YASHIN: o Aranha Negra

                 Lev Ivanovich Yashin nasceu dia 22 de outubro de 1929, na cidade de Moscou – União Soviética. Foi sem dúvida alguma, um dos maiores goleiros de todos os tempos. Era conhecido pela alcunha de Aranha Negra na América do Sul, ou Pantera Negra na Europa, devido ao seu uniforme todo preto. Único goleiro até hoje a ganhar a Bola de Ouro da France Football, prêmio para o melhor jogador da Europa, em 1963. Quando se aposentou, em jogo-despedida de 1971, a FIFA resolveu homenageá-lo com uma medalha de ouro especial, por sua extraordinária contribuição ao esporte.

INÍCIO DE CARREIRA

                 Yashin iniciou sua carreira de goleiro na fábrica militar em que trabalhava, com 12 anos de idade, justamente no início da II Guerra Mundial. Mas Yashin não foi goleiro do time de futebol da fábrica, mas sim goleiro da equipe de hóquei no gelo.  Em condições insalubres, Yashin  conseguiu ainda sobreviver ao conturbado período, e teve a iniciativa de partir para os gramados aos 14 anos.  Suas atuações, seu porte físico e sua  agilidade logo chamaram  a atenção do Dínamo de Moscou, que levou o jogador para seu plantel em 1949. Aquela seria a primeira e última vez que Yashin iria para um clube de futebol. O Dínamo seria sua casa por longos 22 anos.

DÍNAMO DE MOSCOU

                 O início não foi fácil, foi ganhar a posição em 1953, ficando até 1958 sem tomar um único gol. Naquele ano, ele, um fã de hóquei no gelo, decidiu recusar uma convocação da Seleção Soviética de Hóquei para concentrar-se no futebol.  Sua “Era de Ouro” com o Dínamo iniciaria-se no ano seguinte, conquistando seu primeiro campeonato soviético pelo clube. Venceria a Liga outras quatro vezes (1955, 1957, 1959 e 1963). Foi também três vezes campeão da Copa da URSS (em 1953, 1967 e 1970). Entretanto, seus outros feitos no Dínamo são difíceis de se apurar com rigor, pois os melhores momentos de Yashin no clube foram nos mais fechados tempos do comunismo na Guerra Fria. Ainda assim, no ano em que ganhou seu quarto título soviético, foi eleito o melhor jogador da Europa pela France Football, que entregou a Bola de Ouro a ele e não a Gianni Rivera, principal nome do campeão europeu daquele ano (o Milan). Yashin despediu-se em 1971, após ganhar no final do ano anterior a Copa de URSS. O Dínamo, embora tenha sido vice-campeão da Recopa Europeia em 1972, não soube repor a liderança, respeito e carisma de sua maior estrela, entrando em decadência.

SELEÇÃO SOVIÉTICA

                    Pela Seleção Soviética jogou as Copas do Mundo de 1958, 1962, 1966 e 1970, sendo o único jogador do país a ter ido a quatro Copas, embora tenha jogado apenas as três primeiras; na última, quando já tinha 40 anos, foi como reserva de Anzor Kavazashvili, seu suplente no mundial de 1966, Copa esta em que Yashin ajudou a levar sua equipe ao quarto lugar, a melhor colocação do país na história do torneio. Pelo fato de a Seleção render mais imagem internacional do que o Dínamo, boa parte do mito em torno de Yashin deve-se às suas exibições pela União Soviética, notadamente as realizadas nas Copas. Ele também conseguiu duas das três premiações soviéticas no futebol em seleções principais: a medalha de ouro nas Olimpíadas de 1956 e na Eurocopa 1960.

ASCENSÃO 

                  Carismático, era o modelo de pessoa para os dirigentes do Partido Comunista, do qual era membro. Já não era um estranho para o mundo do futebol quando conseguiu o ouro olímpico nos Jogos de 1956, mas só alcançou grande fama internacional após a Copa de 1958. No segundo jogo da primeira fase, contra a Áustria, terceira colocada na Copa anterior, demonstrou pela primeira vez ao Ocidente uma de suas principais habilidades características: defendeu um pênalti sem dar rebote, e os soviéticos terminaram vencendo por 2 x 0.

                  Mesmo no pandemônio que tomou conta da defesa soviética no jogo seguinte, quando foi a primeira do mundo a enfrentar juntamente Pelé e Garrincha, o goleiro salvou-se, levando apenas dois gols. O mesmo Brasil que posteriormente marcaria cinco contra a mais respeitada França e a anfitriã Suécia. Após o jogo contra os brasileiros, a URSS teve de jogar um play-off contra a Inglaterra para decidir a vaga para os mata-matas. Yashin foi a grande figura do jogo ao segurar a pressão inglesa após o gol soviético, o único da partida. Seria este desempenho, precisamente, que o começaria a celebrizá-lo entre os inventores do futebol e os ocidentais em geral. Todavia, o jogo extra cansou os soviéticos, que não tiveram muita força para deter a anfitriã Suécia na próxima partida, pelas quartas-de-final.

                Dois anos depois, realizou-se a primeira Eurocopa. A União Soviética conseguiu um lugar entre as quatro seleções que decidiram em Paris a fase final do torneio. E a Eurocopa 1960 terminaria nas mãos dos vermelhos após trabalhosa vitória na prorrogação contra a Iugoslávia: o adversário atacou mais, Yashin defendeu muito e os soviéticos conseguiram os dois gols da vitória de virada em contra-ataques, fazendo os adversários perderem a cabeça: Viktor Ponedelnik, o autor do gol do título, saiu da partida direto para um hospital, com suspeita de fratura na costela, e o meia Igor Chislenko levou doze pontos em corte no supercílio.

TRISTEZA

                   Yashin se aposentou da seleção e do futebol em 1971, aos 42 anos de idade, em uma partida grandiosa com mais de 100 mil pessoas e a presença de craques como Pelé, Eusébio e Beckenbauer. Depois passou a treinar equipes juvenis e trabalhar como professor de educação física, além de ter participado das comissões técnicas do Dínamo e da seleção. Em 1984 teve de amputar uma perna devido a um problema circulatório. Dois anos depois, teve um AVC. Morreu em 20 de março de 1990, por causa de um câncer de estômago.

CURIOSIDADES

                    A frieza de Yashin no gol se manteve intacta durante toda sua carreira. Graças a um ritual pouco comum em que ele se submetia antes de jogos importantes. Nessas ocasiões, o goleiro sempre fumava um cigarro “para acalmar os nervos” e tomava uma vodca “para tonificar os músculos”. A importância do futebol para o Aranha Negra ficou evidenciada em uma referência que fez a uma das maiores conquistas da história da humanidade, Yashin disse: “A alegria de ver Yuri Gagarin no espaço só é superada pela alegria de uma boa defesa de um pênalti“. Fã do futebol brasileiro e do goleiro Gilmar, em 1965 obteve licença de seu governo para visitar o Brasil, escolhendo o Rio de Janeiro.

                 Passava as manhãs na praia e às tardes treinava os goleiros do Flamengo, onde também mantinha a forma. Yashin disputou 812 jogos na carreira. Foram 326 jogos pelo Dínamo de Moscou na liga soviética, 78 jogos pela seleção nacional soviética. Defendeu 150 pênaltis e ficou 270 jogos sem levar gol. Foi Campeão Soviético (1954, 1955, 1957, 1959 e 1963), campeão da Copa da URSS (1953, 1967 e 1970), Medalha de Ouro nas Olimpíadas de 1956 e Eurocopa 1960.

PRÊMIOS E HOMENAGENS

                  Melhor jogador da Europa em 1963 – Prêmio Ballon d’or (até hoje foi o único goleiro a ganhar tal honraria). Em 1968 foi condecorado com a Ordem de Lenin por sua vitoriosa carreira de grande esportista soviético. Lev Yashin é considerado como o melhor goleiro da história das Copas do Mundo. Por isso o troféu da FIFA dado ao melhor goleiro do campeonato, que foi entregue pela primeira vez em 1994, leva o seu nome em reconhecimento a seu magnífico trabalho. Em 27 de dezembro de 1999 foi eleito como o melhor esportista russo do século XX, pelos jornalistas esportivos do seu país.

                 Em 2004, foi eleito o melhor jogador russo dos 50 anos da UEFA, nos Prêmios do Jubileu da entidade. Eleito o goleiro da Seleção de Futebol do Século XX. No estádio Central Luzhniki colocou-se uma estátua em sua homenagem. Lev Yashin será sempre lembrado por especialistas na posição como o jogador que mais revolucionou a forma com que os goleiros jogam. No decorrer dos anos muitos goleiros tentaram copiar seu estilo mas nenhum deles igualou os feitos do Aranha Negra. Foram 270 jogos sem levar gol e 150 pênaltis defendidos.

                Certas pessoas marcaram tanto a história da humanidade que viraram referência em seus campos de atuação, seja na política, na matemática, na filosofia, na arte. Isso cabe, também, ao futebol, que já teve nomes fantásticos e famosos, jogadores exuberantes e mitos que cravaram de alguma maneira seus nomes na história. Mas nenhum jogador talvez tenha virado uma referência tão grande e tão marcante, a ponto de superar décadas e gerações infindáveis, quanto Lev Ivanovich Yashin, ou simplesmente Lev Yashin.

               O lendário goleiro da extinta União Soviética, com seu imponente uniforme negro, que lhe deu o apelido de “Aranha Negra”, foi o melhor e mais brilhante goleiro do século XX e o responsável por transformar para sempre as funções de um arqueiro debaixo das traves. Yashin colocou por terra ditos como “o goleiro não pode sair do gol”, “o goleiro deve ficar estático e pegar as bolas que vêm em sua direção” e “o goleiro não pode sair da pequena área”. Tudo balela. Yashin não só fez o contrário de tudo isso como determinou que a área era território dele e, por isso, atuava em toda sua extensão.

                 Do alto de seus 1m89cm, Yashin impunha respeito nos adversários, causava pânico nos atacantes e salvava tanto seu querido Dínamo de Moscou quanto a URSS de levarem gols e mais gols. Yashin foi um paredão, um monstro, um gênio. Quando ele surgiu no futebol, o mundo se espantou. E via nascer, ali, uma lenda vestida em preto que parecia ter oito braços, tamanha perfeição embaixo do gol. Uma verdadeira Aranha Negra. Yashin faleceu dia 20 de março/1990.

Seleção da Rússia na na Copa de 1966
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