CORINTHIANS 7×1 SANTOS – Dia 6 de Novembro de 2005

                  O sol daquela tarde de 06 de novembro de 2005 sugeria um domingo perfeito para um clássico de futebol. E, naquele dia, a cidade de São Paulo teria um Corinthians e Santos para assistir e torcer. As equipes não eram lá tão boas e vistosas como nos anos de 2002, 1999, 1998, 1962 ou 1963, mas alguns jogadores poderiam tornar um jogo monótono e sem gols em uma partida especial. E coube a um argentino, talvez o que despertou mais paixão e idolatria na fanática torcida corintiana, o responsável por conduzir o Timão a um dos resultados mais fantásticos e inesquecíveis de sua história.

                 Em 06 de novembro de 2005, o Corinthians se vingou, com juros e correção monetária, de todos os sapécos que levou do Santos na chamada Era Pelé. As derrotas nas finais do Brasileiro de 2002 ainda não haviam cicatrizado. As pedaladas e abusos de Robinho e companhia infernizavam as memórias dos corintianos. Era hora do basta. Do chega. De uma única revanche que valesse por dezenas. Em 06 de novembro de 2005, o Corinthians fez um. Dois. Três. Quatro. Cinco. Seis. Sete gols. E levou apenas um. Eterno 7 a 1.

                 Eterno Carlos Tévez, autor de três gols. Eterno Nilmar, autor de dois. Eterno Timão, que trucidou sem dó um de seus maiores rivais e fez a alegria de pessoas que jamais haviam visto um placar tão elástico num clássico paulista. Desde 1941 que o Corinthians não aplicava uma goleada como aquela no rival praiano. E, pela primeira vez, uma vitória do time de Parque São Jorge foi comemorada com tango, com canciones argentinas e tudo o que o país portenho poderia oferecer. Ninguém jamais se esqueceu daquela tarde. E ninguém jamais se esquecerá. É hora de relembrar.

                 Depois de vencer o Campeonato Brasileiro de 2004, o segundo em quatro anos, e perder o ídolo Robinho para o futebol espanhol, o Santos vivia um período de transição naquele ano de 2005. A equipe ainda contava com alguns remanescentes do bicampeonato nacional, a volta do ídolo de 1995, Giovanni, mas não engrenava no Campeonato Brasileiro. O time era inconstante e não brigava nem pelo título, nem para cair, nem por uma vaga na Copa Libertadores. Já o rival Corinthians era totalmente o oposto. Depois de assinar uma parceria milionária com a MSI e fazer contratações de baciada, a equipe formou um elenco “estrelar” e caminhava a passos largos rumo ao título nacional. Motivados por bichos extras pagos pelo iraniano Kia Joorabchian, os corintianos eram líderes do torneio e precisavam de uma vitória no clássico para já garantir uma vaga na Libertadores de 2006.

                Embora não fosse um time forte, o Santos não era encarado como moleza pelo Corinthians e qualquer resultado era possível. Já os santistas queriam manter o retrospecto favorável contra o rival (o Santos estava invicto na cidade de São Paulo contra o rival em Brasileiros desde 1998) e esperavam por uma atuação de gala de Giovanni no mesmo palco onde ele teve uma das atuações mais marcantes de um jogador no Brasil, em 1995 – o Pacaembu. No entanto, aquele clássico estava mais para o brilho de um jovem e endiabrado argentino, Carlos Tévez, do que para um já veterano Don Giovanni.

                Para esta partida o técnico corintiano Antônio Lopes mandou a campo os seguintes jogadores; Fábio Costa, Eduardo Ratinho, Wendel, Marinho e Hugo; Marcelo Mattos, Bruno Octávio (Wescley), Rosinei (Dinelson) e Carlos Alberto; Nilmar e Tevez. Do outro lado o técnico Nelsinho Baptista escalou a seguinte equipe; Saulo, Paulo César, Halisson (Wendell), Rogério e Kléber; Fabinho (Mateus), Heleno, Giovanni e Ricardinho; Geílson e Luizão (Basílio). O árbitro da partida foi Evandro Rogério Roman e o público foi de 21.918 pagantes, o que proporcionou uma arrecadação de R$ 323.254,00.

                Com menos de um minuto de jogo, o Corinthians mostrou logo de cara que levaria aquela partida muito a sério. Muito mesmo. Nilmar roubou a bola de Halisson, tocou para Tévez na esquerda e este cruzou na área para Rosinei, de frente para o gol, fuzilar o goleiro Saulo: 1 a 0. Prenúncio de uma goleada? De jeito nenhum, pensava a maioria. Mas o fato é que o gol atordoou o Santos, que demorou a se encontrar no jogo. Mais precisamente oito minutos, quando Geílson aproveitou uma falha da zaga corintiana para empatar, de cabeça, após cobrança de escanteio.

                Logo após o gol, o Corinthians se inflou e não deixou o rival tomar gosto pelo jogo. Nilmar, vivendo grande fase e sem as famosas contusões, invadiu a área santista um minuto depois e carimbou a trave de Saulo. Apostando muito na jogada aérea, o Santos tentava, em vão, chegar ao gol da virada, enquanto o Corinthians errava passes demais e via Carlos Alberto ser anulado pela marcação rival. Porém, os erros crassos da defesa santista começaram a dar as caras aos 19´. Halisson, de novo, errou um passe perto da área e tocou para Rosinei, que lançou para Tévez chutar cruzado e no alto para fazer o segundo gol: 2 a 1.

                 O camisa 10 corintiano começava o seu show. Habilidoso, totalmente identificado com a torcida e iluminado ao máximo naquele ano de 2005, Carlitos fazia o que queria com a bola em seus pés. Aos 23´, tirou um marcador com uma finta seca, chutou e obrigou o goleiro Saulo a fazer uma difícil defesa. O Santos respondeu alguns minutos depois, com Geílson, mas Fábio Costa salvou o Timón. Aos 37´, Tévez mostrou ao atacante santista como se faz ao receber de Eduardo Ratinho, girar e bater de perna esquerda: 3 a 1.

                O placar era o reflexo claro da superioridade ofensiva do Corinthians e da fragilidade dos defensores santistas, que anulavam Carlos Alberto, mas se esqueciam de tomar conta de Tévez e Nilmar, os principais fazedores de gols do time alvinegro. Nelsinho Baptista, técnico santista, precisava fazer alguma coisa. Ou o segundo tempo teria ainda mais gols pelo lado corintiano.

                Com a mesma postura da etapa inicial, o Corinthians continuou assíduo no ataque e Nilmar, de novo, quase fez 4 a 1 com apenas dois minutos de jogo, quando aproveitou (nova) falha da zaga santista e chutou para uma ótima defesa de Saulo. As mudanças de Nelsinho não surtiam efeito (ele tirou Halisson e colocou Wendell e pôs Heleno na zaga), e, para piorar, Rogério foi expulso aos seis minutos após cometer falta em Tévez.

                Com 10 homens, a situação do Santos era dramática. E a do Corinthians, mágica. Três minutos após a expulsão de Rogério, Tévez voltou a aprontar. O argentino dominou de frente para a área, tabelou com Nilmar e fuzilou: 4 a 1. Goleada no Pacaembu! E desestruturação total no Santos. Apático e sem reação alguma, a equipe praiana teria que se fechar na defesa se não quisesse levar um sapeco ainda maior. Mas a pergunta era: que defesa?! Ela simplesmente não existia. E não atuava como tal. Já o ataque do Corinthians…

                Aos 17´, Carlos Alberto chutou de fora da área, Saulo rebateu mal e a bola sobrou livre para Nilmar, enfim, marcar seu primeiro gol no jogo: 5 a 1. Era deleite puro para o corintiano que tanto sofrera nos anos anteriores ver seu time golear o time da Vila por acapachantes 5 a 1. E a vingança por tanto drama passado. Mas ainda era pouco, pensavam os jogadores do Timão. Cinco era pouco. Era preciso mais. Um número maior. E bem simbólico.

                O Corinthians continuava no ataque e não relaxava por causa do placar já elástico, atitude que deixava a Fiel torcida ainda mais entusiasmada. Jô, atacante, entrou no lugar de Tévez, que saiu ovacionado por todos no estádio. E, na primeira jogada do suplente, ele cruzou na cabeça de Nilmar, que ganhou do atabalhoado goleiro santista para fazer o seu segundo gol no jogo e o sexto do Timão: 6 a 1. Virava três e acabava seis. Quanta ousadia! E quanto drama para os santistas.

                A torcida corintiana gritava olé, respirava os ares da vaga na Libertadores 2006 e comemorava um título nacional cada vez mais perto. Já o torcedor do Santos queria o apito final, queria a volta do brio de seus jogadores e que desse por encerrada uma partida totalmente aquém da história de um clube que sempre fez mais gols que os rivais. E não o contrário. Mas ainda tinha mais.

                Aos 45´, Marcelo Mattos cobrou falta na meia-lua, a bola bateu em uma trave e entrou do outro lado do gol. Pronto. Era o fim: 7 a 1. Eterno 7 a 1. Se o Corinthians precisava vingar os revezes de outrora, aquele dia 06 de novembro de 2005 virava de vez uma data histórica para o clube do Parque São Jorge. Não foi apenas um show.

                Foi uma aula de pontaria, de chances concretizadas, de ímpeto ofensivo e de extrema felicidade. E a melhor e mais portentosa vingança que aqueles jogadores corintianos poderiam dar ao fanático torcedor. Sete gols. 7 a 1. Não havia placar mais simbólico para representar a revanche que valia por várias. Lembra qual era o número da camisa de Robinho? Sete. Pois é. Para a sorte dos santistas, ele não vestia a 10. Se vestisse…

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