PAULISTÃO de 1978

               O que seria do Santos após a parada de Pelé em 1974? Não se sabia. O Rei deixara então um legado para seus súditos que era manter um Santos digno de quem habitou e desfilou usando o mando sagrado de Vila Belmiro. O Santos então tentou manter-se nas pontas das tabelas, mas sem sucesso. Foram quatro anos assistindo seus principais rivais levantando o caneco do Campeonato Paulista, inclusive o Corinthians saindo de um jejum de títulos que se mantinha por mais de 20 anos. Começa o campeonato de 1978. O Santos tem em sua linha de frente como titulares jogadores mais experientes como Clodoaldo, remanescente da geração de Pelé. Porém, com o passar do tempo foi entrando no time a meninada vinda das categorias de base alvinegra, e não é que o time engrenou!

               O Campeonato Paulista de 1978 teve o Santos como campeão. E não foi com jogadores experientes não, pelo contrário, foi com garotos tirados da base do clube e que encantaram a todos com seu futebol bonito e alegre. O elenco santista daquele ano era assim formado: Goleiros; Vitor e Flávio. Zagueiros; Antonio Carlos, Joãozinho e Neto. Laterais; Dê, Fausto, Fernando, Gilberto Sorriso, Nelsinho Batista e Valdemir. Meio-Campistas; Ailton Lira, Cardim, Clodoaldo, Gilberto Costa, Nelson Borges, Pita, Rubens Feijão, Toninho Vieira, Zé Carlos e Zé Roberto. Atacantes; Célio, Claudinho, João Paulo, Juari e Nilton Batata. O técnico santista daquele ano era o saudoso Chico Formiga, que faleceu dia 22 de maio de 2012.

               Em função da Copa do Mundo de 1978, o calendário da CBF fixou o início do Campeonato Paulista para o segundo semestre do ano, sendo que o mesmo se estenderia até o primeiro semestre de 1979, tornando essa edição uma das mais longas da história desse campeonato, com três turnos e octogonais para se chegar ao campeão dos dois primeiros e um quadrangular com os melhores do terceiro turno para se definir o campeão. A primeira rodada do primeiro turno teve início em 20 de agosto de 1978. Houve um clássico logo nessa rodada, com o campeão da edição anterior Corinthians enfrentando e empatando com a renovada equipe do Santos. O jogo terminou em 1 a 1, gol de Pita para o Peixe e Rui Rei para o Corinthians. Este jogo entrou para a história do Corinthians, pois foi neste jogo que Sócrates fez sua estreia com a camisa do alvinegro de Parque São Jorge.

               Neste ano tivemos a participação de 20 equipes; América, Botafogo, Ferroviária, Guarani, Santos, Corinthians, São Paulo, Portuguesa de Desportos, XV de Jaú, Juventus, Portuguesa Santista, Paulista, Francana, Ponte Preta, Comercial, Marília, São Bento, Palmeiras, Velo Clube e Internacional de Limeira. Ao final de 19 rodadas, classificaram-se para o octogonal decisivo Ponte Preta e Santos pelo Grupo A, São Paulo e Portuguesa de Desportos pelo Grupo B, Guarani e Corinthians pelo Grupo C; e Palmeiras e XV de Jaú pelo Grupo D. Na final, em 26 de novembro de 1978, houve novo jogo entre Corinthians e Santos, com a equipe da capital se sagrando campeã do primeiro turno ao derrotar seu rival praiano por 1×0, gol de Palhinha. Neste jogo o goleiro santista defendeu um pênalti cobrado por Zé Maria. Neste dia o Corinthians jogou com; Jairo, Zé Maria, Amaral, Zé Eduardo e Wladimir; Taborda, Biro Biro e Sócrates; Vaguinho, Palhinha e Basílio. O técnico era José Teixeira.

               Depois de dezenove rodadas pelo segundo turno, Guarani e Juventus se classificaram pelo Grupo A; Corinthians e Botafogo de Ribeirão Preto pelo grupo B; Ponte Preta e Francana pelo Grupo C; e Santos e Ferroviária pelo Grupo D. A final foi entre Ponte Preta e Guarani que empataram em 1×1 no dia 27 de abril de 1979. A Ponte Preta se sagrou campeão do segundo turno em função da melhor campanha. Somando-se os pontos dos dois primeiros turnos, foram definidas as oite equipes que disputariam o terceiro turno, conforme segue: Ponte Preta com 53 pontos, Guarani com 50 pontos, Corinthians com 48 pontos, Santos com 47 pontos, São Paulo e Palmeiras com 44 pontos, Botafogo com 41 pontos e Juventus com 38 pontos.

               Além das oito equipes classificadas por maior número de pontos ganhos, entrariam também na disputa por critérios diversos a Francana e a Portuguesa de Desportos. A Portuguesa Santista acabou por ser rebaixada. O Paulista disputou um play-off com o Velo Club e foi confirmado como a segunda equipe rebaixada. As semi-finais entre as quatro equipes melhores classificadas foram jogadas em 16 e 17 de junho de 1979, com os seguintes resultados: Santos 3×1 Guarani no dia 16 de junho e Palmeias 0x0 São Paulo no dia 17 de junho. Na prorrogação o São Paulo venceu por 1 a 0 gol de Serginho Chulapa. Com estes resultados as finais foram entre Santos e São Paulo.

A GRANDE DECISÃO

               Seria o campeão daquele ano numa disputa de seis pontos, ou seja, um clube precisava vencer as duas partidas, caso contrário teríamos uma terceira e dependendo dos resultados teríamos ainda uma prorrogação. A primeira partida da grande decisão entre Santos e São Paulo aconteceu dia 20 de junho no Morumbi. A disputa pelo título entre dois grandes de São Paulo foi tensa e emocionante. No primeiro jogo o Santos venceu por 2 a 1, com gols dos meninos Pita e Juary, enquanto que Serginho Chulapa marcou o único tendo do tricolor. Na segunda partida uma vitória santista lhe garantiria o título.

                A segunda partida aconteceu dia 24 de junho e novamente no Morumbi, que recebeu neste dia um público de 107.485 pagantes e neste dia tivemos um empate em 1 a 1. O Santos abriu o placar aos 42 minutos da primeira etapa através do atacante Célio. A torcida do Peixe já estava comemorando o título, quando aos 43 minutos do segundo tempo Zé Sérgio empatou a partida. Ou seja, teríamos mais uma partida entre São Paulo e Santos para conhecermos o campeão paulista de 1978.

               A terceira partida aconteceu dia 28 de junho e mais uma vez o palco era o Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, que neste dia recebeu um público de 74.535 pagantes. O árbitro da partida foi Márcio Campos Salles, que expulsou o lateral Airton do São Paulo. Para este dia o técnico Formiga mandou a campo os seguintes jogadores; Flávio, Nélson, Antônio Carlos, Neto (Fernando) e Gilberto Sorriso; Zé Carlos, Toninho Vieira, e Pita; Nilton Batata, i e Claudinho. Do outro lado o técnico Rubens Minelli do São Paulo escalou a seguinte equipe; Waldir Peres, Getúlio, Tecão, Bezerra e Aírton; Chicão, Muricy e Darío Pereira (Vilson Tadei); Viana (Edu), Neca e Zé Sérgio.

               O São Paulo abriu o placar aos 26 minutos do primeiro tempo através de Zé Sérgio e assim terminou a primeira etapa. Logo aos 5 minutos da etapa complementar, Neca aumentou o marcador e assim terminou os 90 minutos de jogo com a vitória são-paulina por 2 a 0. Com estes resultados o Santos venceu uma e empatou outra, somando 4 pontos. O São Paulo também venceu uma e empatou outra e também atingiu os 4 pontos, ou seja, seria necessário uma prorrogação para conhecermos o grande campeão. Começa a prorrogação e as duas equipes com medo de atacar e sofrer um contra ataque e com isto perder o jogo e consequentemente o título. O Santos jogava com o regulamento debaixo do braço, pois o empate lhe dava o título por ter somado mais pontos durante o campeonato. E assim, depois de 30 minutos da prorrogação, o juiz apitou o termino do jogo, com o placar apontando 0 a 0 e com isto a torcida do Peixe começou a comemorar o título paulista de 1978 e a consagração dos “Meninos da Vila”.

               O feito até hoje é lembrado como um dos mais emblemáticos exemplos de que uma boa safra de jovens pode render frutos. O próprio Chico Formiga ficou famoso por sua habilidade em revelar atletas. Foi ele quem mostrou Robinho ao mundo. E não há dúvida. Enquanto o Santos apostar nas suas divisões de base, o mito dos Meninos da Vila continuará a ser evocado e reeditado. Tomara que os outros clubes possam também ser tão bem sucedidos quanto foi o Santos em 1978 e 2002, pois quem ganha com isso é o futebol brasileiro que sempre foi um celeiro de craques. Em 1978, era nomeada e eternizada a primeira geração que recebeu o nome “Meninos da Vila”, nome esse dado pelo então técnico Chico Formiga sem querer. Ele explica assim: “O nome Meninos da Vila acabou pegando porque sou mineiro e, lá, temos o costume de chamar os garotos de meninos. Assim, quando me perguntavam do time, eu respondia que os meninos estavam bem”. A partir daí, nomes como os de Juary, Pita, João Paulo e Nílton Batata surgiam de Vila Belmiro para o mundo. Nomes de meninos que honraram a camisa do Santos F.C.

               A retomada do Santos só começou a partir de 1978. Ainda sem recursos financeiros para montar um grande time, coube ao técnico Chico Formiga, ex-atleta do clube na década de 50, e que iniciava ali a sua carreira de treinador, a tarefa de construir um time competitivo praticamente do zero. A solução encontrada foi a já manjada e amplamente utilizada fórmula da mescla de experientes com jovens que saíram das categorias de base. Como o próprio Formiga afirmou anos depois, não foi uma tarefa simples: “O duro não é comandar, mas, sim, formar o time. Depois de formado, tudo é mais fácil”. E como foi sofrida a vida do santista no início da montagem do elenco. Sabendo da qualidade ofensiva de seu time, Formiga alinhou a equipe com um 4-3-3.

               Vítor era o goleiro e normalmente tinha à sua frente uma linha de quatro composta por Nelsinho Baptista pela direita, Joãozinho e Neto no miolo de zaga e Gilberto Sorriso pela esquerda. No meio de campo, Clodoaldo dava segurança defensiva para que Aílton Lira e Pita tivessem liberdade para criar e armar o jogo. Na frente os meninos Nilton Batata e Juary formavam o trio de ataque ao lado de João Paulo. E foi com este time que o Santos sagrou-se campeão paulista de 1978, um campeonato que teve 444 jogos e foram marcados 986 gols, o que nos dá uma média de 2,22 gols por jogo. O artilheiro do campeonato foi o atacante santista Juary com 29 gols. O Santos disputou 56 jogos. Venceu 26, empatou 16 e perdeu 14 vezes. Marcou 81 gols e sofreu 45. 

SANTOS F.C. CAMPEÃO PAULISTA DE 1978  –  Em pé: Gilberto, Vitor, Joãozinho, Neto, Clodoaldo e Nelsinho Baptista     –    Agachados: Nilton Batata, Ailton Lira, Juary, Pita e João Paulo

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