MÁRIO AMÉRICO: o massagista mais famoso do Brasil

                   Mário Américo nasceu dia 28 de julho de 1912, na cidade de Monte Santo–MG. Durante muitos anos de sua vida, se dedicou ao futebol. Trabalhou no Vasco da Gama do Rio de Janeiro, na Portuguesa de Desportos e também na nossa Seleção Brasileira em sete copas: 50, 54, 58, 62, 66, 70 e 74; sagrando-se campeão do mundo em três oportunidades. Aos 7 anos começou a vender balas. Depois fugiu para São Paulo, com apenas 8 anos, e trabalhou como: engraxate, mecânico e até baterista da orquestra de Otto Way. Começou a treinar  boxe com o pai de Éder Jofre, o velho Kid Jofre, realizando 72 lutas, vencendo 49, empatando 11 e perdendo 12.

                  Foi para o Rio de Janeiro em 1934 e continuou a carreira de lutador, até ser contratado como enfermeiro pelo Madureira, que lhe pagava um salário bem superior ao de pugilista: 200 mil réis por mês. Correu muitos ringues, chegando a ganhar muitas lutas, inclusive algumas na Alemanha. Em 1937, começou sua carreira de pugilista no Madureira, que naquela oportunidade possuía excelente seção de Box. Também era massagista quando ainda era lutador, como ajudante de Giovani. Em 1942, após ter pendurado as luvas, cursou a Escola Nacional de Educação Física, a fim de se preparar convenientemente para a carreira de massagista.

VASCO DA GAMA

                 Quando foi contratado pelo Vasco da Gama quase perdeu a fala de tanta emoção. No clube de São Januário, graças à sua habilidade, competência e dedicação, Mario Américo passou a gozar de invejável prestigio. Nessa oportunidade, aliás, ganhou o apelido de “pombo correio”, por fazer com perfeição o trabalho de ligação entre o técnico e os jogadores. Mário Américo chegou em São Januário em 1941, onde permaneceu como massagista até o final de 1952. Nesse período o Vasco conquistou 5 títulos estaduais e uma Copa Sul-americana em 1948, depois de um heroico empate em 0 a 0 contra o River Plate da Argentina, que tinha o jogador Di Stéfano, que marcara 27 gols no campeonato argentino daquele ano. Neste jogo, que entrou para a história do Vasco, Barbosa pegou um pênalti e o árbitro anulou um gol vascaíno. Esta conquista representou o primeiro título internacional do futebol brasileiro. Nessa época o Vasco tinha um grande time, tanto é, que sete participaram do mundial de 50.

PORTUGUESA

               Em 1952, aconteceu um jogo entre Vasco e Portuguesa de Desportos. Num determinado momento, saiu uma briga por causa de uma entrada do Pinga (Portuguesa) em Eli (Vasco da Gama). Todos se envolveram na briga. Mário Américo e o presidente da Portuguesa, Mário Augusto Isaías, pouco depois se reencontraram e o dirigente fez oferta de triplicar o seu salário para que viesse trabalhar no Canindé, o que foi aceito de imediato, mesmo porque, Mário já estava mesmo pensando em vir morar em São Paulo.

                   Durante o período em que trabalhou na Lusa do Canindé, foram os anos em que a Portuguesa conquistou mais títulos, ou seja, foi bi campeã do Torneio Rio-São Paulo, em 1952 e 1955, além de conquistar a Fita Azul de 1953. Em 1954, estava na delegação que disputava a Copa da Suíça, e por isso, não participou da excursão que conquistou a terceira Fita Azul da Portuguesa.

SELEÇÃO BRASILEIRA

                  Mário Américo foi o massagista da seleção brasileira durante 24 anos. Começou na Copa de 50 que foi disputada no Brasil e encerrou na Copa de 74, disputada na Alemanha. Sempre foi querido e respeitado pelos jogadores, pois era mais que um massagista, naquele tempo, as comissões técnicas tinham menos profissionais trabalhando e ele acabava sendo não só o massagista, mas fisioterapeuta, psicólogo e conselheiro. Pepe por exemplo, só tem elogios à ele; “Foi uma pessoa que dignificou o cargo de massagista, foi ele que profissionalizou isso. Ele tinha um ambiente muito bom com os jogadores e era também o que chamávamos de pombo-correio. Naquela época o treinador ficava na arquibancada e o Mário ouvia as instruções e corria na beira do gramado para nos passar o que havia pedido o treinador e graças aos seus recados, foi possível alterar esquemas táticos e reverter placares desfavoráveis.” afirma o ex-craque do Santos e da seleção brasileira, que trabalhou com Mário Américo nas Copas de 1958 e 1962.

                 Durante o trabalho era um homem sério e muito responsável, mas fora dele, era uma pessoa divertida e personagem de inúmeras histórias que entraram para o folclore do futebol brasileiro. Uma delas que ficou marcada para sempre aconteceu durante a Copa de 58, na Suécia. Tudo aconteceu com o inesquecível Mané Garrincha, que participou de uma situação cômica, que acabou lendária. Certa vez, Garrincha chegou de volta ao hotel, onde estava hospedada a Seleção, empolgado com a sua mais nova aquisição: um moderno rádio de ondas curtas que havia custado 180 coroas. Mané, inocente que era, só não podia imaginar que o entusiasmo fosse virar decepção tão cedo. “Esse rádio só fala sueco” – alertou o folclórico massagista Mario Américo, que integrava a delegação. Garrincha testou o rádio e comprovou a “informação” do massagista.

                 De imediato, ficou desolado com a ideia de ter que ouvir a programação estrangeira no seu aparelho quando voltasse ao Brasil. Diante disso, acabou aceitando a proposta de Mário Américo, que se dispôs a comprar o rádio por 90 coroas “para diminuir o prejuízo” do jogador. Outro acontecimento marcante neste mundial. Na partida final de copas do mundo, os juízes saem de campo com a bola do jogo.

                Na final da Copa de 58, a história foi diferente. Mal o juiz francês apitou o fim do jogo, um neguinho entrou em campo como um raio e pegou a bola. Era o massagista do Brasil, Mário Américo. Cumpria ordens do chefe da delegação e tinha um esquema combinado com o roupeiro que iria ficar na arquibancada atrás de um dos gols esperando que ele jogasse a bola para sumir na multidão. Deu tudo errado: Mário Américo, com a bola na mão e a polícia atrás, correu para o gol errado. Quando percebeu, o jeito foi atravessar o campo driblando os guardas. Ao chegar no outro lado, seu parceiro estava tão emocionado com a vitória que esqueceu sua parte. O jeito foi correr para o vestiário, mas a porta estava trancada. Mário se enfiou por outra porta e depois de pular muros, chegou ao vestiário brasileiro. Escondeu a bola dentro de um saco de camisas e preparou outra, embrulhada numa toalha.

                 Logo depois, o juiz apareceu exigindo a bola e deram-lhe a falsa. Dez minutos depois ele voltou furioso, exigindo a verdadeira. Foi dito que a mesma seria devolvida no banquete realizado a noite. Quando Mário Américo chegou na festa, o juiz estava na porta esperando. Mário deu-lhe um charuto e sugeriu que tomassem alguns drinques antes de devolver a bola. Depois de vários drinques, o francês acabou levando pra casa uma bola ainda mais falsa que a primeira. A bola verdadeira está hoje no museu da Federação Paulista de Futebol.

                Mario Américo, por exemplo, ficou eternizado por outras histórias folclóricas e, mesmo sem entrar em campo, ajudou a dar tempero e a tornar nosso esporte favorito ainda mais apaixonante. Anos mais tarde, em meio as comemorações do aniversário de 50 anos do primeiro título mundial da Seleção Brasileira, Mário Américo foi homenageado pela Prefeitura Municipal de São Paulo. O UBS-AMA Sítio Mandaqui, na zona norte de São Paulo, passou a chamar-se Mário Américo, em homenagem ao lendário massagista do Vasco e da seleção nacional na conquista do Mundial de 1958. A Unidade de Saúde está localizada no Imirim, bairro onde Mário Américo viveu toda a sua vida e sua viúva, dona Yara Américo, além de seu neto, Mário Américo Neto, onde residem até hoje.

                Sem dúvida, Mário Américo foi uma das mais folclóricas figuras do futebol brasileiro. Sua função básica seria massagear os músculos dos atletas antes das partidas, para melhorar o desempenho, além de prestar os primeiros socorros aos jogadores que se machucassem, aplicando compressas e auxiliando os médicos. Entretanto, Mário Américo foi mais longe e tornou-se um dos mais famosos massagistas do futebol brasileiro. Possuidor de um grande carisma e apelo popular, foi eleito vereador em São Paulo, no ano de 1981, com mais de 30 mil votos. Seus contemporâneos ainda se lembram da forma carinhosa como saudava as pessoas: “Tudo bem, titio?”

               Mário Américo faleceu em São Paulo dia 9 de abril de 1990, no Hospital Santa Isabel de Vila Nova Cachoeirinha. Quando criança, sonhava em ser músico e correr o mundo espalhando melodias. Mas quando cresceu viu que seu destino seria outro, embora não deixasse de correr o mundo. Quis o destino que se transformasse em um competente lutador de boxe, com vitórias até em ringues europeus e anos depois um competente massagista, onde dignificou sua profissão por 40 anos, sempre viajando pelo mundo a fora, quer fosse pelo clube que trabalhava, quer pela seleção canarinho, que tanto ele amou. Não podíamos deixar de fazer esta humilde homenagem à este homem que tanto trabalhou pelo futebol brasileiro. O importante é fazer com que o nome dele seja lembrado por aqueles que o viram na ativa e também para que os jovens saibam quem foi Mário Américo, um massagista que esteve presente nas maiores conquistas do Vasco, da Portuguesa e da nossa Seleção Brasileira.

SELEÇÃO BRASILEIRA NA FINAL DA COPA DE 1958    –    Em pé: Djalma Santos, Zito, Bellini, Nilton Santos, Orlando e Gilmar     –     Agachados: Garrincha, Didi, Pelé, Vavá, Zagallo e Mário Américo
SELEÇÃO BRASILEIRA NA FINAL DA COPA DE 1962    –     Em pé: Djalma Santos, Zito, Gilmar, Zózimo, Nilton Santos e Mauro     –      Agachados: Mário Américo, Garrincha, Didi, Vavá, Amarildo e Zagallo

 

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