GIOVANNI: brilhou no Santos, no Barcelona e no Olympiakos da Grêcia

                       Giovanni Silva de Oliveira, ou simplesmente Giovanni, nasceu em Belém no dia 4 de fevereiro de 1972.. Meia-atacante de estilo clássico e elegante, dono de grande domínio de bola, passes bons e rápidos, dribles e finalização precisa.

                       Giovanni viveu fases extraordinárias na carreira ao mesmo tempo em que sofria críticas quanto a suposta “lentidão” em campo. Embora não jogasse em uma posição propriamente goleadora, também demonstrou dotes de artilheiro, como no Campeonato Paulista de 1996, onde foi quem mais marcou 24 gols.

                       Chegou a ser artilheiro também de uma edição do campeonato grego, pelo Olympiakos, um dos clubes em que foi um grande ídolo e onde passara a se posicionar de forma mais ofensiva.  Defendia que “futebol precisa ter um tempero especial, não é só feijão com arroz. Tem que ser ousado, tem que tentar, mesmo que perca o lance”. 

                       Ademir da Guia, também famoso pela “falsa lentidão”, declarou que “ele pode não parecer veloz, mas sempre chega na hora certa e engana o adversário. É um craque e ainda sabe fazer gol”, e outro paraense, Sócrates, assinalou que Giovanni jogava “solto, voltado para o gol, tem um passe excepcional e uma visão de jogo sem igual”, visão esta amplificada por sua posição ereta e cabeça erguida. Como ele, Giovanni era alto, mas com pé pequeno, que no meio do futebol traz convicção de um jogador bastante técnico.

                      A movimentação aparentemente lenta eram provocada pelo comprimento longo dos seus passos, permitindo-lhe cobrir uma grande distância com poucas passadas. Giovanni, que sabia usar seu tamanho incomum para proteger-se de roubadas de bola inclusive obstruindo-a da visão dos adversários, aproveitava a sensação que causava de “ser sonso” para driblá-los colocando-lhes a bola entre as pernas quando eles esticavam uma delas para tentar tirarem-na dele.

                       Giovanni consagrou-se nacionalmente a partir de 1995, com um repertório de dribles, passes, chutes e um domínio de bola no peito (popularmente chamado de “matada”) que, segundo Rivelino, lembrava Pelé, abrindo bem os braços, que lhe deixavam com 1,90 metros de envergadura. 

                        Foi eleito o melhor jogador do Brasileirão daquele ano, em que chegou também à seleção brasileira. Foi apelidado de “Messias”, originou uma torcida organizada chamada de “Testemunhas de Giovanni“, foi considerado por anos o maior craque santista desde o tempo do próprio Pelé ] e um ano depois transferiu-se ao Barcelona,] onde também teve destaque. 

                        Vice-campeão mundial com o Brasil na Copa do Mundo FIFA de 1998, ele também está entre os jogadores que defenderam os três grandes clubes do seu Estado natal do ParáTuna LusoRemo e Paysandu.

SANTOS F.C.

                         Contratado sem qualquer alarde pelo Santos no final de 1994, Giovanni, um jogador alto e extremamente tímido, chegou em um dos piores momentos da história do time da Vila Belmiro. Afundado em dívidas, com pouco dinheiro para grandes contratações e enfrentando um longo jejum sem títulos, o Santos não teve outra solução na época a não ser apostar em jogadores desconhecidos. 

                          Giovanni realizou exames clínicos e trabalhos físicos orientados pelo ex-preparador do Paysandu, Cléber Augusto, ganhando musculatura.] Sua estreia pelo Santos aconteceu em 22 de outubro de 1994, contra o Botafogo-RJ pelo Brasileirão de 1994, sob o comando do treinador Serginho Chulapa, após três meses de treino sem nenhuma chance na equipe principal. Ainda enfrentava desconfiança geral, mas a lesão de alguns titulares lhe permitiu um lugar naquele dia.

                          Chegou tímido e desconhecido, com uma inibição que lhe fazia até gaguejar em entrevistas, algo que já haviam rendido piadas maldosas no Pará (“o Giovanni é lento porque é gago ou é gago porque é lento?”). Mas destacou-se no Brasileirão daquele ano: a Revista Placar o colocou como quarto melhor meio-campista do torneio, nas premiações da Bola de Prata (vencida somente pelos dois primeiros). 

                            Satisfeito, o Santos o comprou da Tuna Luso por 300 mil reais. Curiosamente, em sua primeira visita a Belém para jogar pelo novo clube, terminou expulso, contra o Paysandu. A estreia pela seleção brasileira deu-se já em 17 de maio de 1995, em vitória por 2×1 sobre Israel. Curiosamente, entrou na partida substituindo Túlio Maravilha. Semanas depois, integrou o Brasil campeão da Copa Umbro.

                             Em agosto de 1995, antes mesmo do Brasileirão que o consagraria, ele já inspirava devoção de alguns jovens santistas da PUC de São Paulo, que inspirados nele e nas Testemunhas de Jeová, criaram a torcida “Testemunhas de Giovanni”. “É um carinho que me motiva muito”, declarou o jogador. Na época, também era dado como opção para os Jogos Olímpicos de Verão de 1996. Já no Campeonato Brasileiro, liderou o Santos, enfraquecido nacionalmente havia anos e anos.

                             O elenco, no início, não empolgava. “Peguei a equipe desmotivada, desacreditada e sem nenhuma vitória na quinta rodada do Brasileiro. Impus treinamentos em dois períodos, o que mexeu com os costumes dos jogadores. As críticas da imprensa eram muito pesadas em cima de mim e dos jogadores. Então foi feito um pacto no ônibus após um empate com o Juventude, em Caxias do Sul: a equipe alcançaria pelo menos as semifinais.

                            Mas as vitórias foram se sucedendo, o elenco ganhou confiança a ponto de realizar uma partida maravilhosa com o Fluminense“, declarou o treinador Cabralzinho. O time encontrou boa fase justamente na reta final, conquistando o país, com Giovanni terminando como o vice-artilheiro do torneio, com 17 gols, com atuações que fizeram público e crítica aprová-lo como um dos últimos a honrarem a camisa 10 outrora vestida por Pelé

                           A mania gerada por Giovanni fez com que muitos torcedores pintassem o cabelo de vermelho como ele, que fez isso após a classificação para as semifinais, o que lhe valeria também uma campanha publicitária para um produto de tintura.

                           O maior momento na campanha ocorreu justamente nas semifinais, contra o Fluminense. No jogo de ida, no Rio de Janeiro, o Tricolor venceu por 4×1, dando a impressão de que já estava praticamente garantido na decisão. O jogo de volta foi tido como um dos maiores jogos do Brasileirão desconsiderando finais e Giovanni foi o grande protagonista. 

                           Mesmo desfalcado de Vágner e Jamelli, o Santos foi para cima e aos 25 abriu o placar, com Giovanni convertendo pênalti sofrido por Camanducaia. Cinco minutos depois, Giovanni marcou seu segundo, livrando-se de um zagueiro e, acossado por outro, chutando com o bico do pé para acertar o canto.

                           O jogo também é lembrado pelo intervalo, em que o treinador Cabralzinho decidiu manter os jogadores em campo em vez de irem aos vestiários a fim de que continuassem a sentir a energia vinda da torcida e passar-lhes as instruções ali mesmo. Com 5 minutos do reinício, Macedo ampliou para 3×0 após passe de Giovanni na área, mas em dois minutos o Fluminense conseguiu um gol que àquela altura voltava a lhe deixar classificado.

                           Aos 17 minutos, Giovanni roubou bola de Alê e criou jogada para gol de Camanducaia e, aos 37, deu um passe de calcanhar  (que usava aproveitando seu corpanzil para cobrir a visão adversária da bola e assim enganar marcadores) para Marcelo Passos chutar de curva e marcar os 5×1.

                           Na narração da TV bandeirantes, o saudoso locutor Luciano do Valle, assim comentou: “Um lance que lembrou Édson Arantes do Nascimento”. Rogerinho, que já havia feito o primeiro gol dos cariocas, diminuiu aos 39, devolvendo para os minutos finais algum drama, encerrado com o Santos comemorando como se já fosse o campeão. A Revista Placar apontou este como o 11º dos 40 jogos mais emocionantes que acompanhou nos 40 anos da revista.

                           Por aquela atuação, Giovanni recebeu nota 10 em avaliação da Placar, que justamente a partir daquele ano havia estabelecido critérios mais rigorosos para notas altas. Só outros três jogadores receberam a nota máxima desde então: Edmundo pelo Vasco da Gama contra o Flamengo em 1997, ao marcar três gols na semifinal e bater o recorde de gols de Reinaldo em um único Brasileirão; Dida, ao defender pelo Corinthians na semifinal de 1998 dois pênaltis muito bem cobrados por Raí, principal astro do arquirrival São Paulo; e Rogério Ceni em um 2-2 contra o Cruzeiro em 2006, ao defender um pênalti e marcar os dois gols do seu São Paulo, gols que também lhe fizeram ultrapassar José Luis Chilavert como maior goleiro-artilheiro do mundo.

                            A decisão foi contra o Botafogo, permitindo uma nostalgia direcionada à época de PeléGarrincha e outros astros que passaram pelos finalistas. O clube carioca venceu no Rio de Janeiro por 1×0, resultado que se revertido teria dado o título ao Santos pela melhor campanha. Uma arbitragem conturbada de Márcio Rezende de Freitas, que anulou um gol legal de Camanducaia mas validou um gol irregular para cada equipe influiu para que o resultado terminasse em 1×1, que deu o título ao Botafogo.

                            Apesar da decepção, as atuações de Giovanni no torneio renderam-lhe a Bola de Ouro da Placar, de forma incontestável. Foi inclusive maquiado para aparecer todo dourado em reportagem da revista. Mesmo não sendo um atacante nato, ele foi o quarto que mais marcou gols naquele ano no futebol brasileiro, 40, atrás de Túlio, Jardel e Romário, todos atacantes.

                            No ano seguinte, em 1996, chegava à marca de cem gols na carreira, em outra partida contra o Botafogo de Ribeirão Preto pelo Paulistão. Terminou artilheiro do certame, com 24 gols  e acabou vendido ao Barcelona. Giovanni foi um dos primeiros brasileiros vendidos por uma quantia menos baixa ao futebol europeu, algo comum até então. Foi vendido por 10 milhões de dólares, sendo a quinta contratação mais cara do mundo na época.

                            O montante da venda permitira ao Santos a reestruturar a Vila Belmiro e reconstruir seu limitado time. Mas a perda humana de Giovanni foi por anos difícil de ser reparada. O humorista Bussunda chegou a brincar em 1996 que “depois do vice-campeonato do ano passado, os dirigentes santistas chegaram à conclusão de que não querem mais ver o Peixe nadando, nadando e morrendo na praia. Para resolver essa situação, venderam Giovanni, assim não correm nem o risco de chegar perto da praia… No Santos, as saudades só passariam a ser amenizadas a partir de 2002, com o surgimento da dupla Diego e Robinho.

                            Nos clássicos pelo Santos, Giovanni marcou cinco vezes no Corinthians (um em 2×2 e outro em derrota por 4×2 pelo Paulistão de 1995, um em 3×1 amistoso em janeiro de 1996 e dois em 3×2 pelo Paulistão de 1996), além dos dois gols no clássico anulado pelo Brasileirão de 2005; um no Palmeiras, em 2×2 pelo Paulistão de 1995; e quatro no São Paulo (dois em 2×1 em amistoso de julho de 1995 e outros dois em duas derrotas por 2×1 cada pelo Paulistão de 1996).

                             Depois Giovanni ainda brilhou no Barcelona, no Olympiakos e na Seleção Brasileira, onde disputou 20 jogos e marcou 6 gols.

Em pé: Narciso, Marquinhos Capixaba, Galo, Vágner, Marcos Paulo e Edinho    –     Agachados: Robert, Carlinhos, Jamelli, Giovanni e Marcelo Passos
1995   –   Em pé, Narciso, Carlinhos, Marquinhos Capixaba, Ronaldo Marconato, Marcos Adriano e Edinho    –      Agachados: Giovani, Jamelli, Robert, Camanducaia e Marcelo Passos
Em pé: Edinho, Marcelo Moura, Gallo, Marcelo Fernandes, Marcos Paulo e Silva    –    Agachados: Giovani, Macedo, Jamelli, Carlinhos e Marcelo Passos
Giovanni no final da década de 1990, com a camisa do Olympiakos, da Grécia
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