SANTOS 4×2 MILAN – Dia 14 de Novembro de 1963

                             Um ano depois da nossa seleção canarinho conquistar o bicampeonato mundial no Chile, o Santos conquistava o bi-mundial de clubes contra o Milan, jogando no Maracanã. Derrotado na ida, em Milão, por 4 a 2, o Alvinegro Praiano conseguiu igualar o placar na volta, em partida que perdia por 2 a 0 no intervalo, e forçou um terceiro jogo, vencido pelos brasileiros por 1 a 0. A história daquela equipe multi-campeã, de Pelé, Pepe e Coutinho, já é muito conhecida. Mas quem era aquele Milan? Qual foi o caminho percorrido pelo time italiano para chegar até àquela decisão?

                             Nas décadas de 1950 e 1960, o Milan não estava entre as principais forças do futebol italiano, mas já começava a ganhar seu espaço. Os principais esquadrões da época no país eram o da Internazionale e o da Juventus. Campeão nacional em 1901, 1906 e 1907, o Milan havia passado quase cinquenta anos sem o título, voltaram a conquistá-lo em 1951 e, posteriormente, com uma geração consagrada, levantou a taça três vezes em um espaço de quatro anos (1954/55, 1956/57 e 1958/59).

MAZZOLA E AMARILDO CAMPEÕES PELO MILAN

                             No time que enfrentou o Santos em 1963, havia três remanescentes dessas três últimas conquistas: Cesare Maldini, Mario Trebbi e José Altafini, conhecido aqui no Brasil como Mazzola. O ítalo-brasileiro era um dos principais jogadores do Milan na época. Na conquista do título europeu que deu ao Milan o direito de disputar o Mundial Interclubes, Mazzola foi o artilheiro com 14 gols, maior número de tentos que um jogador conseguiu em uma só edição do torneio e repetido apenas por Lionel Messi, em 2011/12.

                             Criada em 1955/56, a Copa dos Campeões teve seu início de história com supremacia do Real Madrid, que conquistou nas cinco primeiras temporadas mais da metade de seus atuais nove títulos. Em 1961, o Benfica quebrou a hegemonia madridista, levou o bicampeonato em 1962 já com a ajuda de Eusébio e ensaiava ser a nova grande potência europeia. No entanto, o clube português viu seus planos de tricampeonato serem frustrados em 1963 pelo Milan, que tornou-se, assim, a primeira equipe italiana a vencer o torneio.

                              A conquista dos Milan alavancou o time, ainda mais por ter sido sobre o Benfica, que era o time a ser batido na época. O título, no entanto, despertou também o interesse de Juve e Inter na competição, pois se o Milan, que estava um patamar abaixo, havia conquistado, era “obrigação” deles também conseguir. Campeão nas duas temporadas seguintes, o rival de Milão conseguiu seu objetivo, enquanto o clube de Turim teve que esperar mais de duas décadas antes de seu primeiro título, que veio em 1985.

                              A fórmula de disputa do torneio europeu naquela época era muito diferente. Contando inicialmente com 28 equipes, a competição tinha apenas jogos de mata-mata. As 28 equipes se enfrentavam em jogos de ida e volta nas preliminares, e os 14 vencedores avançavam para a primeira fase, adicionando-se a esse estágio mais duas equipes, que, nesta temporada, foram o atual campeão Benfica e o Reims.

                              Na fase preliminar, o Milan não tomou conhecimento do Union Luxembourg e passou com um placar agregado de 14 a 0, do qual Mazzola foi responsável por oito gols. O adversário seguinte do Milan foi o time inglês Ipswich Town. Na ida, vitória tranquila por 3 a 0, em Milão. Jogando na Inglaterra, a equipe italiana foi derrotada por 2 a 1, mas avançou para as quartas-de-final. Contra os britânicos, Dino Sani foi o único brasileiro a conseguir balançar a rede, no jogo realizado na Itália.

                              Na luta por uma vaga na semifinal, Mazzola voltou a mostrar seu poder ofensivo já no primeiro jogo. Na Turquia, contra o Galatasaray, o Milan venceu por 3 a 1, com um dos gols sendo anotado pelo jogador, campeão mundial pelo Brasil em 1958 e jogador da Itália na Copa de 1962, que tornaria a marcar mais três na volta, em Milão, vencida por 5 a 0.

                              Já nas semifinais, o Milan enfrentou o Dundee, da Escócia, que tinha feito 6 a 2 sobre o Anderlecht no agregado na fase anterior. O jogo de ida, em Milão, foi decisivo para o time italiano, que definiu a parada contra os escoceses com um 5 a 0, que teve gols de Dino Sani, dois de Barison e dois de Mora. Na volta, o Milan não teve sua classificação nem um pouco ameaçada e, mesmo com a derrota por 1 a 0, estava na decisão.

                               O adversário não poderia ser mais duro: o Benfica, de Eusébio. O peso do duelo, realizado em Wembley, serviu apenas para credenciar ainda mais o título como uma grande conquista. O primeiro tempo parecia encaminhar o clube português para sua terceira taça consecutiva, com Eusébio abrindo o placar aos 19 minutos. No segundo tempo, assim como em quase toda a competição, Mazzola foi decisivo e marcou os dois gols da virada, aos 13 e aos 24 minutos.

SANTOS x MILAN  –  Primeiro Jogo

                                 O Mundial Interclubes era decidido em jogos de ida e volta, e o Milan jogou a primeira em casa. No San Siro, o Milan não tardou a abrir o placar. Giovanni Trapattoni, aos três minutos de partida, inaugurou o marcador. O segundo gol italiano foi marcado pouco depois, aos 15 minutos, pelo brasileiro Amarildo, outro campeão do mundo, este em 1962.

                                  Na volta do intervalo, o Santos esboçou uma reação, com Pelé diminuindo a desvantagem para 2 a 1 aos 10 minutos da etapa complementar. No entanto, o time comandado por trataria logo de garantir a vitória, com Amarildo, novamente, fazendo o terceiro aos 22 minutos, e Mora, aos 37, o quarto. Pelé, de pênalti, dois minutos depois, deu sua última contribuição ao Santos no título e fechou o placar em 4 a 2.

SANTOS x MILAN  –  Segundo Jogo

                                  Diante de um time tão bem postado defensivamente e sem Pelé, o Peixe sabia que a tarefa de reverter o resultado naquele 14 de novembro de 1963 não seria nada fácil, mesmo jogando no Maracanã. Para esse jogo o técnico Luiz Alonso Peres, o popular Lula, mandou a campo os seguintes jogadores; Gilmar; Ismael, Mauro, Haroldo e Dalmo; Lima e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Almir Pernambuquinho e Pepe. Do outro lado o técnico italiano Luis Carniglia, escalou a seguinte equipe; Ghezzi; David, Trapattoni, Maldini e Trebbi; Pelagalli e Rivera; Mora, Lodetti, Altafini e Amarildo. O árbitro da partida foi o argentino Juan Brozzi.

                                    Este jogo foi realizado no Maracanã, pois o Santos achava que se jogasse em São Paulo, os torcedores do Corinthians, Palmeiras e São Paulo, iriam torcer contra, sendo que no Rio de Janeiro todos iriam torcer para o Peixe, afinal, era um clube brasileiro.

                                   Era uma noite de muita chuva no Rio de Janeiro, mesmo assim o público foi muito bom naquela noite de sábado, ou seja, 132.728 pessoas estiveram presente ao Maracanã, pois sabiam que seria um grande jogo, pois eram duas grandes equipes que estavam disputando o titulo. Pelé não podia jogar, pois havia se machucado no primeiro jogo disputado lá na Itália. Para seu lugar foi escalado Almir Pernambuquinho, que prometeu acertar Amarildo e dar o título aos santistas no segundo jogo.

                                    E o segundo jogo foi no dia 14 de novembro de 1963. O primeiro tempo terminou com 2 a 0 para o Milan, gols de Mazzola aos 12 e Mora aos 16 minutos, ambos no primeiro tempo. Mas no segundo tempo, Almir cheio de raça e disposição contagiava a virada sensacional do Santos. E logo aos 4 minutos da segunda etapa, Pepe cobrando falta marca o primeiro gol santista. Aos 9 Mengalvio empatou o jogo. Festa da arquibancada e esperança para a torcida santista. Aos 19 minutos Lima vira o placar e o torcedor santista vibra pois sabe que precisa somente de mais um gol para levar a decisão para uma terceira partida. E a festa se completou aos 26 minutos, quando Pepe marcou o quarto gols. Loucura total em todo o Brasil.

                                     Pelo mesmo placar do primeiro jogo, o Santos venceu aquele jogo, algo que parecia impossível, principalmente porque o primeiro tempo terminou com a vitória italiana por 2×0. O resultado forçou um terceiro e último jogo, realizado dois dias depois, em 16 de novembro de 1963, também no Maracanã para decidirem o título.

SANTOS x MILAN  –  Terceiro Jogo

                                     Nesse dia o Santos jogou com; Gilmar, Ismael, Mauro, Haroldo e Dalmo; Lima e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Almir e Pepe. O Milan jogou com; Balzarini (Barluzzi); Pelagali, Benitez, Trapattoni e Trebbi; Maldini e Lodetti; Mora, Altafini, Amarildo e Fortunato . Foi um jogo arrastado, de estudos, e que foi decidido num pênalti bem cobrado por Dalmo.

                                     Cesare Maldini cometeu a infração em Almir, dentro da área, e, insatisfeito com a decisão do árbitro Juan Regis Brozzi, da Argentina, armou confusão e acabou sendo expulso. Provavelmente a ausência de alguém como Maldini por 60 minutos fez muita falta ao Milan, pela liderança que este exercia em campo. Rivera, que não foi para o jogo, também poderia ter feito a diferença para os italianos, embora o Santos também tivesse o desfalque de Pelé.

                                      Desta forma, as mais de 120 mil pessoas presentes no Maracanã viram o Peixe conquistar o bi-mundial, enquanto o Milan teve de retornar à Itália com a frustração de uma derrota que, até aquele intervalo do dia 14, estava fora de cogitação. Anos depois, Almir deu uma declaração que naquele jogo ele entrou em campo completamente dopado. 

Em pé: Haroldo, Dalmo, Lima, Ismael, Gilmar e Mauro Ramos de Oliveira – Agachados: Dorval, Mengalvio, Coutinho, Almir e Pepe
MILAN DE 1963

 

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