PINHEIRO: uma vida dedicada ao Fluminense

                João Carlos Batista Pinheiro nasceu dia 13 de janeiro de 1932, na cidade de Goytacazes – RJ. Foi um zagueiro viril, de ótimo porte físico com seu 1,87 m de altura, sendo ainda bastante forte, se impôs como o xerife da zaga do Fluminense em 603 jogos (o segundo jogador que mais defendeu o Tricolor e que, durante doze anos, foi titular no tricolor). Considerando além de sua participação como jogador a sua participação como técnico, Pinheiro foi aquele que mais defendeu as cores do Fluminense, com 722 jogos, o que não inclui nos números a sua ainda maior participação como técnico das equipes inferiores, tendo revelado vários jogadores relevantes para o clube e para a Seleção Brasileira, notadamente na década de 1970. Defendeu também a Seleção Brasileira em 17 jogos (11 vitórias, 3 empates, 3 derrotas e 1 gol marcado), sendo campeão dos Jogos Pan-Americanos de 1952 e da Taça Bernardo O’Higgins em 1955, sendo titular da seleção canarinho na Copa do Mundo de 1954. Enfim, foi um jogador que marcou época no futebol brasileiro, em especial no Tricolor das Laranjeiras.

FLUMINENSE

               Antes de defender o Fluminense, Pinheiro atuou pelo Americano Futebol Clube de sua cidade natal, tendo jogado neste clube como goleiro, zagueiro, meia-armador e centroavante. Em 1948, chegou nas Laranjeiras, onde encontrou um grande time, mas foi somente em 1951 que conquistou o primeiro título carioca. O Fluminense conquistou o campeonato após excelentes resultados (1×0 e 2×0) nas partidas finais contra o Bangu, numa disputa em melhor de 3. A equipe tricolor era assim formada; Castilho, Píndaro, Pinheiro, Vitor e Edson; Lafaiete e Didi; Telê Santana, Carlyle, Orlando e Joel. O técnico era Zezé Moreira. Foi uma campanha espetacular, onde disputou 22 partidas, venceu 16, empatou 3  perdeu somente 3 vezes. Marcou 54 gols e sofreu 22, tendo um saldo positivo de 32 gols.

               Em 1957 sagrou-se campeão invicto do Torneio Rio São Paulo. O único título que o Fluminense ainda não possuía era o de Campeão do Torneio Rio-SP, chamado, na época, de Roberto Gomes Pedrosa. O Tricolor foi o primeiro carioca a conquistá-lo. Na reta final o Fluminense enfrentou o Santos de Pelé & Cia. O jogo foi no Pacaembu. O Santos era bicampeão paulista e tinha Pelé começando a carreira. O Peixe chegou a fazer 2 a 0, gols de Pagão e Alvaro, mas Telê Santana diminuiu e faltando quatro minutos, Djair empatou a partida. Depois veio a Portuguesa e caso o Flu vencesse seria o campeão. O jogo foi no Pacaembu dia 29 de maio de 1957. Liminha abriu o placar para a Lusa do Canindé, mas Valdo e Leo marcaram para o Tricolor e com isto sagrou-se campeão com uma rodada de antecedência.

               Na última partida do Torneio, o Fluminense enfrentou o São Paulo em pleno Maracanã com as faixas de campeão o peito, mas estava em jogo a invencibilidade que não podia escapar. E não deu outra, com dois gols de Valdo para o Fluminense e um de Maurinho para o Tricolor Paulista, o Fluminense encerrou sua participação de forma invicta. Neste dia 2 de junho o Fluminense jogou com; Victor Gonzales, Cacá, Pinheiro (Beto), Ivan (Jair Santana), e Altair; Ivan e Robson; Telê Santana, Leo, Valdo e Djair (Osvaldo). O técnico era Silvio Pirilo. O Fluminense disputou 9 jogos. Venceu 7 e empatou 2. Marcou 23 gols e sofreu 11.

                Dois anos depois Pinheiro sagrava-se novamente campeão carioca, mesmo com um time que era chamado por todos de “timinho”. O treinador Zezé Moreira, o mesmo de 1951, montou sua equipe com grande conjunto e sofreu somente uma derrota nas 22 partidas que disputou. Foi o torneio de menor público entre os anos de 1951 e 1965, motivado, segundo comentários da época, pela transmissão dos jogos pela televisão. Neste mesmo torneio foi revelado pelo Flamengo mais um grande craque do futebol brasileiro, o canhotinha Gérson; o Botafogo vendia Didi ao Real Madrid e Almir, o pernambuquinho, começou a tornar-se um jogador polêmico. No jogo Vasco x América de 9 de agosto, Almir encerrou a carreira do lateral Hélio do América, após entrar duro numa bola dividida e que veio a causar grave fratura em seu companheiro de profissão.

               Pinheiro jogou no Fluminense até 1963 e nestes 17 anos que defendeu as cores do Tricolor Carioca, Pinheiro fez história no clube que defendeu em 603 jogos. É o segundo jogador com o maior número de partidas vestindo camisa tricolor, atrás apenas de Castilho, que atuou 696 vezes. Foi campeão carioca em 1951 e 1959, campeão do Torneio Rio-São Paulo em 1957 e 1960, e da Copa Rio de 1952

SELEÇÃO BRASILEIRA

               Devido a sua excelente forma física e técnica no ano de 1954, o treinador da nossa seleção canarinho, o Sr. Zezé Moreira com quem já havia conquistado alguns títulos pelo Fluminense, não pensou duas vezes em convoca-lo para disputar a Copa da Suíça. O Brasil fez sua estreia dia 16 de junho contra o México e não teve nenhuma dificuldade e venceu por 5 a 0, gols de Baltazar, Pinga (2), Didi e Julinho Botelho. Depois veio a Iugoslávia no dia 19 de junho. O jogo foi bem mais difícil e acabamos empatando em 1 a 1, gol de Didi aos 26 minutos do segundo tempo. Com este empate estávamos classificados para as quartas-de-final, onde iríamos enfrentar a poderosíssima Hungria de Puskas.

                Uma curiosidade sobre este jogo foi que o empate classificava o Brasil, mas os jogadores não sabiam disto e corriam feito loucos em campo em busca da vitória. Os iugoslavos bem que tentaram avisá-los, mas não entendiam sua língua. Sendo assim, ao apito final do juiz, os jogadores brasileiros saíram de campo chorando. Somente depois de algum tempo nos vestiários é que ficaram sabendo que o empate foi ótimo.

               A seleção húngara vinha derrotando seus adversários com estrondosas goleadas e antes mesmo dos dez minutos, ela já havia marcado dois gols.  Este jogo aconteceu dia 27 de junho na cidade de Berna. Neste dia o técnico Zezé Moreira mandou a campo os seguintes jogadores; Castilho, Djalma Santos, Pinheiro, Nilton Santos e Brandãozinho; Bauer e Didi; Julinho Botelho, Índio, Humberto e Maurinho. E como já havia acontecido nos outros jogos da seleção húngara, com dez minutos de jogo eles já venciam por 2 a 0, gols de Hidegkuti aos 3 minutos e Kocsis aos 7.

              Djalma Santos diminuiu aos 17 ainda no primeiro tempo. Mas na segunda etapa os húngaros fizeram mais dois gols e Julinho diminui fechando o placar de 4 a 2 para a seleção da Hungria. Estávamos eliminados de mais um mundial. No final do jogo tivemos um grande desentendimento entre jogadores brasileiros e húngaros. O capitão Puskas por exemplo, abriu a testa do zagueiro Pinheiro com uma garrafada. Pela nossa seleção.

FORA DAS QUATRO LINHAS

               Ao terminar a sua carreira como jogador, Pinheiro trabalhou nas categorias de base do Fluminense como técnico, ganhando diversos títulos e revelando muitos jogadores para o Tricolor, como por exemplo, o zagueiro Abel Braga, que hoje é um dos melhores treinadores do país. Como treinador no time principal do Fluminense, Pinheiro atuou em 119 jogos. Chegou a ser técnico profissional e dirigiu vários times com sucesso, como Goytacaz, Americano de Campos, Bangu, America, América-MG, Cruzeiro, entre outros.

               Conquistou vários títulos, como por exemplo a Taça Guanabara de 1971, a Copa Vale do Paraíba em 1977, o Troféu Tereza Herrera em 1977, Torneio de Maceió em 1994 e a Copa São Paulo de Futebol Junior de 1971, todos pelo Fluminense. Pelo Cruzeiro conquistou a Copa do Brasil de 1993, mesmo ano em que escalou Ronaldo Fenômeno pela primeira vez entre os profissionais. Além de vários vice campeonatos ao longo de sua carreira, sendo que, aquele que mais ficou marcado foi em 1985, dirigindo o Bangu, que perdeu o título brasileiro para o Coritiba.

TRISTEZA

               Pinheiro, o João Carlos Batista Pinheiro ex-zagueiro-central do Fluminense durante 17 anos, faleceu aos 79 anos, na noite de 30 de agosto de 2011, vítima de câncer na próstata. Ele estava internado desde o dia 04 de julho, no Hospital Pan-americano, no bairro de Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro. Pinheiro morava no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, e sua última atividade profissional foi no projeto “Farmácias Populares” do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Pinheiro, nosso central titular na Copa de 1954, na Suíça, era funcionário público estadual ao lado de outros ex-jogadores como Brito, Roberto Miranda, dentre outros. Em julho, o Fluminense organizou uma campanha para coletar sangue para ajudar Pinheiro, que já estava hospitalizado. Abel Braga participou da doação, afinal, trata-se do primeiro técnico a lhe dar uma chance entre os profissionais do Tricolor, na década de 1970.

               Casado pela segunda vez e pai de dois filhos do primeiro matrimônio, ele marcou época no Fluminense quando existia amor à camisa. Quem não se lembra de Castilho, Jair Marinho, Pinheiro, Clóvis, Altair, Edmílson, Maurinho, Telê, Valdo, Escurinho, e Zezé Moreira como treinador? Sua morte foi muito sentida por todos que o conheceram, pois tratava-se de uma pessoa boníssima e sempre que podia ajudava e aconselhava um jovem que estava iniciando a carreira.

               Um dos que mais sentiu sua morte foi o técnico Abel Braga, tanto é que na partida que o Fluminense fez diante do Atlético-GO alguns dias depois do seu falecimento, Abel usou uma camisa especial, na qual estava escrito “Pinheiro – 722 jogos”, que lembrava seu grande mestre, como o próprio treinador o chamava. O número 722 é referente àquele que mais vezes defendeu o Fluminense em toda a história, sendo 603 como jogador e outras 119 como técnico. Devido a sua morte o Tricolor Carioca decretou luto de sete dias.

1956 – Em pé: Clóvis, Jair Santana, Cacá, Castilho, Paulo e Pinheiro    –     Agachados: Telê Santana, Léo Briglia, Waldo, Jair Francisco e Escurinho
Seleção Carioca de 1952 – Em pé: Arati, Eli do Amparo, Jair Santana, Nilton Santos, Castilho e Pinheiro    –     Agachados: Telê Santana, Didi, Ademir de Menezes, Ipojucan, Friaça e o massagista Mário Américo
Da esquerda para a direita: Índio, Didi, Humberto Tozzi, Maurinho, Djalma Santos, Brandãozinho, Nilton Santos, Pinheiro, Julinho Botelho, Castilho e Bauer
Em pé: Clóvis, Jair Marinho, Edmilson, Altair, Castilho e Pinheiro   –    Agachados: Maurinho, Paulinho, Waldo, Telê Santana e Escurinho
Em pé: Getúlio, Edson, Pinheiro, Veludo, Lafaiete e Victor    –    Agachados: Telê Santana, Robson, Waldo, Didi e Escurinho
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