PAULISTÃO de 1966

                Em 1966 a Sociedade Esportiva Palmeiras conquistava o Campeonato Paulista. Foi uma campanha maravilhosa, onde disputou 28 partidas, venceu 20, empatou 3 e perdeu somente 5. Marcou 65 gols e sofreu 31. Foi um campeonato em que tivemos várias goleadas, jogos que ficaram marcados na história do futebol paulista e também a presença de dois monstros sagrados do nosso futebol brasileiro que jogavam no Rio de Janeiro e vieram reforçar o futebol paulista naquele ano. Garrincha pelo Corinthians e Didi pelo São Paulo. Tudo isto sem falarmos dos grandes craques que já disputavam o Paulistão em seus clubes, como por exemplo Pelé.

               O campeonato começou dia 31 de julho com o jogo em que a Portuguesa de Desportos derrotou a Prudentina por 4 a 3. O jogo foi no estádio Nicolau Alayon, que pertence ao Nacional da capital paulista. Durante o campeonato tivemos alguns acontecimentos que vale a pena lembrar, como por exemplo o jogo entre Prudentina e São Paulo no dia 14 de agosto e que terminou empatado em 1 a 1. Esse jogo foi muito tumultuado. Nele ocorreram varias agressões e três expulsões (Paraná, Joel e Santo), e o São Paulo chegou a deixar o gramado alegando falta de garantias. Depois, atendendo ordem do Árbitro, concordou em voltar para disputar os cinco minutos que faltavam do jogo. Outro jogo que ficou marcado foi Botafogo e Corinthians no dia 21 de agosto. O Botafogo vencia por 2 a 0 até os 32 minutos do segundo tempo. Em 13 minutos saíram 5 gols, ou seja, o Corinthians venceu por 4 a 3. Foi um jogo inesquecível. Fiori Gigliotti na rádio Bandeirantes falou que a raça que faltou para a seleção brasileira no mundial da Inglaterra sobrou para o Corinthians neste jogo.

               Outro jogo que ficou marcado no Campeonato Paulista de 1966, foi entre Corinthians e Portuguesa de Desportos pelo placar elástico daquela partida, ou seja, o Corinthians venceu por 6 a 3. Este jogo aconteceu no Pacaembu dia 24 de agosto. Vale lembrar que alguns meses atrás, estes dois clubes também fizeram um placar com 9 gols, foi no Torneio Rio-São Paulo, quando o Corinthians venceu por 5 a 4. Este jogo aconteceu dia 24 de fevereiro. Outro jogo que ficou marcado naquele ano foi no clássico Come-Fogo, em que o Comercial venceu o Botafogo por 5 a 0. Dia 18 de setembro, o São Paulo derrotou o Corinthians por 3 a 0, o jogo foi no Pacaembu que recebeu neste dia um público de 54.414 pagantes (recorde do campeonato).

               Esse “Majestoso” foi chamado de “Clássico dos Invictos”, pois ambas as equipes não tinham sido derrotadas até aquela altura do campeonato. A expectativa gerada no publico resultou na venda antecipada de todos os ingressos para o Pacaembu. O portão 14 do Estádio foi aberto exclusivamente para o governador Laudo Natel que, como presidente do Tricolor, não podia perder um clássico de tantas emoções como aquele prometia. Antes do inicio do jogo, fez-se um minuto de silêncio no Pacaembu. Motivo: a morte de Mario Filho, que foi um grande jornalista brasileiro, cujo nome foi dado ao Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.

               Dia 13 de outubro, Santos e Comercial fizeram um jogo de 12 gols. O jogo foi na Vila Belmiro e o Peixe venceu por 7 a 5, com quatro gols de Coutinho e três de Toninho Guerreiro. Dia 16 de outubro o Corinthians perdeu para o Noroeste por 4 a 3 em pleno Parque São Jorge. Neste jogo o goleiro Heitor foi considerado culpado pela derrota e teve que sair do estádio escondido, pois a torcida queria agredi-lo. Depois deste jogo ele nunca mais vestiu a camisa do Corinthians. Ainda neste dia 16, o Palmeiras goleou o Botafogo por 6 a 2 no Parque Antarctica. Foram três gols de Servilio, dois de Gallardo e um de Ademar Pantera, para o Botafogo, Mosquito marcou os dois gols. Outro placar elástico aconteceu dia 10 de novembro, quando Portuguesa de Desportos e Comercial empataram em 4 a 4.

                Como já dissemos, pouca gente sabe, mas Didi já vestiu a camisa do Tricolor do Morumbi. No dia 4 de setembro jogaram São Paulo e Comercial e o Tricolor venceu por 3 a 0. Três dias antes, o São Paulo anunciou o grande reforço para a temporada, o famoso Didi (Botafogo carioca e Seleção Brasileira), criador da famosa “folha-seca”, que era cobrança de falta em que a bola, após dar a impressão de que passaria pelo alto do gol, caia repentinamente, surpreendendo o goleiro adversário. Didi esteve no Morumbi para ver seus novos companheiros nesse jogo contra o Comercial, no qual o clube estreou uniforme novo.

               A camisa tinha três faixas largas, verticais, uma preta e outra vermelha, divididas por uma terceira faixa larga no centro, branca, na qual era visto o distintivo do clube. Esse uniforme não teve longa duração, logo caiu no esquecimento. Pelo São Paulo, Didi retornava ao futebol brasileiro após curta temporada no México, e nessa oportunidade confessou que seu grande sonho como profissional era o de poder jogar no São Paulo, sonho que, segundo ele, acabou se tornando realidade após dez anos de espera. Assim como Zizinho, que veio do Rio para o São Paulo em 1957, Didi acabou “fazendo historia” no Tricolor e no futebol paulista.

               Didi estreou pelo São Paulo dia 4 de outubro de 1966 num amistoso em Araçatuba (SP), contra o Ferroviário local (vitória do Tricolor por 2 a 0). O primeiro jogo oficial de Didi com a camisa do São Paulo, pelo Campeonato Paulista, foi uma derrota de 2 a 0 para a Portuguesa de Desportos, no Pacaembu, em 12 de outubro. Neste dia o São Paulo jogou com; Fabio; Osvaldo Cunha, Bellini, Jurandir e Tenente; Dias e Didi; Fefeu, Prado, Babá e Paraná. Na rodada seguinte, mais um tropeço: vitória do América de Rio Preto por 4 a 3, em pleno Morumbi. Didi foi sacado e só voltou contra a Portuguesa, em 24 de novembro, novamente no Pacaembu e outro resultado negativo, 1 a 0. Terminava ali, de forma melancólica (venceu só uma partida em quatro e não marcou um gol sequer), a carreira do “Príncipe Etíope”, um dos meias mais clássicos e cerebrais que o Brasil já teve.

               Curiosamente, naquele mesmo início de outubro de 1966 em que Didi estreava pelo São Paulo, Garrincha, então com 33 anos, se despedia do rival Corinthians. Foi no dia 8 de outubro, numa derrota de 3 a 0 para o Santos, pelo Paulistão, com três gols de Coutinho. Mané havia estreado em 2 de março, no Pacaembu, em outra derrota por 3 a 0, para o Vasco da Gama, pelo Torneio Rio-São Paulo. Os dois times, mais Santos e Botafogo, seriam os quatro campeões do torneio naquele ano, por falta de datas para as partidas de desempate. Garrincha marcou seu primeiro gol pelo alvinegro paulistano contra o Cruzeiro, em 13 de março de 1966, na vitória corintiana por 2 a 1. No total, Garrincha fez 10 jogos pelo Corinthians e marcou 2 gols – o segundo, aliás, na vitória por 2 a 0 sobre o São Paulo, em 19 de março de 1966.

              O jogo que praticamente garantiu o título de 1966 ao Palmeiras, ficou guardado na retina dos amantes de escores elásticos: uma goleada impiedosa por 5 a 1 sobre o Comercial, em Ribeirão Preto, a duas rodadas do final do segundo turno. A conquista teve confirmação cinco dias depois, quando o Santos que ainda tinha chances matemáticas perdeu por 1 a 0 para a Portuguesa de Desportos, no estádio do Pacaembu. Este jogo entre Palmeiras e Comercial aconteceu dia 7 de dezembro no estádio Doutor Francisco de Palma Travassos e teve como árbitro, Etelvino Rodrigues. Neste dia o técnico do Palmeiras, Mário Travaglini, mandou a campo os seguintes jogadores; Valdir, Djalma Santos, Djalma Dias, Minuca e Ferrari; Zequinha e Ademir da Guia; Gallardo, Ademar Pantera, Servilio e Rinaldo. Já o técnico Alfredinho do Comercial escalou a seguinte equipe; Rosã, Ferreira, Jorge, Piter e Nono; Amauri e Jair Bala; Peixinho, Luiz, Paulo Bim e Carlos César. Os gols da partida foram anotados na seguinte ordem; Paulo Bim, Gallardo, Ademir da Guia, Gallardo, Servilio e Gallardo.

               O título ainda estava ameaçado pois dia 11 de dezembro o Palmeiras perdeu para o Corinthians por 1 a 0, gol de Flávio, mas no dia seguinte o Santos perdeu para a Portuguesa de Desportos por 1 a 0, gol de Paes. Com isto, estava confirmado o título ao alviverde de Parque Antarctica. Na última rodada, quase tivemos a quebra do famoso tabu do Corinthians sobre o Santos, pois o jogo terminou empatado em 1 a 1 gols de Flávio e Zito. O zagueiro Geraldino do Peixe cometeu um pênalti aos 42 minutos do segundo tempo. O recém contratado Nair, cobrou muito mal e o goleiro santista Cláudio defendeu. Mais uma vez a festa corintiana foi adiada. Além da tradição normal desse clássico, o Corinthians esperava quebrar um tabu de nove anos sem vitoria sobre o Santos.

             Para isso, o Técnico Zezé Moreira pretendia escalar a força máxima. Mas não pode, porque o ponteiro Mané Garrincha estava desaparecido do clube desde o dia 23 de novembro, após o jogo contra a Prudentina. Torcedores fanáticos e mais afoitos chegaram até a levantar a suspeita de abandono e de rescisão de contrato. Quase um mês depois, Garrincha reapareceu no Parque São Jorge, alegando que ficou se tratando de uma contusão. Como ele nem pode participar do treino que definiria a equipe para o clássico, pois chegou quando o treino estava em seu final, o Técnico Zezé Moreira não quis arriscar e confirmou Bataglia na ponta direita.

              E o Palmeiras para fechar com chave de ouro o Campeonato Paulista de 1966, na última rodada derrotou o São Paulo por 3 a 0, gols de Zéquinha, Servilio e Rinaldo. O jogo foi no Pacaembu e o árbitro foi Armando Marques. Com este título Paulista o Palmeiras evitou uma série do Santos de 7 títulos Paulista seguidos, quebrando os 2 tricampeonatos do Santos com um título Palmeirense. O Palmeiras conquistou o título com 43 pontos ganhos. Em segundo ficou o Corinthians com 39, em terceiro o Santos com 38, em quarto o Comercial com 34, em quinto o São Paulo também com 34 e em sexto a Portuguesa de Desportos com 28 pontos.

             Os dois últimos colocados e que foram rebaixados foram; Noroeste e Bragantino, que fizeram 21 e 15 pontos respectivamente. Este realmente foi um grande Campeonato Paulista, que serviu para esquecermos a decepção da nossa seleção no mundial da Inglaterra daquele ano, quando fomos eliminados ainda na primeira fase. Bons tempos aqueles, em que o Campeonato Paulista era disputado ponto a ponto e os clássicos eram jogos inesquecíveis devido aos grandes craques.

SOCIEDADE ESPORTIVA PALMEIRAS – CAMPEÃ PAULISTA DE 1966

 

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