SANTOS 7×4 CORINTHIANS – Dia 6 de Dezembro de 1964

                    Era o dia 6 de dezembro de 1964 e a tabela do Campeonato Paulista marcava para a anti-penúltima rodada do segundo turno, o clássico Santos e Corinthians. No primeiro turno este confronto estava marcado para o dia 20 de setembro, lá na Vila Belmiro. Mas, aos 6 minutos de jogo uma parte da arquibancada veio abaixo, causando centenas de feridos e com isto a partida foi cancelada e marcada uma nova data, dia 30 de setembro, desta vez no Pacaembu e com portões aberto. O jogo terminou empatado em 1 a 1, gol de Flávio cobrando falta e Pelé, ambos na primeira etapa. Vale lembrar que neste jogo o goleiro Heitor defendeu um pênalti cobrado por Pelé.

                   O jogo do segundo turno também foi realizado no Pacaembu, que recebeu neste dia um público de 54.475 pagantes (recorde do campeonato). O árbitro foi Armando Marques. Para esta partida o técnico Luiz Alonso Perez, o popular Lula, mandou a campo os seguintes jogadores; Gilmar, Ismael, Modesto, Haroldo e Lima; Zito e Mengálvio; Toninho, Coutinho, Pelé e Pepe. O time corintiano que era comandado por Osvaldo Brandão jogou com; Heitor, Ari Ercílio, Batista, Clóvis e Ari Clemente; Amaro e  Luizinho; Ferreirinha, Silva, Flávio e Bazani.

                  O Corinthians que vinha de duas derrotas, uma de 4 a 2 para a Portuguesa de Desportos e outra de 4 a 1 para o Palmeiras, iria enfrentar o Santos que tinha um ataque infernal comandado por Pelé, que 15 dias atrás havia goleado o Botafogo de Ribeirão Preto por 11 a 0, com oito gols de Pelé. E não deu outra, em mais uma tarde inspirada do Rei, o Santos venceu a partida por 7 a 4, com 4 gols de Pelé e 3 de Coutinho. Com esta derrota o Corinthians perdeu a esperança de ser campeão naquele ano. Foi um jogo simplesmente espetacular, com 11 gols marcados na seguinte ordem:

PRIMEIRO TEMPO 

                   Seis minutos de jogo, um contra-ataque corintiano pelo meio, Clóvis toca a bola para Silva, este passa para Ferreirinha que dribla Lima e chuta com efeito para fazer o gol. Corinthians um a zero. Aos 17 minutos Pelé passa por Ferreirinha, dribla Clóvis, tabela com Coutinho que enche o pé e empata a partida. Aos 27 minutos Ismael recua para Gilmar que vacila e solta a bola. Bazzani aproveita a falha e faz o segundo gol corintiano. Aos 33 minutos nova tabela entre Pelé e Coutinho pelo meio.

                   A defesa corintiana não sabe o que fazer para bloquear a jogada. A bola é tocada para Pepe na entrada da área que chuta com força, Coutinho desvia a trajetória da bola e empata novamente o jogo, Santos 2×2 Corinthians e final da primeira etapa.

SEGUNDO TEMPO

                   Logo aos 4 minutos Pelé aproveita cruzamento em cobrança de falta e, de cabeça, coloca o Santos pela primeira vez na frente no placar. Santos 3 a 2. Aos 11 minutos Coutinho sofre pênalti de Ari Ercílio. Enquanto Pelé se prepara para bater, a torcida corintiana está confiante, pois no primeiro turno o goleiro Heitor havia defendido um pênalti cobrado por Pelé. No entanto, desta vez Pelé bate com categoria e faz mais um para o time da Vila Belmiro. Santos 4 a 2.

                  Aos 16 minutos, outro pênalti a favor do Santos. Desta vez sobre Melgálvio, que depois de driblar dois corintianos é derrubado na área. Pelé com muita calma ampliou o placar. Santos 5 a 2. Aos 31 minutos, escanteio pela direita. Ferreirinha bate, Silva sobe e marca de cabeça fazendo o terceiro gol do Corinthians, reacendendo as esperanças mosqueteiras.

                  Aos 38 minutos Toninho faz boa jogada pela direita e chuta mal para o gol, mas Coutinho aproveita a falha da defesa adversária, apanha o rebote e faz o sexto gol santista. Aos 44 minutos mais uma tabela entre Coutinho e Pelé, que vai desmontando a defesa corintiana e ganhando terreno até o toque final. Mais uma vez Pelé, colocando com categoria no canto direito de Heitor e fazendo 7 a 3 para o Peixe.

                 No último lance da partida Silva é derrubado por Modesto na área. Pênalti que o próprio Silva cobrou, diminuindo para o Corinthians. Logo em seguida o árbitro encerrou a partida. Santos 7×4 Corinthians.

                 Na quarta-feira seguinte, o Santos atropelou o São Bento de Sorocaba por 6 a 0, com 3 gols de Pelé e no domingo seguinte derrotou a Portuguesa de Desportos por 3 a 2 na Vila Belmiro, debaixo de um verdadeiro dilúvio que caiu em Santos e sagrou-se campeão paulista de 1964. Após o jogo em que tivemos simplesmente 11 gols, dirigentes e jogadores santistas comemoraram nos vestiários a vitória sobre o Corinthians, que, na opinião geral, foi justíssima sob todos os aspectos e decisiva na conquista do título. Faziam questão de frisar que o Corinthians lutou com muita lealdade e soube perder como um time “grande”. Lula elogiou muito a atuação dos corintianos, alegando que não fosse a atuação infernal da dupla Pelé-Coutinho, o resultado poderia te sido diferente.

                Mesmo com esta derrota, o técnico Osvaldo Brandão deixou o Pacaembu vitorioso. A “fiel torcida” reconheceu o seu trabalho e demonstrou no vestiário, logo após o encerramento do jogo, que marcou o seu retorno ao Corinthians. Tão logo abriram-se as portas dos vestiários os torcedores procuraram o técnico para expressar-lhe o seu reconhecimento. Osvaldo Brandão foi carregado em triunfo nos vestiários sob os acordes de “Salve o Corinthians”. O técnico, emocionadíssimo, não sabia como agradecer.

CURIOSIDADES

                    Duas semanas atrás deste clássico, Osvaldo Brandão era técnico do Botafogo de Ribeirão Preto, que havia perdido para o Santos por 11 a 0, com 8 gols de Pelé. Ele saiu do Botafogo e foi para o Corinthians e tomou de 7 a 4, com 4 gols de Pelé. Ou seja, em 15 dias Brandão sofreu 18 gols do Santos e 12 somente do Pelé.

                    Outro fato curioso, quando Pelé se desdobrava para o lado de Ari Ercílio, o pavor do corintiano era indescritível. Usava de todos recursos. No final do jogo arrancou a correntinha de Pelé. Ainda bem que foi só a correntinha, pois o “safanão” foi de arrancar o pescoço.

                    Após o jogo Pelé saiu do estádio protegido por forte escolta policial. Fez quatro gols, ajudou a fazer outros dois e por tudo isso, chegaram a temer por “agressão”. No fim, tudo ficou no susto.

CAMPEÃO DOS ASPIRANTES 

               Mesmo com esta derrota de 7 a 4 e impossibilitada de comemorar uma grande vitória sobre o Santos há sete anos, a “fiel torcida” preferiu esquecer o marcador adverso e comemorar a vitória dos aspirantes, que se sagraram campeões paulistas de 1964 naquela tarde ao derrotar o Santos por 6 a 3. O time era comandado por Rivelino, que no ano seguinte subiria para o time profissional. Os garotos receberam abraços e foram cumprimentados efusivamente.

SANTOS F.C. DE 1964 – Em pé: Lima, Zito, Modesto, Joel, Mauro e Laércio    –   Agachados: Peixinho, Mengalvio, Toninho Guerreiro, Pelé e Pépe
CORINTHIANS DE 1964   –   Em pé: Amaro, Oreco, Cláudio, Eduardo, Ari Clemente e Heitor    –      Agachados: Marcos, Davi, Silva, Bazani e Lima

 

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