NECO: primeiro ídolo do Corinthians

                    Manuel Nunes nasceu dia 7 de março de 1895, na cidade de São Paulo.  Neco foi o primeiro ídolo do Timão. Em 1894, um garoto pobre começou a conviver com um time de várzea sem campo para treinar. Sede própria, muito menos. O garoto se chamava Manuel Nunes, conhecido como Neco. Aquele time em que ele treinava hoje é o Sport Club Corinthians Paulista, onde Neco foi o primeiro grande ídolo, o único time que defendeu em dezessete anos de carreira, um verdadeiro recorde de amor à camisa do clube. Raçudo, corajoso, driblador, era também eficiente nas conclusões, a ponto de ter sido artilheiro do Campeonato Paulista duas vezes: em 1914, com 12 gols, e em 1920, com  24 gols.

                    Jogava  nas  categorias  inferiores  do  Corinthians desde 1912, quando tinha 16 anos e foi levado pelo irmão, César Nunes, um dos fundadores e um dos  primeiros jogadores corintianos. Mas, assim como Amílcar e Bianco (outros futuros ídolos do alvinegro), só ganhou um lugar no time principal no final de 1913, quando o campeonato daquele ano já estava perdido. Se, dentro de campo, Neco aliava boa técnica a um espírito de luta fora do comum, fora dele também virou herói. Em 1915, o Corinthians passava por uma grave crise financeira e teve sua sede, ainda no Bom Retiro penhorada, pois não tinha dinheiro para pagar o aluguel do imóvel.

                    Com aquela situação do clube do seu coração, que estava ameaçado de ter a sede tomada e também todos os seus móveis, Neco, preocupadíssimo com aquilo tudo, liderou um movimento para tirar os móveis, documentos e troféus da sede do clube, na calada da noite e os levou tudo para sua casa, onde guardou com muito carinho até a situação melhorar e voltar ao normal.  Devido a esta situação, o Corinthians não disputou torneios oficiais e quase fechou as portas.

                    Ainda em 1915, o clube quis trocar a Liga Paulista de Futebol, pela Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA), mas só conseguiu quando o campeonato já estava em andamento. Com isto, Neco e todos os outros jogadores tiveram que deixar o Corinthians e foram repassados para outros clubes. E assim, Neco foi defender o Mackenzie por empréstimo, mas não ficou muito tempo por lá, pois seu coração era só do Corinthians.  No ano seguinte, em 1916, o Corinthians voltou à Liga de Futebol Paulista, e assim dessa maneira, Neco retornou ao clube do seu coração, para ser novamente campeão paulista, uma vez que já havia conquistado o título estadual em 1914, título este conquistado de forma invicta, alias, o primeiro título da história do Corinthians, que tinha a seguinte equipe: Aristides, Fúlvio e Casemiro Gonzáles; Police, Bianco e César Nunes; Américo, Peres, Amílcar, Aparício e Neco.  O técnico era o próprio jogador Casemiro Gonzáles.

                    Em 1917, Neco foi convocado pela primeira vez para defender a Seleção Brasileira, que iria disputar o Torneio Sul-americano. Sua estreia com a camisa da seleção aconteceu dia 3 de outubro de 1917, quando perdemos para a Argentina por 4 a 2, mas o seu gol ele deixou registrado. Voltou a marcar contra o Chile, quando vencemos por 5 a 0. Depois voltou a vestir a camisa da seleção no dia 11 de maio de 1919, quando o Brasil goleou o Chile por 6 a 0. O jogo foi no Rio de Janeiro e neste dia ele marcou dois gols. Os demais foram marcados por Friedenreich (3) e Haroldo.  Em sua terceira partida, desta vez contra o Uruguai, voltou a marcar mais dois gols, no empate de 2 a 2. Vale lembrar que neste Torneio Sul-americano de 1919, o Brasil sagrou-se campeão. 

                    Sua última participação na Seleção Brasileira, aconteceu no dia 22 de outubro de 1922, quando vencemos o Paraguai por 3 a 1 e, para fechar com chave de ouro, marcou mais um gol. Neco vestiu a camisa da seleção brasileira em 17 jogos. Venceu 9, empatou 4 e perdeu 4 vezes. Marcou ao todo nove gols entre 1917 e 1922.  Devido a estas convocações, Neco se tornou o primeiro jogador do Corinthians a defender a nossa Seleção Brasileira. 

                  Temperamental, Neco ficou famoso não só por seus dribles e gols, mas também pelas brigas que arrumava, sempre em defesa do Corinthians.  Certa vez, mais precisamente dia 5 de setembro de 1920, em um jogo que o Corinthians venceu o Palestra Itália por 2 a 1, Neco foi aterrado por um zagueiro do alviverde, mas o juiz nada marcou. Símbolo corintiano, reclamou falta. Enquanto ajeitava o calção, ele gesticulava com a cinta na mão (cinta esta que era comum no uniforme daquela época), diante do juiz.  Mas a torcida entendeu que ele estava intimidando o juiz.

                   No entanto a lenda cresceu, a ponto de os torcedores mais velhos garantirem que Neco, na verdade, correu atrás do juiz, com a cinta na mão, por todo o gramado. Daquele jogo em diante, a cada erro de arbitragem contra o Timão, vinha o grito das arquibancadas: “Tira a cinta Neco”. Em outro jogo contra a seleção carioca, Neco se desentendeu com o jogador Nascimento. Correu atrás do zagueiro com a cinta na mão até alcança-lo, mas quando o alcançou, a raiva já havia passado e nada fez com o pobre homem que estava todo apavorado, pois nunca tinha passado por uma situação daquela. 

                  Neco foi quem ajudou a levar o nome do Corinthians para o interior do estado de São Paulo a partir de 1915, pois foi o primeiro grande ídolo do futebol a desfilar seu estilo e marcar gols por várias cidades do interior paulista como: Campinas, São Carlos, Caçapava, Jundiaí, Amparo, e outras cidades. Por conta do temperamento explosivo, Neco esteve suspenso do futebol por um ano, em 1929. Retornou para encerrar a carreira em 1930, depois de conquistar oito títulos paulistas pelo Corinthians (sendo dois tricampeonatos). No mesmo ano, ganhou um busto no Parque São Jorge (foi o primeiro jogador a alcançar essa honra), onde se pode ler a seguinte inscrição: “A Manoel Nunes (Neco), homenagem da torcida corintiana”.  Na história do Corinthians, somente dois jogadores tiveram a honra de ter um busto em sua homenagem, eles são; Luizinho (o pequeno polegar) e Neco. Realmente uma grande honra para um jogador de futebol.

                  Neco faleceu dia 31 de maio de 1977, mas foi um jogador que o torcedor corintiano jamais esquecerá, pois foi realmente um recordista de amor a camisa Corintiana. Jogava com tanto amor, que contagiava a todos que o via correndo pelo gramado, era um dínamo, como diziam os jornais da época, tamanha disposição, garra e vontade de vencer. Era um líder em campo, driblava como poucos e não guardava posição. Por ter uma identificação com a torcida corintiana e praticamente ter visto o clube nascer, ele é considerado o primeiro ídolo corintiano.  Como não podia deixar de ser, como bom ídolo do Timão, era polêmico, mas nunca escondeu seu amor ao clube, tanto que recebeu diversas propostas, mas foi jogador alvinegro por 17 anos.

                  E durante estes anos que vestiu a camisa do Corinthians, (1913 até 1930); sagrou-se campeão nos seguintes anos; 1914, 1916 e depois vieram dois tricampeonatos; 1922, 23 e 24 e também nos anos de 1928, 29 e 30. Foi também artilheiro da equipe nos anos de 1914 com 12 gols, e em 1920 com 24 gols. Durante este tempo, realizou 296 partidas com a camisa do Corinthians. Venceu 215, empatou 35 e perdeu 46 vezes. Marcou 235 gols. Por tudo isso, Neco foi o primeiro grande ídolo da Fiel torcida corintiana, pois, realmente, foi um jogador que dispensa qualquer comentário. Temos somente que homenageá-lo e agradece-lo por tudo que fez pelo futebol paulista e brasileiro, em especial ao glorioso S. C. Corinthians Paulista, que no próximo ano estará completando o seu centenário.

                   Por isso, hoje em nossa coluna, ao prestarmos esta homenagem ao jogador Neco, o primeiro ídolo corintiano, estamos também homenageando um clube que à luz de um lampião, na esquina das ruas dos Italianos e José Paulino, no bairro do Bom Retiro, por volta das 20:00hs, no dia 1 de setembro de 1910, nascia o Sport Club Corinthians Paulista. Nasceu humilde, como seu povo, mas com o tempo, foi mostrando sua força, suas glórias e conquistas e com isto, formou uma verdadeira legião de torcedores, que o ama de tal forma, que é capaz de morrer por ele.

                  A frase que o primeiro presidente do Corinthians, Sr. Miguel Bataglia, disse em 1910, no dia da fundação do clube, não poderia ter sido mais feliz para predizer o futuro; “O Corinthians vai ser o time do povo e o povo é quem vai fazer o time”. Depois disso, em 99 anos, o Timão não só virou um time popular como também um colecionador de títulos. Dono da maior torcida do estado de São Paulo, o clube é até hoje o que mais ganhou campeonatos paulistas; 26 vezes. Superando assim os eternos rivais como Palmeiras, Santos e São Paulo.

                  E um dos maiores responsáveis por tudo isso, foi Neco, que viu o Corinthians nascer e se apaixonou por ele de tal forma, que era capaz de dar sua própria vida em campo só para ver sua torcida feliz. E todo este amor, não poderia terminar de outra forma, ou seja, um busto no Parque São Jorge. Neco fez parte de todos os times do Corinthians que foram campeões desde sua fundação até 1930, quando ele encerrou a carreira. Neco é o simbolo da FIEL torcida corintiana, pois ele era muito popular, assim como o Corinthians. E ser povo é sofrer, mas saber rir do próprio sofrimento. Ah, se Deus tivesse tempo para o futebol. Garanto que não perderíamos uma partida, pois a voz do povo é a voz de Deus e também porque Deus é FIEL.

Em pé: Gelindo, Grané, Tuffy, Del Débbio, Rafael e Rueda      –     Agachados: Filó, Neco, Gambinha, Rato I e Rato II
Estes jogadores ajudaram o Corinthians a conquistar o primeiro dos três tricampeonatos paulistas de sua história, em 1924. A consagração veio no dia 11 de janeiro de 1925 após vitória sobre o Paulistano por 1 a 0 no estádio do Jardim América, gol de Tatu. A foto, no entanto, não é do dia da decisão. Em pé estão Gelindo, Rafael, Rueda, Colombo, Del Debbio e Ciasca; ajoelhados vemos Peres, Neco, Pinheiro, Tatu e Rodrigues.

 

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