CARLOS: nosso goleiro na Copa de 1986

                 Carlos Roberto Gallo nasceu dia 4 de março de 1956, em Vinhedo (SP).  Começou sua carreira na Ponte Preta, em Campinas, em 1974. Pela equipe de Campinas foi vice-campeão paulista em três oportunidades: 1977, 1979 e 1981. Participou da famosa decisão do título estadual diante do Corinthians, em 1977, quando o gol de Basílio acabou com um jejum de 22 anos do time do Parque São Jorge. Apesar da derrota, Carlos guardou aquele dia para sempre em sua memória. “Nunca vou me esquecer da final de 1977. A decisão paulista marcou a minha vida, porque foi a partir daí que eu fiquei conhecido no meio do futebol. Meu nome foi projetado para todo o Brasil”, lembra o jogador. Em 84, Carlos foi contratado pelo  próprio Corinthians.         

CORINTHIANS

                  Sua contratação pelo Corinthians, era um sonho antigo, desde 1977, quando ainda defendendo a Ponte Preta, pegou tudo, até sofrer o histórico gol de Basílio. Veio para o Timão juntamente com o lateral direito Edson. Sua estreia com a camisa corintiana, aconteceu dia 11 de outubro de 1984, quando o Corinthians venceu o Juventus por 1 a 0, no segundo turno do campeonato paulista daquele ano. Em 1988 disputou todo o campeonato como titular, no entanto, entorses no joelho e no tornozelo esquerdo impediram o goleiro de disputar as partidas decisivas, dando lugar ao jovem Ronaldo. “Esse título foi demais.

                 Mesmo tendo ficado de fora da final, por contusão, não dá para descrever o que eu senti. Foi uma conquista com muita luta, garra, raça e persistência”, comenta Carlos, destacando o apoio dado pela torcida corintiana na oportunidade.  “A fiel torcida também ajudou, como sempre faz. Empurra os jogadores, transmite uma energia muito forte, e a gente sente a presença deles quando está em campo. Foi impressionante!”, recorda.  Neste título de 1988, o time corintiano era; Carlos, Edson, Marcelo, Denílson e Dida; Márcio, Biro Biro e Wilson Mano; Ewerton, João Paulo e Paulinho Carioca. Na final contra o Guarani no dia 31 de julho, Carlos não pode jogar, entrando em seu lugar Ronaldo, que depois jogaria no Timão por mais de dez anos.

                 Também entrou nesta partida, o então garoto Viola, que acabou fazendo o único gol da partida, dando assim ao Corinthians, seu 20º título estadual.  Pelo Corinthians, Carlos fez 159 jogos (69 vitórias, 53 empates e 37 derrotas) entre 1984 e 1988. No mesmo ano, Carlos acertou sua transferência para o Malatyaspor, da Turquia, onde permaneceu até 1990. Seu retorno ao Brasil aconteceu através do Atlético Mineiro, clube que defendeu até 1991, quando foi para o Guarani. Aos 36 anos, as críticas quanto a sua elevada idade não foram obstáculo para que ele aceitasse um grande desafio: ajudar o Palmeiras a acabar com os 16 anos sem faturar nenhum campeonato. 

                 “Eu treino no mesmo ritmo que um garoto de 21 anos. Tanto assim, que vim para um grande clube do futebol brasileiro”, afirmou Carlos na época, respondendo àqueles que duvidavam de sua forma física.   Saiu da equipe do Parque Antártica no mesmo ano e acertou sua ida para a Portuguesa de Desportos, clube onde encerrou sua carreira de goleiro em 1993, com 37 anos, vinte deles dedicados ao futebol profissional.

SELEÇÃO BRASILEIRA

                  Nas categorias de base, Carlos conquistou o mundial juvenil de Cannes, em 1974, o Pan-americano em 1975 e o torneio Pré-olímpico em 1976, em Recife. Com a camisa principal da seleção canarinho, Carlos disputou três Copas do Mundo. Em 1978, na Argentina, foi como terceiro goleiro graças ao técnico Cláudio Coutinho, disposto a preparar um jovem jogador para o Mundial seguinte. Após ficar na reserva direta de Valdir Peres na Espanha, em 1982, na Copa seguinte, no México, chegou a vez de Carlos defender o gol brasileiro, o que marcaria para sempre sua vida de forma especial. Titular absoluto da posição, o camisa número 1 não havia sofrido nenhum gol nas quatro partidas iniciais. Nas quartas-de-final, entretanto, aconteceu um fato inusitado e dramático ao mesmo tempo. Brasil e França empataram por 1 a 1 no tempo regulamentar e a decisão da vaga foi para os pênaltis.

                  Na última cobrança dos europeus, Fernandez chutou no canto esquerdo de Carlos. A bola explodiu na trave e voltou nas costas do goleiro que, caído, nada pôde fazer para evitar a eliminação do time comandado por Telê Santana. A bola atravessou a linha lentamente em direção às redes, decretando o fim da campanha brasileira em território mexicano. “Este jogo foi, sem dúvida, o mais importante que eu disputei com a camisa da seleção brasileira. Apesar de irregular e das reclamações do zagueiro Edinho, o árbitro validou o gol. Nesta decisão, o Brasil perdeu dois pênaltis: Sócrates e Júlio César. A França não converteu somente um: Platini.

                 Apesar da derrota para os franceses, só me lembro dos aspectos positivos daquela Copa”, recorda Carlos, que a partir de então seria perseguido pela fama de pé-frio. “Todo jogador sonha em disputar um Mundial. Eu me considero um privilegiado, porque participei de três. Sem dúvida, é o auge que todo atleta quer atingir”, comemora.  Com a camisa principal da seleção nacional, Carlos disputou no total 44 jogos (26 vitórias, 11 empates, 7 derrotas) e sofreu 32 gols. Já pela seleção olímpica, foram 24 partidas (12 vitórias, 7 empates, 5 derrotas) e 23 gols tomados.                        

TREINADOR

                 Como treinador, levou o Juventude, de Primavera do Leste, ao título mato-grossense do ano 2000, além de uma passagem pelo Bandeirantes, do Paraná.  Trabalhou ainda como técnico do Operário (MS) e virou preparador de goleiros no Noroeste, em 2005. Em dezembro de 2006 acertou com a Ponte Preta como treinador de goleiros do técnico Wanderley Paiva, outro ex-ídolo da Macaca. E em 2008, também na Ponte, trabalhou ao lado de Sérgio Guedes. E a equipe campineira foi vice-campeão paulista (perdeu na final para o Palmeiras). O goleiro Aranha, que foi comandado por Carlos, terminou a competição como um dos melhores da posição.  Carlos Roberto Gallo festejou mais  um título, o de campeão da Copa Federação Paulista de Futebol, com o Noroeste, depois da vitória sobre o Rio Claro.

PREPARADOR DE GOLEIROS

                  Carlos deixou a carreira de treinador e se tornou preparador de goleiros do Noroeste. Cursou a faculdade de educação física, um projeto antigo, só para exercer a função de treinador de goleiros. “Tem sido uma experiência boa, pois o fato de eu ter sido treinador me deu visão mais ampla do trabalho com os goleiros”, diz. “Na minha época, só o atacante era valorizado, mas hoje o goleiro representa 50% de uma equipe em termos de tranquilidade e equilíbrio emocional.” Carlos só deixa a calma de lado para falar do Noroeste, que ajudou a promover para a Série A-1 do Campeonato Paulista de 2006.

                  Assim como os torcedores do clube, entusiasma-se para comentar o projeto. “O maior mérito da diretoria é fazer um trabalho planejado, de acordo com nossas possibilidades econômicas”, comenta. “O Damião Garcia (empresário) resgatou a tradição do Noroeste e conseguimos disputar dois títulos este ano”, afirma, referindo-se à Série A-2 e à Copa Federação Paulista. “Havia a possibilidade de eu ficar em São Paulo, também poderia voltar ao Mato Grosso, até que surgiu a proposta do Noroeste”, comenta. 

                 Carlos não perdeu as qualidades que o fizeram goleiro titular do Corinthians, da Ponte Preta, e da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1986. Mas a tranquilidade é a característica que mais chama atenção no ex-jogador. Por opção, saiu dos grandes centros do futebol e foi morar em Bauru, a 343 km de São Paulo. “As condições de trabalho são mais importantes do que a projeção”, compara. “O importante é ter pessoas de confiança ao seu lado.” 

                 Tudo o que aprendeu nos gramados, o ex-goleiro sempre procurou transmitir aos mais jovens.  “Não me sinto e não me coloco como referência para ninguém, pois não adianta a gente dizer o que já fez. É preciso trabalhar.” Durante toda sua carreira, Carlos conquistou os seguintes títulos:  Jogos Pan-americanos de 1975, Pré-Olímpico de 1976 e Copa Stanley Rous de 1987 pela Seleção Brasileira. Campeonato Paulista de  1988 pelo Corinthians.  Troféu Ramón de Carranza de 1990 e Campeonato Mineiro de 1991 pelo Atlético Mineiro.

                Torneio Amizade de 1992 pelo Palmeiras e além disso, Bola de Prata da Revista Placar em 1980 e 1982. Carlos foi sem dúvida alguma, um dos maiores goleiros do futebol brasileiro, tanto é, que participou de três mundiais. Era um goleiro tecnicamente perfeito, porem considerado “frio” demais para a posição. E também um tanto azarado, como naquela decisão da Copa de 86, quando a bola bateu na trave, voltou e bateu em suas costas para entrar no fundo do gol.

1987   –   Em pé: Cacau, Carlos, Edson, Edivaldo, Wilson Mano, Marco Antonio e Dida  –    Agachados: Biro-Biro, Edmar, Márcio Bittencourt e Eduardo Amorim
1986   –   Em pé: Cacau, Casagrande, Carlos, Lima, Wilson Mano e João Paulo   –    Agachados: Edson, Biro-Biro, Aílton, Paulo e Edivaldo
Seleção de Campinas na década de 70   –    Em pé: Carlos, Oscar, Mauro, Polozzi, Zé Carlos e Odirlei   –    Agachados: Lúcio, Renato Pé Murcho, Careca, Zenon e Tuta
1982   –   Em pé: Edson, Sílvio, Everaldo, Valdir, Juninho Fonseca e Carlos    –    Agachados: Cremilson, Celso, Toninho, Dicá e Zezinho
Em pé: Casagrande, Dida, Edmar, Biro-Biro, João Paulo e Carlos   –    Agachados: Edvaldo, Jacenir, Edson, Wilson Mano e Luis Pereira
Copa de 1986    –   Em pé: Sócrates, Josimar, Júlio César, Edinho, Branco e Carlos   –    Agachados: o massagista Nocaute Jack, Muller, Júnior, Careca, Alemão, Elzo e o roupeiro Ximbica
Em pé: Sócrates, Carlos, Casagrande, Zenon, Eduardo e Biro-Biro    –     Agachados: Juninho, Paulinho, Ronaldo, Paulo e Wladimir
1977   –   Em pé: Odirlei, Jair Picerni, Vanderlei, Oscar e Polozzi   –    Agachados: Lúcio, Marco Aurélio, Rui Rei, Dicá e Tuta
Em pé: Carlos, Juninho Fonseca, Nenê Santana, Humberto, Odirlei e Toninho Oliveira   –    Agachados: Serginho, Marco Aurélio, Oswaldo, Dica e João Paulo
Em pé: Carlos, Casagrande, Serginho Chulapa, Zenon, Dunga e João Paulo   –    Agachados: De Leon, Juninho, Édson, Biro-Biro e Wladimir
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