ARI CLEMENTE: campeão carioca pelo Bangu em 1966

                Ari Paulino Clemente da Silva nasceu dia 7 de janeiro de 1939, na cidade de Araraquara-SP. Jogou no Corinthians de 1958 até 1964. Depois foi jogar no Bangu do Rio de Janeiro, onde em 1966 sagrou-se campeão carioca, num jogo tumultuado e que entrou para a história, não só do clube de Moça Bonita, mas também pela verdadeira guerra campal que aconteceu naquele dia 18 de novembro de 1966 em pleno Maracanã, quando o Bangu derrotou o Flamengo por 3 a 0. Defendeu também nossa Seleção Brasileira em um jogo amistoso contra o Paraguai no dia 29 de junho de 1961, atuando os noventa minutos. Neste dia o Brasil venceu por 3 a 2, gols de Dida, Henrique e Joel. O jogo foi no Maracanã. Ari Clemente entrou para a história depois de um jogo amistoso que o Corinthians fez contra a Seleção Brasileira. Neste jogo Ari deu uma entrada violenta em Pelé, que ao sair de campo jurou que o Corinthians iria ser campeão somente depois que ele parasse de jogar, e foi exatamente isto que aconteceu.

INÍCIO DE CARREIRA

               Ari Clemente começou nos infantis do Corinthians, onde se profissionalizou no final dos anos 1950. Sua primeira partida como profissional aconteceu dia 13 de abril de 1958, num jogo em que o Corinthians empatou com o Santos em 2 a 2. Os gols do Timão foram marcados por Paulo e Zezé, enquanto que para o Peixe, Pagão marcou os dois gols. Neste dia o Corinthians jogou com; Aldo, Idário, Olavo, Goiano e Ari Clemente; Benedito e Rafael; Bataglia, Luizinho, Paulo e Zezé. O técnico era Cláudio, que até hoje é o maior artilheiro do Corinthians, com 305 gols. Três dias depois, ainda pelo Torneio Charles Miller, o Corinthians goleou o São Paulo por 5 a 1.

               Um mês depois, o Corinthians fez um jogo amistoso contra nossa Seleção Brasileira, que estava se preparando para a Copa de 58 na Suécia. O jogo foi dia 21 de maio no estádio do Pacaembu e a nossa seleção jogou com; Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nilton Santos; Zito (Dino Sani) e Didi; Garrincha, Mazzola, Pelé (Vavá) e Pepe. O jogo terminou com a vitória da seleção canarinho por 5 a 0, gols de Garrincha (2), Pepe (2) e Mazzola. Como puderam perceber, Vavá entrou no lugar de Pelé e isto aconteceu devido a uma entrada violenta do lateral Ari Clemente, que o tirou de campo. Com isto Pelé ficou de fora dos dois primeiros jogos da nossa seleção no mundial daquele ano. Pelé ficou tão irritado com aquela atitude do zagueiro corintiano, que ao sair do gramado disse “esse time só será campeão depois que eu encerrar minha carreira”. Dito e feito, Pelé parou de jogar dia 1 de outubro de 1977 e o Corinthians só voltou a ser campeão dia 13 de outubro de 1977, exatamente 12 dias depois.

               A última partida de Ari Clemente pelo Corinthians aconteceu dia 29 de junho de 1964, quando o alvinegro goleou o time da General Motors num jogo amistoso por 6 a 0, gols de Osmar (2), Manoelzinho, Davi, Amaro e Lima. Neste dia o Corinthians jogou com; Cabeção, Augusto, Toni, Jorge e Ari Clemente; Amaro e Ferreirinha; Davi, Manoelzinho, Osmar e Lima. O técnico era Roberto Belangero, que também foi outro ídolo da torcida corintiana.  Com a camisa do alvinegro de Parque São Jorge, Ari Clemente disputou 294 partidas. Venceu 157, empatou 59 e perdeu 78. Não marcou nenhum gol e também não conquistou nenhum título.

BANGU

               Ao deixar o Corinthians, foi contratado pelo Bangu do Rio de Janeiro, onde finalmente iria soltar o grito de campeão. Isto aconteceu dia 18 de novembro de 1966, quando o time de Moça Bonita decidiu o título com o Flamengo. Na época o Bangu tinha um grande time: Ubirajara, Fidelis, Luiz Alberto, Mário Tito e Ari Clemente; Jaime e Ocimar; Paulo Borges, Cabralzinho, Ladeira e Aladim. E foi com este time que o Bangu sagrou-se campeão carioca de 1966. Começou o jogo e o Bangu marcou dois gols em três minutos, entre os 23 e 26 do primeiro tempo. O Bangu virou o primeiro tempo com a vantagem de 2×0, gols de Ocimar e Aladim. Naquele dia Paulo Borges fazia misérias, justificando seu apelido de Gazela. Logo aos três minutos, Paulo Borges fez o terceiro gol.

              Com 3 a 0 era o fim. Inconformado com o placar, o atacante rubro-negro Almir, partiu para a violência e começou uma verdadeira guerra campal no gramado do Maracanã. O juiz Airton Vieira de Moraes acabou cumprindo o seu papel: expulsou cinco jogadores do Flamengo e quatro do Bangu. Com isso, o Flamengo ficava com seis jogadores no campo e o jogo não podia prosseguir. Sansão deu a partida por encerrada, e o Bangu campeão. E assim, de forma lamentável terminou o campeonato carioca de 1966.

FORA DAS QUATRO LINHAS

               Ari Clemente encerrou sua carreira em 1971, mas antes ainda defendeu o Saad, de São Caetano do Sul. Após pendurar as chuteiras, trabalhou como segurança de diretoria para o Banco Safra por vinte anos. Numa quarta-feira, quatro e meia da tarde, o ex-craque Ari Clemente abriu sua casinha de quarto, sala, cozinha e banheiro, no Imirim, zona norte de São Paulo, e deu uma entrevista emocionante. Ao entrar em sua modesta casa, lá estava ele, encolhido no sofá da sala, as pernas juntas equilibrando uma bandeja, e se fartando de duas mangas coração-de-boi, e foi logo dizendo “Senta. Não repara na bagunça. Eu ia começar a ver o jogo do Barcelona.” A “bagunça” eram os bordados, almofadas e toalhas que a dona Elenita, mulher do Ari, uma alagoana arretada, faz para engrossar a renda familiar. “Hoje em dia o meu véio é craque nisso aqui, ó”, ela se empolga, esticando uma bolsinha preta com miçangas brancas, autoria do casal. “Ele me ajuda muito, sabe? Corta os panos, vai comigo na 25 de Março comprar as coisas…” Nesse momento Ari Clemente dá um sorriso  bem encabulado.

              Depois, Ari começa a falar de sua carreira “Eu era um lateral-esquerdo parrudo, de 1,80m e 83 kg, nada a ver com esses de hoje, que vão ao ataque, fazem cruzamentos, gols e outros bichos. Eu era marcador de ponta-direita. Tinha uma missão simples e única: impedir a passagem do atacante adversário que vinha com gracinhas por aquela beirada do campo”. E o Ari pegou muitos engraçadinhos pela frente, os melhores que o Brasil já teve: Garrincha (Botafogo), Jair da Costa (Portuguesa), Dorval (Santos), Joel (Flamengo) e Julinho (Palmeiras). “O Garrincha era o mais complicado. Quando parava na minha frente eu sabia direitinho o que ele ia fazer, por onde ia escapar. Porque, vou te dizer, eu não era um João dele, não. Eu era esperto.

              Mas, mesmo assim, quem disse que dava pra parar o homem?” O Ari não alisava. Se era para frear alguém, ele conjugava o verbo em todas as pessoas e declinações. Subiu balão, desceu balão e lá estava o Ari dando chutão. Ele jogava firme, chegava junto. Sem muita técnica, mas sem maldade também. Era um bom defensor. Forte e sério. As mãos do Ari são enormes. Os cabelos, grisalhos e poucos. Os olhos estão meio embaçados, mas a queixada é a mesma de antigamente. A boca exagerada também. O corpo de 74 anos continua musculoso. E os chinelos pretos de couro, desmanchando de tão velhos.

               Quanto ao Ari, quase todas as memórias futebolísticas que ele tinha a água levou, numa enchente de meio muro que anos atrás estragou fogão e geladeira e esfarelou suas fotos e recortes de jornais. As lembranças que sobraram devem estar guardadas no relógio em forma de escudo do Corinthians pendurado na parede da sala. É para ele que o Ari olha sem ver enquanto dá a sua versão dos fatos daquele jogo entre Corinthians e Seleção Brasileira. “Estava garoando. A seleção atacava para o gol da concha acústica e o Pepe bateu uma falta para dentro da área. A bola não pingou, porque a grama estava molhada. Ela bateu no chão e deslizou. Eu fui de sola para afastar a bola dali, da entrada da área, perto da meia-lua. Então o Pelé surgiu chutando. Mas em vez de acertar a bola ele acertou meu pé esquerdo. Eu não quis machucar. O negócio é que ele, ainda menino, não tirava o pé de dividida. O juiz nem deu falta.”

              Certa vez, Zito disse numa entrevista. “Não foi por causa dessa contusão que o Pelé começou a Copa no banco. Ele fez tratamento quando paramos na Itália e já chegou recuperado à Suécia. Só entrou na terceira partida por opção do (técnico) Vicente Feola. Se há algo de que o Ari pode ser acusado é de ter jogado mal pra burro naquele dia”. A edição do Estadão da manhã seguinte anotou que ele fez um pênalti em Garrincha (Didi bateu pra fora) e também bobeou num dos gols do Pepe. Além de quê, Sua Majestade já concedeu clemência ao Ari. Em 2008, Pelé disse: “Quando tive a contusão, que foi casual, começaram a dizer que o Ari Clemente foi maldoso, mas ele não teve intenção”.

             Hoje, Ari prefere falar dos tempos em que trabalhou no Banco Safra e, depois, como vigia na casa de um dos seus diretores. “Joguei bola dez anos. Trabalhei mais 20 depois. E foi por causa desses 20 que comprei um teto e posso ter a minha aposentadoriazinha (R$ 2.000 por mês). Até o meu primeiro carro, um Corcel II, só fui ter nos tempos do banco, quando me sortearam numa rifa. Eu ia pros treinos de ônibus. O futebol não me deu dinheiro.” Araraquarense, filho de um maquinista e uma quituteira, oito irmãos, pai de três filhos e cinco netos, o Ari virou um camarada religioso e feliz com o que a vida lhe deu.

Em pé: Mário Tito, Ubirajara, Luis Alberto, Ari Clemente, Fidélis e Jaime   –    Agachados: massagista Pastinha, Paulo Borges, Cabralzinho, Ladeira, Ocimar e Aladim
Em pé: Djalma Santos, Jadir, Waldemar Carabina, Gilmar, Zequinha e Ari Clemente   –    Agachados: Mário Américo (Massagista), Joel, Dida, Henrique Frade, Chinesinho e Babá
Em pé: Ari Clemente, Olavo, Walmir, Cabeção, Oreco e Roberto Belangero   –    Agachados: Miranda, Paulo, Zague, Luizinho e Tite
Em pé: Valmir, Oreco, Aldo, Amaro, Eduardo e Ari Clemente     –    Agachados: Marcos, Manuelzinho, Nei, Bazani e Lima
Em pé: Augusto, Oreco, Amaro, Eduardo, Ari Clemente e Heitor   –     Agachados: Davi, Nei, Silva, Ferreirinha e Lima
Em pé: Augusto, Oreco, Cabeção, Cássio, Eduardo e Ari Clemente    –     Agachados: roupeiro Irineu, Bataglia, Silva, Nei, Rafael e Ferreirinha   –  Parque São Jorge completamente lotado
Em pé: Oreco, Ari Clemente, Olavo, Egídio, Cabeção e Roberto Belangero    –     Agachados: Lanzoninho, Luizinho, Joaquinzinho, Rafael e Guimarães
Em pé: Aldo, Ferreirinha, Oreco, Augusto, Eduardo e Ari Clemente    –    Agachados: Espanhol, Manoelzinho, Nei, Rafael e Gelson.

Em pé: Cabeção, Ari Clemente, Olavo, Oreco, Roberto Belangero e Ivan    –     Agachados: Bataglia, Paulo, Índio, Rafael e Tite.
Em pé: Cabeção, Olavo, Ari Clemente, Valmir, Idário e Roberto Belangero   –    Agachados: Roberto Bataglia, Rafael, Índio, Zague e Tite
Em pé: Amaro, Oreco, Cláudio, Eduardo, Ari Clemente e Heitor    –    Agachados: Marcos, Davi, Silva, Bazani e Lima.
Em pé: Augusto, Oreco, Aldo, Amaro, Eduardo e Ari Clemente     –    Agachados: Marcos, Davi, Nei, Bazani e Lima
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