BELLINI: nosso capitão na conquista do mundial de 1958

Hideraldo Luis Bellini nasceu dia 7 de junho de 1930 na cidade de Itapira (SP).  São poucas as pessoas no mundo que podem se orgulhar de ter criado algo, um produto, uma fórmula, um objeto e, até mesmo um gesto. Assim como surgiu o cumprimentar de mãos, o abraço, o beijo no rosto, Bellini pode se orgulhar de ter feito pela primeira vez um movimento que alegra dos mais jovens aos mais idosos, do mais rico para o mais pobre. Graças a ele, foi criado um dos gestos mais significativos do futebol e, até mesmo, dos outros esportes; o levantar da taça de campeão.

                  Os brasileiros em especial, jamais esquecerão daquele gesto feito por Bellini no dia 29 de junho de 1958, dia em que conquistamos o primeiro título mundial, ao vencermos a Suécia por 5 a 2. Foi uma copa que jamais esqueceremos, pois foi neste mundial que o mundo conheceu Pelé, Garrincha, Gilmar e também o nosso capitão que orgulhosamente levantou a taça de campeão. Por isso, Bellini será eternamente lembrado por todos nós.

INFÂNCIA E JUVENTUDE 

                  Bellini ainda era um garoto quando começou a dar os primeiros chutes nas ruas de terra de Itapira, no interior paulista, sua cidade natal. Fazia a bola com as meias e usava os sapatos como traves. Aos domingos, a diversão era se reunir na Praça Central para escutar os clássicos do Pacaembu, pelo rádio. Cresceu escutando nomes como Domingos da Guia e a idéia de virar zagueiro já ia formigando em sua cabeça.   Ao chegar na adolescência, Bellini era convidado para jogar competições amadoras da região, sem sonhar ainda com o profissionalismo. Sem contar com grande qualidade técnica nos pés, acabou virando zagueiro de vez.  Para espanto de todos, Bellini demonstrava muita raça e, acima de tudo, categoria e lealdade no campo, contra os adversários.

                 A partir de 1949, já decidido a virar jogador de futebol, a vida de Bellini mudou. O futuro zagueiro da Seleção Brasileira espantava os torcedores da região com sua determinação e já era titular de todas as equipes que defendia. A notícia de um zagueiro estiloso logo circulou pelas cidades vizinhas e chamou a atenção de alguns olheiros de clubes menores. Depois de observar o futebol de Bellini de perto, o olheiro Mauro Xavier da Silva não esperou a ansiedade para contar ao clube onde trabalhava, o modesto Sãojoanense, que contava em seus quadros com um tal de Mauro Ramos de Oliveira.

INÍCIO DE CARREIRA

                  Pegou o primeiro ônibus de Itapira para São João da Boa Vista e, já no começo da madrugada, bateu na porta do presidente Francisco de Bernardes, que ainda sonolento, pediu que voltasse no outro dia. Foi quando Mauro insistiu e acabaram conversando. Bellini ficou por três anos no clube e mesmo atuando pela segunda divisão do futebol paulista, chamou a atenção dos grandes da capital. Com algumas propostas na mão, Bellini apostou alto e preferiu acertar com o Vasco da Gama e partiu para o Rio de Janeiro, que sem saber o quanto que o clube carioca tinha pago pelo seu passe, assustou-se ao verificar o primeiro salário recebido, um valor extremamente superior ao que ganhava no humilde Sãojoanense.

VASCO DA GAMA

                   A trajetória de Bellini no Vasco pode ser considerada cinematográfica. Ali o nosso capitão permaneceu por dez anos, conquistando três títulos cariocas, em 1952, 1956 e 1958, formando na época uma equipe simplesmente espetacular; Barbosa, Dario, Bellini, Orlando e Coronel; Écio e Rubens; Sabará, Almir, Vavá e Pinga.  O campeonato de 1958, em especial, é considerado o mais emocionante da história, pois para decidir o título foram necessários dois triangulares extras entre Vasco, Flamengo e Botafogo, que foram chamados respectivamente de supercampeonato e super-supercampeonato. 

SÃO PAULO F.C.

                   No ano de 1963, Bellini trocou São Januário pelo Morumbi. Mesmo com 32 anos, Bellini não decepcionou os dirigentes do tricolor que apostaram alto em sua contratação. Considerado velho no Vasco da Gama, saiu como ídolo e agora caminhava a passos largos para repetir o feito em São Paulo, jogando diante da mais exigente torcida da capital. E um de seus primeiros clássicos foi contra o Corinthians no dia 2 de junho de 1963, quando o Tricolor venceu por 2 a 1, gols de Cecílio Martinez e Cido, enquanto que Nei marcou o único tento corintiano.

                  Neste dia o técnico Oswaldo Brandão mandou a Campo os seguintes jogadores; Suly, Deleu, Bellini, Jurandir e Riberto; Leal e Cido; Cecílio Martinez, Benê, Baiano (Prado) e Canhoteiro. Ainda no ano de sua chegada ao Morumbi, Bellini participou de um jogo que entrou para a história do futebol. Foi no dia 15 de agosto de 1963, quando o Tricolor venceu o Santos por 4 a 1 e este jogo ficou marcado como o dia em que o Santos fugiu de campo. Bellini jogou no São Paulo até 1968. 

ATLÉTICO PARANAENSE

                  Prejudicado pelos insucessos do São Paulo naquela época da construção do estádio do Morumbi e também com o fracasso da seleção de 1966, onde ele foi reserva de Brito, em 1968 acabou arriscando tudo ao aceitar uma proposta do Atlético-PR, na época uma equipe desconhecida da maioria dos torcedores. Junto com ele, também foi outro veterano, Djalma Santos, que também foi campeão mundial em 58 ao lado de Bellini. Na capital paranaense, atuaram por três anos, conquistando o campeonato paranaense no último ano como profissionais. Bellini, já com 40 anos, ainda exibia grande forma física, graças a fidelidade com as obrigações extra-campo. Já casado, o capitão atuou no Furacão com a mesma responsabilidade de quando era iniciante, exibindo um futebol sério e passando segurança à equipe. Com o título em 1970, decidiu pendurar as chuteiras, apesar dos pedidos para prosseguir atuando.

SELEÇÃO BRASILEIRA

                    Bellini fez sua estreia na Seleção Brasileira em 1957, nas eliminatórias para a Copa de 58 na Suécia, mais precisamente no dia 13 de abril, no empate em 1 a 1 contra o Peru, em Lima.  Devido a sua seriedade em campo, o técnico Vicente Feola lhe deu a tarja de capitão já na reta final da preparação para a Copa do Mundo, após ser elogiado publicamente pelo Marechal da Vitória, Paulo Machado de Carvalho. Durante o mundial na Suécia, demonstrou muita seriedade e um estilo de jogo acima da média para os beques da época.  O título e o gesto de levantar a taça Jules Rimet só coroaram o excelente mundial realizado.  Bellini certa vez disse: “Foi sensacional ir à Suécia em 58, ainda garoto. Ser convocado já era um prêmio. Ser titular e capitão de uma seleção que só tinha feras então, nem era bom pensar.

                   Foi uma campanha árdua, mas a conquista do título foi qualquer coisa de fantástico. Com a taça em cima da cabeça, vi o mundo todo aos meus pés. Sabia que o Brasil todo estava conquistando pela primeira vez o mundial e que aquela taça que eu segurava, seria nossa pelo menos por quatro anos e que todos haveriam de nos respeitar”.  E quando lhe perguntam sobre aquele famoso gesto de erguer a taça, ele responde: “Não pensei em erguer a taça, na verdade não sabia o que fazer com ela quando a recebi do Rei Gustavo, da Suécia. Na cerimônia de entrega da Taça Jules Rimet, a confusão era grande, havia muitos fotógrafos procurando uma melhor posição. Foi então que alguns deles, os mais baixinhos, começaram a gritar: “Bellini, levanta a taça, levanta Bellini!”, já que não estavam conseguindo fotografar. Foi quando eu a ergui”, conta Bellini, rindo ao se recordar do histórico momento.

                  Na copa de 62 no Chile, Bellini foi reserva de Mauro Ramos de Oliveira, que realmente estava em melhor forma no Santos e, na copa de 66 na Inglaterra, acabou prejudicado pela péssima organização feita pela CBD, que convocou 47 jogadores e divulgou a lista de cortes às vésperas do início do campeonato.  Pela Seleção Brasileira, Bellini disputou 57 partidas. Foram 42 vitórias, 11 empates e apenas 4 derrotas.  Além do bicampeonato mundial de 58 e 62, Bellini faturou também a Copa Roca em 1957 e 1960, a Taça Oswaldo Cruz, em 1958, 1961 e 1962, a Taça Bernardo O´Higgins em 1959 e a Taça do Atlântico em 1960.

                 Alto, com pose de galã, Bellini passou a ser requisitado para as mais variadas campanhas publicitárias em jornais, revistas e na TV que então começava a conquistar seu espaço. Participou de fotonovelas em quadrinhos de revistas da época e recebeu até mesmo convite para ser ator de cinema. Foi nessa época que Bellini conheceu Giselda, também de Itapira, com quem se casou em janeiro de 1963 e tiveram dois filhos, Carla e Junior. Quando se conheceram, Giselda tinha 14 anos e lembra que não entendia direito por que falavam tanto naquele jogador que era nascido na mesma cidade. Bastou o primeiro encontro, quando Bellini foi a Itapira receber uma homenagem, para começarem a namorar.

                  Normalmente arredio, nosso inesquecível capitão de 58, fechou-se ainda mais, após a morte do seu grande amigo Mauro Ramos de Oliveira, em 2002. Bellini via em Mauro um irmão, nunca um rival da camisa 3 da Seleção Brasileira.  Na abertura da Copa de 82 na Espanha, Bellini foi o nosso porta bandeira e, lá foi muito ovacionado pela torcida local. 

                 Infelizmente Bellini nos deixou no dia 20 de março de 2014, ele que já sofria de Mal de Alzheimer. E assim, o homem que erguera a taça pela primeira vez, sentiu o cansaço e decidiu baixar os braços, para a tristeza do mundo futebolístico. Seu velório foi realizado no salão nobre do Morumbi e foi sepultado em sua terra natal, Itapira, interior de São Paulo. E nós que aprendemos admira-lo, eternamente iremos ovaciona-lo, por tudo que ele fez pelo nosso futebol brasileiro. Descanse em paz, nosso eterno capitão.

 

 

Em pé: Nenê, Dias, Bellini, Celso, Fábio e Renato      –     Agachados: Faustino, Prado, Babá, Fefeu e Paraná

 

 

 

Em pé: Bellini, Dias, Tenente, Renato, Suly e Jurandir     –     Agachados: Birigui, Zé Roberto, Prado, Laúca e Paraná
Em pé: Djalma Santos, Zito, Bellini, Nilton Santos, Orlando e Gilmar   –   Agachados: Garrincha, Didi, Pelé, Vavá e Zagallo
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