A GRANDE RIVALIDADE ENTRE BRASIL E ARGENTINA

                   Brasil e Argentina foram sempre protagonistas de jogos emocionantes, decisões dramáticas e até batalhas campais. Por isso, sua velha rivalidade na bola e, as vezes na briga, se transformou no clássico do continente. Todo brasileiro que gosta de futebol odeia perder da Argentina. E vice-versa. A rivalidade se apoia em uma razão simples: ambos acreditam ter a melhor seleção do mundo.

                   Em 1937, durante o Sul-Americano em Buenos Aires, Brasil e Argentina estavam empatados, então partiram para a negra. O jogo foi uma verdadeira guerra. Resultado: Tim saiu mancando. Cardeal foi carregado de maca, Bartô sentiu-se mal e Jau lesionou o ombro, ao término de um duelo dramático, sem gols. Na prorrogação, a Argentina chegou aos 2 a 0. Inconformada com um dos gols e assustada com a insegurança do estádio do San Lorenzo, a Seleção Brasileira tentou abandonar o campo. Mas a porta do vestiário estava fechada. Por muito tempo, a imprensa brasileira classificou a partida de “jogo da vergonha”.

                   O Brasil queria vingança. E marcou data e local: 15 de janeiro de 1939, em São Januário, pela Copa Roca. Terceira colocada na Copa do Mundo, realizada na Franca no ano anterior, a Seleção Brasileira era realmente excepcional: Batatais, Domingos da Guia e Machado; Brito, Brandão e Médio; Luizinho, Romeu, Leônidas, Tim e Hercules. Pena que os argentinos apresentassem uma das maiores formações que o futebol Sul-Americano já viu. E o que aconteceu? O Brasil, que nunca fora derrotado por ninguém dentro do país, perdeu feio: 5 a 1. A Argentina chegou a colocar 5 a 0 no marcador. Ainda bem que haveria revanche.

                   Seis dias depois, as equipes retornaram ao estádio do Vasco da Gama, completamente lotado. E que sofrimento: o Brasil sai na frente, os argentinos viraram para 2 a 1, o Brasil empata e, no finzinho, o juiz Carlos Monteiro, marca um daqueles pênaltis duvidosos. Na dúvida, Lopez agride o árbitro e apanha da polícia. Em represália, os argentinos vão para o vestiário. A porta, dessa vez, estava aberta. Sem goleiro, Perácio que entrara no lugar de Tim, bateu afinal o pênalti. Os anais do futebol atestam que o Brasil ganhou por 3 a 2. Os argentinos desistiram de jogar a negra, e assim o Brasil foi proclamado vencedor da IV Copa Roca.

                   No ano seguinte, dia 5 de março de 1940, a Argentina aplicou sua maior goleada sobre o Brasil, 6 a 1. O jogo foi em Buenos Aires. Vingança dessa goleada, só teríamos a 20 de dezembro de 1945, em São Januario, também pela Copa Roca, com uma categórica e retumbante goleada de 6 a 2, gols de Ademir de Menezes (2), Heleno de Freitas, Zizinho, Chico e Leônidas. Essa foi a maior goleada já registrada pelos brasileiros contra os argentinos. No entanto, um acidente que marcaria esse jogo. Autor de dois gols, Ademir Menezes, então um jovem de 20 anos, fraturou a perna de Batagliero, um zagueiro argentino de estilo viril. Mas foi puro acidente.  Chegava então a vez dos argentinos pedirem vingança. Três meses depois, lá foram os assustados brasileiros para o Sul-Americano de Buenos Aires. Final contra quem? A Argentina, é claro.

                   Antes da partida, José Salomon, ídolo da torcida argentina, 44 jogos pela seleção, oferece uma cesta de flores ao veterano capitão brasileiro Domingos da Guia no centro do gramado. Mas o clima era de ameaças. Numa encenação montada antes, Batagliero desfilara de maca em redor do gramado. Dando a impressão que se dirigia aos jogadores brasileiros, a torcida bradava num tom patético. Era como se dissessem: “Vejam o que vocês fizeram com ele. Daqui a pouco tem troco!” 

                  Bola rolando, e aos 28 minutos, há uma bola espirrada na intermediaria entre Jair e Salomon. O capitão argentino entra de carrinho para ganhar a jogada de qualquer modo. Jair vira o rosto e levanta a perna, em atitude instintiva de defesa. O choque foi inevitável, com a perna direita de Salomon destrocando-se na sola da chuteira de Jair. Houve fratura dupla: tíbia e perônio. .

                  Vendo que o argentino Fonda vem para acertá-lo, Jair chispa para o vestiário. Chico vem acudi-lo, segura Fonda e é derrubado por Strembel pelas costas. De repente, está sozinho contra uma multidão de argentinos, soldados e jogadores. Levou pontapés, socos e, as mãos na cabeça, defendeu-se com bravura dos golpes de sabre. Por alguns minutos, ele viu a morte de perto. A Argentina venceu por 2×0 e o Brasil se conformou, consciente de que tentar uma vitória equivaleria a praticar um suicídio. Há quem jure que, pelo menos em um dos gols a zaga facilitou. Alguns jogadores chegaram a comentar isso, logo depois que o hidroavião da Panair deixou afinal para trás o Rio da Prata e suas duras lembranças.

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