INTER DE LIMEIRA 2×1 PALMEIRAS – Dia 3 de Setembro de 1986

                  No ano de 1986, a cidade de Limeira foi a capital do futebol paulista, pois no dia 3 de setembro de 1986, a Associação Atlética Internacional, sagrou-se Campeã Paulista de Futebol, ao derrotar o Palmeiras por 2 a 1 em pleno estádio do Morumbi. O regulamento  daquele ano era o mesmo do ano anterior: uma primeira fase em que os vinte clubes jogavam todos contra todos, em turno e returno. Cada turno teve contagem de pontos independente, e os campeões de cada um deles classificaram-se para a semifinal. Os dois times com mais pontos obtidos na soma dos turnos (excetuando os campeões dos turnos, já classificados), também se classificaram para as semifinais.

                 O Santos ganhou o primeiro turno, classificando-se direto para as semifinais, porém o time relaxou e seu futebol caiu muito no segundo, o que se refletiu nas semifinais. No segundo turno, o destaque foi o surpreendente time da Internacional de Limeira, que o venceu com uma rodada de antecedência, além de terminar como primeiro colocado na soma dos dois turnos.

                 A Inter de Limeira enfrentou nas semifinais o Santos, pior colocado entre os quatro na soma de pontos totais, que, em decadência, perdeu os dois jogos e foi eliminado. No primeiro jogo na Vila Belmiro, o duelo de campeões dos dois turnos foi favorável ao time de Limeira. Um grande jogo e 2 x 0 na casa do Santos. No segundo jogo com o Limeirão lotado, nova vitória por 2 x 1 e  classificação para a inédita final, que seria contra o vencedor da outra chave.

               Na outra semifinal, um polêmico Corinthians e Palmeiras, que teve na primeira partida a vitória corintiana por 1 a 0. No jogo de volta, o Palmeiras devolveu o 1 a 0 no tempo normal e fez mais dois na prorrogação, garantindo os 3 a 0 (com direito a gol olímpico de Éder Aleixo) e a vaga na final. Sendo assim, estava definido as duas equipes que fariam a grande final do Campeonato Paulista de 1986, Inter de Limeira versus Palmeiras. Obviamente, o Palmeiras era o favorito diante da Inter, até porque jamais um time do interior havia ganho  um  Paulistão,  e  mais ainda quando as duas finais foram marcadas para o Morumbi (sob a alegação que o estádio do Limeirão não tinha condições para uma final). 

              Estava tudo armado para a conquista palestrina. Um time grande, contra um time desconhecido do interior paulista jogando duas partidas no Morumbi.  Um absurdo que por forças políticas, a Inter tivesse que disputar o segundo jogo na cidade do adversário, que nunca venceu nenhum dos turnos, ao contrário do escrete interiorano, que fez a melhor campanha somando os dois turnos do torneio. Uma caravana de limeirenses se deslocou para ver seu time no primeiro jogo.

PRIMEIRO JOGO DA FINAL

               O primeiro jogo aconteceu dia 31 de agosto, um domingo de muito frio na capital paulista. O que se viu lá no Morumbi foi 100.000 palmeirenses empurrando o time de Carbone contra o pequeno time do interior. Mas o que se viu naquele domingo nublado, foi uma aula de valentia de Gilberto Costa e de toda retaguarda limeirense que anulou o eficiente ataque palmeirense de Mirandinha, Edmar e Éder, que reencontrou seu ex-time agora como adversário. Resultado, um surpreendente 0 x 0. A Inter de Limeira mostrou que não estava ali para brincadeira e a expectativa ficou para segunda partida novamente no Morumbi numa quarta a noite.

SEGUNDO JOGO DA FINAL

               A maioria da imprensa paulista e do Brasil esperavam um título alviverde. Jornais, revistas, rádio e TV davam amplo destaque, ao fim do tabu de 10 anos que estava por acabar naquela noite. Mas o que viram, foi algo muito além das expectativas. Neste dia o técnico palmeirense Carbone, mandou a campo os seguintes jogadores; Martorelli, Diogo (Ditinho), Márcio, Amarildo e Denys; Lino (Mendonça), Gérson e Jorginho; Mirandinha, Edmar e Éder Aleixo. Já o time da Inter que era comandada pelo “Seo” Macia, o popular Pepe, jogou neste dia com; Silas, João Luís, Juarez, Bolívar e Pécos; Manguinha, Gilberto Costa e João Batista (Alves); Tato, Kita e . A arrecadação foi de Cz$ 2.443.610,00 para um público pagante de 68.564 pessoas.

               O jogo, bem diferente do domingo, foi muito mais aberto com ambas as equipes tentando o gol. O Palmeiras desandou a atacar a Inter e o goleiro Silas fazia defesas espetaculares e o time de Limeira se organizava em perigosos e eficientes contra-ataques. Mas o melhor estava guardado para o segundo tempo. Logo aos 5 minutos, em um cruzamento, o artilheiro Kita emendou um sem-pulo e o goleiro palmeirense Martorelli (que desbancou o titular Leão) não alcançou. Inter de Limeira 1 x 0 para o espanto dos milhares de palmeirenses presentes ao Morumbi. O baque foi grande. Ninguém do time palestrino esperava um gol da Inter e a equipe do Parque Antártica se perdeu.

               Quatro minutos depois, numa bobeada monstro, o zagueiro Denys recuou mal uma bola para Martorelli, o ponteiro direito Tato como um tubarão, se aproveitou e pegou a bola mal atrasada, driblou Martorelli e tocou no fundo da rede. Inter 2 x 0 e o desespero tomou conta do time paulistano. Os ataques passaram a ser descontrolados e sempre paravam nas mãos do goleiro Silas, um dos heróis do jogo. Aos 29 minutos, num cruzamento, o Palmeiras conseguiu diminuir através do zagueiro Amarildo e depois tentou empatar para levar o jogo para a prorrogação, alimentando assim uma esperança ao torcedor alviverde, que naquele momento não estava acreditando naquilo que estava vendo.

               Mas a experiência de Gilberto Costa e Silas foi decisiva para manter o placar favorável. Dulcídio Vanderlei Boschilla apita, é fim de jogo. E um tabu de 84 anos se quebra. Finalmente um time do interior paulista é campeão com todo o merecimento. O Palmeiras iria amargar ainda mais 7 anos na fila e a Associação Atlética Internacional de Limeira, comandada por jogadores rejeitados por clubes grandes e por jovens valores, mostrou seu talento e entrou definitivamente para a história do futebol brasileiro.  Depois vieram os títulos do Bragantino (numa final interiorana) em 1990 e Ituano (sem a presença dos grandes) em 2002. Mas sem o mesmo brilho e valentia daqueles homens que contra todos os estigmas e armações lutaram para se tornarem campeões e tornar a cidade de Limeira, mesmo por alguns dias, a capital paulista do futebol.

RECORDAÇÕES  

                 Quarta-feira, 3 de setembro de 1986, um time do interior paulista era pela primeira vez, campeão estadual. A façanha coube à Associação Atlética Internacional de Limeira, que superou na final o Palmeiras por 2 x 1 em pleno Morumbi lotado de alviverdes. Nunca em 84 anos de história do futebol paulista, um time “caipira” tinha conseguido tal façanha. Somente times da capital e do litoral (especificamente o Santos) tinham conquistado tal proeza. Times como Ponte Preta em 1977, 1979 e 1981 tentaram quebrar esse tabu, mas caíram vertiginosamente frente aos poderosos times da capital. No ano da Copa do México em 1986, isso mudou, e um time da cidade de Limeira, ousou desafiar o quarteto Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos e levar a taça do campeonato paulista pela primeira vez para uma cidade do interior.

                O time da Inter era formado com um misto de veteranos e jovens promessas. O maior destaque era o volante Gilberto Costa. Barbudo, raçudo e dono de um chute poderosíssimo. O time contava ainda com o excelente e seguro goleiro Silas (que veio do Santos) e uma grande zaga formada por Bolívar e Juarez. Os laterais João Luis e Pécos faziam a cobertura da zaga limeirense com louvor. No meio campo o talento e a grande fase de João Batista e Manguinha foram fundamentais nas partidas decisivas. No ataque a Inter contava com o rápido e esperto ponteiro Tato e os centroavantes Kita e Lê (que veio das divisões de base do clube). Com esse time, misto de jogadores experientes e novos talentos, o time de Limeira conquistou o titulo paulista. Também faziam parte do grupo; Paulo Omar, Donizete, Tonho, Gilson Gênio, Carlos Silva e Gilcimar. Infelizmente, Juarez, Pécos e Donizete já faleceram, mas ficarão para sempre guardados em nossa memória.

               Foi um acontecimento que jamais será esquecido não só pelo torcedor da veterana, como também por todo povo limeirense, pois a Internacional de Limeira, foi o primeiro clube do interior a sagrar-se Campeão Paulista de Futebol. A campanha naquele ano foi tão magnífica, que marcou 59 gols, sofreu apenas 33, sete jogadores foram escolhidos para a seleção paulista daquele ano, o centroavante Kita da Internacional, foi o artilheiro do campeonato com 24 gols e a Associação Atlética Internacional recebeu do jornal “A Gazeta Esportiva” a Taça dos Invictos, por ter ficado 17 partidas consecutivas sem perder.

               Aquela noite de 3 de setembro de 1986, foi de pura emoção. Aqueles que não foram ao Morumbi, ficaram em suas casas, vendo pela televisão, ou grudados no rádio ouvindo Edmundo Silva (a voz metálica do rádio brasileiro), que vibrava junto com o povo limeirense a cada lance da partida, trazendo ao ouvinte a sensação de que ele também estava lá no estádio.

               E ao final da partida, foi aquela festa que se espalhou por toda a cidade. A Praça Toledo Barros em poucos minutos ficou lotada de torcedores. Carros desfilavam pelas ruas com suas buzinas querendo dizer a todos que éramos campeões. Sem dúvida, foi um dia que entrou para a história do futebol da cidade de Limeira e em especial de todos os torcedores leoninos, que naquele dia puderam gritar bem alto “É CAMPEÃO”.

Internacional de Limeira Campeã Paulista de 1986      –      Em pé: Silas, João Luis, Bolivar, Juarez, Manguinha, Pécos e Kita      –     Agachados: Tato, Gilberto Costa, João Batista e Gilson Gênio
PALMEIRAS – 1986      –     Em pé: Ivan, Amarildo, Martoreli, Márcio, Diogo, Lino e Denys     –     Agachados: Toninho, Gerson Caçapava, Mirandinha, Edmar, Eder e Jorginho

 

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