CORINTHIANS 2×0 SANTOS – Dia 6 de Março de 1968

                       A Fiel torcida corintiana viveu uma de suas maiores alegrias naquela noite de 6 de março de 1968, quando finalmente foi quebrado um tabu de 11 anos sem vencer o Santos em Campeonato Paulista. A torcida alvinegra de Parque São Jorge comemorou como se fosse a conquista de um título e até hoje é lembrada pelo torcedor corintiano.

                      A história dos confrontos entre Santos e Corinthians, além dos grandes jogos, é marcado por dois grandes tabus. O Santos sustentou uma série de 11 anos sem derrotas para o rival em Campeonatos Paulistas, e, na mesma competição, o Corinthians ficou sem perder para o Peixe durante sete anos. É o clássico mais antigo do futebol paulista, um duelo que acontece desde o dia 22 de junho de 1913, quando se enfrentaram pela primeira vez. Neste dia o Santos venceu por 6 a 3. O Santos jogou com; Anibal, Arantes, Eurico, Pereira, Ambrósio; Ricardo e Milton; Nilo, Urbano, Arnaldo e Cross. Já o time de Parque São Jorge jogou com; Casemiro do Amaral, Fúlvio, Casemiro Gonzales, Police, Alfredo, Lepre, Rodrigues, César Nunes, Fabbi, Perez e Aristides.

                    Até hoje as duas equipes já se enfrentaram mais de 300 vezes. O maior artilheiro desse confronto é Pelé, que marcou 50 gols no time de Parque São Jorge. Pelé chegou no Santos em 1956, e já no dia 11 de abril de 1957, ele marcou seu primeiro gol contra o Corinthians. Neste dia o Santos venceu por 5 a 3. O jogo foi disputado na Vila Belmiro, num jogo amistoso que aconteceu numa quinta feira à noite. E foi neste ano de 1957, que a história do tabu começou.

                   Já estávamos na penúltima rodada do segundo turno do campeonato paulista de 1957. O Corinthians era líder invicto do campeonato, quando foi enfrentar o Santos no dia 22 de dezembro de 1957 e uma vitória já colocava a mão na taça. O primeiro tempo terminou empatado em 0 a 0. No segundo tempo Pelé foi expulso, mas desde garoto já era muito esperto, ou seja, levou com ele o experiente Olavo.

                  E foi justamente naquele setor, que o ponta direita Dorval soube aproveitar aquele corredor para fazer o único gol da partida aos 26 minutos. E assim terminou a partida, 1 a 0 para o Santos. Neste dia o técnico Luiz Alonso Peres, popularmente conhecido por Lula, mandou a campo os seguintes jogadores; Manga, Ramiro e Dalmo; Fioti, Zito e Urubatão; Dorval, Jair da Rosa Pinto, Guerra, Pelé e Pepe. Já o técnico Osvaldo Brandão escalou a seguinte equipe; Gilmar, Olavo e Oreco; Idário, Walmir e Goiano; Cláudio, Índio, Paulo, Rafael e Zague. Depois dessa derrota, o Corinthians só voltaria a vencer o Santos em Campeonato Paulista em 1968, ou seja, 10 anos, 2 meses e  7 dias de tabu.

                 Muita gente pensa que o Corinthians ficou este tempo todo sem vencer o Santos uma única vez, mas não é verdade, pois neste período o Corinthians venceu o Peixe por quatro vezes, mas nenhuma vitória foi em Campeonato Paulista. A primeira vitória corintiana nestes quase 11 anos, aconteceu dia 27 de março de 1958 pelo Torneio Rio-São Paulo. Neste dia o Corinthians venceu por 2 a 1, gols de Paulo e Olavo para o alvinegro de Parque São Jorge, enquanto que Pelé marcou o único tento santista. A segunda vitória aconteceu dia 31 de março de 1960, pelo Torneio Rio-São Paulo, quando o Corinthians venceu por 2 a 1, gols de Zague e Higino, enquanto que Nei marcou o único gol santista. A terceira vitória aconteceu dia 29 de março de 1961, pelo Torneio Rio-São Paulo, quando o Corinthians venceu por 2 a 0, gols de Miranda e Rafael. A quarta vitória corintiana aconteceu dia 16 de junho de 1962, pelo Torneio Nacional, quando o Corinthians venceu por 3 a 1, gols de Manoelzinho, Cássio e Calvet contra, enquanto que Nenê marcou o único tento santista. Este foi o primeiro jogo da decisão do título. No segundo jogo que aconteceu dia 21 de junho, houve empate em 3 a 3, gols de Silva, Rafael e Manoelzinho para o Corinthians e Lima, Zoca e Dorval para o Santos. Com este empate o Corinthians sagrou-se Campeão do Torneio.

                Durante esse período de tabu em Campeonato Paulista, várias vezes ele não foi quebrado por pouco, como aconteceu dia 27 de março de 1966, quando aos 44 minutos do segundo tempo, Zito cometeu pênalti em cima de Garrincha. Flávio cobrou e o goleiro Laércio espalmou para escanteio. E assim terminava a partida em 0 a 0 e mais uma vez a quebra do tabu ficava adiada. Uma outra vez que o tabu por pouco não foi quebrado, foi no dia 11 de dezembro de 1966, quando a partida estava empatada em 1 a 1, gols de Flávio para o Corinthians e Zito para o Santos e o zagueiro do Peixe cometeu um pênalti aos 42 minutos do segundo tempo. O recém contratado Nair, cobrou muito mal e o goleiro santista Cláudio  defendeu. Mais uma vez a festa corintiana foi adiada.

DIA 6 DE MARÇO DE 1968

                Era a sétima rodada do primeiro turno do Campeonato Paulista de 1968, uma quarta feira, dia de trabalho, mas o torcedor corintiano fez de tudo para estar no velho Pacaembu naquela noite, pois renascia a esperança de que aquele seria o grande dia da quebra daquele tabu que se arrastava por quase 11 anos sem uma única vitória contra o Santos pelo Campeonato Paulista. O jogo em si não decidia nada. Não para o campeonato, mas para toda a nação corintiana, valia e muito. O Pacaembu estava lotado, como sempre acontecia nos jogos dos alvinegros, proporcionando uma arrecadação naquela noite de NCr$  153.390,50. A cidade não tinha outro assunto que não fosse o jogo daquela noite. O Corinthians estava reforçado por Paulo Borges que tinha chegado do Bangu e Buião do Atlético Mineiro. Nas arquibancadas, uma faixa demonstrava o espírito da torcida: “A Fiel não está de luto; só os covardes acreditam na derrota”. E todos gritavam:  “É hoje!”.

                Para esta partida o técnico Lula do Corinthians, que havia trabalhado no Santos por 11 anos, sendo ele o técnico do Peixe quando iniciou o tabu, mandou a campo os seguintes jogadores; Diogo, Osvaldo Cunha, Ditão, Luiz Carlos e Maciel; Edson e Rivelino; Buião, Paulo Borges, Flávio e Eduardo. Do outro lado, o técnico Antoninho escalou, Cláudio, Carlos Alberto, Ramos Delgado, Joel e Rildo; Lima e Negreiros; Kaneko, Toninho Guerreiro, Pelé e Edu.  O árbitro da partida foi o argentino Roberto Goycochea, considerado um dos melhores árbitro da época.

PRIMEIRO TEMPO

                Verdade que o goleiro Diogo não inspirava muita confiança e a maioria não acreditava que o lateral direito Osvaldo Cunha pudesse levar a melhor contra o ofensivo ponta Edu. Mas a partida estava começando e o negócio era torcer. O Corinthians começa tentando sufocar o Santos. O goleiro Cláudio faz boas defesas e o técnico santista lá do banco diz; “É só fogo de palha, deixa eles correrem”. No banco corintiano, o técnico Lula fuma um cigarro depois do outro e grita; “Flávio vê se não dorme, mexa-se”.  E assim terminou o primeiro tempo em 0 a 0. O zagueiro Luiz Carlos já era considerado o melhor em campo, pois não deixava Pelé pegar na bola. No intervalo a instrução de Lula é curta e grossa; “O time deve lutar como se fosse o último jogo da vida de cada um de vocês”. E é com este espírito, que todos voltam ao campo para a segunda etapa, aquela que iria decidir aquela partida.

SEGUNDO TEMPO

                A pressão do Corinthians aumenta. Rivelino coloca uma bola de primeira e ela bate na trave. Aos 13 minutos, Paulo Borges desce pela esquerda, tabela com Flávio e recebe na frente. Mesmo desequilibrado, arrisca um tiro longo de esquerda. É gol !!!  Corinthians 1 a 0. A Fiel torcida corintiana vai a loucura. Mas exige-se muita atenção, afinal, Pelé estava em campo e tudo era possível. Aos 31 minutos, Rivelino sai driblando, aproxima-se da área e aguarda a infiltração de Flávio. Coloca o centroavante na frente do gol e este não desperdiça a chance e enfia o pé com vontade e faz 2 a 0. A torcida que já estava eufórica, vai ao êxtase, não acredita naquilo que está vendo, parece um pesadelo que está acabando. O tempo foi passando e a torcida naquela aflição, até que o árbitro apita o final de jogo. Corinthians 2 a 0 e o fim do tabu. Pelé chora, os jogadores do Corinthians são carregados e o ponta esquerda Edu, do Santos, leva a bola para o vestiário “Este é um presente que vou entregar ao meu Sargento”, revelou depois o então recruta. E a torcida de tão alegre gritava; “um, dois, três, o Santos é freguês”  ou ainda, “Com Pelé e com Edu, nós quebramos o tabu!”

A GRANDE FESTA

                A festa se estendeu pela madrugada. Carros buzinando, rojões que espocavam nos céus de São Paulo, pessoas gritando, enfim, parecia que o Corinthians havia conquistado um titulo. No dia seguinte, A TV Bandeirantes que havia sido inaugurada um ano antes, passou o vídeo-tape durante o dia inteiro. Uma fila de torcedores contornava o quarteirão da Igreja dos Enforcados, na Liberdade. Os corintianos pagavam aliviados suas promessas, sabendo que a fé tinha ajudado o futebol a vencer o tabu, a derrotar o imbatível Santos de Pelé. Durante estes quase 11 anos, ou seja, do dia 22 de dezembro de 1957 até 6 de março de 1968, Santos e Corinthians se enfrentaram 34 vezes, sendo 22 pelo Campeonato Paulista, com 16 vitórias da equipe praiana e 6 empates. Nesse período o Santos marcou 86 gols e o Corinthians marcou 50. Depois foi o Santos que ficou 7 anos e 4 meses sem vencer o Corinthians, ou seja, de 13 de junho de 1976 até 23 de outubro de 1983.

                E para fechar aquela semana com chave de ouro, quatro dias depois, a Fiel voltava a vibrar, pois no domingo seguinte, o Corinthians venceu o Palmeiras de virada.  Estava perdendo por 1 a 0 com um gol de Tupãzinho aos 38 minutos do primeiro tempo. Mas aos 41 minutos do segundo tempo Ditão empatou de cabeça e aos 44 Benê marcou o gol da vitória corintiana. Aquela semana foi inesquecível para a Fiel torcida corintiana, pois venceu dois grandes rivais em dois jogos que ficarão para todo sempre marcados na história do Sport Clube Corinthians Paulista.

TIME DO CORINTHIANS DA QUEBRA DO TABÚ      –      Em pé: Osvaldo Cunha, Edson, Luiz Carlos, Diogo, Ditão e Maciel      –      Agachados: Buião, Paulo Borges, Flávio, Rivelino e Eduardo
SANTOS FUTEBOL CLUBE – 1968      –     Em pé: Carlos Alberto, Ramos Delgado, Marçal, Clodoaldo, Cláudio e Rildo      –     Agachados: Edu, Lima, Toninho Guerreiro, Pelé e Abel

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