DE SORDI: campeão mundial com nossa seleção em 1958

                    Nilton De Sordi nasceu dia 14 de fevereiro de 1931, na cidade de Piracicaba (SP).  Foi o titular da nossa seleção na Copa de 58 disputada na Suécia, onde o Brasil conquistou seu primeiro titulo mundial. Mas deu azar de machucar-se logo na final e ficou de fora da partida decisiva contra a dona da casa na vitória de 5 a 2. Melhor para Djalma Santos, que ganhou a oportunidade e jogou a aquela partida que saiu na foto que foi para o mundo inteiro, e que até hoje, o torcedor brasileiro olha com muito orgulho. Para De Sordi, foi uma glória chegar a seleção brasileira e ser campeão mundial. Nada mau para quem começou jogando de zagueiro central no Palmeirinha e Bairro Alto, em Piracicaba e depois no time de Bate Pau, hoje Iracemápolis. Em 1949 foi  defender as cores do XV de Piracicaba, sua terra natal, onde chamou a atenção de clubes da capital, principalmente do Tricolor Paulista.

SÃO PAULO F.C.

                   Jogou no XV de Piracicaba até dezembro de 1951. No dia 1º de janeiro de 52, chegou no São Paulo, deixando a meia-direita, onde jogava inicialmente, para se firmar como lateral-direito. Foi quando se formou um trio imbatível: Poy, De Sordi e Mauro. Muralha na frente do gol Tricolor. Apesar de relativamente baixo para a posição. 1.71m. De Sordi tinha excelente impulsão e uma característica: antecipava-se, como ninguém nas jogadas, anulando o adversário. Dono absoluto da posição até o dia 16 de julho de 1965, quando deixou o Tricolor. Nesse período, disputou 536 partidas, sendo 289 vitórias, 131 empates e 116 derrotas. Foi campeão paulista em 1953 e 1957, mas curiosamente, não marcou nenhum gol com a camisa são-paulina.

                  Seu primeiro título pelo São Paulo, De Sordi ainda hoje lembra com muita alegria. O time começou embalado e goleou o Comercial de Ribeirão Preto por 6 a 1. Depois continuou vencendo 3 a 0 o XV de Jaú, 4 a 1 o Nacional, entre outros sucessos. Para fechar com chave de ouro, no dia 24 de janeiro de 1954, venceu o Santos por 3 a 1 e sagrou-se campeão paulista. O time que jogou aquele dia foi; Poy, De Sordi, Mauro, Pé de Valda e Alfredo; Bauer e Negri; Maurinho, Abella, Gino e Teixeirinha. Os gols foram marcados por Abella (2) e Maurinho. Foi uma campanha maravilhosa, pois dos 24 jogos disputados, houve apenas duas derrotas. O time marcou 70 gols e sofreu apenas 21.

                 No segundo título que foi em 1957, a grande final foi contra o Corinthians, onde o Tricolor venceu por 3 a 1, com gols de Amauri, Canhoteiro e Maurinho, enquanto que para o Corinthians, Rafael marcou o único tento. Este jogo aconteceu no dia 29 de dezembro de 1957 e foi realizado no estádio do Pacaembu. Além desses dois títulos, De Sordi foi também tricampeão pela seleção paulista em 52, 54 e 56.  Quando deixou o Tricolor, De Sordi mudou-se para o Paraná, onde em 1966 começou a trabalhar como treinador no União Bandeirantes, time que voltou a treinar outras vezes, sendo que a última vez foi em 1977.

SELEÇÃO BRASILEIRA

                A carreira de De Sordi foi marcada por sua passagem pela Seleção Brasileira, na qual disputou 25 partidas. No entanto, a Copa de 58 é aquela que mais ele guarda recordações. Para De Sordi, pior do que ficar de fora do jogo decisivo, foi sofrer a injustiça causada pela versão criada para justificar a sua ausência. O lateral-direito do São Paulo teria sentido o peso da decisão e por isso alegou uma contusão. Em 2001, em entrevista concedida à ESPN Brasil, o já então recluso De Sordi, que evitava a imprensa devido à mentira de que fora vítima, deixou evidente o quanto de mágoa o episódio causou em sua vida. À pergunta do repórter, se não se sentia frustrado por não ter jogado contra a Suécia, de não estar, enfim, presente na foto dos campeões do mundo, De Sordi tentou inicialmente negar. “Não, não tenho mágoa, o que importa é que fui campeão do mundo…”
Mas uma lágrima, que ele não conseguiu impedir, foi mais eloqüente. Ficou claro que De Sordi não conseguiu superar o episódio que as gerações posteriores repetiram por pura desinformação: a de que teria ficado com medo de jogar.  ”Paguei o preço de ter sido correto. Eu estava com um problema muscular e, se tivesse entrado em campo, poderia prejudicar a Seleção. O time ficaria com 10, porque naquela época não havia substituição”.

                Aos 79 anos, o campeão do mundo já tinha bisnetos – e tentava ficar longe do passado, do jogo contra a Suécia, do futebol, das maldades que inventaram. Então ele desabafou “Falaram tanta coisa, inventaram tanta história. Como podem pensar que um jogador teria medo de jogar uma decisão de Copa do Mundo? Eu fui o titular durante toda a fase de preparação, joguei as cinco partidas da Copa, claro que não ia querer ficar de fora do grande momento”. A mulher Celina, companheira de tantos anos, era solidária. Tentava mostrar ao marido que nada iria diminuir a sua importância na conquista do título. Celina conta que até hoje De Sordi recebe correspondência de fãs, de pessoas que o admiravam. “Chegam até cartas da Suécia, com manifestações de carinho. Quando a Seleção deixou o hotel na Suécia, o povo chorou de tristeza, oferecendo buquês de flores aos jogadores. Ele tinha também o reconhecimento dos companheiros da Seleção. Isso é o que importa” – diz Celina. 

                Para Piracicaba, o grande acontecimento revestiu-se de importância ainda maior, de um orgulho bairrista que, literalmente, enlouqueceu de alegria a população. Pois dois piracicabanos estavam entre os jogadores campeões: De Sordi e José Altafini, o Mazolla, mais conhecido como Cuíca, nas suas origens no Atlético Piracicabano.  A recepção em Piracicaba foi acontecimento memorável, com multidões incontáveis saindo às ruas e os atletas desfilando em praça pública. As então Oficinas Dedini patrocinaram o evento. Uma tristeza irreparável, porém, marcou o retorno de De Sordi: seu pai não resistiu à alegria de ver o filho campeão do mundo e morreu, devido a um ataque cardíaco.

                Mas sobre o jogo da final De Sordi não esquece. Ele fala com exatidão de tudo o que antecedeu o jogo contra a Suécia. Com um problema muscular na coxa direita, foi poupado do treino da véspera – apenas correu em volta do gramado. Não estava vetado, o que só aconteceu no dia do jogo, na preleção antes de seguir para o estádio. “Na preleção, eu disse ao “seu” Feola que não tinha condições de jogar. Daria até para entrar em campo, mas haveria o risco de eu sentir”  Foi difícil para De Sordi tomar essa decisão. Custou-lhe quase uma noite sem dormir. Mauro, companheiro do São Paulo, era também com quem dividia o quarto na concentração. Eram amigos.

               De Sordi não pretendia falar nada com Feola, queria arriscar, tamanha a vontade de enfrentar a Suécia. Pediu a opinião de Mauro. “Ele me ajudou muito. Lembrou que, devido ao problema muscular, eu fatalmente sentiria a contusão, e o time ficaria com menos um jogador. E que, se o Brasil perdesse para a Suécia, a culpa seria minha. Iriam me responsabilizar por mais uma derrota em final de Copa do Mundo – lembra. Então De Sordi acusou a contusão, Vicente Feola escalou Djalma Santos, mas mesmo assim ele pagou o preço de não ter jogado. Logo ele, um lateral valente, que jogava duro, marcava com rigor, como lembra o ponta-esquerda Pepe, seu adversário nos clássicos entre Santos e São Paulo. “O De Sordi não era jogador de ter medo.

                Era, sim, um lateral raçudo, que marcava duro, ficava difícil levar vantagem sobre ele – conta Pepe, bicampeão do mundo pelo Brasil em 1958/1962.  De Sordi concorda. Jogava duro, pesado mesmo, mas ressalva que não era desleal com um companheiro de profissão. Nunca tirou ninguém de campo, ele sim, foi vítima de uma entrada violenta que o afastou do Campeonato Sul-Americano de 1959, na Argentina.  Nessa época, eram famosos os duelos entre De Sordi e Almir, o Pernambuquinho, toda vez que São Paulo e Vasco se enfrentavam. Em um desses jogos, De Sordi, que já estava convocado para o Sul-Americano, teve rompidos os ligamentos do tornozelo em uma disputa de bola com Almir. “O Almir me pegou por trás e fiquei alguns meses sem jogar. Convocaram o Paulinho, do Vasco, para o meu lugar, e por isso não pude disputar o Sul-Americano”.

              De Sordi voltaria à Seleção Brasileira em 1961, para a disputa da Taça Oswaldo Cruz. Com a camisa do Brasil, jogou 25 vezes, com 17 vitórias, 7 empates e apenas uma derrota, em um amistoso contra a Itália, em 1956. De Sordi foi um bom marcador, com boa noção de cobertura, que pouco apoiava o ataque. Apesar da baixa estatura, cabeceava freqüentemente e, por isso, chegou a jogar de zagueiro-central no São Paulo e também na Seleção Brasileira.  Nilton De Sordi, nosso lateral-direito na Copa do Mundo de 58 (só não jogou a final), deixou a cidade de Bandeirantes (PR), onde um de seus filhos foi prefeito.

              Morou durante anos em João Pessoa (PB), ao lado de sua esposa Celina, de sua filha e de outros dois filhos que são agrônomos. Já seu filho ex-prefeito, continua em Bandeirantes (PR) onde cuida da fazenda da família. De Sordi lutou 20 anos contra o Mal de Parkinson e ficou preso numa cadeira de rodas durante muito tempo. Seu quadro piorou quando caiu em sua casa com seu andador e bateu a cabeça. Ficou internado por 15 dias e no dia 24 de agosto de 2013 veio a falecer em decorrência de falência múltiplas de órgãos, na cidade de Bandeirantes – PR.

Em pé: De Sordi, Zito, Bellini, Nilton Santos, Orlando e Gilmar      –     Agachados: Garrincha, Didi, Mazzola, Pelé e Zagallo
Em pé: De Sordi, Jadir, Nilton Santos, Gilmar, Mauro e Roberto Belangero      –    Agachados: Garrincha, Moacir, Mazzola, Pelé e Canhoteiro
Em pé: Preparador Físico Paulo Amaral, De Sordi, Zózimo, Zito, Nílton Santos, Castilho, Mauro e o técnico Vicente Feola     –     Agachados: Joel, Moacir, Mazzola, Dida e Zagallo.
Em pé: De Sordi, Poy, Dino Sani, Riberto, Vitor e Mauro      –    Agachados: Maurinho, Lanzoninho, Gino, Zizinho e Canhoteiro
Em pé: De Sordi, Zito, Bellini, Nilton Santos, Orlando e Gilmar      –     Agachados: Garrincha, Didi, Pelé, Vavá e Zagallo
Em pé: De Sordi, Procópio, Deleu, Riberto, Suly e Benê      –     Agachados: Faustino, Prado, Fefeu, Jair Rosa Pinto e Canhoteiro

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