GINO: segundo maior artilheiro do São Paulo F.C. com 232 gols

                Gino Orlando nasceu dia 3 de setembro de 1929 em São Paulo. Gino era atacante e tinha um estilo de jogo bem peculiar, era brigador, dividia todas as bolas e fazia gols de bico e de canela quando necessário, mas também sabia fazer gols bonitos. Começou sua carreira em 1950 no A. A. Matarazzo, depois foi para o Palmeiras, onde atuou apenas em quatro partidas e não marcou nenhum gol. Venceu duas, empatou uma e perdeu uma. Foi contratado em seguida pelo extinto Comercial de São Paulo. Em 1952 Gino foi contratado pelo São Paulo F. C. para comandar o ataque do clube que não tinha um jogador a altura desde a saída de Leônidas em 1950. Vestindo a camisa tricolor, Gino conquistou os campeonatos paulistas de 1953 e de 1957, sendo artilheiro do time em ambos.  Disputou neste ínterim 447 partidas com 250 vitórias, 96 empates e 101 derrotas.   

                Gino tem a marca histórica de que foi o 14º jogador que mais tempo defendeu o São Paulo, onde atuou por 10 anos e 1 mês. Além desta marca Gino é o segundo na lista dos maiores goleadores do Tricolor com 232 gols marcados. O estádio do Morumbi foi inaugurado dia 2 de outubro de 1960, quando o Tricolor realizou uma partida amistosa contra o Sporting de Lisboa e venceu por 1 a 0, gol do ponta direita Peixinho. Uma semana depois, ou seja, dia 9 de outubro, aconteceu outro jogo amistoso no Morumbi, desta vez um combinado de jogadores do São Paulo, Corinthians e Palmeiras que enfrentaram o Nacional de Montevidéu. Neste jogo, Gino marcou dois gols na vitória brasileira por 3 a 0, sendo que o terceiro gol foi marcado por Canhoteiro. Ainda neste jogo, Gino chutou uma bola na trave, sendo assim, foi o primeiro jogador a acertar a trave do estádio Cícero Pompeu de Toledo.

TÍTULOS

               Durante os 10 anos que vestiu a camisa tricolor, conquistou dois títulos importantes em sua carreira. O primeiro foi em 1953, quando sagrou-se campeão paulista. Do time de 1953, apenas Mauro, Bauer e Teixeirinha haviam estado no título paulista de 1949. Para o lugar de Leônidas, veio o argentino Lopes, do Ypiranga. Para o time chegaram Ranulfo, Gino, Pé de Valsa e o Maurinho. Além do técnico, mais três argentinos eram titulares: o goleiro Poy, o atacante AlbelIa, ex-Banfield, e o meia-direita Juan José Negri, que tinha jogado no River com outros craques como Labruna e Loustau. O time começou embalado no torneio e goleou o Comercial de Ribeirão Preto por 6×1. Depois continuou vencendo: 3xO  no  XV de Jaú, 4×1 no Nacional, entre outros sucessos. Uma derrota de 4×1 para o Linense não mudou muito os rumos da equipe que foi campeã, no dia 24 de janeiro de 1954, com uma vitória de 3×1 sobre o Santos. A equipe campeã foi: Poy, De Sordi e Mauro; Pé de Valsa, Bauer e Alfredo; Maurinho, Abella, Gino, Negri e Teixeirinha. Foram 24 jogos, com apenas duas derrotas e seis pontos perdidos.  O ataque marcou 70 gols e sofreu 21. 

              O segundo título foi em 1957, quando sagrou-se novamente campeão paulista. Neste ano, o Tricolor fez uma campanha maravilhosa. Dentre as inúmeras vitórias, teve uma contra a Ponte Preta por 6 a 2, com 4 gols de Gino. Neste ano de 1957 o título foi conquistado em cima do Corinthians. No primeiro turno, houve um empate de 1×1 e o ponta-direita Maurinho quebrou a perna do lateral-esquerdo Alfredo. Com isto, Luizinho “Pequeno Polegar” e Gino bateram boca.  A coisa ficou tão feia entre os dois que, no dia seguinte, quando os dois se encontraram por acaso na rua, o corintiano Luizinho acertou uma tijolada em Gino. O corte foi profundo e esguichava muito sangue.

             O fato ganhou manchete de jornais da época e o comunicador de televisão Manoel de Nóbrega, que apresentava um programa de reencontro entre desafetos, colocou Gino e Luizinho frente a frente, no ar. Antes disso, nos bastidores, a amizade dos boleiros já havia sido reatada. “Nos encontramos no café e o Luizinho, de braços abertos, me deu um grande abraço. O Luizinho só se irritava quando estava em campo”, recordava Gino. Mesmo com a reaproximação dos encrenqueiros, a imprensa fez questão de fomentar a briga do amistoso e a tijolada de Luizinho, para aumentar ainda mais a rivalidade daquela final de campeonato paulista.

            O Corinthians vinha fazendo uma campanha impecável naquele ano, invicta, mas perdeu para o Santos na penúltima rodada, deixando o São Paulo encostar. Na última rodada, os dois se enfrentariam no dia 29 de Dezembro de 1957 no Estádio Municipal do Pacaembu. O Timão tinha a vantagem do empate. Devido ao incidente do primeiro turno, o ambiente estava carregado. O trio de árbitros veio todo de fora. O juiz seria o carioca Alberto da Gama Malcher, e os bandeirinhas, os ingleses Cross e Lynch, que trabalhavam na Argentina. O São Paulo começou melhor e fez logo 1×0, com Amauri, aos 17 minutos do primeiro tempo.

            E a zaga corintiana nem teve tempo para se recuperar quando Canhoteiro aumentou, dois minutos depois. Rafael diminuiu aos 21 minutos, aumentando o suspense no Pacaembu lotado. E foi aos 34 minutos do segundo tempo que começou a confusão. Maurinho é lançado em posição duvidosa e marca na saída de Gilmar. Enquanto os corintianos protestavam, Maurinho teve a má ideia de passar a mão no rosto de Gilmar, como provocação. Nem um pouco feliz com a situação, o goleiro perdeu a cabeça, perseguiu o ponta e iniciou-se uma verdadeira confusão.  A torcida, enfurecida, atirava garrafas no gramado, em protesto. O jogo quase não termina.  Pelo incidente, a partida passou para a história como a “Noite das Garrafadas”. 

            Zizinho não concordava em ser considerado o melhor jogador do campeonato: para ele, esse mérito era todo de Canhoteiro. Neste dia o São Paulo jogou com; Poy, De Sordi, Mauro, Vitor e Sarará; Riberto e Zizinho; Maurinho, Amauri, Gino e Canhoteiro. Naquela final, Sarará substituiu Dino Sani, que estava contundido. O Corinthians contava com Gilmar; Olavo e Oreco; Isidoro, Valmir e Benedito; Cláudio, Luizinho, Índio, Rafael e Zague.

SELEÇÃO BRASILEIRA

              Gino Orlando vestiu a camisa da seleção brasileira nos anos de 1956 e 1957. Atuou em oito partidas e marcou três gols. Sendo um deles um golaço de bicicleta, contra a seleção de Portugal em 1956. Este jogo o Brasil venceu por 1 a 0 e aconteceu em Lisboa no dia 8 de abril de 1956. Este gol foi um fato histórico, pois foi o primeiro gol de bicicleta em território lusitano.

AMOR PELO TRICOLOR

              Gino parou de jogar pelo São Paulo em 1962, e em 1969 assumiu a função de administrador do estádio do Morumbi, função que ocupou até sua morte em 2003, sendo vítima de parada cardíaca, aos 75 anos. O ex-artilheiro nunca escondeu seu amor pelo São Paulo e depois que encerrou sua carreira,  durante muitos anos, quem entrava no saguão do Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, inevitavelmente deparava com um setuagenário dando uma ordem aqui ou deixando recomendações acolá. Ele era Gino Orlando, quase 1,80m de altura, rosto marcado pelo tempo e se gabava de ter sido o segundo maior artilheiro do São Paulo F.C. com 232 gols entre as décadas de 50 e 60, ficando atrás somente do Serginho Chulapa, que marcou 243 gols. 

             Gino foi um centroavante rompedor, que não tinha medo de zagueiros botinudos. Matreiro, sabia deixar a perna nas jogadas divididas. Era definido por muitos, como um jogador “grosso”, um típico atacante trombador, característica ainda mais acentuada haja vista seu biótipo forte. Gino era um guerreiro, um leão. Ele jogava o corpo de um lado para o outro e ia derrubando todo mundo, só usando a técnica. Fora do campo era bondoso e muito educado. Os torcedores do São Paulo e de todos os outros times perderam um grande craque. Era um jogador profissional com coração de amador. Também defendeu o Palmeiras, XV de Jaú, Comercial, Juventus e Portuguesa, mas nasceu e morreu são-paulino.

              Gino Orlando morreu dia 24 de abril de 2003, aos 75 anos. Ficou internado durante dois meses no Hospital do Coração, em São Paulo, onde foi submetido a uma cirurgia para correção de um aneurisma no tórax. Fica a saudade e a imagem dele na área do São Paulo ao lado de Canhoteiro.

             Hoje muitos são-paulinos nunca ouviram falar de Gino Orlando. É uma pena ele e Roberto Dias ficarem no esquecimento. Mas no coração de quem ama o futebol jamais serão esquecidos. Como torcedor do Corinthians, tiro o chapéu para Roberto Dias e Gino Orlando, pois mereciam uma estátua no Morumbi, porque com certeza, jogariam até de graça no São Paulo, pelo imenso amor que tinham pelo clube. Que eles fiquem na paz de Deus.

Em pé: Fernando Sátiro, Poy, Servilio, Ademar, Riberto e Vitor     –    Agachados: Peixinho, Dino Sani, Gino, Gonçalo e Roberto
Em pé: De Sordi, Ademar, Clélio, Vicente, Riberto e Mauro   –   Agachados: Maurinho, Roberto, Gino, Zizinho e Canhoteiro
Em pé: De Sordi, Poy, Dino Sani, Riberto, Gérsio e Ademar     –   Agachados: Cláudio, Paulo Lumumba, Gino, Bibe e Canhoteiro
Em pé: Djalma Santos, De Sordi, Nilton Santos, Gilmar, Zózimo e Roberto Belangero    –   Agachados: Sabará, Walter, Gino, Didi e Canhoteiro
Em pé: De Sordi, Riberto, Dino Sani, Servilio, Albertino e Vitor    –   Agachados: Peixinho, Paulo Lumumba, Gino, Celso e Agenor
Em pé: Djalma Santos, Cabeção, Martim, Riberto, Waldemar Fiume e Bauer    –   Agachados: Maurinho, Zézinho, Gino, Jair Rosa Pinto e Pépe
Em pé: Djalma Santos, Poy, Ferando Sátiro, Gildésio, Riberto e Vitor    –   Agachados: Julinho, Almir, Gino, Gonçalo e Canhoteiro
Em pé: Alfredo Ramos, Pé de Valsa, De Sordi, Poy, Mauro e Bauer     –    Agachados: Lanzoninho, Negri, Gino, Baiano e Teixeirinha
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