NELINHO: brilhou no Cruzeiro e no Atlético Mineiro

                    Manoel Rezende de Matos Cabral nasceu dia 26 de julho de 1950, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Nelinho, como ficou conhecido nos meios futebolísticos, foi um dos primeiros laterais modernos do futebol brasileiro, pois além da marcação, fazia a armação de jogadas, cruzamentos, finalizações e era o batedor de faltas e pênaltis oficial do time. Mesmo sendo um lateral acabou se tornando um artilheiro com 103 gols, sendo, até hoje, o 13º maior goleador da história do Cruzeiro. Tinha um chute muito forte, tanto é, que até rendeu uma matéria de TV em que Nelinho chutou uma bola para fora do estádio do Mineirão. Tinha realmente um canhão no pé direito e isto o ajudou a marcar muitos gols de falta. O mais bonito e importante de todos, talvez tenha sido aquele contra a Itália no mundial de 1978, quando nós conquistamos o 3º lugar ao vencermos por 2 a 1, com gols de Nelinho e Dirceu.

INÍCIO DE CARREIRA               

                   Passou pelo Olaria, mas seu primeiro contrato profissional foi assinado com o Bonsucesso. Lá, foi comandado pelo ex-craque Amaro (América, Corinthians, Juventus, da Itália, e Portuguesa), técnico que Nelinho agradeceu pelos conselhos até o fim de sua carreira. O jovem lateral-direito, que depois faria história na seleção brasileira, teve também uma rápida passagem por Portugal, antes mesmo de se firmar como craque no Brasil. Logo em seguida, passou oito meses no futebol venezuelano, experiência que classificou como inútil em sua vida. Em 1972 foi contratado pelo Remo (PA) e disputou o campeonato paraense e o campeonato Brasileiro da primeira divisão. No estadual se sagrou campeão e no brasileiro fez 10 partidas, só tendo perdido 2. Naquela época, o Cruzeiro precisava de um lateral-direito para substituir a Pedro Paulo, que havia encerrado a carreira, e tentou a contratação do Aranha, que era o titular da lateral direita no Clube do Remo. Durante a transação, porém, o Cruzeiro perdeu a disputa para o rival Atlético. Para não voltar sem ninguém, resolveu trazer Nelinho, reserva de Aranha, que batia faltas muito bem. O destino selou a carreira de Manoel Rezende, o nosso Nelinho.

CRUZEIRO

                  Sua estreia com a camisa do Cruzeiro foi contra o Nacional de Muriaé. A Raposa já vencia por 3 a 0 e houve uma falta perto da área. Nelinho ainda não tinha fama de bom batedor e outro jogador foi designado para a cobrança. Ele rolou para o lateral-direito desconhecido da torcida que pela primeira vez mostrou o seu ‘canhão’: 4 a 0. Começava a surgir um novo ídolo.  Seu segredo sempre foi o treino exaustivo. “Quando eu tinha apenas oito anos de idade, não largava a bola o dia inteiro. No meu time, também queria cobrar todas as faltas e escanteios. Se não tivesse ninguém para brincar, chutava a bola sozinho durante horas”, conta. Por não ser um lateral de origem, teve de trabalhar muito para se adaptar à posição. “Eu tinha dificuldades na marcação.

                 No começo, tinha problemas quando pegava um ponta ciscador pela frente”, lembra Nelinho. Mas rapidamente se entrosou com o ponta direita Roberto Batata formando uma dupla forte na ala direita do time. Uma jogada entre ambos ajudou o time a estraçalhar os adversários e conquistar o tetra campeonato mineiro de 1972 a 1975. Nelinho lançava Batata pela direita, que saía em diagonal nas costas do lateral, e ficava em frente ao zagueiro. Aí, era só passar pelo adversário e estar na cara do gol ou cruzar para a área. Mas foram as cobranças de falta, que tornaram Nelinho um dos maiores ídolos do clube. A violência do chute e o efeito que fazia na trajetória da bola, ainda são inesquecíveis para a nação cruzeirense, que cansou de assistir grandes goleiros do futebol brasileiro serem impiedosamente massacrados por Nelinho.  

                 No Brasil haviam vários jogadores com esta especialidade, mas o lateral cruzeirense era o único que sabia executar a certeira “folha seca”.  “Eu tenho consciência de que apareci muito pelos gols que fazia, principalmente os de falta. Se fosse somente pela minha técnica e minhas qualidades como marcador e apoiador, talvez nunca chegasse à seleção brasileira”, avalia Nelinho, que também acha que o fato de jogar em Minas Gerais colabora para que alguns jogadores apareçam menos. Além do tetra 1972 a 1975, Nelinho conquistou o título mineiro de 1977 e também a Taça Libertadores da América em 1976, que tinha na época o seguinte time: Raul, Nelinho, Darci Menezes, Moraes e Vanderlei; Piazza, Zé Carlos e Eduardo; Jairzinho, Palhinha e Joãozinho. Depois de vencer quatro campeonatos mineiros e uma Copa Libertadores para o Cruzeiro, Nelinho caiu em desgraça no clube. Perseguido e marginalizado na Toca da Raposa, acabou sendo vendido para o maior rival, o Atlético-MG, como se fosse um traste.

ATLÉTICO

                  Nelinho chegou ao Atlético em 1982, já com 32 anos de idade. Mesmo assim foi peça importante em um dos maiores times da história do Galo. No Atlético, ele ganhou outros quatro campeonatos Mineiros. No Galo, ele recuperou seu futebol e renasceu. “Minha dignidade estava em jogo”, avalia. Irritado com a forma humilhante como deixou o Cruzeiro, o lateral criticou Felício Brandi, ex-presidente do clube. “Ele pensava que estava empurrando um bagulho e achava que eu não acertaria no Atlético-MG. Ele deu azar porque encontrei um bom ambiente, onde pude me desenvolver “, conta. Com a camisa alvinegra, foi titular em todas as vezes que atuou – 274 jogos – e marcou 52 gols e nesse período sagrou-se campeão mineiro em 1982, 83, 85 e 86.

SELEÇÃO BRASILEIRA

                   A sua estréia na seleção canarinho foi em 28 de abril de 1974, num jogo amistoso contra a Grécia. Este jogo foi realizado no Maracanã e terminou empatado em zero a zero. E a sua última partida pela nossa seleção, aconteceu no dia 29 de junho de 1980, quando o Brasil empatou com a Polônia em 1 a 1. O jogo foi realizado no Pacaembu e o gol brasileiro foi anotado por Zico.

Foi campeão com a nossa seleção em 1976, quando disputou a Taça Atlântico. Mas a sua maior alegria no futebol foi ser convocado para a Copa de 1974 depois que Carlos Alberto Torres foi cortado por Zagallo. Foi reserva de Zé Maria, que na época atravessava uma grande fase jogando pelo Corinthians. Mas no mundial seguinte disputado na Argentina, Nelinho estava lá novamente como reserva de Zé Maria, mas chegou a jogar a decisão do terceiro lugar contra a Itália. Este jogo aconteceu no dia 24 de junho de 1978 e o Brasil venceu por 2 a 1. Os gols brasileiros foram marcados por Nelinho e Dirceu, enquanto que para a Itália, Causio marcou o único tento da partida. 

                O gol de Nelinho foi memorável, pois a curva impressionante daquela bola fez Nelinho entrar para a história do futebol. Nelinho avançou pela direita e chutou forte para a área. O goleiro Dino Zoffi esperava um cruzamento, mas a bola ganhou um efeito contrário e entrou para o gol.  A Seleção não venceu a Copa, mas Nelinho deixou para o mundo a sua marca, com um dos mais belos gols da história dos mundiais.  Ao todo Nelinho realizou 24 jogos com a camisa canarinho, marcou seis gols e participou de duas Copas do Mundo (1974 e 1978).  

               Apesar de, com o tempo, ter se desenvolvido tanto na marcação quanto no apoio ao ataque, Nelinho ficou conhecido mesmo por ser um preciso cobrador de falta, dono de um chute muito potente. A fama de seu ‘canhão’ rendeu até uma inesquecível matéria feita pela TV Globo, em que o lateral chutava uma bola para fora do estádio do Mineirão. Nelinho batia na bola como ninguém, com força, jeito e com muito veneno. Várias vezes a bola fazia a curva já em cima do goleiro deixando-o desconcertado. Que o digam Manga, do Internacional; Gatti, do River Plate e principalmente Dino Zoff, da Itália, em plena Copa de 78, na Argentina. Muitas outras faltas de Nelinho não entraram, mas deixaram a torcida adversária preocupada e ao mesmo tempo aplaudindo o seu talento.

               Já Didi não vi jogar. Sei que foi o melhor jogador da Copa de 58, na Suécia, mesmo com Pelé sendo coroado para o Mundo na mesma época. Só esse dado mostra que jogava muito. Além de seus chutes fortes, Nelinho deixou seu nome marcado também pela sua consciência. Apesar de ser taxado de polêmico por alguns, nunca foi irresponsável. No final da carreira, ajudou a diminuir o preconceito contra os jogadores com mais de 30 anos. Na década de 80, já acusava os dirigentes de serem o maior mal do futebol. “Eles são escolhidos por serem amigos dos presidentes ou por terem dinheiro para avalizar os negócios dos clubes. Nunca por entenderem do esporte”, dizia, na época. Nelinho recebeu a Bola de Prata da Revista Placar por quatro vezes; em 1975, 79, 80 e 83.  Aos 36 anos, já era deputado estadual pelo PDT e apontava os problemas e soluções para o esporte. Hoje é comentarista da SporTV  lá em Belo Horizonte.

Em pé: Nelinho, Darci Menezes, Piazza, Raul, Perfumo e Vanderlei      –      Agachados: Juninho, Zé Carlos, Palhinha, Dirceu Lopes e Joãozinho 
Em pé: Zé Carlos, Nelinho, Procópio, Renato, Perfumo e Vanderlei      –     Agachados: Joãozinho, Palhinha, Valdo, Dirceu Lopes e Lima
Em pé: Nelinho, Marinho Chagas, Leão, Luís Pereira, Piazza e Marinho Perez      –      Agachados: Jairzinho, Paulo César Carpegiani, Leivinha, Rivelino e Edu 
Em pé: Nelinho, Leão, Oscar, Amaral, Batista e Rodrigues Neto      –     Agachados: Gil, Toninho Cerezo, Jorge Mendonça, Roberto Dinamite e Dirceu

 

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