Pepe eu de Urubatão. Depois empatou com o Corinthians em 2 a 2 e novamente voltou a golear, desta vez a vítima foi o Jabaquara que perdeu de 7 a 1. Depois deste dia a torcida santista ficou mais confiante e via que o time era muito bom e já dava para sonhar com o título que não conquistava há exatamente 20 anos.

               Depois de 11 partidas invictas, veio a primeira derrota e foi para o Guarani por 4 a 2. O jogo foi no dia 9 de outubro no Estádio Brinco de Ouro da Princesa. Quando terminou o primeiro turno, o Santos estava na liderança com 22 pontos ganhos. O Corinthians vinha logo atrás com 21, o Palmeiras com 19 e o São Paulo com 18. Isso mostrava que o segundo turno seria muito difícil para todas as equipes, ou seja, uma derrota poderia custar muito caro. E começa  segundo turno. A torcida santista continuava confiante, pois pegaria o Corinthians e o Palmeiras na Vila Belmiro. Mas para surpresa de todos, no dia 13 de novembro o Santos sofreu a maior derrota no profissional e foi para a Portuguesa de Desportos. O jogo foi em São Paulo e a Lusa venceu por 8 a 0, num dia que toda a equipe teve uma atuação perfeita. No jogo seguinte o Peixe voltou a vencer e de goleada, 5 a 0 sobre o Guarani. E neste jogo a direção do Santos resolveu contratar uma “charanga” para incentivar o time. E as marchinhas, assim como a estreia de Pagão fizeram bem ao time.

               No entanto, no dia 27 de novembro nova derrota, dessa vez para o São Paulo por 3 a 1. Com essa derrota fica embolado o campeonato. O Palmeiras passou a liderar com 31 pontos, contra 30 do Santos e 27 do Corinthians e São Paulo. Dia 11 de dezembro o Santos foi jogar em Jaú e mais de 500 torcedores viajaram para lá, para prestigiar a equipe. E deu certo, pois o Peixe venceu por 3 a 0. No domingo seguinte um jogo importantíssimo para o Santos, pois iria enfrentar o Palmeiras na Vila Belmiro. Com dois gols de Del Vecchio e um de Vasconcelos, o Peixe venceu o alviverde por 3 a 1 e assumiu novamente a liderança. Os gols santistas foram de Del Vecchio (2) e Vasconcelos, enquanto que Elzo marcou o único tento alviverde. Esta foi uma partida histórica, pois foi a primeira partida com transmissão de TV direta de uma cidade à outra, no caso, de Santos para São Paulo. A transmissão foi feita pela TV Tupi através do locutor esportivo Milton Peruzzi.

               Dia 24 de dezembro, véspera de Natal, aconteceu o clássico santista entre Santos e Jabaquara e mais uma vitória do Peixe, 2 a 0 com gols de Álvaro e Del Vecchio. Com esta vitória o Santos conquistou a Taça Cidade de Santos e o título estava muito próximo, pois chegou aos 38 pontos contra 35 do Corinthians que era o segundo colocado. Faltavam três jogos para o Santos e dois para o Corinthians, ou seja, mais uma vitória santista e o titulo estava ganho pois iria a 40 pontos e o Corinthians no máximo chegaria a 39. E o próximo jogo do Peixe era contra uma equipe pequena, o São Bento da cidade de São Caetano do Sul. O jogo seria no ABC, no estádio Anacleto Campanella. A torcida santista eufórica e certa que iria sagrar-se campeã naquele dia, ocupou todos os vagões possíveis da “Santos-Jundiaí” e toma de assalto toda a arquibancada do pequeno estádio, onde pretendiam começar ali mesmo a grande festa.

               Era o dia 31 de dezembro, um dia que entraria para a história do Santos. Mas, por ironia do destino, a equipe santista perde por 2 a 0 e tudo fica para o ano de 1956. A próxima rodada do Paulistão de 1955 iria acontecer uma semana depois, no dia 8 de janeiro de 1956 e para esta rodada a tabela marcava dois clássicos, Palmeiras x São Paulo no Parque Antarctica e Santos x Corinthians na Vila Belmiro. Uma vitória santista lhe garantiria o titulo, pois o jogo seria contra seu concorrente direto, ou seja um jogo de 4 pontos. (naquela época uma vitória valia 2 pontos). No jogo da capital, deu empate em 2 a 2 e na Vila Belmiro, mais uma vez a torcida santista teve aguardar mais um pouco para soltar o grito de campeão, pois o Corinthians venceu por 3 a 2.

              E olha que o Santos chegou a estar vencendo por 2 a 0 até os 38 minutos do primeiro tempo, com gols de Álvaro e Feijó. Mas aos 41 Cláudio cobrando pênalti diminuiu e aos 43 Paulo empatou a partida ainda na primeira etapa. E Paulo novamente aos 17 da segunda etapa, deu números finais a partida. Neste dia o Corinthians jogou com; Gilmar, Olavo e Alan; Idário, Julião e Roberto Belangero; Cláudio, Luizinho, Paulo, Baltazar e Jansen. O técnico era Osvaldo Brandão.

               Depois desta rodada, o Santos estava com 38 pontos, o Corinthians com 37 e até o São Paulo tinha chances matemáticas, pois tinha 36 pontos e assim dessa maneira, tudo ficou para a última rodada. O Santos iria enfrentar o Taubaté na Vila Belmiro, o São Paulo iria até Piracicaba enfrentar o XV, enquanto que o Corinthians tinha um jogo difícil pela frente, ou seja, o arqui-rival Palmeiras no Pacaembu. Chegava então o dia 15 de janeiro de 1956, dia da última rodada do Campeonato Paulista de 1955, dia em que ficaríamos conhecendo o campeão paulista daquele ano. O São Paulo simplesmente atropelou o XV de Piracicaba, 5 a 1 e chegou aos 38 pontos. O Corinthians venceu o Palmeiras por 2 a 0, gols de Luizinho e Cláudio e com isto chegou aos 39 pontos. Sendo assim, só a vitória interessava ao Santos naquele momento.

O JOGO DO TÍTULO

               O Santos sabia que o jogo seria difícil, pois o Taubaté fazia uma boa campanha no segundo turno e era comandada pelo experiente técnico Aymoré Moreira, que certamente iria montar um esquema para dificultar a vida do Peixe. Para este jogo o “Burro da Central” entrou em campo com a seguinte formação; Floriano, Rubens, Poringa, Arati e Manduvo; Zé Américo e Taino; Silvio, Durval, Bertô e Hélio. Do outro lado o técnico Luiz Alonso Peres, mais conhecido por Lula, fez três alterações na equipe. O goleiro Manga entrou no lugar de Barbosinha, Urubatão entrou no lugar de Zito e Pepe entrou no luga de Alfredinho. Sendo assim, Lula mandou a campo os seguintes jogadores; Manga, Hélvio e Feijó; Ramiro, Formiga e Urubatão; Tite, Negri, Álvaro, Del Vecchio e Pepe.  O árbitro da partida foi João Etzel Filho.

               A torcida santista foi a loucura aos 15 minutos de jogo, quando Álvaro fez 1 a 0 e assim terminava o primeiro tempo. Para desespero dos santistas, Bertô empatou aos 9 minutos, mas para a alegria da imensa torcida santista que lotou a Vila Belmiro naquele dia, Pepe fez o segundo gol do Peixe aos 20 minutos. Fim de jogo, Santos 2×1 Taubaté. Santos Campeão Paulista de 1955.  

               Campanha do Santos naquele ano foi a seguinte: Disputou 26 jogos, venceu 19, empatou 2 e perdeu 5 vezes. Marcou 71 gols e sofreu 40, tendo um saldo positivo de 31 gols. O artilheiro do campeonato também foi um jogador santista, Del Vecchio com 23 gols. Ao todo foram disputados 699 jogos e marcados 182 gols, o que nos dá uma média de 3,84 gols por jogo. Neste último jogo do Santos, o público foi de 8.500 pagantes, acontece que os sócios do clube não pagavam ingressos, isso explica a aparente pouca presença de público, possivelmente uns oito mil sócios estavam presentes além do público pagante, tudo para ver o Santos conquistar seu segundo título da história, depois de 20 anos.

               A alegria santista foi tão grande pela conquista do título que, logo em seguida, foi gravado uma marcha para exaltar a conquista. A música recebeu o título de “Leão do Mar”, que diz em seu refrão;  Agora quem dá bola é o Santos, o Santos é o novo campeão, glorioso alvinegro praiano, campeão absoluto deste ano. Naquele ano surgia a geração que marcaria para sempre o futebol mundial. Pepe por exemplo que fez o gol do título, em poucos anos seria um dos maiores ídolos do Santos F.C., inclusive é o segundo maior artilheiro da equipe santista com 405 gols. Ao todo disputou 750 partidas com a camisa do Peixe. Ele costuma dizer que ele é o maior artilheiro do Santos e não Pelé com 1.116 gols, pois segundo ele, Pelé não é deste planeta, sendo assim, não podemos contar.

               Quem também escreveu seu nome nesta gloriosa conquista, foi o atacante Del Vecchio, que marcou 23 gols e se tornou o artilheiro do campeonato. Realmente naquele ano não tinha pra ninguém. O Santos mostrou que era o melhor time de São Paulo, e alguns anos depois, se tornaria o melhor do mundo, pois ainda naquele ano, mais precisamente dia 8 de agosto de 1956, chegava na Vila Belmiro um garoto que iria se tornar o maior jogador de futebol de todos os tempos, o Rei Pelé, que ajudou o Santos F.C. a conquistar inúmeros títulos aqui no Brasil e pelo mundo a fora. Tudo começou em 1955, depois não parou mais. Hoje o Santos é um clube respeitado e reconhecido no mundo inteiro. Parabéns Santos F.C.

Em pé: Ivan, Ramiro, Formiga, Manga, Hélvio e Urubatão     –    Agachados: Alfredinho, Del Vecchio, Álvaro, Vasconcelos e Pépe

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