O ano de 1958 foi um ano especial para o futebol brasileiro: foi nesse ano que a seleção do Brasil conquistou pela primeira vez a Copa do Mundo. Nos gramados suecos também brilhou um certo Edson Arantes do Nascimento, que em 4 jogos marcou 6 gols (sendo 2 deles na final contra os donos da casa), sendo o artilheiro do time nacional.
Mas não foi só o escrete canarinho que se viu privilegiado por contar com a magia daquele que seria o Atleta do Século. O camisa 10 também se destacou pelo Santos F.C. no campeonato estadual mais importante do país, impondo um recorde que talvez jamais será superado: é o jogador que marcou mais gols em uma só edição do Campeonato Paulista, com 58 gols (será apenas mera coincidência?). Estes gols contribuíram, e muito, para a espetacular campanha santista, com 29 vitórias e apenas 3 derrotas em 38 jogos, e com 143 gols marcados.
Antes do Campeonato Paulista de 1958, que teve seu início em maio, tivemos o Torneio Rio-São Paulo, um Torneio que teve início em 1933 tendo o Palestra Itália como campeão, depois ficou parado de 1966 até 1993 e no ano de 2000 teve sua última edição. Era um torneio muito importante, onde os clubes paulistas e cariocas lutavam e muito para sagrar-se campeão. E um bom exemplo disto aconteceu no dia 7 de março de 1958, quando Santos e Palmeiras se enfrentaram no Estádio Municipal do Pacaembu, que neste dia recebeu um público de 43.068 pagantes. O árbitro da partida foi João Etzel Filho. Neste dia o Santos jogou com; Manga, Hélvio e Dalmo; Fioti, Ramiro (Urubatão) e Zito; Dorval, Jair, Pagão (Afonsinho), Pelé e Pepe. Do outro lado o Palmeiras jogou com; Edgar (Vitor), Edson e Dema; Waldemar Carabina, Valdemar Fiúme e Formiga (Maurinho); Paulinho, Nardo (Caraballo), Mazzolla, Ivan e Urias. Técnico: Oswaldo Brandão. Foi um jogo que entrou para a história do futebol paulista e porque não do futebol brasileiro, pois tivemos 13 gols, os quais foram marcados na seguinte ordem; Urias, aos 18, Pelé aos 21, Pagão aos 25, Nardo aos 26, Dorval aos 32, Pepe aos 38 e Pagão aos 46 minutos do primeiro tempo. Paulinho aos 16, Mazzola aos 19 e 27, Urias aos 34, Pepe aos 38 e 41 minutos do segundo tempo. Final de jogo, Santos 7×6 Palmeiras.
Realmente o ano de 1958 ficará marcado pelo excesso de gols que foram marcados. Veio então o Campeonato Paulista, e a superioridade santista não se fez sentir apenas na tabela. Outros números tornaram o Santos indiscutivelmente melhor naquele campeonato, mais especificamente o que o quarteto Pelé, Pagão, Coutinho e Pepe andou aprontando pra cima dos oponentes: 7×3 e 6×2 no Jabaquara, 6×0 e 5×0 no XV de Piracicaba, 4×0 na Ponte Preta, 5×2 no XV de Jaú, 4×1 e 8×1 no Ypiranga, 10×0 no Nacional (a maior goleada do campeonato), 8×1 e 7×1 no Guarani, 6×1 na Portuguesa Santista, 4×0 no Botafogo, 9×1 no Comercial, 7×1 no Juventus, e não menos importante que estes resultados, 6×1 no rival Corinthians. Show de Bola é talvez o que melhor descreve isso…
Este jogo em que o Santos venceu o Corinthians por 6 a 1, aconteceu no dia 7 de dezembro, ou seja, na antepenúltima rodada do certame. O jogo foi na Vila Belmiro e o árbitro foi Esteban Marino, do Uruguai. Neste dia o Santos jogou com; Manga, Getúlio, Ramiro, Urubatão e Dalmo; Zito e Jair da Rosa Pinto; Dorval, Pagão, Pelé e Pepe. Já o técnico Cláudio do Corinthians, mandou a campo os seguintes jogadores; Cabeção, Idário, Olavo, Valmir e Oréco; Roberto Belangero e Rafael; Bataglia, Índio, Zague e Tite. Neste dia Pelé estava inspirado, pois marcou três gols em meia hora de jogo. Depois Zague marcou o único tento corintiano e assim terminou o primeiro tempo. Na segunda etapa, Pepe, Pele (de pênalti) e Pagão fecharam o placar, 6 a 1.
Havia ainda mais coisas importantes no mundo da bola em 1958: uma reunião da Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) decretou a criação de um torneio continental, que reuniria os campeões nacionais dos times filiados. Este campeonato já tinha nome e data marcada para a primeira edição: Taça Libertadores da América, 1960. Para isso, a CBD teve a necessidade de criar um campeonato nacional, que nos inspirada na recem-planejada competição sul-americana, reuniria todos os campeões estaduais do país para disputar a Taça Brasil, que teve sua primeira edição em 1959. Assim, o Campeonato Paulista de 1958 não valia apenas o status de campeão do Estado, mas também dava o direito ao campeão de participar da disputa de um título brasileiro e, consequentemente, uma vaga na Libertadores.
A Primeira Divisão do Paulistão de 1958 foi disputada por 20 clubes, que jogaram entre si em turno e returno, sendo campeã a equipe que somasse mais pontos ao fim do torneio. Regulamento, aliás, idêntico ao do Campeonato Brasileiro desde 2006. Só algumas diferenças: a vitória valia 2 pontos (lembrando que a vitória só passou a valer 3 pontos nos anos 90) e o empate, 1 ponto. O campeão, como citado anteriormente, garantia também a vaga na Taça Brasil. O último colocado seria rebaixado à Segunda Divisão do ano seguinte, sendo substituído pelo campeão da mesma.
As 20 equipes eram (por ordem da classificação final); Santos, São Paulo, Corinthians, Palmeiras, XV de Piracicaba, Portuguesa de Desportos, Noroeste, Botafogo, Taubaté, Nacional, Ferroviária, Portuguesa Santista, América, Ponte Preta, Juventus, Guarani, Comercial, XV de Jaú, Jabaquara e Ypiranga. O certame iniciou-se dia 25 de maio, mas os times grandes somente tiveram seus primeiros jogos em julho, pois estes haviam cedido jogadores para a Seleção Brasileira que disputou e venceu o Mundial da Suécia em junho. E já na primeira rodada tivemos uma goleada, o Noroeste venceu o XV de Jaú por 6 a 0, o que já era uma pequena amostra do que seria aquele campeonato em matéria de gols.
Como era de se esperar, um time como o Santos com a excepcional campanha descrita nas primeiras linhas não viria a ser campeão na última rodada do torneio. Porém, o São Paulo F.C., campeão paulista de 1957, apresentou um ótimo desempenho, o que fez com que se conhecesse o campeão somente na penúltima rodada, quando o Santos goleou o Guarani por 7×1, em Campinas. Naquela ocasião, o Alvinegro dependia apenas do empate.
Este jogo aconteceu dia 14 de dezembro de 1958 no estádio Brinco de Ouro da Princesa, campo do Guarani, na cidade de Campinas. Neste dia o técnico Luiz Alonso Peres, mais conhecido por Lula, mandou a campo os seguintes jogadores; Manga, Getúlio, Ramio, Urubatão e Dalmo; Zito e Jair da Rosa Pinto; Dorval, Pagão, Pelé e Pepe. Os gols santista foram marcados por; Pelé (4), Dorval, Pepe e Bidon contra. Com esta vitória a torcida do Peixe comemorou mais um título paulista. Na última rodada, em 18 de dezembro, o Alvinegro (que já era campeão) e o Tricolor (que já era vice) empataram por 2×2 na Capital, encerrando suas participações naquela edição do Campeonato Estadual.
O Santos foi o campeão paulista de 1958, com 29 vitórias, 6 empates e 3 derrotas, que foi contra o Noroeste por 1 a 0 no dia 10 de agosto, contra o Taubaté por 3 a 2 no dia 5 de outubro e contra a Ferroviária por 2 a 1 no dia 9 de novembro, ou seja, somente para times do interior. Mas isto geralmente acontecia, quando o jogo era logo após a chegada do clube santista de uma longa excursão pelo mundo a fora, onde os jogadores mal tinha tempo para descansar. Marcou 143 gols pró e 40 gols contra e credenciou-se a disputar a Taça Brasil de 1959. O Ypiranga foi rebaixado à Segunda Divisão, e o Comercial F.C. de Ribeirão Preto, foi promovido para o seu lugar. Pelé, com 58 gols, foi novamente o artilheiro do campeonato (já o tinha sido em 1957, com 17 tentos assinalados). O Peixe também se destaca com uma das melhores performances ofensivas da história da competição, com 143 gols marcados e uma média de 3,76 gols por jogo. Bateu com folga o recorde que perdurava desde 1951, quando o Corinthians marcou 103 vezes no campeonato. O Campeonato Paulista de 1958 teve 380 jogos e foram marcados 1.329 gols, com uma média de 3,5 gol por partida.
Não é novidade para ninguém que Pelé se destacou na história do futebol mundial por sua habilidade, raça e recordes. Diante de tantos números fantásticos, um marcou para sempre a história do Campeonato Paulista. No dia 14 de dezembro de 1958, o rei do futebol atingiu a marca dos 58 gols. Depois de uma goleada de 7 a 1 em cima do Guarani, tornou-se artilheiro absoluto da história do torneio. Nesse ano, o Santos teve uma campanha marcada por goleadas memoráveis, como o 10 a 0 diante do Nacional, 9 a 1 sobre o Comercial e 7 a 1 em cima do Guarani e do Juventus. A equipe não perdeu um clássico. O pobre do Guarani perdeu no primeiro turno de 8 a 1 e no segundo turno de 7 a 1, ou seja, tomou 15 gols e apenas dois jogos. O Peixe empatou apenas duas partidas e perdeu três, foi campeão com quatro pontos de diferença para o São Paulo, segundo colocado.
Quem teve a felicidade de ter nascido antes de 1958, pode se considerar uma pessoa privilegiada, pois foi um ano que jamais deveria acabar, tantos foram os acontecimentos marcantes que jamais sairão da memória daqueles que estavam presente naquele momento único da nossa história. No cenário futebolístico a dimensão foi bem maior, pois o ano de 1958 nos deu muitas alegrias. Primeiro pela nossa seleção que conquistou o primeiro título mundial e segundo pelos campeonatos estaduais que mexeram com todo o povo brasileiro, em especial o Campeonato Paulista, que foi um exagero de gols.
Quem viveu este ano de 1958, pode se considerar um sujeito privilegiado e abençoado.
José Carlos de Oliveira