CAXAMBU: o criador da “ponte’ no futebol

                 Hélio Geraldo Caxambu nasceu dia 15 de outubro de 1918, na cidade de Campinas – SP. No meio futebolístico era conhecido por Caxambu, sendo assim, muitos pensam que ele nasceu na cidade hidromineral do Sul de Minas de nome Caxambu, o que não é verdade. Foi um goleiro que teve brilhantes passagens por São Paulo e Portuguesa de Desportos. Além das atuações destacadas, revelou-se um homem bastante preocupado com a classe dos jogadores de futebol. Tanto que no final da década de 1940, fundou o Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo, do qual também foi o primeiro presidente.

                Com isto, enfrentou inúmeros problemas com os cartolas dos clubes, mas jamais esmoreceu. Antigos jornalistas e jogadores garantem que Caxambu foi o primeiro goleiro a fazer “ponte” no futebol. E para ele a verdadeira “ponte” é um pouco diferente daquela que temos ideia hoje em dia. Segundo ele, a verdadeira ponte é aquela que o goleiro salta e segura a bola com as duas mãos. Caxambu atuou nas equipes juvenis da Portuguesa no final da década de 30. Profissionalizou-se em 1937.

SÃO PAULO F.C.

               Caxambu chegou menino ao gol do São Paulo. Era bom demais embaixo das metas e fazia defesas impressionantes. Deu azar de pegar uma fase ruim do time em início de trabalho. Perdeu a posição quando o goleiro “King” foi contratado. Em 1939, teve uma breve passagem pela Ponte Preta. Em 10 de outubro de 1941, num clássico entre São Paulo e Palmeiras no Canindé (onde o São Paulo mantinha seu campo de treinamento e a concentração), na estréia de Echevarrieta no Palmeiras e que o São Paulo venceu por 2 a 1, fez uma defesa tão impressionante, que acabou sendo apontado pela imprensa como o inventor da ponte. O próprio Caxambu descreve o lance: “Quando corria para cobrir o canto direito, o centroavante argentino cabeceou para o lado oposto. Torci o corpo todo e voando fui buscar a bola, sem largá-la. Por muito tempo se falou dessa defesa, já que os goleiros, em jogadas parecidas, recorriam às rebatidas, pois as bolas mais leves tornavam as coisas mais difíceis”.

               Caxambu fez parte do elenco Tricolor que sagrou-se Campeão Paulista de 1943, sendo que o goleiro titular era King. Segundo os frequentadores do Ponto Chic do Largo Payssandu dos anos 40, o título paulista era decidido com uma moeda. Se desse cara, o campeão seria o Palmeiras; coroa, o Corinthians. Agora, se a moeda parasse no ar o título seria da Portuguesa. Se caísse de pé, do São Paulo.    Era preciso muita coragem e sangue- frio, na época para ser são-paulino no início da década de 40, já que, para os seus adversários, o clube tricolor não passava de um time de refugos, com os veteranos Piolim, os reservas vascaínos Zarzur e Noronha, o problemático Leônidas da Silva e Antonio Sastre, argentino. O título de 1943 foi decidido na última rodada, quando o Tricolor enfrentou o Palmeiras.

                O empate já bastava aos são-paulinos e foi o que aconteceu, ao término dos noventa minutos o placar permanecia como quando o jogo começou, ou seja, zero a zero. E para comemorar aquele título, a torcida do São Paulo organizou um desfile na Avenida Pacaembu que teve até um carro alegórico e nele colocaram uma grande moeda prateada, em pé, na carroceria de uma caminhonete, simbolizando que naquele ano não deu Palmeiras e nem Corinthians, mas sim o São Paulo, pois a moeda havia caído em pé. Com a camisa do Tricolor, Caxambu disputou 79 partidas. Venceu 36, empatou 7 e perdeu 36 vezes.  Em 1957, trabalhou como treinador da equipe são-paulina em algumas partidas daquele ano, mas não se firmou na profissão.

PORTUGUESA DE DESPORTOS

               No ano seguinte Caxambu retornou a Portuguesa de Desportos, de onde havia saído muito jovem para ir jogar no São Paulo. Em seu retorno com o Campeonato Paulista de 1944 já estando no seu segundo turno, Caxambu retornou a meta da Lusa e o jogo foi contra o Corinthians no Estádio Alfredo Schurig, o velho Parque São Jorge. A Portuguesa tinha um bom time e naquele dia 24 de setembro de 1944, a Lusa jogou com; Caxambu, Lorico e Nino; Luizinho, Manelão e Ferreirinha; Vidal, Charuto, Waldemar de Brito, Pinga e Antoninho. O técnico era Trajano de Barros. Já o Corinthians que era comandado por Joseph Tiger, jogou aquele dia com a seguinte formação; Rato, Domingos da Guia e Begliomini; Jango, Hélio e Palmer; Jerônimo, Servilio, César, Nino e Hércules.

               Neste dia o Corinthians venceu por 4 a 2, com dois gols de César, um de Hélio e o quarto foi contra do zagueiro Lorico. Para a Lusa do Canindé marcaram, Pinga e Waldemar de Brito, que anos mais tarde iria descobrir o maior jogador de futebol de todos os tempos, o Rei Pelé. Em 1948, Caxambu jogou a partida que inaugurou o Placar Elétrico do Pacaembu, isto aconteceu dia 29 de abril, uma quinta feira  e o jogo foi Corinthians x Portuguesa, com a vitória alvinegra por 2 a 1. O jogo foi válido pela Taça Cidade de São Paulo.

               Caxambu jogou na Portuguesa até 1950, quando transferiu-se para o Juventus da Moóca. No Moleque Travesso ficou até 1952, quando encerrou sua brilhante carreira. Nesse período em que jogou no time da Rua Javari, teve a honra de jogar ao lado de grandes craques do futebol brasileiro, como por exemplo; Pinga, que brilhou no Vasco e na Portuguesa, Simão e Carbone que brilharam no Corinthians, inclusive Carbone em 1951 foi o artilheiro do Campeonato Paulista com 30 gols, uma marca que dificilmente veremos nos dias de hoje, jogou também com Julinho Botelho, que foi ídolo no Palmeiras, na Fiorentina da Itália e também na nossa Seleção Brasileira, inclusive tem uma passagem muito bonita em sua carreira. No dia 13 de maio de 1959, o Brasil fez um amistoso contra a Inglaterra no Maracanã. Quando os alto-falantes do estádio anunciaram Julinho e não o Mané Garrincha, houve uma tremenda vaia que durou dez minutos. No entanto, aos cinco minutos de jogo fez uma linda jogada e marcou o primeiro gol brasileiro. Dez minutos depois, fez outra linda jogada que resultou no segundo gol brasileiro. Ao terminar o jogo, Julinho saiu aplaudido de campo.

FORA DAS QUATRO LINHAS

               Foi um profissional preocupado com a sua categoria. A Associação dos Jogadores Profissionais de Futebol, fundada no ano de 1947, foi transformada em Sindicato dos Atletas Profissionais por meio da carta Sindical de 11 de outubro de 1949, quando Caxambu assumiu o primeiro mandato, encerrado em 1952. Um ano antes da fundação da Associação dos Jogadores de Futebol, 15 pessoas se reuniram sob orientação do cronista Aurélio Campos, no auditório da Rádio Difusora Tupi, para determinar a criação de uma entidade que representasse e defendesse os jogadores. A idéia que saltava das mentes dessas pessoas foi concretizada no dia 23 de julho de 1947, em reunião realizada na sede da Associação Comercial, na Rua Libero Badaró, em São Paulo (SP).


Helio Geraldo Caxambu, um dos maiores goleiros dos anos 40 esteve entre os fundadores e foi escolhido para ser o primeiro presidente da recém criada Associação dos Jogadores de Futebol. Dois anos depois, datada de 11 de outubro de 1949, saiu à carta sindical que elevou a Associação à categoria de Sindicato, Caxambu continuou como presidente por mais três anos contribuindo significativamente para várias conquistas dos jogadores, o que lhe custou grande parte de sua carreira. Além de criar grandes inimigos, a entidade foi denominada, na época, como partido revolucionário por lutar pelos direitos de uma classe. “Fui ameaçado pelos clubes de que deveria transformar a entidade em uma Associação, não em Sindicato. Seríamos uma associação beneficente ajudada pela Federação Paulista de Futebol, receberíamos, uma vez por ano, a renda de uma partida de futebol”, relembrou Caxambu na festa de aniversário de 50 anos do Sindicato, mostrando-se indignado com a oferta feita pelos dirigentes, que alegavam que os clubes não teriam condições de fazer frente às obrigações posteriores à criação da entidade.

               As muitas dificuldades para manter a entidade jamais foram motivos para que o ideal fosse abandonado, certos de que seriam vitoriosos não foram poucas as vezes que Caxambu e José Procópio colocaram dinheiro do próprio bolso para pagar os aluguéis da sede. Para poder receber as mensalidades dos filiados nomeou-se um representante em cada Clube, ainda assim continuava difícil o recebimento das contribuições. Cansados de cobrar e não receber, Caxambu conseguiu que os clubes descontassem tal contribuição em carteira. O Palmeiras foi o primeiro clube a aceitar e apoiar o acordo e foi dele também que o Sindicato recebeu sua primeira homenagem. No dia da entrega da carta sindical, o Palmeiras ofertou uma flâmula como sinal de apreço ao Sindicato de Atletas Profissionais do Estado de São Paulo, que então surgia no auditório da rádio Pan-americana, na Rua São Bento, na capital paulista. Caxambu, grande goleiro do São Paulo e da Portuguesa de Desportos e primeiro presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo, faleceu dia 12 de setembro de 1997.

Agachado está o goleiro Caxambu. Em pé, da esquerda para a direita, estão: Lorico, Luizinho, Manoelão, Nininho, Pinga, Artur, Renato, Nino, Hélio e Reginaldo.
CAXAMBU – Goleiro da Portuguesa e BINO – Goleiro do Corinthians
CAXAMBU – Goleiro da Portuguesa e OBERDAN – Goleiro do Palmeiras
CAXAMBU e LEÔNIDAS DA SILVA

 

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