ZEZÉ MOREIRA: nosso treinador na Copa de 1954

                Alfredo Moreira Junior nasceu dia 16 de outubro de 1907, na cidade de Miracema – RJ. Começou no futebol como jogador, atuando como médio volante no Sport Clube Brasil, na Praia Vermelha, Rio de Janeiro, onde permaneceu até 1933. No ano seguinte foi para o Palestra Itália, atualmente Palmeiras, cuja equipe era assim formada; Aymoré Moreira, Careca e Junqueira; Zezé Moreira, Dula e Tuffy; Avelino, Sandro, Gutierrez, Lara e Imparatto. Este foi o time que enfrentou o Corinthians no dia 30 de setembro de 1934. O placar foi de 2 a 0 para os alvinegros, com dois gols de Zuza. O jogo foi no Parque São Jorge e com esta vitória o Corinthians quebrou um tabu de cinco anos que não vencia o alviverde. Depois de dois anos, foi jogar no Flamengo, onde permaneceu por seis meses. Em seguida transferiu-se para o Botafogo carioca, clube no qual encerrou sua carreira como jogador de futebol.

TREINADOR

               Zezé Moreira se formou na Escola de Educação Física em 1944 e logo em seguida começou a trabalhar como técnico e preparador físico nas categorias de base do Botafogo, até que em 1948 assumiu a direção técnica do time profissional. Foi um grande começo já que sagrou-se campeão após 13 anos de jejum do clube de General Severiano. A final foi contra o Vasco da Gama e o jogo foi no campo do Botafogo. O vestiário destinado ao Vasco estava sem água e com os vasos sanitários providencialmente sujos, entupidos e malcheirosos, e, ainda por cima, pintado, pela manhã, com cal virgem, para irritar os olhos dos adversários.

             E os jogadores, ao passar sob a proteção de arame no acesso ao campo, ainda receberam uma chuva de pó-de-mico, atirados pelos torcedores botafoguenses. Ao final da partida, vitória do Botafogo por 3 a 1, gols de Paraguaio, Otácio e Braguinha para o Fogão, enquanto que Ávila marcou contra para o Vasco. Depois de três anos trabalhando no Botafogo, foi convidado para assumir o comando técnico do Fluminense, onde conquistou o título de 1951 com uma equipe intitulada de “timinho”, mas que tinha como jogadores, Didi e Telê Santana. Numa disputa de melhor de três contra o Bangu, o Fluminense venceu as duas primeiras partidas 1×0 e 2×0 e assim conquistou o título carioca.

SELEÇÃO BRASILEIRA

               Em 1952, Zezé Moreira foi convidado a comandar a Seleção Brasileira, já se preparando para a Copa do Mundo de 1954, na Suíça. Neste mundial, o Brasil ficou em 6º lugar, disputando 3 partidas. Venceu o México por 5 a 0, empatou com a Iugoslávia em 1 a 1 e perdeu para a Hungria por 4 a 2. Marcou 8 gols e sofreu 5. Os artilheiros brasileiros foram; Julinho, Didi e Pinga, com 2 gols cada. O jogo que nos tirou do mundial aconteceu dia 27 de junho, em Berna. Diante de um público de 40.000 espectadores, brasileiros e húngaros entravam em campo para decidir mais uma vaga para a semi-final da Copa de 54. Os brasileiros assim que ficaram sabendo que iriam enfrentar a poderosa seleção húngara, deixaram transparecer aos jornalistas muito claramente, que temiam a Hungria e preferiam outro adversário.

              Chegava então o grande dia, um dia de muita chuva, onde duas grandes equipes de refinada técnica individual e de escolas muito parecidas iriam se enfrentar. Para sorte do Brasil, a seleção húngara não contava com o extraordinário jogador Puskas, que estava contundido. Por outro lado, o Brasil também estava bem modificado. Iria estrear três atacantes; Índio, Humberto Tozzi e Maurinho. Os observadores afirmavam que a ausência de alguns titulares na seleção canarinho, confirmava os boatos de que alguns jogadores pediram para não jogar alegando contusões.

              Para esta partida o técnico Zezé Moreira mandou a campo os seguintes jogadores; Castilho, Djalma Santos, Pinheiro, Bauer e Nílton Santos; Brandãozinho e Didi; Julinho, Índio, Humberto Tozzi e Maurinho. Finalmente começou o jogo e a fama da seleção húngara de fazer 2 a 0 antes dos dez primeiros minutos se confirmou. O Brasil diminuiu através de Djalma Santos cobrando pênalti, mas os húngaros logo em seguida marcaram mais um através de pênalti. Os brasileiros protestaram e estabeleceu-se um grande tumulto. Resultado, foram expulsos Nilton Santos e Humberto Tozzi do Brasil e Boszik da Hungria. Surpreendentemente um jovem passou por toda a segurança, invadiu o campo e foi até o juiz para agredi-lo. Famoso comentarista de rádio brasileiro deixou enfurecido seu local de transmissão para ir dar uma rasteira no árbitro, sob o espoucar dos flashes dos fotógrafos.

               Os brasileiros com 9 homens em campo, ainda fizeram o segundo gol por intermédio de Julinho, aos 20 minutos. Mas a Hungria fez o quarto gol minutos depois, acabando assim, com a esperança brasileira. Final de jogo, vitória da Hungria por 4 a 2 sobre o Brasil, e com isto, estávamos eliminados de mais uma Copa do Mundo. Ao terminar a partida, quando as equipes retornavam aos seus vestiários, armou-se novo conflito, envolvendo brasileiros e húngaros, chamado pela imprensa de “Batalha de Berna”. O treinador Zezé Moreira foi flagrado em fotos agredindo o ministro húngaro dos esportes. Foi realmente uma tarde cinzenta de chuva e triste para o futebol brasileiro. Zezé Moreira também trabalhou na Seleção Brasileira como espião e integrante da comissão técnica nas Copas do Mundo de 1958, 1962, 1966, 1970, 1982 e 1986 e foi campeão Pan-americano em 1952.

               Em 1959 voltou ao Fluminense e conquistou dois títulos importantes. O Campeonato Carioca de 1959 e o Torneio Rio-São Paulo de 1960. Depois foi para o Vasco da Gama em 1965 e conquistou a Taça Guanabara e o Torneio Rio São Paulo de 1966, título este que foi dividido com Botafogo, Santos e Corinthians por falta de datas, pois a Copa do Mundo de 66 estava próxima.

CORINTHIANS

               Zezé Moreira fez sua estreia no comando técnico do time alvinegro dia 20 de novembro de 1966, quando o Corinthians empatou com o Comercial de Ribeirão Preto em zero a zero pelo segundo turno do Campeonato Paulista. Neste dia ele mandou a campo os seguintes jogadores; Marcial, Jair Marinho, Ditão, Clóvis e Edson; Nair e Rivelino; Marcos, Nei, Flávio e Gilson Porto. Dia 30 de julho de 1967, tivemos um fato curioso quando jogaram Corinthians x Palmeiras. No banco corintiano estava Zezé Moreira e no banco palmeirense estava seu irmão Aymoré Moreira, que dirigiu nossa seleção no mundial de 1962, no Chile, quando conquistamos o bicampeonato. Neste dia Zezé Moreira levou a melhor, pois o Corinthians venceu por 2 a 1, gols de Nair e Rivelino para o Timão e César Maluco para o Verdão.

             Este jogo foi válido pelo primeiro turno, mas no segundo turno o Palmeiras venceu por 2 a 0, naquele famoso jogo em que o goleiro Barbosinha foi considerado culpado pela derrota. Este foi o último jogo de Barbosinha e também o último de Zezé Moreira no comando corintiano. Ao deixar o clube Zezé Moreira entrou para a história corintiana com uma frase proferida no dia em que foi demitido, “esse time não precisa de um técnico, precisa de um psicólogo”. Zezé Moreira comandou o Corinthians em 58 jogos. Venceu 34, empatou 16 e perdeu 8.

TREINOS COM GARRINCHA

               Zezé nunca se conformou com o fato de Garrincha driblar, driblar e gostar de driblar de novo. Zezé era um perfeccionista, ele achava que os dribles de Mané não podiam ser desperdiçados, tinham que ter um objetivo mais definido. Um dia ele teve uma ideia. Pegou quatro cadeiras, as dispôs em linha e disse para o Mané. “Vamos lá, Mané, dribla as cadeiras e quando driblar a última, cruza ou então chuta em gol”. Garrincha era dócil, uma pessoa maravilhosa. Obedeceu sem questionar. Pegou a bola, driblou as quatro cadeiras e cruzou. Na segunda driblou as quatro cadeiras e chutou a gol. Na terceira a mesma coisa. Quando chegou na sexta vez que driblou as cadeiras, driblou a última e de repente driblou de novo, e veio driblando a terceira, a segunda e a primeira. Olhou para o técnico e explicou: “Desculpa seu Zezé, mas não aguentei! Elas nem se mexeram!”

ADEUS A ZEZÉ MOREIRA

               Zezé Moreira morreu dia 10 de abril de 1998, aos 90 anos. Técnico do Brasil na Copa de 54 e um dos maiores nomes da história do nosso futebol, faleceu no Rio, por conta de uma insuficiência respiratória, causada por uma pneumonia, com isto seu imenso coração parou de bater. Já havia 25 dias que Alfredo Moreira Júnior, ou, simplesmente, seu Zezé, como chamavam os jogadores e até mesmo alguns da imprensa esportiva, estava internado. Zezé Moreira vai para outro plano deixando como maior legado o início do processo de profissionalização no esporte. Foi ele que introduziu a marcação por zona no futebol brasileiro.

              Zezé Moreira também foi campeão paulista em 1970 pelo São Paulo, da Taça Libertadores da América em 1976 pelo Cruzeiro, bicampeão baiano em 1978 e 1979 pelo Bahia e campeão uruguaio em 1963 e 1969 pelo Nacional. Sempre vestindo um tropical de fazer inveja, bem alinhado e de gravata, era assim que o treinador Zezé Moreira costumava dirigir suas equipes do banco de reserva. Com certeza ele será eternamente lembrado pelo torcedor brasileiro. A ele nossa gratidão por ter estado conosco no caminho que fizemos para brilhar o nosso futebol.

Seleção Carioca em 1952:     Em Pé: Eli do Amparo – Arati – Jair Santana – Nilton Santos – Castilho – Pinheiro e Zezé Moreira (Técnico)    –    Agachados: Mario Américo (Massagista) – Telê Santana- Ranulfo – Ademir Meneses – Didi e Nívio

16/10/1907 a 10/04/1998
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