CORINTHIANS 1×0 PONTE PRETA – Dia 13 de Outubro de 1977

               Em 1977, o S. C. Corinthians Paulista comemorava mais um título estadual, mas não foi um título qualquer, foi um título que entrou para a história do clube, pois naquele dia 13 de outubro de 1977, estava completando 22 anos, 8 meses e 7 dias que a Fiel Torcida Corintiana não soltava o grito de “É Campeão”. Então vejamos abaixo um resumo deste campeonato.

REGULAMENTO

               O regulamento era um pouco complicado, mas tinha como objetivo garantir as equipes grandes na final da disputa, o que acabou dando resultado. Eram 19 times, divididos em 4 grupos. Vitórias simples valiam dois pontos conforme acontecia na época. As vitórias com três gols de diferença passaram a valer três pontos. Jogaram todos contra todos, porém a contagem de pontos foi feita dentro dos grupos. Aos campeões de cada turno, seriam acrescidos mais seis equipes. Os critérios para que esses times obtivessem essa classificação seriam a soma de pontos das duas fases anteriores e a arrecadação obtida por eles nos dois turnos anteriores. Na final seria campeão a equipe que conseguisse quatro pontos. Se ao final dos três jogos as duas equipes mantivessem a mesma pontuação, o jogo iria para a prorrogação. Persistindo o empate seria declarado campeão aquele que obtivesse mais vitórias ao longo do campeonato.

CLASSIFICAÇÃO

               Ao final do segundo turno, foi formado dois grupos de quatro clubes cada um. No grupo 1, estavam: Botafogo, Ponte Preta, Palmeiras e Santos. No grupo 2 estavam: Corinthians, São Paulo, Portuguesa e Guarani. Os oito clubes jogariam entre si. O Corinthians depois de vencer o Palmeiras por 2 a 0, gols de Zé Maria e Vaguinho, teve um tropeço diante do Guarani em pleno Pacaembu, 1 a 0. Como não podia mais perder até o final da competição, Brandão trancou o vestiário e disse aos jogadores; “De agora em diante só depende de vocês”, e foi o que aconteceu. No domingo seguinte o jogo foi em Ribeirão Preto e o Timão venceu por 1 a 0, gol de Romeu.

              Na quinta feira seguinte, foi a vez da Portuguesa de Desportos sentir a força dos pupilos de Brandão, e mais uma vitória corintiana por 1 a 0, gol de Geraldão. No domingo seguinte, o adversário era o São Paulo. O jogo foi no Morumbi e não deu outra, mais uma vitória alvinegra, desta vez por 2 a 1, gols de Geraldão e Romeu, enquanto que para o Tricolor marcou Serginho Chulapa.  Com esta vitória o Corinthians estava classificado para a grande final, que seria contra a excelente equipe da Ponte Preta de Campinas, que também se classificou no outro grupo. Como rezava o regulamento, eram necessários 4 pontos para que a equipe conquistasse o título.

PRIMEIRA PARTIDA

              A estratégia da Ponte Preta era de segurar o time nos primeiros minutos e contar com a cobrança da torcida corintiana para cima dos jogadores, como afirmou o próprio técnico da Ponte após o jogo. Porém aos 14 minutos, Palhinha arrancou em velocidade rumo ao gol do adversário. O goleiro Carlos saiu para fechar o ângulo, Palhinha chutou com força, a bola bateu no joelho do goleiro, voltou no rosto do atacante e dali para dentro do gol. A equipe corintiana soube segurar a pressão da macaca principalmente no segundo tempo até o arbitro Dulcídio apitar o final do jogo.

SEGUNDA PARTIDA

               A Polícia Rodoviária preparou um forte esquema de segurança para os 60 ônibus que sairiam de Campinas rumo ao Morumbi. Mas o esquema nem foi tão exigido, pois apenas 27 ônibus chegaram a São Paulo, traduzindo a pouca confiança da torcida ponte pretana no time. Pelo lado corintiano, muita esperança. O Morumbi começou a lotar desde manhã, o que acabou estabelecendo o recorde de público da história daquele estádio, com um total de 146.082 pessoas, sendo 138.032 pagantes e 8.050 menores, o maior público do Estádio do Morumbi e do próprio Corinthians, afinal, o empate já daria o título ao Corinthians. A movimentação no Parque São Jorge começou cedo, com a missa das 10 horas na capela dedicada ao santo protetor do clube, o São Jorge, que lotou de pessoas. No lado de fora, carros com bandeiras do time e fogos de artifício estouravam nas imediações do clube. Na manhã daquele domingo, o técnico Oswaldo Brandão se reuniu com a comissão técnica para anunciar a escalação. Entre as mudanças, a entrada de Jairo no gol no lugar de Tobias suspenso pelo terceiro cartão amarelo; a volta do ponta-esquerda Romeu e a saída do ponta-direita Vaguinho que daria lugar a Palhinha.

               Ao comunicar a Vaguinho sobre a notícia, o jogador se irritou pois havia sido titular toda a campanha e não havia argumentos do técnico que o fizessem mudar de ideia. O jogador chegou a ameaçar abandonar a concentração, e ir de táxi para casa. Mas após uma ligação de sua esposa, Maria do Carmo, o jogador se acalmou e ficou na concentração. Aos 25 minutos, Palhinha sofrendo uma forte dor na parte superior da coxa saiu para a entrada de Vaguinho. Aos 42 minutos, ele recebeu passe de calcanhar, e entregou para Geraldão. O zagueiro da Ponte, Oscar, ficou parado pedindo impedimento. O auxiliar não assinalou nada e Romeu lançou de volta para Vaguinho livre marcar na saída de Carlos: 1 a 0. Mas na segunda etapa, Dicá cobrando falta e Rui Rey viraram o placar e tudo ficou para a terceira partida, que aconteceria na quinta feira seguinte.

A GRANDE DECISÃO

               A história desse jogo começa na véspera, quando Basílio estava preparando-se para dormir, e entra em seu quarto, Oswaldo Brandão. Fato normal, já que ele era considerado um “paizão”. No entanto, Brandão tinha um recado especial para dar ao seu camisa 8. “Durma bem, negão, porque você vai fazer o gol do título”.  No dia seguinte, Basílio nem deve ter se lembrado das palavras de Brandão, afinal a aglomeração e a gritaria dos torcedores ao redor do hotel era muito grande. O Morumbi recebeu um público de quase 90 mil pessoas. Em campo, Corinthians e Ponte Preta. Só seria campeão aquele time que chegasse primeiro aos quatro pontos, ou seja, a que vencesse a partida. Se houvesse empate a partida iria para a prorrogação. Se persistisse o empate seria campeão o time que tivesse mais vitórias durante a competição, que no caso seria o Corinthians com 26 vitórias contra as 23 da Ponte.  Neste dia o Corinthians jogou com; Tobias, Zé Maria, Moisés, Ademir e Wladimir; Ruço, Basílio e Luciano; Vaguinho, Geraldão e Romeu. O técnico era Osvaldo Brandão, o mesmo que havia conquistado o último título corintiano, em 1954. Já o técnico José Duarte, da Ponte Preta, mandou a campo; Carlos, Jair, Oscar, Polozzi e Ângelo; Vanderlei, Marco Aurélio e Dicá; Lúcio, Rui Rey e Tuta (Parraga).

               O Corinthians começou levando perigo logo aos 4 minutos, com uma bola na trave de Luciano sobre a meta de Carlos. Aos 16 minutos, o centroavante da macaca, Rui Rey foi expulso, após uma jogada em que ele levou a bola com a mão, o arbitro apitou a falta e Rui se direcionou para o juiz com gestos e palavrões quando foi advertido com o cartão amarelo. Mesmo assim continuou reclamando com o arbitro que o puniu com o cartão vermelho. Essa atitude o fez levar uma fama de “vendido” onde teria sido pago pelo Corinthians para ser expulso, principalmente depois que foi contratado pela equipe do parque São Jorge no ano seguinte.

               As equipes voltaram para o segundo tempo menos agressivas, mas mesmo assim o Corinthians controlava o jogo. A Ponte Preta só levaria perigo aos 25 minutos, quando Ângelo cobrou uma falta de longe que passou rente á trave do goleiro Tobias. Cinco minutos depois, o goleiro ponte pretano Carlos rebateu mal uma bola chutada por Romeu, que só não entrou porque Oscar salvou a equipe de Campinas.

               Então aos 36 minutos, Zé Maria do Corinthians apareceu livre pela direita e tentou cruzar, mas o lateral da Ponte, Ângelo, cortou com a mão. Dulcídio apitou falta e o próprio Zé Maria ficou para a cobrança. No chute, Zé Maria levantou para dentro da área, onde Basílio desviou de leve; a bola sobrou para Vaguinho que, de pé esquerdo, chutou a bola no travessão; seguindo a jogada, a bola voltou para Wladimir, que vindo de frente, cabeceou para o zagueiro Oscar tirar também de cabeça; na sobra, a bola ficou com Basílio que arrematou de pé direito, á meia altura, no lado esquerdo do goleiro Carlos, onde a bola encontrou nas redes. Era o gol do título, da queda do jejum de conquistas de 22 anos, 8 meses e 7 dias de sofrimento. Mais de 22 anos de bolas chutadas na trave, nas mãos dos goleiros, bolas perdidas pela linha de fundo. Mas naquela noite de 13 de Outubro de 1977, o pé angelical de Basílio apareceu na grande área. Incontáveis chutes se perderam pelas noites de 22 anos. Mas aquele chute de Basílio não foi perdido. A bola passou por Polozzi e bateu na rede da Ponte. Basílio foi para a galera. A torcida foi para o céu. Um gol sofrido. Chorado. Suado. Raçudo. Lindo. Corinthians Campeão!!!.

               Após o apito final de Dulcídio Wanderley Boschilla, a policia não conseguiu conter os torcedores que invadiram o gramado e comemoravam como podiam. Todos querendo uma lembrança do jogo desde pedaços do gramado até as bandeirinhas. Brandão é carregado no colo, o presidente Vicente Matheus perde os sapatos, os jogadores ficam quase nus. O coro de “é campeão” toma conta da noite paulista e invade a madrugada. A partir daí, surge um novo Corinthians. Acabaram-se os traumas e o time volta a ser o bom e velho vencedor. Pela cidade multidões de torcedores invadiram a Avenida Paulista, onde comerciantes fecharam as portas com medo dos torcedores mais eufóricos. A campanha do Corinthians foi a seguinte: 48 jogos, 30 vitórias, 6 empates e 12 derrotas. Marcou 73 gols e sofreu 38. O artilheiro do Corinthians e também do campeonato foi Geraldão com 24 gols. Por tudo isso, o S. C. Corinthians Paulista sagrou-se Campeão Paulista de 1977.

SPORT CLUBE CORINTHIANS PAULISTA – 1977      –     Em pé: Zé Maria, Tobias, Moisés, Ruço, Ademir e Wladimir      –     Agachados: Vaguinho, Basílio, Geraldão, Luciano e Romeu
ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA PONTE PRETA – 1977      –     Em pé: Carlos, Oscar, Polozzi, Vanderlei, Jair Picerni e Odirlei      –     Agachados: Lúcio, Marco Aurélio, Rui Rei, Dicá e Tuta

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