TAÇA BRASIL DE 1959: E.C. Bahia campeão

                Durante anos a história do futebol foi narrada de maneira equivocada, fazendo com que o Atlético-MG, Campeão Brasileiro de 1971, fosse considerado o primeiro campeão nacional. Pois a unificação dos títulos conquistados antes de 1971 faz justiça à era de ouro do nosso futebol, dando o justo reconhecimento ao Bahia como primeiro Campeão Brasileiro, com um título da Taça Brasil de 1959, conquistado sobre o esquadrão do Santos de Pelé & Cia.

               Contra a falsa malandragem de Athiê Jorge Cury e a vivacidade de Osório Vilas Boas. Contra o poderio do time do Santos e a fé no Senhor do Bonfim, a proteção do milagreiro São Judas Tadeu, as velas acesas em 365 igrejas, o rufo de atabaques de mil Candomblés, a Bahia em peso se levantou contra o Santos para ganhar a Taça Brasil de 1959. Era uma questão de honra.

               No primeiro ano da Taça Brasil, houveram 16 participantes, e o Bahia havia sido indicado como representante do Estado da Bahia, já que foi o campeão baiano de 1958. Com isso, foi habilitado a participar do certame. O Tricolor Baiano não era o favorito, até porque tinha concorrentes de peso, como o Vasco de Bellini e o Santos de Pelé, Pepe e Coutinho.

               No Grupo Nordeste, o Bahia estreou contra o CSA goleando por 5×0. No segundo jogo, venceu novamente, dessa vez por 2×0, e avançou sem a necessidade de um terceiro jogo. O próximo adversário do Bahia era o Ceará. Após empatar em 0x0 e 2×2, o Tricolor Baiano venceu por 2×1 o terceiro jogo, e passou para a próxima fase.

               No Grupo Norte, o Sport se sagrou campeão, e se habilitou a disputar o título da Zona Norte contra o Bahia. (no Grupo Sul foi o Grêmio, e Grupo Leste o Atlético Mineiro). O campeão da Zona Norte enfrentaria o Campeão Carioca, e o da Zona Sul enfrentaria o Campeão Paulista. Sabendo disso, Bahia e Sport duelaram numa melhor de três. Na primeira, deu Bahia (3×2), gols de Ari, Biriba e Marito. Na segunda, deu Sport (6×0). Na terceira, o Bahia venceu por 2×0, gols de Biriba e Leo e passou para as semifinais do torneio, para enfrentar o Vasco da Gama, campeão carioca de 1958.

               Para um time desacreditado, o Bahia até que estava indo longe no torneio. Com isso, adquiriu fôlego para enfrentar as duas pedreiras que se sucederiam. A primeira foi o Vasco da Gama, que na época tinha o seguinte time; Miguel, Paulinho, Bellini e Coronel; Écio e Russo; Sabará, Almir, Delém. Roberto Pinto e Pinga. Após um triunfo para cada lado (1 a 0 para o Bahia, e 2 a 1 para o Vasco), o Bahia venceu o jogo decisivo por 1 a 0, com gol de Léo Briglia.

               O adversário do Bahia na final saiu do confronto entre o Grêmio (vencedor da Zona Sul) e o Santos (campeão paulista de 1958). No dia 17 de novembro de 1959, jogando na Vila Belmiro o time de Pelé passou fácil pelo time gaúcho, 4 a 1, gols de Jair da Rosa Pinto (2), Coutinho e Urubatão. Depois desta goleada aumentou o favoritismo do time santista. Sendo assim, a decisão da Taça Brasil de 1959 seria entre Santos Futebol Clube e Esporte Clube Bahia.

                 O vencedor da decisão seria o primeiro participante brasileiro na Libertadores da América (a Taça Brasil foi criada para indicar um Campeão Brasileiro que iria representar o País na competição continental). O Santos achando que o titulo seria decidido em duas partida, programou uma temporada pelo exterior para logo após a decisão da Taça Brasil. O clube paulista era poderoso, tinha Pelé, ganhador de muitos títulos e o grande favorito da competição. Entretanto, já no primeiro jogo realizado na Vila Belmiro, dia 10 de dezembro de 1959, o Bahia mostrou que pensava seriamente no titulo.

PRIMEIRO JOGO DA DECISÃO

              A primeira partida foi na Vila Belmiro no dia 10 de dezembro de 1959. O Santos marcou logo 2×0, gols de Pelé e Pepe. Foi quando veio a reação que ninguém esperava. O Bahia venceu por 3×2, gols de Alencar (2) e Biriba. O terceiro gol do Bahia anotado pelo centroavante Alencar aconteceu aos 44 minutos da etapa complementar. Neste dia o Bahia jogou desfalcado de seu goleiro, o Nadinho, que não pode entrar em campo na primeira partida, realizada na Vila Belmiro. Nadinho era estudante de Direito e no dia do jogo teve uma prova importante.

               Depois daquela belíssima vitória, o favoritismo mudou de lado, e a festa estava preparada em Salvador. Estava certo de que aquele ano novo na Bahia seria especial. Porém, a euforia transpôs a calma e isto fez com que a equipe não editasse a mesma performance da primeira partida.

SEGUNDO JOGO

               A segunda partida aconteceu no Estádio Fonte Nova em Salvador no dia 30 de dezembro de 1959. O público foi de 40.000 pessoas. Neste dia o Santos jogo muita bola. Acontece que neste jogo, Pelé estava num dia de genialidade comum e esmagou a defesa do Bahia. O Santos venceu por 2×0, gols de Coutinho e Pelé. Naquele tempo não havia saldo de gols, prorrogação ou disputa por pênaltis. A diretoria do Santos não quis jogar o terceiro jogo em Salvador e exigiu um campo neutro. A CBD atendeu.

               A terceira partida estava marcada para o dia 30 de janeiro de 1960. O Santos argumentou que não tinha datas disponíveis, pois seu calendário estava cheio. Naquela época o Santos viajava demais. A CBD manteve o jogo para a data programada. Foi então que o presidente do Bahia, Osório Vilas Boas entrou na jogada. Psicologicamente, seu time não estava nada bem depois da derrota em Salvador. A temporada do Santos no exterior iria desgastar a equipe paulista. O Bahia teria tempo para se refazer. Por isso, concordou com o Santos e fez a CBD aceitar uma outra data: 29 de março de 1960, no Maracanã.

               O Santos voltou de uma excursão arrebentado, pois o time vinha atuando de dois em dois dias. Pelé voltou com as amígdalas inflamadas e teve de fazer uma operação, o que o impediu de disputar o jogo final. Pelo Bahia, o técnico Geninho era policial e apenas podia comandar o time quando estava de licença. Por ser chamado de volta ao quartel, foi substituído por um argentino chamado Carlos Volante.

TERCEIRO E DECISIVO JOGO

               Para esta grande decisão, o time do Bahia passou 45 dias concentrado na Ilha de Itaparica, Bahia, para que não acontecesse o que havia acontecido no segundo jogo, quando os jogadores entraram em campo já achando que eram os campeões. Esqueceram que o adversário era o Santos de Pelé, Zito, Coutinho, Pepe, ou seja, jogadores que haviam sido campeões mundiais no ano anterior.

               Na noite de 29 de março de 1960, o Maracanã recebeu um bom publico, quase todos torcendo pelo Bahia que entrou em campo com Nadinho, Beto, Henrique, Vicente e Nezinho; Flavio e Mario; Marito, Alencar, Léo e Biriba. O técnico Lula, do Santos, escalou a seguinte equipe para aquela grande  final; Lála, Getulio, Mauro Ramos de Oliveira, Formiga e Zé Carlos; Zito e Mario; Dorval, Pagão (Tite), Coutinho e Pepe. O carioca Frederico Lopes foi o juiz.

               O início do jogo era igual, mas foi o Santos quem abriu a contagem através de Coutinho aos 27 minutos de jogo. Dez minutos depois, o Bahia empatou com Vicente cobrando uma falta da intermediária. Nessas alturas, os baianos dominavam o jogo e os santistas demonstravam um cansaço com pouca disposição para disputar as bolas divididas.

               No primeiro minuto do segundo tempo, Léo marcou o segundo gol do Bahia. O Santos se desesperou. Coutinho tentava romper a defensiva dos baianos, mas tinha a marcação de Vicente em todas as partes do campo. O treinador Lula ainda tentou Tite no lugar de Pagão, mas não deu certo. Aos 24 minutos o juiz expulsou Getulio. Formiga reclamou exageradamente e também foi expulso. Aí o Santos começou a apelar.

               Aos 32 minutos, Coutinho agrediu Nezinho e foi colocado para fora. Vicente deu um soco em Coutinho e também foi obrigado a sair. Perdido por dois, perdido por mil, os santistas resolveram parar os baianos no pau. A polícia entrou em campo e esfriou os ânimos. O juiz Frederico Lopes expulsou outro santista. Dorval deu um tapa em Henrique e também saiu mais cedo.

               Aos 37 minutos, Alencar sacramentou a vitória, driblando o goleiro e marcando o terceiro do time Baiano. A festa já tinha começado na Bahia de todos os santos. Era também a vitória da malícia de Osório Vilas Boas que se impunha contra à pretensão de Athiê Jorge Cury. O dirigente do Santos, antes da decisão, havia enviado um telegrama ao San Lorenzo de Almagro, da Argentina, propondo datas e locais para os dois jogos pela Taça libertadora. Só que o San Lorenzo jogou mesmo foi contra o Esporte Clube Bahia, o campeão da primeira Taça Brasil. Para ser campeão, o Bahia jogou quatorze vezes. Venceu nove, empatou duas e perdeu três. O Bahia teve também o artilheiro da competição, que foi o atacante Leo Briglia. Era uma época de ouro do futebol brasileiro. Os jogadores não ganhavam muito dinheiro, mas jogavam com um amor tão grande pelo clube, que dava gosto de ver. Por isso que estes jogadores de hoje que só jogam por dinheiro, nos obrigam a sermos cada vez mais saudosistas.

               Em 29 de março de 1549 Tomé de Souza fundava Salvador, 411 anos depois, em 29 de março de 1960, o Esporte Clube Bahia se sagrava o 1° Campeão Brasileiro de Futebol, confirmando a vocação de terra primaz que a Bahia possui, como já cantou Gilberto Gil em Toda Menina Baiana. O Bahia ganhou a 1ª Taça Brasil, referente ao ano anterior, 1959, pela qual o time campeão seria o único clube brasileiro a representar o país na Taça Libertadores da América, que também teria sua primeira edição. Por tudo isso, nossa homenagem ao Esporte Clube Bahia, que há 55 anos atrás conquistava o primeiro título brasileiro.

E. C. Bahia  Primeiro clube a conquistar a Taça Brasil  em 1959  –  Em pé: Nadinho, Beto, Hermínio, Nelsinho, Flávio e Vicente Arenari    –   Agachados: Marito, Alenca, Léo, Mário e Biriba
Postado em T

Deixe uma resposta